A sala do
trono era um mar de joias, peles e tecidos brilhantes. Senhores e
senhoras enchiam o fundo da sala e aglomeravam-se por baixo das
grandes janelas, empurrando-se como vendedores de peixe numa doca.
Aqueles
que habitavam a corte de Joffrey tinham procurado superar uns aos
outros naquele dia. Jalabhar Xho estava coberto de penas, uma
plumagem tão fantástica e extravagante que parecia prestes a
levantar voo. A coroa de cristal do Alto Septão disparava arcos-íris
pelo ar a cada movimento de sua cabeça. À mesa do conselho, a
Rainha Cersei cintilava num vestido de fios de ouro, com cortes de
veludo bordo, enquanto, ao seu lado, Varys se agitava e sorria
afetadamente dentro de brocado lilás. O Rapaz Lua e Sor Dontos
usavam novos trajes multicolores, limpos como uma manhã de
primavera. Até a Senhora Tanda e as filhas pareciam bonitas em
vestidos de seda que combinavam turquesa e penas, e Lorde Gyles
tossia para dentro de um quadrado de seda escarlate debruado de renda
dourada. Rei Joffrey sentava-se acima de todos eles, entre as lâminas
e farpas do Trono de Ferro. Vestia samito carmim, com o manto negro
incrustado de rubis, e, na cabeça, trazia sua pesada coroa de ouro.
Abrindo
caminho através de uma multidão de cavaleiros, escudeiros e ricos
cidadãos, Sansa chegou à frente da galeria precisamente quando o
estrondo das trombetas anunciou a entrada de Lorde Tywin Lannister.
Ele atravessou o salão montado no cavalo de guerra e desmontou
perante o Trono de Ferro. Sansa nunca tinha visto uma armadura assim;
toda de lustroso aço vermelho com arabescos e ornamentos de ouro
nele embutidos. Os medalhões eram resplendores, o leão rugindo que
coroava seu elmo tinha olhos de rubi, e uma leoa em cada ombro
prendia um manto de fios de ouro tão longo e pesado que envolvia os
quartos traseiros de seu cavalo. Até a armadura do cavalo era
dourada, e os jaezes, de brilhante seda carmesim brasonada com o leão
de Lannister.
O Senhor
de Rochedo Casterly fazia uma figura tão impressionante que foi um
choque quando seu corcel despejou um monte de esterco bem na base do
trono. Joffrey teve de rodeá-lo com cuidado quando desceu para
abraçar o avô e proclamá-lo Salvador da Cidade. Sansa cobriu a
boca para esconder um sorriso nervoso.
Joff fez
do pedido do avô para assumir o governo do reino um grande
espetáculo e Lorde Tywin aceitou solenemente a responsabilidade,
"até que Vossa Graça seja maior de idade". Então,
escudeiros tiraram sua armadura e Joff prendeu em torno de seu
pescoço o colar da Mão. Lorde Tywin ocupou um lugar ao lado da
rainha, na mesa do conselho. Depois de o corcel ter sido levado e sua
"homenagem" removida, Cersei fez sinal para que as
cerimônias prosseguissem.
Uma
fanfarra de trombetas de bronze saudou cada um dos heróis no momento
em que atravessavam as grandes portas de carvalho. Arautos gritavam
seus nomes e feitos para que todos ouvissem, e os nobres senhores e
as bem-nascidas senhoras aplaudiam tão vigorosamente como assassinos
numa rinha de galos. Um lugar de honra foi dado a Mace Tyrell, o
Senhor de Jardim de Cima, um homem outrora forte que havia engordado,
mas que ainda era bonito. Os filhos entraram atrás dele; Sor Loras e
o irmão mais velho, Sor Garlan, o Galante. Os três vestiam-se de
forma semelhante, de veludo verde forrado de zibelina. O rei desceu
do trono uma vez mais para saudá-los, uma grande honra. Prendeu, em
volta do pescoço de cada um, uma corrente de rosas trabalhadas em
ouro mole e amarelo, da qual pendia um disco de ouro com o leão dos
Lannister realçado com rubis.
- As
rosas apoiam o leão, assim como o poder de Jardim de Cima apoia o
reino - proclamou Joffrey. - Se houver alguma mercê que me queira
pedir, peça-a, e será sua.
É agora,
Sansa pensou.
- Vossa
Graça - disse Sor Loras peço a honra de servir em sua Guarda Real,
a fim de defendê-lo de seus inimigos.
