terça-feira, 3 de setembro de 2013

45 - EDDARD


- A dor é um presente dos deuses, Lorde Eddard - disse o Grande Meistre Pycelle. - Significa que o osso está cicatrizando, a carne sarando. Deveria ser grato por isso.
- Ficarei grato quando a perna deixar de latejar.
Pycelle depositou um frasco rolhado na mesa junto à cama.
- O leite da papoula, para quando a dor ficar muito pesada.
- Já durmo demais.
- O sono é o grande curandeiro.
- Tinha esperança de que fosse o senhor. - Pycelle deu um sorriso triste.
- É bom vê-lo com um humor tão vigoroso, senhor - inclinou-se para mais perto e abaixou a voz. - Chegou um corvo hoje de manhã, uma carta para a rainha do senhor seu pai. Pensei que deveria saber.
- Asas escuras, palavras escuras - disse Ned em tom sombrio. - Que tem a mensagem?
- Lorde Tywin está muito irado com os homens que o senhor enviou contra Sor Gregor Clegane - confidenciou o meistre. - Temi que ficasse. Disse isso mesmo no conselho.
- Deixe-o irar-se - Ned respondeu. Cada vez que a perna latejava, lembrava-se do sorriso de Jaime Lannister e de Jory morto em seus braços. - Que escreva todas as cartas que quiser à rainha. Lorde Beric avança sob o estandarte do rei. Se Lorde Tywin tentar interferir na justiça do rei, terá de responder perante Robert. A única coisa de que Sua Graça mais gosta que caçar é de mover guerra aos senhores que o desafiam.
Pycelle afastou-se, com a corrente de meistre chocalhando,
- Como quiser. Virei visitá-lo de novo amanhã - o velho homem recolheu apressadamente suas coisas e se retirou. Ned tinha poucas dúvidas de que se dirigia diretamente aos aposentos reais para segredar à rainha. Pensei que deveria saber, realmente... como se Cersei não o tivesse instruído para entregar as ameaças do pai. Esperava que a resposta fizesse ranger aqueles seus dentes perfeitos. Ned não estava, nem de perto, tão confiante como fingira estar, mas não havia motivo para que Cersei soubesse disso.
Depois de Pycelle sair, Ned mandou vir uma taça de vinho com mel. Aquilo também enevoava a mente, mas não tanto. Precisava estar capaz para pensar. Mil vezes perguntara a si mesmo o que teria feito Jon Arryn se tivesse vivido o suficiente para atuar com base no que soubera. Ou talvez tivesse atuado e morrido por isso.
Era estranho como por vezes os olhos inocentes de uma criança eram capazes de ver coisas a que os adultos eram cegos. Um dia, quando Sansa crescesse, teria de lhe contar como ela fizera com que tudo se tornasse claro. Não é nem um bocadinho com o aquele velho rei bêbado, declarara zangada e sem consciência do que dizia, e a simples verdade daquelas palavras retorcera-se dentro dele, fria como a morte. Foi esta a espada que matou Jon Arryn, pensara Ned então, e matará também Robert, uma morte mais lenta, mas não menos certa. Pernas quebradas podem sarar com o tempo, mas certas traições ulceram e envenenam a alma.
Mindinho veio de visita uma hora depois de o Grande Meistre partir, vestindo um gibão cor de ameixa, com um tejo bordado de negro no peito e uma capa listrada de preto e branco.
- Não posso me demorar, senhor - anunciou. - A Senhora Tanda espera-me para o almoço. Sem dúvida assará uma vitela de engorda. Se a engorda se aproximar da filha dela, é provável que eu arrebente e morra. E como vai a perna?
- Inflamada e dolorida, com uma comichão que me deixa louco.
Mindinho ergueu uma sobrancelha.
- No futuro, tente evitar que os cavalos caiam em cima dela. Gostaria que sarasse rapidamente. O reino inquieta-se. Varys escutou murmúrios de mau agouro vindos do Ocidente. Cavaleiros livres e mercenários estão afluindo ao Rochedo Casterly, e não é pelo simples prazer de conversar com Lorde Tywin.
