segunda-feira, 8 de julho de 2013

POLLYANNA - Capítulo ll - Nancy e o velho Tom



No pequeno quarto do sótão, Nancy varria e esfregava com vigor, prestando especial atenção aos cantos. Em certos momentos, o vigor que colocava em seu trabalho era mais para desabafar seus sentimentos do que por entusiasmo em limpar a sujeira. Nancy, apesar de sua submissão um tanto amedrontada, não era nenhuma santa.
– Eu só queria poder varrer os cantos da alma dela – murmurava irritada, marcando suas palavras com golpes de pano molhado. – Certo, bem que isto precisava de uma limpeza! Mas que ideia colocar essa pobre criança aqui em cima nesse quartinho que faz calor no verão e frio no inverno, com tantos quartos para escolher nesse casarão! Criança não faz falta! Hum! – Nancy bateu tão forte com o pano que seus dedos doeram com o esforço. – Aposto que não existe criança no mundo que não seja mais necessária para alguém do que essa.
Durante algum tempo ela trabalhou em silêncio. Terminado seu trabalho, olhou para o quartinho quase nu com sincero desgosto.
– Bem, pelo menos minha parte está pronta. Ao menos já não existe mais sujeira por aqui, embora também não existam muito mais coisas. Pobre criança! Que belo lugar para colocar uma criança órfã e desamparada! – concluiu ela, saindo e fechando a porta com um estrondo. – Ih! – exclamou, mordendo os lábios. Logo em seguida pensou, obstinada: – Que me importa! Espero que ela tenha ouvido a porta bater!
No jardim, nesta tarde, Nancy achou uns minutos para conversar com o velho Tom, que há muitos anos cuidava do jardim.
– Mr. Tom – começou Nancy, lançando um olhar rápido para trás para ter certeza de que ninguém a observava – sabe que vem uma menina para morar aqui com a Miss Polly?
– O quê? – exclamou o velho, tentando endireitar as suas costas com dificuldade.
– Uma menina. Vem morar com a Miss Polly.
– Brincadeira sua, Nancy! – disse o velho Tom incrédulo. – Por que não diz que o sol amanhã vai nascer do outro lado?
– Mas é verdade, ela mesma me disse. É a sobrinha dela, que tem onze anos de idade.
O velho ficou de queixo caído.
– Impossível! – disse ele. Mas logo seus olhos brilharam. – Bem, na verdade pode. Deve ser a filha menor da Miss Jenny. Todos os outros morreram. Nancy, deve ser a filha pequena de Miss Jenny! Deus seja louvado! Nunca pensei que os meus velhos olhos iriam vê-la.
– Quem era Miss Jenny?
– Era um anjo caído do céu – murmurou o velho com fervor, –mas os falecidos patrões a conheciam como sua filha mais velha. Tinha vinte anos quando se casou e foi embora. Todos os filhos dela morreram, exceto a última. Deve ser essa que vem agora.
– Ela tem onze anos.
– É, deve ser ela – disse o velho, concordando com a cabeça.
– E vai dormir no sótão, parece impossível! – desabafou Nancy, olhando novamente sobre o ombro para a casa atrás de si.
O velho Tom resmungou, mas, logo a seguir, surgiu um sorriso curioso nos seus lábios.
– Estava pensando o que a Miss Polly vai fazer com uma criança na casa.
– Hum, bem, eu estava pensando o que uma criança vai fazer com a Miss Polly na casa.
O velho Tom riu.
– Parece que você não gosta muito da Miss Polly.
– Como se alguém pudesse gostar dela!
O velho Tom sorriu de modo estranho e começou a trabalhar de novo, dizendo:
– Suponho que você não saiba nada sobre o caso amoroso de Miss Polly.
– Caso amoroso, ela? Não! E também acho que mais ninguém sabe.
– Pois eles se apaixonaram – disse o velho. – E o sujeito vive aqui na cidade, até hoje.
– Quem é ele?
– Isso eu não posso dizer – o velho endireitou-se de novo. Em seus olhos azuis estava estampada a velha lealdade dos criados que servem a vida inteira a uma mesma família.
– Mas isso parece impossível! Ela e um namorado... – insistiu Nancy.
O velho Tom balançou a cabeça.
– Você não conheceu a Miss Polly como eu. Era muito bonita e ainda seria se não...
– Bonita? Miss Polly?
– Sim. Se ela penteasse o cabelo como fazia antigamente e não o usasse todo puxado para trás, e se voltasse a usar aqueles vestidos lindos cheios de laçarotes, você veria como ela ainda é bonita. A Miss Polly não é velha, Nancy.
– Se não é, finge muito bem!
– Sim, eu sei. Isso começou na época que brigou com o namorado. Desde então, parece que só se alimenta de amargura e espinhos. É por isso que é tão difícil lidar com ela.
– Pois, para mim, ela não está assim. Sempre foi assim. Por mais que se tente, não se consegue agradá-la. Se eu não precisasse ganhar dinheiro por causa do pessoal lá em casa, não ficava aqui. Mas, um dia, me canso e digo adeus.
O velho Tom balançou a cabeça.
– Eu sei. Já me senti assim. É natural, mas não será melhor para você, menina. Ouça o que eu digo, não será melhor – e novamente se curvou para continuar seu trabalho.
– Nancy! – gritou uma voz aguda.
– Sim, senhora – respondeu ela, gaguejando, e correu em direção à casa.

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