quinta-feira, 19 de setembro de 2013

13 - O CAVALEIRO MACULADO



A noite estava extraordinariamente fria, mesmo para o outono. Um vento vivo e úmido rodopiava pelas vielas, levantando a poeira do dia. Um vento do norte, e cheio de gelo. Sor Arys Oakheart puxou o capuz para cima a fim de esconder o rosto. Não seria bom que fosse reconhecido. Uma quinzena antes, um mercador tinha sido assassinado na cidade das sombras, um homem inofensivo que viera a Dorne em busca de fruta e encontrara a morte em vez de tâmaras. Seu único crime tinha sido ser de Porto Real.
A turba encontraria um adversário mais duro em mim. Teria quase agradecido um ataque. A mão caia-lhe para ir roçar levemente o cabo da espada que pendia, meio escondida, entre as pregas de suas vestes sobrepostas de linho, a exterior com suas riscas azul-turquesa e filas de sóis dourados, e a mais leve e laranja por baixo. O traje dornês era confortável, mas seu pai teria ficado horrorizado se tivesse vivido tempo suficiente para ver o filho vestido assim. Era um homem da Campina, e os dorneses eram seus inimigos ancestrais, como testemunhavam as tapeçarias em Carvalho Velho. A Arys ainda bastava fechar os olhos para vê-las. Lorde Edgerran, o Mãos-Abertas, sentado em esplendor com as cabeças de uma centena de dorneses empilhadas em volta dos seus pés. As Três Folhas, no Passo do Príncipe, perfuradas por lanças dornesas. Alester soprando o berrante de guerra com seu último suspiro. Sor Olyvar, o Carvalho Verde, todo vestido de branco, morrendo ao lado do Jovem Dragão. Dorne não é lugar adequado para um Oakheart, seja ele qual for.
Mesmo antes de o Príncipe Oberyn ter morrido, o cavaleiro sentia-se pouco à vontade sempre que saía do recinto de Lançassolar para percorrer as vielas da cidade sombria. Sentia olhos postos em si onde quer que fosse, pequenos e negros olhos dorneses que o fitavam com uma hostilidade mal dissimulada. Os lojistas faziam o possível para enganá-lo em cada negócio, e por vezes perguntava a si mesmo se os taberneiros cuspiriam em sua bebida. Uma vez, um grupo de rapazes esfarrapados pusera-se a atirar-lhe pedras, até que ele puxou a espada e os afugentou. A morte da Víbora Vermelha inflamara ainda mais os dorneses, embora as ruas tivessem se acalmado um pouco desde que o Príncipe Doran confinara as Serpentes de Areia a uma torre. Mesmo assim, usar abertamente o manto branco na cidade sombria seria pedir para ser atacado. Trouxera três consigo: dois de lã, um leve e um pesado, e o terceiro de fina seda branca. Sentia-se nu sem um deles pendendo-lhe dos ombros.
Antes nu do que morto, disse a si mesmo. Ainda sou um membro da Guarda Real, mesmo sem manto. Ela tem de respeitar isso. Tenho de fazer que compreenda. Nunca devia ter se deixado arrastar para aquilo, mas o cantor dissera que o amor pode transformar qualquer homem num tolo.
Era frequente que a cidade sombria de Lançassolar parecesse deserta ao calor do dia, quando apenas moscas se deslocavam zumbindo pelas ruas poeirentas, mas, uma vez caída a noite, as mesmas ruas voltavam à vida. Sor Arys ouviu uma música tênue que flutuava através de janelas tapadas por persianas enquanto passava por baixo, e, em algum lugar, tambores batiam o ritmo rápido de uma dança de lanças, dando à noite um pulsar. No local onde três vielas se encontravam junto à segunda das Muralhas Sinuosas, uma almofadeira chamou de uma varanda. Estava vestida de joias e azeite. Lançou-lhe um olhar, curvou os ombros e avançou, direto aos dentes do vento. Nós, os homens, somos tão fracos. Os corpos traem até os mais nobres de nós. Pensou no Rei Baelor, o Abençoado, que jejuava até desmaiar para domar os desejos que o envergonhavam. Teria ele de fazer o mesmo?
