Jantaram
sozinhos, como faziam tantas vezes.
- As
ervilhas estão cozidas demais - arriscou sua esposa a certa altura.
- Não
importa - disse. - O carneiro também está.
Era uma
brincadeira, mas Sansa entendeu como crítica.
-
Lamento, senhor.
- Por
quê? Quem deve lamentar é um cozinheiro qualquer. Você não. As
ervilhas não são de sua jurisdição, Sansa.
- Eu...
eu lamento que o senhor meu esposo esteja descontente.
-
Qualquer descontentamento que eu possa estar sentindo nada tem a ver
com ervilhas. Tenho Joffrey e minha irmã para me descontentar, e
também o senhor meu pai, e trezentos malditos dorneses. - Tinha
instalado o Príncipe Oberyn e seus senhores numa torre de canto, com
vista para a cidade, tão longe dos Tyrell quanto era possível sem
expulsá-los por inteiro da Fortaleza Vermelha, Não era nem de perto
suficientemente longe. Já tinha ocorrido um distúrbio numa casa de
pasto da Baixada das Pulgas que deixou um homem de armas Tyrell morto
e dois dos homens de Lorde Gargalen escaldados, e um feio confronto
no pátio quando a encarquilhada e minúscula mãe de Mace Tyrell
chamara Ellaria Sand de "a prostituta da serpente'. Sempre que
acontecia de encontrar Oberyn Martell, o príncipe perguntava quando
seria feita justiça. Ervilhas cozidas demais eram o último dos
problemas de Tyrion, mas não via utilidade em sobrecarregar a sua
jovem esposa com eles. Sansa tinha mágoas bastantes sem precisar das
suas. - As ervilhas estão boas o suficiente - disse-lhe com
concisão. - São verdes e redondas, o que mais podemos esperar de
ervilhas? Veja, vou repetir o prato, se agradar à senhora. - Chamou,
e Podrick Payne despejou tantas ervilhas em seu prato que já não
conseguia ver o carneiro. Isso foi burrice, disse a si mesmo. Agora
tenho que comer tudo, caso contrário ela vai começar a lamentar de
novo.
O jantar
terminou num silêncio tenso, como acontecia com tantos de seus
jantares. Depois, enquanto Pod recolhia as taças e bandejas, Sansa
pediu a Tyrion licença para visitar o bosque sagrado.
- Como
quiser. - Habituara-se às devoções noturnas da esposa. Ela também
rezava no septo real e frequentemente acendia velas à Mãe, à
Donzela e à Velha. Tyrion achava toda aquela piedade excessiva, a
bem da verdade, mas se estivesse no lugar dela, talvez também
quisesse a ajuda dos deuses - Confesso pouco saber dos deuses antigos
- disse, tentando ser agradável - Talvez algum dia possa me
esclarecer. Até poderia acompanhá-la.
- Não -
disse Sansa de imediato. - É... é gentil em sugerir isso, mas...
não há devoções, senhor. Não há sacerdotes, canções ou velas.
Só árvores e preces silenciosas. Iria aborrecê-lo.
- Tem
certamente razão. - Ela conhece-me melhor do que eu pensava. - Se
bem que o som do restolhar de folhas poderia ser mais agradável do
que um septão qualquer cantarolando a respeito dos sete aspectos da
graça. - Tyrion mandou-a embora com um gesto. - Não me
intrometerei. Proteja-se bem, senhora, o vento lá fora é fresco. -
Sentiu-se tentado a perguntar o que ela pedia ao rezar, mas Sansa era
tão obediente que podia realmente lhe contar, e ele suspeitava de
que não gostaria de saber.
Voltou ao
trabalho depois que ela saiu, tentando seguir alguns dragões de ouro
pelo labirinto dos livros-mestres do Mindinho. Petyr Baelish não
acreditara em deixar o ouro guardado e juntando pó, isso era certo,
mas quanto mais Tyrion procurava compreender suas contas, mais lhe
doía a cabeça. Falar de reproduzir dragões em vez de trancá-los
no tesouro estava muito bem, mas alguns daqueles empreendimentos
cheiravam pior do que peixe pescado há uma semana. Não teria
deixado tão prontamente Joffrey atirar os Homens Chifrudos por cima
das muralhas se soubesse quantos dos malditos bastardos tinham
recebido empréstimos da coroa. Teria de mandar Bronn encontrar seus
herdeiros, mas temia que isso se revelasse tão infrutífero quanto
tentar espremer prata de um peixinho-prateado.
