quinta-feira, 1 de agosto de 2013

12 - EDDARD


A convocatória chegou na hora que precede a alvorada, quando o mundo estava quieto e cinzento. Alyn arrancou-o rudemente dos sonhos com um abanão, e Ned cambaleou para o frio da madrugada, tonto de sono, indo encontrar seu cavalo selado e o rei já montado. Robert vestia grossas luvas castanhas e um pesado manto de peles com um capuz que lhe cobria as orelhas, e estava igualzinho a um urso sentado em cima de um cavalo.
- De pé, Stark! - rugiu. - De pé, de pé! Temos assuntos de Estado a tratar.
- Com certeza - disse Ned. - Entre, Vossa Graça - Alyn ergueu a aba da tenda.
- Não, não, não - disse Robert. Saía-lhe vapor da boca a cada palavra. - O acampamento está cheio de ouvidos. Além disso, quero afastar-me e saborear este seu país - Ned viu que Sor Borós e Sor Meryn esperavam atrás dele com uma dúzia de guardas. Nada havia a fazer a não ser esfregar o sono para longe dos olhos, vestir-se e montar.
Robert marcou o passo, puxando com seu enorme cavalo de batalha negro, enquanto Ned galopava ao seu lado, tentando acompanhá-lo. Gritou uma pergunta enquanto cavalgavam, mas o vento levou suas palavras para longe e o rei não o ouviu. Depois disso, Ned seguiu em silêncio. Em breve abandonavam a estrada do rei e avançavam por planícies onduladas escuras de névoa. A essa altura, a guarda tinha ficado uma pequena distância para trás, suficiente para não ouvi-los, mas mesmo assim Robert não abrandava.
A alvorada chegou quando subiam ao cume de uma pequena elevação, e o rei finalmente parou. Nessa altura, estavam várias milhas ao sul do grupo principal. Robert estava corado e animado quando Ned puxou as rédeas do cavalo a seu lado.
- Deuses - o rei praguejou, rindo - faz bem sair e cavalgar como é suposto que um homem faça! Juro, Ned, este rastejar por aí é o suficiente para deixar um homem louco - Robert Barameon nunca fora um homem paciente. - Aquela maldita casa rolante, o modo como range e geme, subindo cada aclive na estrada como se fosse uma montanha... prometo-lhe que, se aquela miserável coisa partir mais algum eixo, queimo-a, e Cersei que ande!
Ned soltou uma gargalhada.
- De bom grado acenderei a tocha por Vossa Graça.
- Bom homem! - o rei deu-lhe uma palmada no ombro. - Parte de mim quer deixá-los todos para trás e simplesmente continuar a andar.
Um sorriso tocou os lábios de Ned.
- E acho que fala a sério.
- Falo, falo - disse o rei. - Que lhe parece, Ned? Só você e eu, dois cavaleiros vagabundos na estrada do rei, com as espadas ao nosso lado e só os deuses sabem o que à nossa frente, e talvez uma filha de lavrador ou uma rapariga de taberna para nos aquecer a cama esta noite.
- Gostaria que fosse possível - disse Ned - mas agora temos deveres, meu suserano... para com o reino, para com nossos filhos, eu para com a senhora minha esposa e vós para com a vossa rainha. Não somos os rapazes que fomos.
- Você nunca foi um rapaz - resmungou Robert. - Maior é pena. E, no entanto, houve aquela ocasião... Como se chamava aquela plebeia que teve? Becca? Não, essa foi uma das minhas, que os deuses a adorem, de cabelos negros e aqueles doces olhos grandes, podia-se afogar neles. A sua chamava-se... Aleena? Não. Você me disse uma vez. Seria Merryl? Sabe a quem me refiro, a mãe do seu bastardo.
- O nome era Wylla - respondeu Ned com fria cortesia - e eu prefiro não falar dela.
- Wylla. Sim - o rei sorriu. - Devia ser uma mulher incomum, pois foi capaz de fazer Lorde Eddard Stark se esquecer de sua honra, ainda que por uma hora. Nunca me falou do seu aspecto...
A boca de Ned apertou-se em ira.