Um homem baixo encontrava-se em frente a uma arcada, grelhando postas de cobra num braseiro, virando-as com pinças de madeira à medida que iam torrando. O pungente odor de seus molhos trouxe lágrimas aos olhos do cavaleiro. Ouvira dizer que o melhor molho de cobra tinha uma gota de veneno, bem como sementes de mostarda e pimentões de dragão. Myrcella passara a gostar da comida de Dorne tão depressa como do seu príncipe de Dorne, e de tempos em tempos Sor Arys experimentava um prato ou outro para contentá-la. A comida queimava-lhe a boca e o deixava ansiando por vinho; e queimava ainda mais ao sair do que ao entrar. Mas sua princesinha gostava.
Deixara-a em seus aposentos, debruçada sobre uma mesa de jogo em frente do Príncipe Tristane, empurrando elaboradas peças por quadrados de jade, cornalina e lápis-lazúli. Os lábios cheios de Myrcella estavam ligeiramente abertos, e seus olhos verdes semicerrados de concentração. O jogo chamava-se cyvasse. Chegara a Vila Tabueira numa galé mercante proveniente de Volantis, e os órfãos tinham-no espalhado para cima e para baixo ao longo do Sangueverde. A corte dornesa era louca por ele.
Sor Arys limitava-se a achá-lo enlouquecedor. Havia dez peças diferentes, cada uma com seus próprios atributos e poderes, e o tabuleiro mudava de jogo para jogo, dependendo do modo como os jogadores distribuíam seus quadrados iniciais. Príncipe Trystane tornara-se imediatamente apreciador, e Myrcella aprendera o jogo para poder jogar com ele. Não tinha ainda bem onze anos, e seu prometido treze; mesmo assim, nos últimos tempos, era mais frequente ela ganhar do que perder. Trystane não parecia se importar. As duas crianças não podiam parecer mais diferentes, ele com sua pele cor de oliva e lisos cabelos negros, ela branca como leite, com uma cabeleira de cachos dourados; claro e escuro, como a Rainha Cersei e o Rei Robert. Rezava para que Myrcella encontrasse mais alegrias em seu rapaz dornês do que a mãe achara em seu senhor da tempestade.
Sentia-se inquieto por deixá-la, embora devesse ficar a salvo dentro do castelo. Havia apenas duas portas que davam acesso aos aposentos de Myrcella na Torre do Sol, e Sor Arys mantinha dois homens em cada uma; guardas domésticos Lannister, homens que tinham vindo com eles de Porto Real, testados em batalha, duros, e leais até os ossos. Myrcella tinha também suas aias e a Septã Eglantine, e o Príncipe Trystane era servido por seu escudo juramentado, Sor Gascoyne do Sangueverde. Ninguém a incomodará, disse a si mesmo, e dentro de um a quinzena estaremos longe e a salvo.
Príncipe Doran assim prometera. Embora Arys tivesse se sentido chocado quando vira como o príncipe dornês parecia envelhecido e enfermo, não duvidava de sua palavra.
“Lamento não ter podido me encontrar com você até agora, ou conhecer a Princesa Myrcella” disse Martell quando Arys foi recebido em seu aposento privado, “mas confio que minha filha Arianne o tenha feito se sentir bem-vindo aqui em Dorne, sor”
“Fez, meu príncipe", respondeu, e rezou para que nenhum rubor se atrevesse a traí-lo.
“Nossa terra é dura e pobre, mas não está desprovida de belezas. Fico triste que não tenha visto de Dorne mais do que Lançassolar, mas temo que nem você nem sua princesa estariam a salvo fora dessas muralhas. Nós, os dorneses, somos um povo de sangue quente, rápido na ira e lento no perdão. Alegraria meu coração se pudesse lhe garantir que as Serpentes de Areia estão sozinhas em seu desejo de guerra, mas não mentirei a você, sor. Ouviu meu povo nas ruas, gritando-me para que convoque as lanças. Temo que metade de meus lordes concorde com eles.”
“E o senhor, meu príncipe?” atrevera-se o cavaleiro a perguntar.
“Minha mãe ensinou-me há muitos anos que só loucos travam guerras que não podem vencer.” Se a franqueza da pergunta o ofendera, Príncipe Doran escondera bem. “Mas essa paz é frágil... tão frágil como a sua princesa”
“Só um animal faria mal a uma menina.”