Quando a
convocatória do senhor seu pai chegou, foi a primeira vez, até onde
Tyrion se lembrava, em que se sentiu contente por ver Sor Boros
Blount. Fechou os livros-mestres com um sentimento de gratidão,
apagou a candeia de azeite com um sopro, amarrou um manto em volta
dos ombros e bamboleou através do castelo até a Torre da Mão. O
vento era fresco, tal como prevenira Sansa, e havia cheiro de chuva
no ar. Quando Lorde Tywin o dispensasse, talvez devesse ir ao bosque
sagrado, para trazer Sansa para casa antes que ficasse encharcada.
Mas tudo
isso foi varrido da sua cabeça quando entrou no aposento privado da
Mão e deparou com Cersei, Sor Kevan e o Grande Meistre Pycelle
reunidos em volta de Lorde Tywin e do rei.
Joffrey
estava quase aos saltos, e Cersei saboreava um sorrisinho cheio de
si, embora Lorde Tywin parecesse tão sombrio como sempre.
Pergunto-me se ele seria capaz de sorrir, mesmo se quisesse.
- O que
aconteceu? - perguntou Tyrion.
O pai
estendeu um rolo de pergaminho para ele. Alguém o alisara, mas ainda
tentava se enrolar. "A Roslin pegou uma bela truta gorda",
dizia a mensagem. "Os irmãos ofereceram-lhe um par de pele de
lobo como presente de casamento." Tyrion virou o pergaminho para
inspecionar o selo quebrado. A cera era cinza-prateada, e impressas
nela encontravam-se as torres gêmeas da Casa Frey.
- O
Senhor da Travessia imagina que está sendo poético? Ou será que
isso pretende nos confundir? - Tyrion fungou. - A truta deve ser
Edmure Tully, as peles...
- Ele
está morto! - Joffrey soava tão orgulhoso e feliz que daria para
achar que tinha sido ele quem esfolou Robb Stark em pessoa.
Primeiro
o Greyjoy, e agora o Stark. Tyrion pensou na criança sua esposa, que
naquele momento rezava no bosque sagrado. Rezando aos deuses do pai
para que concedam ao irmão a vitória e mantenham a mãe a salvo,
sem dúvida. Os deuses antigos não ligavam mais para as preces do
que os novos, aparentemente. Talvez devesse sentir-se reconfortado
por isso.
- Os reis
estão caindo como folhas, neste outono - disse. - Aparentemente,
nossa guerrinha está se ganhando sozinha.
- As
guerras não se ganham sozinhas, Tyrion - disse Cersei com uma doçura
venenosa. - O senhor nosso pai ganhou esta guerra.
- Nada
está ganho enquanto tivermos inimigos em campo - preveniu-os Lorde
Tywin.
- Os
senhores do rio não são nada tolos - concordou a rainha - Sem os
nortenhos, não podem esperar resistir ao poderio combinado de Jardim
de Cima, Rochedo Casterly e Dorne. Certamente preferirão a submissão
à destruição.
- A
maioria, sim - concordou Lorde Tywin. - Resta Correrrio, mas enquanto
Walder Frey tiver Edmure Tully como refém, o Peixe Negro não se
atreverá a constituir uma ameaça. Jason Mallister e Tytos Blackwood
continuarão lutando em nome da honra, mas os Frey podem manter os
Mallister encurralados em Guardamar, e com o incitamento certo, Jonos
Bracken pode ser persuadido a mudar de fidelidade e atacar os
Blackwood. No fim, dobrarão os joelhos, sim. Pretendo oferecer
termos generosos. Qualquer castelo que se renda a nós será poupado,
exceto um.
-
Harrenhal? - disse Tyrion, que conhecia o pai.
- É
melhor que o reino se livre desses Bravos Companheiros. Ordenei a Sor
Gregor para passar o castelo na espada.
Gregor
Clegane. Parecia que o pai pretendia minar a Montanha até a última
pepita de minério antes de entregá-la à justiça de Dorne. Os
Bravos Companheiros acabariam como cabeças montadas em espigões, e
Mindinho entraria de passeio em Harrenhal, sem uma única mancha de
sangue naquelas suas belas roupas. Perguntou a si mesmo se Petyr
Baelish já teria chegado ao Vale. Se os deuses forem bons, enfrentou
com uma tempestade no mar e afundou-se. Mas quando os deuses tinham
sido razoavelmente bons?