- Nem o farei. Deixe este assunto, Robert, pelo amor que diz ter por mim. Desonrei-me e desonrei Catelyn, aos olhos dos deuses e dos homens.
- Que os deuses sejam louvados, quase nem conhecia Catelyn.
- Tinha-a tomado por esposa. Ela esperava meu filho.
- É demasiado duro consigo, Ned. Sempre foi. Que diabo, nenhuma mulher quer ter na cama Baelor, o Bem-Aventurado - deu uma palmada no joelho. - Bem, não falarei mais no assunto se guarda sentimentos tão fortes a esse respeito, se bem que, juro, por vezes é tão espinhoso que devia adotar o ouriço como selo.
O sol nascente lançava dedos de luz através das pálidas neblinas brancas da alvorada. Uma larga planície estendia-se abaixo deles, nua e castanha, com a planura interrompida aqui e ali por longos outeiros baixos. Ned indicou-os ao seu rei.
- As elevações tumulares dos Primeiros Homens. Robert franziu a sobrancelha.
- Viemos dar em um cemitério?
- No Norte há elevações tumulares por todo o lado, Vossa Graça - Ned informou. - Esta terra é antiga.
- E fria - resmungou Robert, apertando melhor o manto em redor do corpo. A guarda tinha parado bem atrás deles, na base da elevação. - Bem, não o trouxe aqui para falar de sepulturas ou discutir sobre o seu bastardo. Chegou um mensageiro durante a noite com uma mensagem de Lorde Varys em Porto Real. Tome - o rei tirou um papel do cinto e o entregou a Ned.
Varys, o eunuco, era o mestre dos segredos do rei. Servia agora Robert da mesma forma que servira antes Aerys Targaryen, Ned desenrolou o papel, agitado, pensando em Lysa e sua terrível acusação, mas a mensagem não dizia respeito à Senhora Arryn.
- Qual é a fonte desta informação?
- Lembra-se de Sor Jorah Mormont?
- Gostaria de poder esquecê-lo - disse Ned sem cerimônia. Os Mormont da Ilha dos Ursos eram uma Casa antiga, orgulhosa e honrosa, mas suas terras eram frias, distantes e pobres. Sor Jorah tentara encher os cofres da família vendendo alguns caçadores furtivos a um negociante de escravos tyroshi. Como os Mormont eram vassalos dos Stark, seu crime tinha desonrado o Norte. Ned fizera a longa viagem para o oeste até a Ilha dos Ursos só para descobrir, ao chegar, que Jorah havia zarpado, escapando do alcance de Gelo e da justiça do rei. Desde então tinham se passado cinco anos.
- Sor Jorah está agora em Pentos, ansioso por ganhar um perdão real que lhe permita regressar do exílio - explicou Robert. - Lorde Varys faz bom uso dele.
- Então o negociante de escravos transformou-se em espião - disse Ned com antipatia. Devolveu a carta ao rei. - Preferia que tivesse se transformado em cadáver.
- Varys me disse que os espiões são mais úteis que os cadáveres - disse Robert. - Jorah à parte, que acha do relatório?
- A Daenerys Targaryen desposou um senhor dos cavalos dothraki qualquer. E então? Devemos enviar-lhe um presente de casamento?
O rei franziu a sobrancelha.
- Talvez uma faca. Uma boa faca afiada e um bom homem para manejá-la.
Ned não fingiu surpresa; o ódio de Robert pelos Targaryen era nele uma loucura. Lembram-se das palavras iradas que tinham trocado quando Tywin Lannister presenteara Robert com os cadáveres da esposa e dos filhos de Rhaegar em sinal de fidelidade. Ned chamara àquilo assassinato; Robert chamara-lhe guerra. Quando protestara que o jovem príncipe e a jovem princesa não eram mais que bebês, o recém-coroado rei respondera: "Não vejo bebês. Somente filhotes de dragão".
Nem mesmo Jon Arryn fora capaz de acalmar essa tempestade. Eddard Stark cavalgara para longe nesse mesmo dia, a fim de lutar sozinho as últimas batalhas da guerra no Sul. Fora preciso outra morte para reconciliá-los, a de Lyanna, e a dor que partilharam com o seu falecimento.
Desta vez, Ned resolveu dominar o gênio.