“Minha irmã Elia também tinha uma menina. Seu nome era Rhaenys. Era também uma princesa.” O príncipe suspirou. “Aqueles que querem mergulhar uma faca na Princesa Myrcella não lhe têm nenhum rancor, tal como Sor Amory Lorch não tinha quando matou Rhaenys, se é que o fez mesmo. Procuram apenas me obrigar a agir. Pois, se Myrcella fosse morta em Dorne enquanto estivesse sob a minha proteção, quem acreditaria nas minhas justificativas?”
“Nunca ninguém fará mal a Myrcella enquanto eu for vivo.”
“Uma nobre jura” disse Doran Martell com um tênue sorriso “mas é apenas um homem, sor. Tive esperança de que aprisionar minhas obstinadas sobrinhas pudesse ajudar a acalmar as águas, mas tudo o que fizemos foi correr com as baratas para debaixo das esteiras. Todas as noites ouço-as murmurando e afiando as facas.”
Ele tem medo, Sor Arys compreendeu. Olhe, a mão treme-lhe. O Príncipe de Dorne está aterrorizado. Faltaram-lhe palavras.
“ As minhas desculpas, sor” disse o Príncipe Doran. “Estou fraco e doente, e por vezes... Lançassolar cansa-me, com seu ruído, imundície e odores. Assim que meus deveres me permitirem, pretendo regressar aos Jardins de Água. Quando o fizer, levarei comigo a Princesa Myrcella.” Antes de o cavaleiro ter tempo de protestar, o príncipe ergueu a mão de articulações vermelhas e inchadas.“Irá também. E sua septã, suas aias, seus guardas. As muralhas de Lançassolar são fortes, mas à sua sombra fica a cidade sombria. Mesmo dentro do castelo há centenas de pessoas indo e vindo todos os dias. Os Jardins são meu porto seguro. Príncipe Maron os construiu como presente para sua noiva Targaryen, a fim de assinalar o casamento de Dorne com o Trono de Ferro. Lá, o outono é uma estação adorável... dias quentes, noites frescas, a brisa salgada que vem do mar, as fontes e as lagoas. E há outras crianças, rapazes e garotas de nascimento elevado e de boa estirpe. Myrcella terá amigos de sua idade com quem brincar. Não se sentirá sozinha”
“Às suas ordens.” As palavras do príncipe martelavam-lhe a cabeça. Lá, ela ficará em segurança. Mas, se assim era, por que Doran Martell lhe teria pedido para não escrever para Porto Real a fim de relatar a mudança? Myrcella ficará mais segura se ninguém souber exatamente onde se encontra. Sor Arys concordara, mas que alternativa teria? Era um cavaleiro da Guarda Real, mas, apesar de tudo, era apenas um homem, tal como o príncipe dissera.
A viela abriu-se de súbito para um pátio iluminado pelo luar. Depois da loja do fabricante de velas, ela escrevera, um portão e uma curta escadaria exterior. Empurrou o portão e subiu os degraus desgastados até uma porta sem nada que a distinguisse das demais. Devo bater? Em vez disso, empurrou a porta, abrindo-a, e deu por si num aposento grande e sombrio, com teto baixo, iluminado por um par de velas aromáticas que tremeluziam em nichos cortados nas espessas paredes de barro. Viu sob as sandálias tapetes de Myr decorados com padrões, uma tapeçaria pendurada numa parede, uma cama.
- Senhora? - chamou. - Onde está?
- Aqui - ela saiu da sombra atrás da porta.
Uma serpente ornamentada enrolava-se em volta de seu braço direito, com escamas de cobre e ouro cintilando quando se movia. Era tudo o que vestia.
Não, quis o cavaleiro lhe dizer, só vim dizer-lhe que tenho de ir embora, mas quando a viu brilhar à luz das velas pareceu perder o poder da fala. Sentia a garganta tão seca como as areias de Dorne. E em silêncio ficou, bebendo a glória daquele corpo, a cova de sua garganta, os seios redondos e maduros com seus enormes mamilos escuros, as curvas luxuriantes da cintura e da anca. E então, sem saber como, deu por si abraçando-a, e ela tirando-lhe as vestes, e, quando alcançou a túnica interior, pegou-a pelos ombros e rasgou a seda até o umbigo, mas Arys já ultrapassara o ponto em que ainda se importava. A pele dela era lisa por baixo de seus dedos, tão quente ao toque como areia cozida pelo sol de Dorne. Ergueu-lhe a cabeça e encontrou seus lábios. Sua boca abriu-se sob a dele, e seus seios encheram-lhe as mãos. Sentiu os mamilos se retesarem quando roçou neles os polegares. Os cabelos dela eram negros e espessos, e cheiravam a orquídeas, um cheiro escuro e terroso que o deixou tão teso que quase doía.
