Pollyanna foi para a escola em setembro. Os exames preliminares revelaram que ela estava bastante avançada e assim entrou para uma classe de meninas e meninos da mesma idade dela.
Em certos aspectos, a escola foi uma surpresa para Pollyanna e, também, em muitos aspectos Pollyanna foi uma surpresa para a escola. Em breve, a relação com a escola tornou-se muito boa. Ela confessou à tia que, afinal, ir à escola era também viver, embora duvidasse disso antes.
Apesar do entusiasmo pelas suas novas ocupações, Pollyanna não esqueceu os velhos amigos. Agora ela não podia dedicar muito tempo a eles, mas os visitava quando era possível. De todos eles, John Pendleton era o mais insatisfeito. Num sábado à tarde ele lhe falou isso.
– Olha, Pollyanna, você não gostaria de vir viver comigo? – perguntou ele, um pouco impaciente. – Agora, quase não te vejo.
Pollyanna riu. Achava Mr. Pendleton muito engraçado.
– Pensei que não gostava de ter gente por perto – disse ela.
Ele fez uma careta.
– Mas isso foi antes de você me ensinar aquele seu jogo. Agora estou contente por ter quebrado a perna! Não me importo mais, pois em breve estarei bom e aí vamos ver quem caminha mais – concluiu ele, segurando uma das muletas e sacudindo-a divertidamente na direção da menina.
Ficaram o dia todo sentados na grande biblioteca.
– Mas o senhor não está contente de verdade de todas essas coisas, apenas diz que está. O senhor não está jogando o jogo como deve ser!
O homem ficou muito sério.
– É por isso que eu quero que você venha me ajudar a jogá-lo. Quer vir morar comigo?
Pollyanna virou-se surpreendida.
– Mr. Pendleton, o senhor não está falando sério, está?
– Estou sim. Quero que venha. Vem?
Pollyanna olhou desconsolada.
– Não posso, Mr. Pendleton, sabe que eu não posso. Sou da tia Polly!
Uma expressão esquisita que Pollyanna não percebeu bem atravessou-lhe o rosto. Ergueu a cabeça, irado.
– Não é mais dela do que... Talvez ela deixasse você vir viver comigo – concluiu ele, com mais delicadeza. – Você viria se ela deixasse?
Pollyanna ficou pensativa.
– Mas a tia Polly tem sido tão boa para mim, tomou conta de mim quando eu não tinha ninguém a não ser as senhoras da Caridade e...
De novo uma espécie de espasmo atravessou o rosto do homem; mas, desta vez, quando ele falou, a voz era baixa e triste.
– Pollyanna, há muitos anos, eu amei muito uma pessoa. Tinha esperanças de trazê-la para esta casa e imaginava como seríamos felizes juntos no nosso lar, para toda a vida.
– Sim – respondeu Pollyanna, com os olhos brilhando de simpatia.
– Mas não consegui. Não interessa porque, mas não consegui. E, desde então, este grande amontoado de pedras tem sido uma casa, mas nunca um lar. É preciso a mão e o coração de uma mulher ou a presença de uma criança para fazer um lar, Pollyanna, e eu não tenho nenhuma delas. Quer vir para cá, minha querida?
Pollyanna pôs-se de pé. O seu rosto iluminou-se.
– Mr. Pendleton, quer dizer que gostaria de ter tido a mão e o coração dessa mulher durante todo este tempo?
– Sim, Pollyanna. Por que?
– Oh! Estou tão contente! Então é verdade! Então pode ficar com as duas e tudo vai ficar bem.
– Ficar com as duas? – repetiu o homem, espantado.
Uma ligeira dúvida atravessou a expressão de Pollyanna.
– Sim claro, a tia Polly ainda não está convencida, mas eu estou. Acho que ela ficará se você falar com ela como falou comigo e então nós podíamos vir as duas.
Os olhos do homem deixaram transparecer uma expressão de horror.
– A sua tia Polly, aqui?!
Os olhos de Pollyanna abriram-se um pouco.
– Prefere então ir para lá? – perguntou ela. – Claro que a casa não é tão bonita, mas é mais perto...
– Pollyanna, do que é que você está falando? – perguntou o homem, mais calmo agora.
– De onde iremos morar – respondeu Pollyanna, com natural surpresa. – A princípio, pensei que queria que fosse aqui. Disse que era aqui que tinha querido ter a mão e o coração da tia Polly durante todos estes anos para fazer um lar e...
O homem abafou um grito na garganta. Levantou a mão e começou a falar, mas logo a seguir deixou-a cair.
– É o médico, senhor – disse a criada aparecendo na porta.
Pollyanna levantou-se logo. John Pendleton virou-se para ela, inquieto.
– Pollyanna, por amor de Deus, não fale a ninguém da nossa conversa – pediu ele em voz baixa.
Pollyanna fez um sorriso rasgado.
– É claro que não! Eu sei que o senhor mesmo prefere lhe dizer tudo, não é mesmo?
John Pendleton deixou-se cair, abatido, na cadeira.
– Então, o que aconteceu? – perguntou o médico um minuto depois, ao apalpar o pulso do seu doente, que batia aceleradamente.
Um sorriso estranho dançava nos lábios de John Pendleton.
– Tomei demais o seu remédio, doutor, o seu tônico! – disse ele, rindo, ao reparar que o médico seguia a figurinha de Pollyanna, que se afastava.
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