Joffrey
pôs o Cavaleiro das Flores em pé e lhe deu um beijo no rosto.
- Dito e
feito, irmão.
Lorde
Tyrell inclinou a cabeça:
- Não há
maior prazer do que servir à Graça Real. Se fosse considerado digno
de integrar seu real conselho, não encontraria ninguém mais leal ou
fiel.
Joff
pousou uma mão no ombro de Lorde Tyrell e o beijou quando se pôs em
pé.
- Seu
desejo é concedido.
Sor
Garlan Tyrell, cinco anos mais velho do que Sor Loras, era uma versão
mais alta e barbuda do irmão mais novo e famoso. Era mais largo de
peito e ombros, e embora seu rosto fosse bastante agradável,
faltava-lhe a surpreendente beleza de Sor Loras.
- Vossa
Graça - disse Garlan, quando o rei se aproximou dele - tenho uma
irmã donzela, Margaery, o encanto de nossa Casa. Era casada com
Renly Baratheon, como sabe, mas Lorde Renly partiu para a guerra
antes de o casamento poder ser consumado, e portanto continua
inocente, Margaery tem ouvido histórias sobre a sua sabedoria,
coragem e cavalheirismo, e tem amado o senhor a distância.
Suplico-lhe que mande chamá-la, a fim de tomar sua mão em casamento
e ligar sua Casa à minha para toda a eternidade.
Rei
Joffrey fingiu surpresa:
- Sor
Garlan, a beleza de sua irmã é famosa por todos os Sete Reinos, mas
estou prometido a outra. Um rei deve manter a sua palavra.
A Rainha
Cersei levantou-se num farfalhar de saias:
- Vossa
Graça, na opinião de seu pequeno conselho, não seria nem próprio
nem sensato que se casasse com a filha de um homem decapitado por
traição, uma garota cujo irmão se encontra em rebelião aberta
contra o trono neste exato momento. Senhor, seus conselheiros
suplicam-lhe, para o bem de nosso reino, que ponha Sansa Stark de
lado. A Senhora Margaery será para o senhor uma rainha muito mais
adequada.
Como uma
matilha de cães treinados, os senhores e as senhoras no salão
começaram a gritar seu júbilo. "Margaery", gritavam;
"Dê-nos Margaery!" e"Nada de rainhas traidoras!
Tyrell! Tyrell!".
Joffrey
levantou uma mão.
-
Gostaria de ceder aos desejos de meu povo, mãe, mas fiz um voto
sagrado.
O Alto
Septão deu um passo à frente.
- Vossa
Graça, os deuses consideram a promessa de casamento um ato solene,
mas seu pai, o Rei Robert, de abençoada memória, fez esse pacto
antes de os Stark de Winterfell revelarem sua falsidade. Os crimes
deles contra o reino libertaram-no de quaisquer promessas que possa
ter feito. No que diz respeito à Fé, não existe nenhum contrato de
casamento válido entre o senhor e Sansa Stark,
Um
tumulto de aclamações encheu a sala do trono, e gritos de
"Margaery, Margaery" irromperam por todos os lados. Sansa
inclinou-se para a frente, agarrando com força o parapeito de
madeira da galeria. Sabia o que se seguiria, mas ainda temia o que
Joffrey pudesse dizer, temia que ele recusasse libertá-la mesmo
agora, quando todo o seu reino dependia disso. Sentia-se como se
estivesse de volta aos degraus de mármore na frente do Grande Septo
de Baelor, à espera de que o príncipe concedesse misericórdia a
seu pai, e em vez disso o ouviu ordenar a Ilyn Payne que cortasse sua
cabeça. Por favor, rezou com fervor, façam com que ele o diga,
façam com que ele o diga.
Lorde
Tywin fitava o neto. Joff deu-lhe um olhar mal-humorado, arrastou os
pés, e ajudou Sor Garlan Tyrell a se levantar.
- Os
deuses são bons. Estou livre para seguir o meu coração. Casarei
com a sua querida irmã, e com alegria, sor - beijou o rosto barbudo
de Sor Garlan, enquanto vivas se erguiam em torno deles.
Sansa
sentiu a cabeça curiosamente leve. Estou livre. Sentia olhos postos
nela. Não devo sorrir, lembrou a si mesma. A rainha prevenira-a;
sentisse o que sentisse, a expressão que mostrasse ao mundo devia
parecer perturbada.
- Não
aceitarei que meu filho seja humilhado - Cersei dissera. - Está me
ouvindo?