- Toque-me, sor - murmurou-lhe a mulher ao ouvido. Sua mão deslizou ao longo da barriga arredondada e foi encontrar o lugar doce e úmido por baixo do matagal de pelos negros. - Sim, aí - ela murmurou enquanto Arys enfiava um dedo em seu interior. Ela soltou um som lamuriento, puxou-o para a cama e o empurrou para baixo. - Mais, oh, mais, sim, que bom, meu cavaleiro, meu cavaleiro, meu querido cavaleiro branco, sim, você, você, desejo você - as mãos dela guiaram-no para dentro de si e depois envolveram-lhe as costas para puxá-lo para mais perto. - Mais fundo - murmurou. - Sim, oh - quando o envolveu com as pernas, pareceram-lhe fortes como aço. As unhas arranharam-lhe as costas enquanto a penetrava, outra vez, e outra, e outra, até que ela gritou e arqueou as costas por baixo de si. Quando o fez, os dedos fecharam-se sobre seus mamilos, beliscando-os até que ele derramou sua semente dentro dela. Podia morrer agora, feliz, pensou o cavaleiro, e durante uma dúzia de segundos, ao menos, ficou em paz.
Não morreu.
Seu desejo fora tão profundo e sem limites como o mar, mas quando a maré desceu, os rochedos da vergonha e da culpa ergueram-se, tão afiados como sempre. Por vezes, as ondas cobriam-nos, mas permaneciam por baixo de água, duros, negros e viscosos. Que estou fazendo? Perguntou a si mesmo. Sou um cavaleiro da Guarda Real. Saiu de cima dela e se esticou, de olhos fitos no teto. Uma grande rachadura o atravessava, de uma parede a outra. Não reparara nisso antes, tal como não reparara na imagem da tapeçaria, uma cena de Nymeria e de seus dez mil navios. Só vejo ela. Um dragão podia estar espreitando pela janela, e eu não teria visto nada além dos seus seios, seu rosto, seu sorriso.
- Há vinho - ela murmurou junto do seu pescoço. Passou-lhe a mão pelo peito. - Tem sede?
- Não - rolou para longe dela e se sentou à beira da cama. O quarto estava quente, mas, no entanto, tremia.
- Está sangrando - ela disse. - Arranhei com muita força.
Quando lhe tocou as costas, Arys estremeceu como se os dedos estivessem em chamas.
- Não faça isso - nu, pôs-se em pé. - Já chega.
- Tenho bálsamo. Para os arranhões.
Mas não para a vergonha.
- Os arranhões não são nada. Perdoe-me, senhora, preciso ir...
- Tão depressa? - ela tinha uma voz rouca, uma boca larga feita para murmúrios, lábios cheios, maduros para beijar. Os cabelos negros e densos caiam-lhe em cascata sobre os ombros nus até o topo dos seios cheios. Encaracolavam-se em grandes, macios e indolentes cachos. Até os pelos na púbis eram macios e encaracolados. - Fique comigo esta noite, sor. Ainda tenho muito a lhe ensinar.
- Já aprendi demais com você.
- Durante as lições pareceu bastante feliz, sor. Tem certeza de que não irá para outra cama, ter com outra mulher? Diga-me quem é ela. Lutarei por você, de peito nu, faca contra faca - sorriu. - A menos que seja uma Serpente de Areia. Se assim for, podemos partilhá-lo. Amo muito as minhas primas.
- Sabe que não tenho outras mulheres. Só... a obrigação.
Ela rolou sobre um cotovelo para observá-lo, com os grandes olhos negros brilhando à luz das velas.
- Essa cadela bexiguenta? Conheço-a. Seca como poeira entre as pernas, e seus beijos deixam-no sangrando. Que a obrigação durma só, para variar, e fique comigo esta noite.
- Meu lugar é no palácio.
Ela suspirou.
- Com sua outra princesa. Acabará por me deixar com ciúmes. Parece-me que a ama mais do que a mim. A donzela é nova demais para você. Precisa de uma mulher, não de uma garotinha, mas posso fazer papel de inocente, se isso o excita.