- Há notícias do rei? - Ned perguntou. - Quanto tempo Robert ainda tenciona continuar caçando?
- Dadas as suas preferências, creio que gostaria de permanecer na floresta até que tanto o senhor como a rainha morram de velhice - Lorde Petyr respondeu com um leve sorriso. - Não sendo isso possível, creio que regressará assim que tiver matado alguma coisa. Ao que parece, encontraram o veado branco... ou, antes, o que restou dele. Uns lobos o encontraram primeiro e deixaram a Sua Graça pouco mais que um casco e um chifre. Robert ficou furioso, até ouvir falar de um javali monstruoso que vive mais no interior da floresta. Daí em diante, nada estaria bem a não ser que ele o capturasse. Príncipe Joffrey regressou hoje de manhã, com os Royce, Sor Balon Swann e uns vinte outros membros do grupo. Os restantes continuam com o rei.
- E Cão de Caça? - Ned franziu a testa. De todo o grupo dos Lannister, era Sandor Clegane quem mais o preocupava, agora que Sor Jaime fugira da cidade para ir se juntar ao pai.
- Ah, regressou com Joffrey e foi logo ter com a rainha - Mindinho sorriu. - Teria dado cem veados de prata para ser uma barata nas esteiras quando ele soube que Lorde Beric partiu para decapitar o irmão.
- Até um cego vê que Cão de Caça detesta o irmão.
- Ah, mas Gregor é para ele detestar, não para o senhor matar. Depois de Dondarrion desbastar o cume da nossa Montanha, as terras e rendimentos dos Clegane passarão para Sandor, mas não prenderia a respiração à espera de agradecimentos daquele, não. E agora, perdoe-me. A Senhora Tanda aguarda com as suas gordas vitelas.
A caminho da porta, Lorde Petyr pousou os olhos no maciço volume do Grande Meistre Malleon que estava sobre a mesa e fez uma pausa para abrir vagarosamente a capa.
- As linhagens e histórias das Grandes Casas dos Sete Reinos, com descrições de muitos grandes senhores e nobres senhoras e de seus filhos - leu. - Se alguma vez vi uma leitura entediante, aqui está ela. Uma poção para dormir, senhor?
Por um breve momento Ned considerou a hipótese de lhe contar tudo, mas havia algo nas brincadeiras de Mindinho que o aborrecia. O homem era muito mais esperto do que devia, sempre com um sorriso de troça nos lábios.
-Jon Arryn estudava este volume quando adoeceu - disse Ned em tom cauteloso, para ver como o outro responderia.
E o outro respondeu como respondia sempre: com um gracejo.
- Neste caso - disse - a morte deve ter chegado como um abençoado alívio - Lorde Petyr Baelish fez uma reverência e se retirou.
Eddard Stark permitiu-se uma praga. Além de seus próprios vassalos, não havia ninguém naquela cidade em quem confiasse. Mindinho escondera Catelyn e ajudara Ned em suas investigações, mas a pressa em salvar a própria peie quando Jaime saíra da chuva com os soldados ainda lhe irritava as feridas. Varys era pior. Com todas as suas declarações solenes de lealdade, o eunuco sabia demais e fazia muito pouco. O Grande Meistre Pycelle parecia-se mais com uma criatura de Cersei a cada dia que passava, e Sor Barristan era velho e rígido. Diria a Ned para cumprir seu dever.
O tempo era perigosamente curto. O rei devia regressar em breve da caçada, e a honra obrigava Ned a contar-lhe tudo o que soubera. Vayon Poole organizara as coisas de modo que Sansa e Arya embarcassem na Bruxa dos Ventos, de Bravos, dali a três dias. Estariam de volta a Winterfell antes das colheitas. Ned já não podia usar a preocupação com a segurança delas como desculpa para o atraso.
Mas na noite anterior sonhara com os filhos de Rhaegar. Lorde Tywin depositara os corpos sob o Trono de Ferro, envolvidos nos mantos carmesins de sua guarda. Fora uma atitude inteligente; o sangue não se notava tanto no pano vermelho. A pequena princesa estava descalça, ainda vestida com a camisola, e o rapaz.,, o rapaz...