- Vossa Graça, a moça é pouco mais que uma criança. Não é Vossa Graça um Tywin Lannister para chacinar inocentes - dizia-se que a filha de Rhaegar chorava quando a arrastaram de debaixo da cama para enfrentar as espadas. O rapaz não era mais que um bebê de peito, mas os soldados de Lorde Tywin arrancaram-no dos braços da mãe e esmagaram-lhe a cabeça contra uma parede.
- E quanto tempo esta jovem permanecerá inocente? - a boca de Robert endureceu. - Esta criança irá em breve abrir as pernas e começar a parir mais filhotes de dragão para me atormentar.
- Seja como for - disse Ned -, o assassinato de crianças... seria vil... inqualificável...
- Inqualificável? - rugiu o rei. - O que Aerys fez ao seu irmão Brandon foi inqualificável. O modo como o senhor seu pai morreu, isso foi inqualificável. E Rhaegar... quantas vezes acha que ele violou sua irmã? Quantas centenas de vezes? - sua voz tornara-se tão alta que o cavalo que montava relinchou nervosamente. O rei puxou as rédeas com força, sossegando o animal, e apontou um dedo irado para Ned. - Matarei cada Targaryen em que puser as mãos até estarem tão mortos como os seus dragões, e então mijarei em suas tumbas.
Ned sabia que não era boa idéia desafiá-lo quando estava sob o domínio da ira. Se os anos não tinham amenizado a sede de vingança de Robert, nenhuma palavra sua poderia ajudar.
- Mas não pode pôr as mãos nesta, está bem? - disse ele em voz calma. A boca do rei retorceu-se num trejeito amargo.
- Não, malditos sejam os deuses. Um pustulento queijeiro pentoshi qualquer mantém, ela e o irmão, fechados em sua propriedade com eunucos de chapéus bicudos por todo o lado, e agora os entregou aos dothrakis. Devia ter mandado matá-los há anos, quando era fácil chegar até eles, mas Jon era tão mau como você. Maior tolo fui eu, por lhe dar ouvidos.
- Jon Arryn era um homem sensato e uma boa Mão.
Robert resfolegou. A ira o estava deixando tão subitamente como tinha chegado.
- Diz-se que este Khal Drogo tem cem mil homens em sua horda. O que diria Jon a isso?
- Diria que mesmo um milhão de dothrakis não são ameaça para o reino desde que fiquem do outro lado do mar estreito - replicou Ned com calma. - Os bárbaros não têm navios. Odeiam e temem o mar aberto.
O rei moveu-se desconfortavelmente na sela.
- Talvez. Mas podem obter navios nas Cidades Livres. Digo-lhe, Ned, este casamento não me agrada. Ainda há nos Sete Reinos quem me chame Usurpador. Esqueceu-se de quantas casas lutaram pelos Targaryen durante a guerra? Por enquanto esperam a sua hora, mas dê-lhes meia hipótese e me assassinarão no leito, e a meus filhos também. Se o rei pedinte atravessar o mar com uma horda dothraki atrás dele, os traidores a ele se juntarão.
- Não atravessará - prometeu Ned. - E, se por algum azar atravessar, nós o atiraremos de volta ao mar. Uma vez escolhido um novo Guardião do Leste...
O rei soltou um gemido.
- Pela última vez, não nomearei Guardião o rapaz Arryn. Sei que o rapaz é seu sobrinho, mas com os Targaryen usufruindo a cama dos dothrakis seria louco se deixasse um quarto do reino nas mãos de uma criança enfermiça.
Ned estava preparado para aquilo.
- E, no entanto, ainda precisamos de um Guardião do Leste. Se Robert Arryn não serve, nomeie um dos seus irmãos. Stannis decerto provou seu valor no cerco à Ponta Tempestade.
Deixou o nome pairar por um momento. O rei franziu a testa e nada disse. Parecia desconfortável.
- Isto é - terminou Ned em voz baixa, observando -, a não ser que já tenha prometido a posição a outra pessoa.
Por um momento Robert teve a elegância de parecer surpreso. Quase no mesmo momento, o olhar passou a denotar aborrecimento.
- E se o fiz?
- É Jaime Lannister, não é?