- Não devia dizer tais coisas - lembre-se, ela é dornesa. Na Campina, os homens diziam que era a comida que deixava os dorneses tão temperamentais e suas mulheres tão violentas e sensuais. Pimentões de fogo e estranhas especiarias aquecem o sangue, ela não pode evitá-lo. - Eu amo Myrcella como uma filha - nunca poderia ter uma filha sua, tal como nunca poderia ter uma esposa. Em vez disso, tinha um manto branco. - Vamos para os Jardins de Água.
- A seu tempo - ela concordou - se bem que com meu pai tudo demore quatro vezes mais do que devia. Se ele diz que pretende partir amanhã, com certeza irá colocar-se a caminho dentro de uma quinzena. Você se sentirá sozinho nos Jardins, garanto. E onde está o bravo e jovem galante que disse que desejava passar o resto da vida nos meus braços?
- Estava bêbado quando disse isso.
- Tinha bebido três taças de vinho aguado.
- Estava embriagado por você. Tinham-se passado dez anos desde que... desde que enverguei o branco e, até você, não tinha tocado nenhuma mulher. Não sabia o que o amor podia ser, mas agora... tenho medo.
- O que poderia assustar meu cavaleiro branco?
- Temo por minha honra - ele respondeu - e pela sua.
- Eu posso cuidar da minha honra - levou um dedo ao seio, afagando lentamente o mamilo. - E dos meus prazeres, se necessário. Sou uma mulher-feita.
Lá isso era, para lá de qualquer dúvida. Vê-la ali no colchão de penas, sorrindo aquele sorriso travesso, brincando com o seio... teria alguma vez havido mulher com mamilos tão grandes e tão prontos para responder? Quase não conseguia olhar para eles sem desejar agarrá-los, chupá-los até ficarem rijos, úmidos e brilhantes...
Afastou os olhos. Tinha a roupa íntima espalhada nos tapetes. O cavaleiro dobrou-se para apanhá-la.
- Suas mãos tremem - ela notou. - Elas prefeririam estar acariciando-me, julgo eu. É preciso tanta pressa para vestir a roupa, sor? Prefiro-o como está. Na cama, despidos, somos fiéis às nossas naturezas, um homem e uma mulher, amantes, uma só carne, tão próximos como duas pessoas podem ser. Nossas roupas tornam-nos diferentes. Prefiro ser sangue e carne do que sedas e joias, e você... você não é o seu manto branco, sor.
- Mas sou - disse Sor Arys. - Eu sou meu manto. E isto tem de terminar, para o seu bem, e também para o meu. Se formos descobertos...
- Os homens o julgarão afortunado.
- Os homens me julgarão um perjuro. E se alguém fosse ter com seu pai e contasse para ele o modo como a desonrei?
- Meu pai é muitas coisas, mas nunca ninguém o chamou de tolo. O Bastardo de Graçadivina tirou-me a virgindade quando tínhamos ambos catorze anos. Sabe o que meu pai fez quando soube? - ela juntou os lençóis com as mãos e os puxou até o queixo, para esconder a nudez. - Nada. Meu pai é muito bom fazendo nada. Chama isto de pensar. Diga-me a verdade, sor, é a minha desonra que o preocupa, ou a sua?
- Ambas - a acusação foi uma punhalada. - É por isso que esta deverá ser a última vez.
- Já disse isso antes.
Disse mesmo, e também falava sério. Mas sou fraco, caso contrário não estaria aqui. Não podia dizer isso a ela; era o tipo de mulher que despreza a fraqueza, podia senti-lo. Tem em si mais do tio do que do pai. Virou-se e encontrou a túnica interna de seda numa cadeira. Ela rasgara o tecido até o umbigo quando lhe despira a vestimenta.
- Isso está estragado - queixou-se - Como poderei usá-la agora?
- Ao contrário - ela sugeriu. - Depois de envergar as vestes, ninguém verá o rasgão. Sua pequena princesa talvez costure para você. Ou deverei eu mandar-lhe uma túnica nova para Jardins de Água?
- Não me mande presentes - isto serviria apenas para chamar a atenção. Sacudiu a túnica interna e enfiou-a pela cabeça, com as costas para a frente. Sentia a seda fresca contra a pele, embora aderisse às costas nos locais onde ela o arranhara. Serviria para voltar ao palácio, pelo menos. - Tudo o que quero é pôr fim a este... a este...