- Sim.
Mas se não vou ser rainha, o que será de mim?
- Isso
terá de ser decidido. Por enquanto, ficará aqui na corte, como
nossa protegida.
- Quero
ir para casa.
Aquilo
irritou a rainha.
- A essa
altura já devia ter aprendido que nenhum de nós consegue o que
quer.
Mas eu
consegui, pensou Sansa. Estou livre de Joffrey. Não terei de
beijá-lo, nem de lhe entregar minha virgindade, nem de lhe dar
filhos. Que Margaery Tyrell fique com tudo isso, pobre garota.
Quando a
explosão de júbilo se atenuou, o Senhor de Jardim de Cima já
ocupara um lugar à mesa do conselho, e os filhos tinham se juntado
aos outros cavaleiros e fidalgos debaixo das janelas. Sansa tentou
parecer desamparada e abandonada enquanto outros heróis da Batalha
da Água Negra eram chamados a fim de receber as suas recompensas.
Paxter
Redwyne, Senhor da Árvore, marchou ao longo do salão flanqueado
pelos dois filhos, Horror e Babeiro, com o primeiro coxeando de um
ferimento recebido na batalha. Depois, veio Lorde Mathis Rowan
vestindo um gibão branco como a neve, com uma grande árvore bordada
em fios de ouro no peito; Lorde Randyll Tarly, magro e perdendo os
cabelos, com uma grande espada amarrada às costas numa bainha
incrustada de joias; Sor Kevan Lannister, um homem atarracado com
pouco cabelo e uma barba bem aparada; Sor Addam Marbrand, de cabelos
acobreados que caíam sobre seus ombros; os grandes senhores do
ocidente Lydden, Crakehall e Brax.
A seguir,
vieram quatro homens de nascimento inferior que tinham se distinguido
na luta: o cavaleiro zarolho Sor Philip Foote, que matara Lorde Bryce
Caron em combate singular; o cavaleiro livre Lothor Brune, que abrira
caminho através de meia centena de homens de armas Fossoway para
capturar Sor Jon da maçã verde e matar Sor Bryan e Sor Edwyd da
vermelha, ganhando assim o apelido de Lothor Papa-Maçãs; Willit, um
homem de armas grisalho a serviço de Sor Harys Swyft, que puxara seu
senhor de debaixo do cavalo moribundo e o defendera contra uma dúzia
de inimigos; e um escudeiro de rosto liso chamado Josmyn Peckledon,
que matara dois cavaleiros, ferira um terceiro e capturara mais dois,
embora não pudesse ter mais do que catorze anos. Willit foi trazido
numa liteira, devido à gravidade de seus ferimentos.
Sor Kevan
tinha se sentado ao lado do irmão, Lorde Tywin. Quando os arautos
terminaram de anunciar os feitos dos heróis, levantou-se:
- E
desejo de Sua Graça que esses bons homens sejam recompensados por
seu valor. Por seu decreto, Sor Philip será de hoje em diante Lorde
Philip da Casa Foote, e para ele irão todas as terras, direitos e
rendimentos da Casa Caron. Lothor Brune será elevado ao estatuto de
cavaleiro e lhe serão atribuídas terras e fortaleza nas terras
fluviais, após o fim da guerra. Para Josmyn Peckledon irá uma
espada e uma armadura, o direito de escolher qualquer cavalo de
guerra dos estábulos reais e um grau de cavaleiro quando se tornar
maior de idade. E, por fim, para Morgado Willit, uma lança com haste
reforçada em prata, um camisão de cota de malha recém-forjada e um
elmo completo com viseira. Além disso, seus filhos serão recebidos
ao serviço da Casa Lannister em Rochedo Casterly, o mais velho como
escudeiro e o mais novo como pajem, com a hipótese de avançarem
para cavaleiros se servirem bem e com lealdade. A Mão do Rei e o
pequeno conselho consentem com tudo isso.
Os
capitães dos navios de guerra reais Vento Vivo, Príncipe Aemon e
Seta do Rio foram honrados em seguida, em conjunto com alguns
oficiais inferiores do Graça dos Deuses, Lança, Senhora de Seda e
Cabeça de Carneiro. Até onde Sansa sabia, seu feito principal tinha
sido sobreviver à batalha no rio, um feito de que bem poucos podiam
se gabar. Hallyne, o Piromante, e os mestres da Guilda dos
Alquimistas também receberam os agradecimentos do rei, e Hallyne foi
elevado ao título de lorde, embora Sansa notasse que nem terras nem
castelo acompanhavam o título, o que fazia com que o alquimista não
fosse um lorde mais verdadeiro do que Varys. Sem dúvida, a mais
significativa senhoria foi atribuída a Sor Lancei Lannister. Joffrey
premiou-o com as terras, castelo e direitos da Casa Darry, cujo
último jovem senhor perecera durante a luta nas terras fluviais,
"sem deixar herdeiros legítimos de sangue Darry legal, mas
apenas um primo bastardo".