Ned não podia deixar que aquilo voltasse a acontecer. O reino não suportaria um segundo rei louco, outra dança de sangue e vingança. Tinha de encontrar algum modo de salvar as crianças.
Robert podia ser misericordioso. Sor Barristan estava longe de ser o único homem que perdoara. O Grande Meistre Pycelle, Varys, a Aranha, Lorde Balon Greyjoy; cada um deles esteve um dia entre os inimigos de Robert, e todos foram bem-vindos à amizade e autorizados a manter as honrarias e os cargos em troca de um juramento de fidelidade. Desde que um homem fosse bravo e honesto, Robert o trataria com toda a honra e o respeito devidos a um inimigo valente.
Isto era outra coisa: veneno no escuro, uma faca arremessada à alma. isto ele nunca poderia perdoar, tal como não era capaz de perdoar Rhaegar. Matará a todos, compreendeu Ned.
E, no entanto, sabia que não podia se manter em silêncio. Tinha um dever para com Robert, para com o reino, para com a sombra de Jon Arryn... e para com Bran, que sem dúvida devia ter tropeçado em alguma parte desta verdade. Que outro motivo teriam para tentar assassiná-lo?
Durante a tarde mandou chamar Tomard, o guarda corpulento de suíças ruivas a quem os filhos chamavam Gordo Tom. Com Jory morto e Alyn distante, Gordo Tom tinha o comando de sua guarda pessoal. A ideia encheu Ned com uma vaga inquietação. Tomard era um homem sólido, afável, leal, incansável, capaz a seu modo limitado, mas tinha quase cinquenta anos e nem mesmo na juventude fora enérgico. Talvez Ned não devesse ter se precipitado a enviar para longe metade dos seus guardas, e com todos os melhores espadachins entre eles.
- Vou precisar da sua ajuda - disse Ned quando Tomard apareceu, com o ar levemente apreensivo que tinha sempre que era chamado à presença do seu senhor. - Leve-me ao bosque sagrado.
- Será sensato, Lorde Eddard? Com a sua perna e tudo?
Tomard chamou Varly. Com os braços em volta dos ombros dos dois homens, Ned conseguiu descer os íngremes degraus da torre e atravessar a muralha coxeando.
- Quero a guarda duplicada - disse a Gordo Tom. - Ninguém entra ou sai da Torre da Mão sem a minha autorização.
Tom pestanejou.
- Senhor, com Alyn e os outros longe, já estamos sobrecarregados...
- Será só por pouco tempo. Aumente os turnos.
- Como quiser, senhor - respondeu Tom. - Posso perguntar por quê...?
- E melhor não - Ned respondeu bruscamente.
O bosque sagrado estava vazio, como sempre estava naquela cidadela dos deuses do sul. A perna de Ned gritava quando o depositaram na relva ao lado da árvore-coração.
- Obrigado - tirou um papel da manga, lacrado com o selo de sua Casa. - Tenha a bondade de entregar isto imediatamente.
Tomard olhou para o nome que Ned escrevera no papel e lambeu ansiosamente os lábios.
- Senhor...
- Faça o que lhe peço, Tom - disse Ned.
Não saberia dizer quanto tempo esperou no sossego do bosque sagrado. Era um lugar tranquilo. As espessas muralhas mantinham do lado de fora o clamor do castelo, e conseguia ouvir aves cantando, o murmúrio dos grilos, o farfalhar das folhas sob um vento fraco. A árvore-coração era um carvalho, castanho e sem rosto, mas Ned Stark sentia nela a presença dos seus deuses. A perna não parecia doer-lhe tanto.
Ela veio ao pôr do sol, quando as nuvens se avermelhavam sobre as muralhas e torres. Veio só, como ele lhe pedira. Pela primeira vez estava vestida de forma simples, com botas de couro e roupas verdes de caça. Quando puxou para trás o capuz da capa marrom, Ned viu a nódoa negra onde o rei lhe batera. A zangada cor de ameixa esmaecera até tomar um tom de amarelo, e o inchaço reduzira-se, mas não era possível confundir a marca com outra coisa qualquer.