- Será isto galante, sor? Magoa-me. Começo a pensar que todas as suas palavras de amor eram mentiras.
Nunca poderia mentir para você. Sor Arys sentiu-se como se ela o tivesse esbofeteado.
- Por qual outro motivo eu teria posto de lado minha honra, não fosse por amor? Quando estou com você, eu... quase não consigo pensar, é tudo aquilo que sempre sonhei, mas...
- As palavras são vento. Se me ama, não me deixe.
- Eu prestei um juramento...
- ... de não se casar nem gerar filhos. Bem, eu bebi o meu chá de lua, e sabe que não posso casar com você - sorriu. - Embora talvez pudesse ser convencida a mantê-lo como concubino.
- Agora zomba de mim.
- Talvez um pouco. Acha que é o único membro da Guarda Real que alguma vez amou uma mulher?
- Sempre houve homens que acharam mais fácil proferir votos do que mantê-los - admitiu. Sor Boros Blount não era nenhum estranho na Rua da Seda, e Sor Preston Greenfield costumava visitar uma certa casa de comerciante de fazendas sempre que seu proprietário andava fora, mas Arys não desejava envergonhar seus Irmãos Juramentados falando de suas fraquezas. - Sor Terrence Toyne foi encontrado na cama com a amante do seu rei - preferiu dizer. - Era amor, ele jurou, mas custou-lhe a vida, e a dela, e originou a ruína da sua Casa e a morte do cavaleiro mais nobre que já viveu.
- Sim, mas o que me diz de Lucamore, o Ardente, com suas três esposas e dezesseis filhos? A canção sempre me dá vontade de rir.
- A verdade não é assim tão engraçada. Em vida nunca o chamaram Lucamore, o Ardente. Seu nome era Sor Lucamore Strong, e toda sua vida era uma mentira. Quando a fraude foi descoberta, seus próprios Irmãos Juramentados o castraram, e o Velho Rei o mandou para a Muralha. Esses dezesseis filhos foram deixados aos prantos. Ele não era um verdadeiro cavaleiro, tal como aconteceu com Terrence Toyne...
- E o Cavaleiro do Dragão? - ela atirou os lençóis para o lado e pousou os pés no chão. - O mais nobre cavaleiro que já viveu, você disse, e levou sua rainha para a cama e a deixou grávida.
- Não acreditarei nisso - ele respondeu, ofendido. - A história da traição do Príncipe Aemon com a Rainha Naerys era apenas isto, uma história, uma mentira que o irmão contou quando quis pôr de lado seu filho legítimo a favor de seu bastardo. Aegon não era chamado o Indigno sem motivo - encontrou o cinto da espada e o afivelou em volta da cintura. Embora tivesse um aspecto estranho sobre a seda da túnica interna dornesa, o peso familiar da espada e do punhal fez que se recordasse de quem era. - Não serei lembrado como Sor Arys, o Indigno - declarou. - Não mancharei meu manto.
- Sim - ela retrucou - esse belo manto branco. Esqueceu-se de que meu tio-avô usou o mesmo manto. Morreu quando eu era pequena, mas ainda me lembro dele. Era alto como uma torre e costumava fazer-me cócegas até eu perder o fôlego de tanto rir.
- Nunca tive a honra de conhecer o Príncipe Lewyn - Sor Arys respondeu - mas todos são unânimes em dizer que era um grande cavaleiro.
- Um grande cavaleiro com uma concubina. Ela hoje é uma velha, mas os homens dizem que na juventude era uma beleza rara.
O Príncipe Lewyn? Aquela era uma história que Sor Arys nunca ouvira. Ele ficou chocado. A traição de Terrence Toyne e as fraudes de Lucamore, o Ardente, estavam registradas no Livro Branco, mas não havia sequer a sugestão de uma mulher na página do Príncipe Lewyn.
- Meu tio sempre disse que era a espada na mão de um homem que determinava seu valor, não aquela que tinha entre as pernas - ela continuou - portanto, poupe-me de sua pia conversa sobre mantos manchados. Não foi nosso amor que o desonrou, foram os monstros a quem serviu e os brutamontes a quem chamou de irmãos.
Aquilo o atingiu muito perto do alvo.