Robert pôs de novo o cavalo em movimento com os calcanhares e desceu a colina em direção aos outeiros. Ned o acompanhou. O rei prosseguiu a cavalgada, com os olhos fixos em frente.
- Sim - disse por fim. Uma única palavra dura para pôr uma pedra sobre o assunto.
- O Regicida - retrucou Ned. Então os rumores eram verdadeiros. Sabia que trilhava agora um terreno perigoso. - Um homem apto e corajoso, sem dúvida - disse com cuidado - mas seu pai é Guardião do Oeste, Robert. A seu tempo Sor Jaime irá sucedê-lo neste título. Nenhum homem deve defender tanto o leste como o oeste - deixou de dizer sua real preocupação; que a nomeação iria pôr metade dos exércitos do reino nas mãos dos Lannister.
- Tratarei dessa luta quando o inimigo aparecer no campo de batalha - disse o rei teimosamente. - De momento, Lorde Tywin paira eterno sobre Rochedo Casterly; portanto, duvido que Jaime lhe suceda em breve. Não me aborreça com isto, Ned, a pedra foi colocada.
- Vossa Graça, posso falar com franqueza?
- Pareço ser incapaz de te impedir - resmungou Robert.
Cavalgavam através do mato alto e castanho.
- Pode mesmo confiar em Jaime Lannister?
- É irmão gêmeo de minha mulher, um Irmão Juramentado da Guarda Real, com a vida, a fortuna e a honra sujeitas às minhas.
- Tal como estavam sujeitas às de Aerys Targaryen - Ned ressaltou.
- Por que hei de desconfiar dele? Fez tudo o que lhe pedi. Sua espada ajudou a conquistar o trono em que me sento.
Sua espada ajudou a manchar o trono em que senta, pensou Ned, mas não permitiu que as palavras lhe atravessassem os lábios.
- Fez o juramento de proteger a vida do rei com a dele próprio. Depois abriu a garganta desse mesmo rei com uma espada.
- Pelos sete infernos, alguém teria de matar Aerys! - disse Robert, puxando as rédeas da sua montaria e fazendo-a parar abruptamente junto a um antigo outeiro. - Se Jaime não o tivesse feito, teríamos de ter sido você ou eu.
- Nós não éramos Irmãos Juramentados da Guarda Real - Ned respondeu. Decidiu naquele local que tinha chegado o tempo de Robert ouvir toda a verdade. - Recorda-se do Tridente, Vossa Graça?
- Conquistei aí a minha coroa. Como posso esquecê-lo?
- Vossa Graça foi ferido por Rhaegar - recordou-lhe Ned. - E assim, quando a tropa Targaryen cedeu e fugiu, deixou a perseguição nas minhas mãos. O que restava do exército de Rhaegar apressou-se em regressar a Porto Real. Nós os seguimos. Aerys estava na Torre Vermelha com vários milhares de lealistas. Eu esperava encontrar os portões fechados às nossas forças.
Robert abanou impacientemente a cabeça,
- E, em vez disso, descobriu que os nossos homens já tinham conquistado a cidade. E então?
- Nossos homens, não - Ned disse pacientemente. - Os homens dos Lannister. Era o leão de Lannister que flutuava sobre os baluartes, e não o veado coroado. E eles conquistaram a cidade pela traição.
A guerra durara perto de um ano. Senhores, grandes e pequenos, tinham se agrupado sob os estandartes de Robert; outros tinham permanecido leais aos Targaryen. Os poderosos Lannister de Rochedo Casterly, os Guardiães do Oeste, tinham permanecido à margem da luta, ignorando os apelos às armas vindos quer dos rebeldes quer dos lealistas. Aerys Targaryen devia ter pensado que os deuses respondiam às suas preces quando Lorde Tywin Lannister apareceu perante os portões de Porto Real com um exército de doze mil homens, declarando-lhe lealdade. E, assim, o rei louco ordenou seu último ato de loucura. Abriu sua cidade aos leões que estavam à porta.
- A traição era uma moeda que os Targaryen conheciam bem - disse Robert. A ira lhe subia novamente. - Os Lannister pagaram-lhes na mesma moeda. Não foi menos do que mereciam. Não será isso que perturba meu sono.