- Deviam
ser todos passados na espada - declarou de repente Joffrey. - Os
Mallister, os Blackwood e os Bracken... todos. São traidores.
Quero-os mortos, avô. Não quero nenhum termo generoso. - O rei
virou-se para o Grande Meistre Pycelle. - E também quero a cabeça
de Robb Stark. Escreva ao Lorde Frey e diga-lhe. O rei ordena. Vou
servi-la a Sansa em meu banquete de casamento.
- Senhor
- disse Sor Kevan numa voz chocada - a senhora é agora sua tia pelo
casamento.
- Uma
brincadeira. - Cersei sorriu. - Joff não falava a sério.
- Falava,
sim - insistiu Joffrey. - Ele era um traidor, e quero a sua estúpida
cabeça. Vou obrigar Sansa a beijá-la.
- Não. -
A voz de Tyrion estava enrouquecida. - Sansa já não é sua para
atormentar. Veja se percebe isso, monstro.
Joffrey
deu um sorriso zombeteiro.
- O
monstro é você, tio.
- Ah,
sou? - Tyrion inclinou a cabeça. - Então talvez devesse falar
comigo mais de mansinho. Os monstros são animais perigosos, e agora
os reis parecem andar morrendo como moscas.
- Podia
cortar sua língua por dizer isso - disse o jovem rei, corando. - Sou
o rei.
Cersei
apoiou uma mão protetora no ombro do filho.
- Deixe o
anão fazer todas as ameaças que quiser, Joff. Quero que o senhor
meu pai e o meu tio vejam aquilo que ele é.
Lorde
Tywin ignorou aquilo; foi a Joffrey que se dirigiu.
- Aerys
também achava que tinha de lembrar aos homens que era o rei. E
também era muito amigo de arrancar línguas. Pode interrogar Sor
Ilyn Payne a esse respeito, embora não vá obter resposta.
- Sor
Ilyn nunca se atreveu a provocar Aerys como o seu Duende provoca Joff
- disse Cersei. - Ouviu Tyrion. "Monstro", disse ele. A
Graça Real. E ameaçou-o...
- Fique
calada, Cersei, Joffrey, quando os seus inimigos o desafiarem, tem de
lhes servir aço e fogo. Mas quando se ajoelham, tem de ajudá-los a
se levantar. De outro modo, nunca ninguém dobrará o joelho. E
qualquer homem que tenha de dizer "sou o rei" não é rei
de verdade. Aerys nunca compreendeu isso, mas você compreenderá.
Depois de ganhar a sua guerra, restauraremos a paz régia e a justiça
real. Em vez de cabeças, preocupe-se é com o cabaço de Margaery
Tyrell.
Joffrey
ostentava aquela sua expressão carrancuda e amuada. Cersei tinha-o
firmemente preso pelo ombro, mas talvez devesse tê-lo agarrado pela
garganta. O rapaz surpreendeu a todos. Em vez de fugir e de ir se
enfiar debaixo de uma pedra, Joff ergueu-se com um ar desafiador e
disse:
- Fala de
Aerys, avô, mas tinha medo dele.
Ora essa,
e não é que isso ficou interessante?, pensou Tyrion.
Lorde
Tywin estudou o neto em silêncio, com salpicos de ouro brilhando em
seus olhos verde-claros.
-
Joffrey, peça perdão ao seu avô - disse Cersei.
Ele
libertou-se das mãos dela.
- Por que
devo pedir perdão? Todo mundo sabe que é verdade. O meu pai ganhou
todas as batalhas. Matou o Príncipe Rhaegar e capturou a coroa,
enquanto o seu pai estava escondido por baixo de Rochedo Casterly, -
O rapaz dirigiu ao avô um olhar de desafio. - Um rei forte age com
ousadia, não se limita a conversar.
-
Obrigado por essas palavras de sabedoria, Vossa Graça - disse Lorde
Tywin, com uma cortesia tão fria que era capaz de fazer cair suas
orelhas, congeladas. - Sor Kevan, vejo que o rei está cansado. Por
favor, acompanhe-o em segurança de volta ao seu quarto. Pycelle,
talvez uma poção suave para ajudar Sua Graça a ter um sono
descansado?
- Vinho
dos sonhos, senhor?
- Não
quero vinho dos sonhos nenhum - insistiu Joffrey.
Lorde
Tywin teria dado mais ouvidos a um rato guinchando no canto.
