segunda-feira, 8 de julho de 2013

POLLYANNA - Capítulo XXIX - Através de uma janela aberta


Um por um foram se passando os dias curtos de inverno. Mas, para Pollyanna, não eram curtos. Eram longos e, por vezes, cheios de dor. Apesar disso, resolutamente, a menina fez renascer em sua alma, aquela maravilhosa antiga alegria. Quanto não valia, por exemplo, poder agora jogar o famoso jogo com sua tia? E como Miss Polly sabia contar histórias maravilhosas. Foi ela quem descobriu aquela da velhinha que só possuía dois dentes – e que vivia muito alegre com o fato de que os dois dentes estarem exatamente na mesma posição: um em cima e o outro em baixo.
Agora, Pollyanna, como Mrs. Snow, tricotava lindas malhas em cores vivas e isso era motivo para que ela, tal como Mrs. Snow, ficasse muito contente por ainda ter braços e mãos.
De vez em quando, Pollyanna já podia receber visitas, de modo que as vezes costumava conversar com algum dos seus numerosos amigos, e quando não tinha visitas, recebia recados, cartas e bilhetes, que sempre lhe traziam motivos para ficar contente.
John Pendleton já a tinha visitado uma vez e Jimmy Bean por duas vezes. John Pendleton tinha contado como Jimmy estava se comportando bem e como ele próprio se sentia bem na companhia do menino. Jimmy contou sobre o belo lar que tinha agora e como fazia uma boa família com Mr. Pendleton. Ambos manifestaram a Pollyanna a sua gratidão. Pollyanna confiou então à tia:
– Isto faz com que eu me sinta ainda mais contente por ter tido as minhas pernas.
O inverno passou e chegou a primavera. Apesar do tratamento, Pollyanna pouco melhorou. Parecia que as previsões mais pessimistas do doutor Meed estavam se concretizando e que Pollyanna nunca mais poderia voltar a andar.
Toda a cidade procurava manter-se informada sobre Pollyanna e uma pessoa em especial estava excepcionalmente impaciente. Entretanto, como os dias passavam, e as noticias não eram nada animadoras, algo mais do que ansiedade começou a estampar-se no rosto do homem. Por fim, transformou-se em desespero e numa firme determinação de intervir, de entrar na luta contra a misteriosa doença. Foi por causa disto que Mr. John Pendleton recebeu, com surpresa, a visita do doutor Thomas Chilton num domingo.
– Pendleton, vim aqui visitá-lo porque você, melhor do que qualquer outra pessoa da cidade, tem conhecimento da minha relação com Miss Polly Harrington.
John Pendleton manifestou-se surpreso, pois apesar de saber alguma coisa sobre a relação entre Polly Harrington e Thomas Chilton, fazia quinze anos que o assunto não era mencionado entre eles.
– Sim – disse ele tentando fazer com que a sua voz manifestasse simpatia e não curiosidade.
– Pendleton, eu quero ver aquela criança. Quero examiná-la, eu tenho que examiná-la.
– Por que não o faz, então?
– Não posso! Sabe muito bem que eu não entro naquela casa há mais de quinze anos. Você não sabe, mas vou lhe contar. A dona daquela casa declarou que se por acaso eu for chamado algum dia, isso significará pedido de perdão, que tudo voltaria a ser como antes e que se casaria comigo. Assim, não imagina que ela vá me chamar, não é?
– Mas podia lá ir sem ser convidado?
O médico franziu a testa.
– Isso é difícil. O orgulho me impede.
– Mas se está tão ansioso, não pode engolir o seu orgulho e esquecer a discussão?
– Esquecer a discussão! – interrompeu o médico violentamente. – Não estou falando desse tipo de orgulho. No que se refere a isso eu seria capaz de ir até lá de joelhos. É do orgulho profissional que estou falando. É um caso de doença e eu sou médico. Não posso chegar lá e dizer “aqui estou eu, me aceite como o seu médico”.
– Chilton, qual foi a discussão? – perguntou Pendleton.
O médico fez um gesto de impaciência.
– A discussão? Foi uma briga de namorados, uma coisa sem importância. Talvez uma discussão qualquer sobre o tamanho da lua ou a profundidade de um rio. Sem qualquer significado se compararmos com os anos de infelicidade que se seguiram! A discussão não teve qualquer importância! No que me diz respeito, estou disposto a esquecê-la completamente. Pendleton, eu tenho que ver aquela criança! É um caso de vida ou de morte. Acredito honestamente que Pollyanna tem nove chances em dez de voltar a andar de novo!
O médico pronunciou estas palavras bem alto e com muita clareza. Foi assim que Jimmy Bean que ia passando do lado de fora da janela ouviu o que ele disse.
– Andar! Pollyanna! – dizia John Pendleton. – O que quer dizer com isso?
– Significa que, tanto quanto eu sei do que me dizem, o caso dela é muito semelhante ao que um colega meu curou. Há anos que ele se especializou nesta área. Tenho me mantido em contacto com ele e também estudei o assunto. E do que tenho ouvido... mas preciso ver a menina!
John Pendleton endireitou-se na cadeira.
– Sim, precisa! Não pode ir por intermédio do doutor Warren?
O outro abanou a cabeça.
– Receio que não. Warren tem sido muito decente. Ele me disse que tinha sugerido a Miss Harrington uma consulta comigo, mas que ela tinha recusado e ele não se atreve a pedir de novo, mesmo sabendo do meu desejo de ver a criança. Ultimamente, alguns dos seus melhores doentes passaram para mim e isso me constrange ainda mais. Mas tenho que ver aquela criança! Imagine o que isso poderá significar para ela!
– Temos que fazer com que ela lhe peça para ir lá! – disse Pendleton.
– Como?
– Não sei.
– Se você não sabe, ninguém sabe. Ela é orgulhosa e está muito zangada comigo para me pedir. Depois do que disse, há anos, isso também teria outro significado. Mas quando penso naquela criança condenada a ficar paralítica, eu tendo na mão a sua cura e só não posso agir por uma questão de orgulho e de etiqueta profissional. – O doutor caminhava, fora de si, de um lado para o outro da sala.
– Mas se conseguíssemos fazer com que ela compreendesse – repetiu John Pendleton.
– Sim, e quem é que fará isso? – perguntou o médico virando-se bruscamente.
– Não sei, não sei – resmungou o outro desanimado.
Do lado de fora da janela, Jimmy Bean deu um salto de alegria.
– Quem? Pois eu sei! – sussurrou ele cheio de alegria. Eu vou! – e desatou a correr em direção ao solar dos Harrington.

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