- Por que aqui? - perguntou Cersei Lannister, em pé, a seu lado.
- Para que os deuses possam ver.
Ela sentou-se a seu lado na relva. Cada um dos seus movimentos era gracioso. Os cabelos louros encaracolados moviam-se ao vento, e os olhos eram verdes como as folhas do verão. Passara-se muito tempo desde que Ned Stark lhe vira a beleza, mas a via agora.
- Conheço a verdade pela qual Jon Arryn morreu - disse-lhe.
- Ah, sim? - a rainha observou-lhe o rosto, cuidadosa como um gato. - Foi por isso que me chamou aqui, Lorde Stark? Para me propor adivinhas? Ou será sua intenção raptar-me, como sua esposa raptou meu irmão?
- Se acreditasse mesmo nisso, nunca teria vindo - Ned tocou-lhe a face com gentileza. - Ele já tinha feito isso antes?
- Uma ou duas vezes - ela se afastou de sua mão. - Nunca no rosto. Jaime o mataria, mesmo se isso lhe custasse a vida - Cersei olhou-o em desafio. - Meu irmão vale cem vezes mais que o seu amigo.
- Seu irmão? - disse Ned. - Ou seu amante?
- As duas coisas - ela não vacilou perante a verdade. - Desde crianças. E por que não? Os Targaryen casaram irmão com irmã ao longo de trezentos anos para manter o sangue puro. Jaime e eu somos mais que irmão e irmã. Somos uma pessoa em dois corpos. Partilhamos um ventre. Nosso velho meistre dizia que ele chegou ao mundo agarrado ao meu pé. Quando está em mim, sinto-me... completa - o fantasma de um sorriso passou rapidamente sobre seus lábios.
-Meu filho Bran...
Para seu crédito, Cersei não desviou o olhar.
- Ele nos viu. Ama seus filhos, não é verdade?
Robert colocara-lhe a mesmíssima questão na manhã do corpo a corpo. Deu a Cersei a mesma resposta.
- De todo o coração.
- Não mais do que eu amo os meus.
Ned pensou: Se chegasse a esse ponto, colocando a vida de uma criança que não conheço contra Robb, Sansa, Arya, Bran e Rickon, o que faria? Mais, que faria Catelyn, se fosse a vida de Jon contra os filhos de seu corpo? Não sabia. E rezava para nunca saber.
- Todos os três são de Jaime - ele disse. E não era uma pergunta.
- Graças aos deuses.
A semente é forte, gritara Jon Arryn no seu leito de morte, e de fato era. Todos aqueles bastardos, todos de cabelos negros como a noite. O Grande Meistre Malleon registrou a última união entre veado e leão há cerca de noventa anos, quando Tya Lannister se casou com Gowen Baratheon, terceiro filho do detentor do título. Sua única descendência, um rapaz sem nome descrito no volume de Malleon como um rapaz grande e vigoroso, nascido com a cabeça cheia de cabelos negros, morrera na infância. Trinta anos antes, um Lannister tomara uma donzela Baratheon como esposa. Ela lhe dera três filhas e um filho, todos de cabelos negros. Não importava o quanto Ned recuasse nas quebradiças páginas amareladas, encontrava sempre o ouro cedendo perante o carvão.
- Uma dúzia de anos - disse Ned. - Como foi que não teve filhos do rei? Ela ergueu a cabeça, em desafio.
- Vosso Robert deixou-me uma vez à espera de bebê - disse, com a voz espessa de desprezo. - Meu irmão encontrou uma mulher para me purificar. Ele nunca soube. A bem da verdade, quase não suporto que me toque, e há anos que não o deixo entrar em mim. Conheço outras maneiras de lhe dar prazer, quando abandona suas rameiras durante tempo suficiente para cambalear até meu quarto de dormir. Façamos o que fizermos, o rei está geralmente tão bêbado que na manhã seguinte já esqueceu tudo.
Como podiam ter sido todos tão cegos? A verdade estivera sempre ali na sua frente, escrita no rosto das crianças. Ned sentiu-se enjoado.