- Vinho
dos sonhos servirá. Cersei, Tyrion, fiquem.
Sor Kevan
pegou firmemente no braço de Joffrey e levou-o porta afora, atrás
da qual dois homens da Guarda Real esperavam. O Grande Meistre
Pycelle apressou-se a seguidos o mais depressa que as suas velhas
pernas trêmulas conseguiam levá-lo. Tyrion ficou onde estava.
- Pai,
lamento - disse Cersei quando a porta foi fechada. - Joff sempre foi
teimoso, eu preveni...
- Há
léguas e léguas de diferença entre teimoso e burro, "Um rei
forte age com ousadia?" Quem lhe disse isso?
- Eu não,
garanto - disse Cersei. - O mais provável é que tenha sido algo que
ouviu Robert dizer...
- A parte
sobre você se esconder por baixo do Rochedo Casterly realmente soa a
Robert. -
Tyrion
não queria que Lorde Tywin se esquecesse dessa parte da conversa.
- Sim,
agora me lembro - disse Cersei - Robert disse com frequência a Joff
que um rei tem de ser ousado.
- E o que
você anda lhe dizendo, se não se importa? Não travei uma guerra
para pôr Robert Segundo no Trono de Ferro. Você me levou a crer que
o rapaz não gostava nada do pai.
- E por
que haveria de gostar? Robert ignorava-o. Teria espancado Joff, se eu
tivesse permitido. Aquele bruto com quem me obrigou a casar bateu uma
vez no rapaz com tanta força que lhe tirou dois dentes de leite, por
causa de uma travessura qualquer com um gato. Eu disse-lhe que o
mataria durante o sono se voltasse a fazer isso, e ele não fez, mas
às vezes dizia coisas...
-
Aparentemente, havia coisas que precisavam ser ditas. - Lorde Tywin
acenou-lhe com dois dedos, uma brusca despedida. - Saia.
E ela
saiu, fervendo.
- Não é
Robert Segundo - disse Tyrion. - E Aerys Terceiro.
- O rapaz
tem treze anos. Ainda há tempo. - Lorde Tywin dirigiu-se à janela.
Não era característico dele, estava mais perturbado do que queria
mostrar. - Precisa de uma boa lição.
Tyrion
tinha recebido a sua boa lição aos treze anos. Quase sentiu pena do
sobrinho. Por outro lado, ninguém a merecia mais do que ele.
- Basta
de falar de Joffrey - disse. - As guerras são ganhas com penas e
corvos, não foi o que disse? - Tenho de lhe dar os parabéns. Há
quanto tempo andava conspirando isso com Walder Frey?
- Essa
palavra desagrada-me - disse Lorde Tywin rigidamente.
- E a mim
desagrada ser deixado no escuro.
- Não
havia motivo para lhe contar. Não tinha participação nenhuma no
assunto.
- Cersei
foi informada? - quis saber Tyrion.
- Ninguém
foi informado, exceto aqueles que tinham um papel a desempenhar. E
esses só foram informados daquilo que precisavam saber. Devia saber
que não há outra maneira de manter um segredo... especialmente
aqui. Meu objetivo era livrar-nos de um inimigo perigoso da forma
menos dispendiosa possível, não satisfazer a sua curiosidade ou
fazer com que a sua irmã se sentisse importante. - Fechou as
venezianas, franzindo a testa. - Você tem certa astúcia, Tyrion,
mas a verdade é que fala demais. Essa sua língua solta ainda será
o seu fim.
- Devia
ter deixado que Joffrey a arrancasse - sugeriu Tyrion.
- Faria
bem em não me tentar - disse Lorde Tywin. - Não quero mais
conversas sobre isso. Tenho refletido sobre como melhor apaziguar
Oberyn Martell e sua comitiva.
- Oh? E é
alguma coisa que sou autorizado a saber, ou será que devo deixá-lo
sozinho para que possa discutir o assunto consigo?
O pai
ignorou o gracejo.
- A
presença do Príncipe Oberyn na cidade é um infortúnio. O irmão é
um homem cauteloso, um homem racional, sutil, ponderado, até algo
indolente. É um homem que pesa as consequências de cada palavra e
de cada ato. Mas Oberyn sempre foi meio louco.
- E
verdade que tentou mobilizar Dorne em favor de Viserys?