Sor
Lancei não apareceu para aceitar o título; dizia-se que seus
ferimentos podiam lhe custar o braço ou até a vida. Dizia-se também
que o Duende estava à beira da morte, por conta de um terrível
golpe na cabeça.
Quando o
arauto chamou "Lorde Petyr Baelish", ele avançou, vestido
em tons de rosa e ameixa, com um padrão de tejos no manto. Sansa
conseguiu vê-lo sorrir ao se ajoelhar perante o Trono de Ferro.
Parece tão satisfeito. Não ouvira dizer que Mindinho tivesse feito
alguma coisa especialmente heroica durante a batalha, mas parecia que
seria recompensado mesmo assim.
Sor Kevan
voltou a se levantar:
- É
desejo da Graça Real que seu leal conselheiro Petyr Baelish seja
recompensado pelos fiéis serviços prestados à coroa e ao reino.
Que se saiba que a Lorde Baelish é atribuído o castelo de Harrenhal
com todas as suas terras e rendimentos, para dele fazer sua sede e
governar de hoje em diante como Senhor Supremo do Tridente. Petyr
Baelish e seus filhos e netos deterão e usufruirão dessas honrarias
até o fim dos tempos, e todos os senhores do Tridente vão lhe
prestar homenagem como seu suserano de direito. A Mão do Rei e o
pequeno conselho consentem.
De
joelhos, Mindinho ergueu os olhos para o Rei Joffrey:
-
Agradeço-lhe humildemente, Vossa Graça. Suponho que isso queira
dizer que terei de tratar de arranjar alguns filhos e netos.
Joffrey
riu, e a corte o acompanhou. Senhor Supremo do Tridente, pensou
Sansa, e também Senhor de Harrenhal. Não compreendia por que motivo
estaria tão feliz com aquilo; as honrarias eram tão ocas quanto o
título dado a Hallyne, o Piromante. Harrenhal estava amaldiçoado,
todos sabiam disso, e os Lannister nem sequer controlavam o castelo
no momento. Além disso, os senhores do Tridente estavam juramentados
a Correrrio, à Casa Tully e ao Rei no Norte; nunca aceitariam
Mindinho como suserano. A menos que sejam obrigados. A menos que meu
irmão, meu tio e meu avô sejam todos derrubados e mortos. A idéia
a deixou ansiosa, mas disse a si mesma que estava sendo tola. Robb
ganhou deles sempre. Também ganhará de Lorde Baelish, se for
preciso.
Naquele
dia foram armados mais de seiscentos novos cavaleiros. Tinham mantido
vigília no Grande Septo de Baelor ao longo de toda a noite, e de
manhã atravessaram a cidade descalços, a fim de demonstrar que
tinham corações humildes. Agora avançavam vestidos com camisões
de lã crua, a fim de serem nomeados pela Guarda Real. Levou muito
tempo, pois apenas três dos Irmãos da Espada Branca se encontravam
disponíveis para armá-los. Mandon Moore tinha perecido na batalha,
Cão de Caça desaparecera, Aerys Oakheart encontrava-se em Dorne com
a Princesa Myrcella, e Jaime Lannister era cativo de Robb, de modo
que a Guarda Real ficara reduzida a Balon Swann, Meryn Trant e Osmund
Kettleblack. Depois de armado cavaleiro, cada um dos homens se
levantava, afivelava o cinto da espada e ia se colocar sob as
janelas. Alguns tinham os pés ensanguentados da caminhada pela
cidade, mas a Sansa pareciam, mesmo assim, altivos e orgulhosos.
Quando
por fim todos os novos cavaleiros receberam os seus títulos, a
multidão no salão já estava impaciente; e ninguém mais do que
Joffrey. Alguns dos que ocupavam a galeria tinham começado a sair
discretamente, mas os notáveis lá embaixo estavam encurralados,
impossibilitados de sair sem a licença do rei. Julgando pelo modo
como se agitava no Trono de Ferro, Joff a teria dado de boa vontade,
mas o trabalho do dia estava longe de terminar. Pois agora a moeda
virava-se ao contrário, e os cativos foram introduzidos no salão.
