segunda-feira, 8 de julho de 2013

POLLYANNA - Capítulo IX - O que se fala do “homem”



Tinha chovido no último dia em que Pollyanna viu 'o homem”. Mesmo assim, ela o cumprimentou com um sorriso.
– Hoje o dia não está muito bonito. De qualquer modo, estou contente porque não chove sempre, seria terrível.
Desta vez o homem não resmungou nem virou a cabeça. Claro que Pollyanna concluiu que ele não tinha ouvido. Da próxima vez, que por acaso foi no dia seguinte, ela insistiu e falou mais alto. De qualquer maneira, ela entendia que era necessário proceder assim, porque o homem seguia de cabeça baixa. Era estranha aquela postura, visto que havia um esplendoroso sol e o ar puro da manhã. Pollyanna fazia um de seus passeios matinais quando o encontrou.
– Como vai o senhor? Estou contente que hoje não seja ontem, não acha?
O homem parou bruscamente. Tinha uma expressão zangada.
– Olha, minha menina, vamos resolver isto de uma vez por todas. Eu tenho mais no que pensar, além do tempo que faz. Nem reparo se o sol está brilhando ou não.
Pollyanna respondeu alegremente.
– Isso mesmo, senhor. Eu sei que não presta atenção no tempo, e é justamente por este motivo que eu digo todas as vezes como o tempo está.
– O quê? – perguntou, olhando espantado.
– Eu sei, é por isso que eu digo, para o senhor ficar sabendo se o sol está brilhando ou se está nublado. Eu sei que ficaria bem contente se parasse de pensar nas suas coisas. Se não repara no sol é porque não para de pensar!
– E o que mais? – rosnou o homem com um gesto de impotência. Continuou andando, mas logo se deteve. – Escute, por que não procura alguém da sua idade para conversar?
– Eu gostaria, senhor, mas não há ninguém da minha idade por aqui – respondeu ela. – Mas eu não me importo muito. Gosto das pessoas mais velhas, mais do que das da minha idade. Me acostumei com as senhoras da Caridade.
– Ah, as senhoras da Caridade? E me acha parecido com elas?
O homem tentava esboçar um sorriso, mas o resto do rosto não deixava. Pollyanna percebeu e começou a rir.
– Ah, não, senhor. Não se parece nada com as senhoras da Caridade, mas decerto é tão bom como elas, talvez até melhor – acrescentou ela, tentando ser educada. – Tenho certeza de que é muito melhor do que parece!
O homem engasgou com alguma coisa e só pode murmurar: – Está bem – e continuou no seu caminho.
Da próxima vez que Pollyanna encontrou “o homem”, os olhos dele se fixaram diretamente nos dela com uma franqueza que tornou o rosto dele agradável, pensou Pollyanna.
– Boa tarde – cumprimentou-a rigidamente. – Talvez seja melhor eu dizer que já sei que hoje o sol está brilhando.
– Não era preciso – respondeu Pollyanna alegremente. – Eu já sabia que o senhor sabia.
– Ah, sim, sabia?
– Sim senhor, vi nos seus olhos e fiquei sabendo pelo seu sorriso.
– Hum! – resmungou o homem enquanto se afastava.

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