- Ninguém
fala disso, mas sim. Voaram corvos e galoparam mensageiros, com
mensagens secretas que eu nunca soube o que diziam. Jon Arryn velejou
até Lançassolar para devolver os ossos do Príncipe Lewyn,
sentou-se com o Príncipe Doran e pôs fim a todo o falatório sobre
guerra. Mas, depois disso, Robert nunca foi a Dorne, e o Príncipe
Oberyn raramente saiu de lá.
- Bem,
agora está aqui, com metade da nobreza de Dorne atrás, e fica mais
impaciente a cada dia - disse Tyrion. - Talvez eu devesse mostrar-lhe
os bordéis de Porto Real, isso talvez o distraia. Uma ferramenta
para cada tarefa, não é assim que as coisas são? A minha
ferramenta é sua, pai. Que nunca se diga que a Casa Lannister fez
soar as trombetas e eu não respondi.
A boca de
Lorde Tywin comprimiu-se.
- Muito
divertido. Deverei mandar fazer um traje quadriculado para você, e
um chapeuzinho cheio de guizos?
- Se o
usar, terei licença para dizer tudo que quiser a respeito de Sua
Graça, o Rei Joffrey?
Lorde
Tywin voltou a se sentar e disse:
- Fui
obrigado a aguentar as loucuras de meu pai. Não aguentarei as suas.
Basta.
- Muito
bem, já que o pede de um modo tão simpático. Temo que o Víbora
Vermelha não vá ser simpático... e tampouco se contente apenas com
a cabeça de Sor Gregor.
- Mais um
motivo para não dá-la.
- Não
dá-la...? - Tyrion estava chocado. - Pensei que estávamos de acordo
em que a floresta estava cheia de animais.
- Animais
menores - Os dedos de Lorde Tywin entrelaçaram-se sob o seu queixo.
- Sor Gregor serviu-nos bem. Nenhum outro cavaleiro no reino inspira
tanto terror em nossos inimigos.
- Oberyn
sabe que foi Gregor quem...
- Ele não
sabe nada. Ouviu histórias. Mexericos de estábulo e calúnias de
cozinha. Não tem nem uma migalha de provas. Sor Gregor certamente
não estará disposto a lhe fazer uma confissão. Pretendo mantê-lo
bem afastado enquanto os dorneses estiverem em Porto Real.
- E
quando Oberyn exigir a justiça que veio obter?
- Direi
que foi Sor Amory Lorch quem matou Elia e os filhos - disse
calmamente Lorde Tywin. - E você também, se ele perguntar.
- Sor
Amory Lorch está morto - disse Tyrion numa voz sem expressão.
-
Exatamente. Vargo Hoat ordenou que Sor Amory fosse desmembrado por um
urso após a queda de Harrenhal. Isso deve ser suficientemente
macabro para apaziguar até Oberyn Martell.
- Pode
chamar isso de justiça...
- É
justiça. Foi Sor Amory quem me trouxe o corpo da menina, já que tem
de saber. Encontrou-a escondida debaixo da cama do pai, como se
acreditasse que Rhaegar ainda podia protegê-la. A princesa Elia e o
bebê estavam no quarto das crianças, no andar de baixo.
- Bem, é
uma história, e não é provável que Sor Amory a negue. O que dirá
a Oberyn quando ele perguntar quem deu a Lorch as suas ordens?
- Sor
Amory agiu por conta própria, na esperança de conquistar o favor do
novo rei. O ódio de Robert por Rhaegar não era nem um pouco
secreto.
Pode
servir, Tyrion teve de admitir, mas a serpente não ficará contente.
- Longe
de mim questionar a sua astúcia, pai, mas em seu lugar creio que
teria deixado Robert Baratheon ensanguentar as próprias mãos.
Lorde
Tywin fitou-o como se ele tivesse perdido o juízo.
- Então
merece aquele traje quadriculado. Tínhamos chegado tarde à causa de
Robert. Era necessário demonstrar a nossa lealdade. Quando depus
aqueles cadáveres perante o trono, ninguém pôde duvidar de que eu
tinha abandonado para sempre a Casa Targaryen. E o alívio de Robert
foi palpável. Por mais burro que fosse, até ele sabia que os filhos
de Rhaegar tinham de morrer se quisesse que o trono alguma vez
estivesse seguro. Mas via-se como um herói, e os heróis não matam
crianças. - O pai de Tyrion encolheu os ombros. - Admito que houve
brutalidade em excesso. Elia não precisava ter sido ferida de todo,
isso foi pura loucura. Em si mesma nada era.