- Lembro-me de Robert como era no dia em que ocupou o trono, cada centímetro dele um rei - disse em voz baixa. - Mil outras mulheres o teriam amado de todo o coração. O que ele fez para que o odiasse tanto?
Os olhos dela ardiam, fogo verde na penumbra, como a leoa que era o seu símbolo.
- Na noite do nosso banquete de casamento, na primeira vez que partilhamos a cama, chamou-me pelo nome de sua irmã. Estava em cima de mim, dentro de mim, fedendo a vinho, e sussurrou Lyanna.
Ned Stark pensou em rosas azul-claras, e por um momento quis chorar.
- Não sei de qual dos dois sinto mais pena.
A rainha pareceu divertida ao ouvir aquilo.
- Guarde sua piedade para você, Lorde Stark. Não quero nem um bocadinho dela.
- Sabe o que devo fazer.
- O que deve ? - Cersei pousou a mão na sua perna boa, logo acima do joelho. - Um homem de verdade faz o que quer, não o que deve - seus dedos deslizaram levemente pela sua coxa, na mais suave das promessas. - O reino precisa de uma Mão forte. Joff não terá idade durante anos. Ninguém quer uma nova guerra, especialmente eu - a mão dela tocou-lhe o rosto, os cabelos. - Se amigos podem se transformar em inimigos, inimigos podem se tornar amigos. Sua esposa está a mil léguas de distância, e o meu irmão fugiu. Seja bom para mim, Ned. Juro que nunca se arrependerá.
- Você fez a mesma oferta a Jon Arryn?
Ela o esbofeteou.
- Vou usar isto como um distintivo de honra - Ned disse secamente.
- Honra - ela cuspiu. - Como se atreve a fazer comigo o jogo do senhor honrado? Por quem me toma? Também você tem um bastardo, eu o vi. Sempre quis saber quem era a mãe. Alguma camponesa de Dorne que você violou enquanto seu castelo ardia? Uma prostituta? Ou teria sido a irmã desgostosa, a Senhora Ashara? Dizem que se atirou ao mar. Por quê? Pelo irmão que você assassinou ou pelo filho que lhe roubou? Diga-me, meu honrado Lorde Eddard, em que medida é diferente de Robert, de mim ou de Jaime?
- Para começar - disse Ned - não mato crianças. Seria bom me escutar, senhora. Direi isto apenas uma vez. Quando o rei regressar de sua caçada, pretendo colocar a verdade perante ele. Nesse momento já deverá estar longe. A senhora e seus filhos, os três, e não no Rochedo Casterly. Se fosse você, embarcaria para as Cidades Livres, ou até para mais longe, para as Ilhas do Verão ou o Porto de Ibben. Até tão longe quanto os ventos soprarem.
- Exílio - disse ela. - Uma taça amarga de onde beber.
- Uma taça mais doce do que a que o seu pai serviu aos filhos de Rhaegar - Ned disse - e mais bondosa do que merece. Seu pai e seus irmãos fariam bem em ir com você. O ouro de Lorde Tywin lhe comprará conforto e contratará soldados para mantê-la em segurança. Irá precisar deles. Garanto-lhe, não importa para onde fuja, a ira de Robert a seguirá até o fim do mundo se necessário.
A rainha se levantou.
- E a minha ira, Lorde Stark? - perguntou num tom suave. Seus olhos esquadrinharam o rosto dele. - Devia ter ficado com o reino. Estava livre para quem o tomasse. Jaime contou-me como você o encontrou no Trono de Ferro no dia em que Porto Real caiu e o obrigou a cedê-lo. Esse foi o seu momento. Tudo o que tinha de fazer era subir aqueles degraus e se sentar. Um erro tão triste.
- Cometi mais erros do que pode imaginar, mas este não foi um deles.
- Ah, mas foi, senhor - Cersei insistiu. - Quando se joga o jogo dos tronos, ganha-se ou morre. Não existe meio-termo.
Ergueu o capuz para esconder o rosto inchado e o deixou ali, na escuridão, sob o carvalho, no sossego do bosque sagrado, sob um céu quase negro. As estrelas começavam a surgir.  

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