- Você não estava lá - disse Ned, com amargura na voz. O sono perturbado não lhe era estranho. Vivera suas mentiras durante catorze anos, e à noite ainda o assombravam. - Não houve honra naquela conquista.
- Que os Outros carreguem a sua honra! - praguejou Robert. - Quando foi que algum Targaryen conheceu a honra? Desça à sua cripta e interrogue Lyanna sobre a honra do dragão!
- Vingou Lyanna no Tridente - disse Ned, parando ao lado do rei. Promete-me, Ned, sussurrara ela.
- Isto não a trouxe de volta - Robert afastou o olhar para o horizonte cinzento. - Malditos iram os deuses. Foi uma vitória oca, a que me deram. Uma coroa... foi pela donzela que orei a eles. A sua irmã, salva... e minha de novo, como estava destinada a ser. Pergunto-lhe, Ned, de que serve usar uma coroa? Os deuses zombam tanto das preces de reis como das dos vaqueiros.
- Não posso responder pelos deuses, Vossa Graça... só por aquilo que encontrei quando entre: na sala do trono naquele dia - disse Ned. - Aerys estava morto no chão, afogado no próprio sangue. Seus crânios de dragão observavam das paredes. Havia homens dos Lannister por toda parte. Jaime trajava o manto branco da Guarda Real por cima da armadura dourada. Ainda o vejo. Até a espada era dourada. Estava sentado no Trono de Ferro, bem acima dos cavaleiros, usando um elmo em forma de cabeça de leão. Como brilhava!
- Isto é bem sabido - protestou o rei.
- Eu ainda estava montado. Percorri todo o salão em silêncio, entre as longas fileiras de crânios de dragão. De algum modo, parecia que me observavam. Parei em frente ao trono, olhando-o por baixo. Tinha a espada dourada pousada sobre as pernas, com a lâmina vermelha do sangue do rei. Meus homens começavam a encher a sala atrás de mim. Os de Lannister afastaram-se. Nunca disse uma palavra. Olhei-o, ali sentado no trono, e esperei. Por fim, Jaime soltou uma gargalhada e se ergueu. Tirou o elmo e disse-me: "Nada tem a temer, Stark. Estava apenas mantendo-o quente para o nosso amigo Robert. Temo que não seja uma cadeira muito confortável".
O rei atirou a cabeça para trás e rugiu. Suas gargalhadas assustaram um bando de corvos que saltaram do meio da alta grama castanha num frenético bater de asas.
- Pensa que devo desconfiar de Lannister porque se sentou no meu trono por momentos? - voltou a sacudir-se de riso. - Jaime não tinha mais de dezessete anos, Ned. Era pouco mais que um rapaz.
- Rapaz ou homem, não tinha direito àquele trono.
- Talvez estivesse cansado - sugeriu Robert. - Matar reis é trabalho pesado. Os deuses sabem que não há mais lugar nenhum onde descansar o traseiro naquela maldita sala. E ele falou a verdade: é uma cadeira brutalmente desconfortável. De todas as maneiras - o rei abanou a cabeça. - Bem, agora conheço o negro pecado de Jaime e o assunto pode ser esquecido. Estou mortalmente farto de segredos, questiúnculas e assuntos de Estado, Ned. É tudo tão entediante como contar moedas. Vem, vamos cavalgar, você costumava saber fazer isso. Quero voltar a sentir o vento nos cabelos - voltou a pôr o cavalo em movimento e galopou sobre o outeiro, fazendo saltar terra atrás de si.
Por um momento Ned não o seguiu. Tinha ficado sem palavras e sentia-se cheio de uma grande sensação de impotência. Uma vez mais perguntou a si próprio o que fazia ali e qual o motivo de ter vindo. Não era nenhum Jon Arryn, capaz de pôr freio à impetuosidade do rei e de lhe inculcar sabedoria. Robert faria o que lhe apetecesse, como sempre fizera, e nada do que Ned pudesse fazer ou dizer mudaria isso.
Seu lugar era em Winterfell. Seu lugar era com Catelyn, na sua dor, e com Bran. Mas um homem nem sempre podia estar no seu lugar. Resignado, Eddard Stark bateu com as botas no cavalo e foi atrás do rei.  

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