Também
havia grandes senhores e nobres cavaleiros naquele grupo: o velho e
azedo Lorde Celtigar, o Caranguejo Vermelho; Sor Bonifer, o Bom;
Lorde Estermont, ainda mais velho do que Celtigar; Lorde Varner, que
claudicou ao longo do salão sobre um joelho estilhaçado, mas
recusou qualquer ajuda; Sor Mark Mullendore, com o rosto cinzento e o
braço esquerdo desaparecido até o cotovelo; o feroz Ronnet Vermelho
do Poleiro do Grifo; Sor Dermont da Mata de Chuva; Lorde Willum e os
filhos Josua e Elyas; Sor Jon Fossoway; Sor Timon, a Espada Raspada;
Aurane, o bastardo de Derivamarca; Lorde Staedmon, chamado de Amigo
das Moedas; e centenas de outros.
Aqueles
que tinham mudado de campo durante a batalha só precisavam jurar
lealdade a Joffrey, mas os que lutaram por Stannis até o amargo fim
eram obrigados a falar. As palavras que dissessem decidiam seus
destinos. Se suplicassem perdão por suas traições e prometessem
servir lealmente daí em diante, Joffrey os acolhia de volta à paz
do rei e restituía-lhes todas as terras e direitos. Mas um punhado
permaneceu desafiador.
- Não
pense que isso acabou, garoto - alertou um deles, filho bastardo de
algum Florent. - O Senhor da Luz protege o Rei Stannis, hoje e
sempre. Nem todas as suas espadas e artimanhas vão salvá-lo quando
sua hora chegar.
- A sua
hora chegou agora mesmo - Joffrey chamou com um gesto Sor Ilyn Payne
para levar o homem lá para fora e cortar sua cabeça. Mas, assim que
foi arrastado para fora do salão, um cavaleiro de porte solene, com
um coração flamejante na capa, gritou:
- Stannis
é o legítimo rei! É um monstro que se senta no Trono de Ferro, uma
abominação nascida do incesto!
-
Silêncio - Sor Kevan Lannister bradou.
Em vez de
se calar, o cavaleiro levantou a voz ainda mais.
- Joffrey
é o verme negro que corrói o coração do reino! Seu pai foi o
negrume e a mãe foi a morte! Destruam-no antes que os corrompa a
todos! Destruam-nos a todos, a rainha rameira e o rei verme, o anão
vil e a aranha dos segredos, as falsas flores. Salvem-se! - um dos
homens de manto dourado atirou o homem ao chão, mas ele continuou a
gritar. - O fogo purificador virá! Rei Stannis regressará!
Joffrey
pôs-se em pé:
- O rei
sou eu! Matem-no! Matem-no já! Ordeno-o - fez um movimento brusco
com a mão, num gesto furioso... e guinchou de dor quando o braço
roçou num dos afiados dentes de metal que o rodeavam. O brilhante
samito carmesim de sua manga tomou um tom mais escuro de vermelho
quando o sangue o empapou. - Mãe! - o menino gemeu.
Com todos
os olhos postos no rei, de algum modo o homem no chão conseguiu
arrancar uma lança de um dos homens de manto dourado e usou-a para
se pôr de novo em pé.
- O trono
renega-o! - gritou. - Ele não é rei coisa nenhuma!
Cersei
correu para o trono, mas Lorde Tywin permaneceu imóvel como pedra.
Teve apenas de erguer um dedo, e Sor Meryn Trant avançou com a
espada desembainhada. O fim foi rápido e mortal. Os homens de manto
dourado seguraram o cavaleiro pelos braços.
- Rei
coisa nenhuma! - ele voltou a gritar quando Sor Meryn espetou a ponta
da espada em seu peito.
Joff caiu
nos braços da mãe. Três meistres aproximaram-se correndo para
levá-lo pela porta do rei. Então, todo mundo começou a falar ao
mesmo tempo. Quando os homens de manto dourado arrastaram o morto
para fora do salão, deixaram um rastro brilhante de sangue no chão
de pedra. Lorde Baelish afagou a barba enquanto Varys lhe segredava
ao ouvido. Será que vão nos mandar embora agora? Perguntou Sansa a
si mesma. Ainda havia vinte cativos à espera, mas quem poderia dizer
se seria para jurar lealdade ou gritar xingamentos?