- Então
por que foi que a Montanha a matou?
- Porque
não lhe disse para poupá-la. Duvido que tenha chegado a
mencioná-la. Tinha preocupações maiores. A vanguarda de Ned Stark
corria para o sul vinda do Tridente, e temi que se pudesse chegar ao
ponto de cruzarmos espadas. E Aerys tinha disposição para
assassinar Jaime, sem nenhum motivo além do rancor. Era isso que eu
mais temia. Isso e o que o próprio Jaime poderia fazer. - Fechou a
mão num punho. - E ainda não tinha compreendido bem o que havia em
Gregor Clegane, sabia apenas que ele era enorme e terrível em
batalha. O estupro... nem você poderá me acusar de ter dado essa
ordem, espero eu. Sor Amory mostrou selvageria quase idêntica com
Rhaenys. Mais tarde, perguntei-lhe por que tinham sido necessárias
meia centena de estocadas para matar uma garota de... dois anos.
Três? Ele disse que ela o chutou e não parava de gritar. Se Lorch
tivesse metade dos miolos que os deuses deram a um nabo, teria
acalmado a criança com algumas palavras doces e usado uma almofada
suave de seda. - Sua boca torceu-se de repugnância. - Tinha sangue
nele.
Mas em
você não, pai. Não há sangue em Tywin Lannister.
- Foi uma
almofada suave de seda que matou Robb Stark?
- Deveria
ter sido uma flecha, no banquete de casamento de Edmure Tully. O
rapaz era cauteloso demais no campo de batalha. Mantinha seus homens
em boa ordem, e cercava-se de batedores e guarda-costas.
- Então
Lorde Walder matou-o sob o próprio teto, à própria mesa? - Tyrion
fez um punho. - E a Senhora Catelyn?
- Diria
que também foi morta. Um par de pele de lobo. O Frey pretendia
mantê-la cativa, mas talvez algo tenha dado errado.
- E lá
se foi o direito de hóspede.
- O
sangue está nas mãos de Walder Frey, não nas minhas.
- Walder
Frey é um velho rabugento que vive para acariciar a sua jovem esposa
e matutar sobre todas as desfeitas que sofreu. Não duvido que tenha
chocado esta feia galinha, mas nunca teria se atrevido a tal coisa
sem uma promessa de proteção.
- Suponho
que você teria poupado o rapaz e dito a Lorde Frey que a sua
fidelidade não lhe fazia falta. Isso teria atirado o velho idiota
nos braços dos Stark e teria conquista- do mais um ano de guerra.
Explique-me como é que é mais nobre matar dez mil homens em batalha
do que uma dúzia no jantar. - Quando Tyrion não teve resposta para
aquilo, o pai prosseguiu. - O preço foi barato, de qualquer ponto de
vista. A coroa atribuirá Correrrio a Sor Emmon Frey depois que o
Peixe Negro se render. Lancei e Daven deverão se casar com garotas
Frey, Joy deverá se casar com um dos filhos ilegítimos de Lorde
Walder quando tiver idade para isso, e Roose Bolton torna-se Protetor
do Norte e leva para casa Arya Stark.
- Arya
Stark? - Tyrion inclinou a cabeça. - Bolton também? Devia ter
compreendido que o Frey não teria estômago para agir sozinho. Mas
Arya... Varys e Sor Jacelyn procuraram-na durante mais de meio ano.
Arya Stark está morta com certeza.
- Renly
também estava, até a Água Negra.
- O que
isso quer dizer?
- Talvez
Mindinho tenha obtido sucesso onde você e Varys falharam. Lorde
Bolton casará a garota com o seu filho bastardo. Permitiremos que o
Forte do Pavor lute contra os homens de ferro durante alguns anos e
veremos se consegue levar os outros vassalos dos Stark a se ajoelhar.
Ao chegar a primavera, todos eles deverão estar no fim de suas
forças e prontos para dobrar o joelho. O Norte passará para o seu
filho e de Sansa Stark... se alguma vez arranjar suficiente
virilidade para gerar um. Não se esqueça de que não é só Joffrey
quem tem de pôr fim a uma virgindade.
Não me
esqueci, embora tivesse esperança de que você tivesse esquecido.
- E
quando acha que Sansa estará mais fértil? - perguntou Tyrion ao pai
num tom que pingava ácido. - Antes ou depois de eu lhe contar como
assassinamos sua mãe e seu irmão?
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