Lorde
Tywin ficou em pé:
-
Prosseguimos - disse numa voz clara e forte que silenciou os
murmúrios. - Aqueles que desejarem pedir perdão por suas traições
podem fazê-lo. Não teremos mais loucuras - deslocou-se até o Trono
de Ferro e sentou-se num degrau, a um mero metro do chão.
A luz do
lado de fora das janelas já desaparecia quando a sessão chegou ao
fim. Sansa sentiu-se exausta ao descer da galeria. Gostaria de saber
qual a gravidade do corte de Joffrey. Dizem que o Trono de Ferro pode
ser perigosamente cruel para aqueles que não estão destinados a se
sentar nele.
De volta
à segurança de seus aposentos, abraçou uma almofada contra o rosto
e abafou um guincho de alegria. Oh, pela bondade dos deuses, ele fez
isso, ele pôs-me de lado na frente de todos. Quando uma criada lhe
trouxe o jantar, quase a beijou. Havia pão quente e manteiga
recém-batida, uma espessa sopa de carne de vaca, capão e cenouras,
e pêssegos mergulhados em mel. Até a comida tem gosto melhor,
pensou.
Ao chegar
a noite, pôs um manto e dirigiu-se ao bosque sagrado. Sor Osmund
Kettleblack guardava a ponte levadiça em sua armadura branca. Sansa
fez seu melhor para parecer infeliz quando lhe deu boa-noite. Pela
maneira como ele a olhou, não ficou certa de ter sido totalmente
convincente.
Dontos a
esperava ao luar folhoso.
- Por que
essa cara tão triste? - perguntou-lhe Sansa alegremente. - Você
estava lá, ouviu. Joff pôs-me de lado, acabou comigo, ele...
Dontos
pegou em sua mão.
- Oh,
Jonquil, minha pobre Jonquil, não compreende. Acabou com você? Mal
começou.
Sansa
sentiu seu coração apertado.
- O que
quer dizer?
- A
rainha nunca a deixará partir, nunca. E uma refém demasiado
valiosa. E Joffrey... Querida, ele ainda é o rei. Se a quiser em sua
cama, vai tê-la, só que agora serão bastardos que plantará em seu
ventre, e não filhos legítimos.
- Não -
Sansa deu um arquejo, chocada. - Ele deixou-me ir, ele...
Sor
Dontos deu-lhe um beijo baboso na orelha.
- Seja
brava. Jurei levá-la para casa, e agora posso fazer isso. O dia foi
escolhido.
- Quando?
- Sansa quis saber. - Quando partimos?
- Na
noite do casamento de Joffrey. Depois do banquete. Tudo o que é
necessário já foi combinado. A Fortaleza Vermelha estará cheia de
desconhecidos. Metade da corte estará bêbada e a outra metade
estará ajudando Joffrey a se deitar com sua noiva. Durante um
pequeno momento, você será esquecida, e a confusão será nossa
amiga.
- O
casamento não acontecerá antes de uma volta de lua. Margaery Tyrell
está em Jardim de Cima, só agora mandaram buscá-la.
-
Esperamos tanto tempo, tenha um pouco mais de paciência. Tenho aqui
algo para você - Sor Dontos apalpou a bolsa e tirou de lá uma teia
de aranha prateada, suspendendo-a com seus dedos grossos.
Era uma
rede para os cabelos feita de prata fina, com cordões tão finos e
delicados que a rede pareceu não pesar mais do que um sopro quando
Sansa a pegou. Pequenas pedras preciosas estavam embutidas nos locais
em que dois cordões se cruzavam, tão escuras que bebiam o luar.
- Que
pedras são estas?
-
Ametistas negras de Asshai. Do tipo mais raro, um profundo púrpura
verdadeiro à luz do dia.
- E muito
lindo - disse Sansa, e pensou: É de um navio que preciso, não de
uma rede para o cabelo.
- Mais
lindo do que julga, querida menina. E que essa rede é mágica. O que
a segura é a justiça. Vingança pelo seu pai - Dontos inclinou-se e
voltou a beijá-la. - E a sua casa que está aí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
NÃO DÊ SPOILERS!
Encontrou algum erro ortográfico no texto? Comente aqui para que possa arrumar :)
Se quer comentar e não tem uma conta no blogger ou google, escolha a opção nome/url e coloque seu nome. Nem precisa preencher o url.
Comentários anônimos serão ignorados