- Robert não era monstro nenhum.
- Subiu no trono por cima dos cadáveres de crianças - ela rebateu - se bem que devo admitir que não era propriamente um Joffrey.
Joffrey. Fora um rapaz bonito, alto e forte para a idade, mas isso era todo o bem que se podia dizer dele. Ainda envergonhava Sor Arys lembrar-se de todas as vezes que batera na pobre garota Stark por ordem do rapaz. Quando Tyrion o escolheu para ir com Myrcella para Dorne, acendeu uma vela ao Guerreiro em agradecimento.
- Joffrey está morto, envenenado pelo Duende - nunca teria achado o anão capaz de tal enormidade. - Agora o rei é Tommen, e ele não é o irmão.
- Nem a irmã.
Era verdade. Tommen era um homenzinho de bom coração que procurava sempre fazer o seu melhor, mas na última vez em que Sor Arys o vira ele chorava no cais. Myrcella não derramara uma lágrima, embora fosse ela quem estivesse abandonando o lar para selar uma aliança com sua virgindade. A verdade era que a princesa era mais corajosa do que o irmão, e também mais inteligente e confiante. Tinha o espírito mais vivo, as cortesias mais polidas. Nunca nada a intimidava, nem mesmo Joffrey. A força está realmente nas mulheres. Pensava não só em Myrcella, mas também na mãe dela e na sua, a Rainha dos Espinhos, nas belas, mortíferas Serpentes de Areia da Víbora Vermelha. E na Princesa Arianne Martell, acima de tudo nela.
- Não desejo dizer que está enganada - a voz soou-lhe rouca.
- Não quer? Não pode! Myrcella é mais capaz para governar...
- Um filho tem precedência sobre uma filha.
- Por quê? Porque deus fez as coisas assim? Sou herdeira do meu pai. Devo abdicar dos meus direitos em favor de meus irmãos?
- Está distorcendo minhas palavras. Nunca disse... Dorne é diferente. Os Sete Reinos nunca foram governados por uma rainha.
- O primeiro Viserys pretendia que a filha Rhaenyra o sucedesse, será que é capaz de negar? Mas, enquanto o rei jazia moribundo, o Senhor Comandante de sua Guarda Real decidiu que devia ser de outro modo.
Sor Criston Cole. Criston, o Fazedor de Reis, pusera irmão contra irmã e dividira a Guarda Real contra si mesma, dando origem à terrível guerra a que os cantores chamavam a Dança dos Dragões. Alguns diziam que ele agira por ambição, pois o Príncipe Aegon era mais tratável do que sua voluntariosa irmã mais velha. Outros concediam-lhe motivos mais nobres e argumentavam que defendia o antigo costume ândalo. Alguns sussurravam que Sor Criston fora amante da Princesa Rhaenyra antes de envergar o branco e desejava vingança contra a mulher que o desdenhara.
- O Fazedor de Reis realizou um grande mal - disse Sor Arys e pagou caro por isso, mas...
- ... mas talvez os Sete o tenham enviado para cá a fim de que um cavaleiro branco pudesse consertar aquilo que outro arruinou. Sabe que quando meu pai regressar aos Jardins de Água pretende levar Myrcella com ele?
- Para mantê-la a salvo daqueles que querem lhe causar mal.
- Não. Para mantê-la longe daqueles que procurariam coroá-la. O Príncipe Oberyn Víbora lhe teria colocado ele mesmo a coroa na cabeça se tivesse sobrevivido, mas meu pai não tem coragem para isso - pôs-se em pé. - Diz que ama a garota como a uma filha do seu sangue. Deixaria que sua filha fosse espoliada de seus direitos e trancada numa prisão?
- Os Jardins de Água não são nenhuma prisão - protestou Arys debilmente.
- Uma prisão não tem fontes nem figueiras, é isto o que pensa? Mas, uma vez que a garota lá esteja, não será autorizada a sair. Tal como você. Hotah se assegurará disso. Não o conhece como eu conheço. Ele é terrível quando entra em ação.
Sor Arys franziu as sobrancelhas. O grande capitão norvoshi de rosto marcado sempre o deixara profundamente inquieto. Dizem que dorme com aquele grande machado do seu lado.
- O que acha que devo fazer?
- Nada além do que jurou fazer. Proteger Myrcella com a vida. Defendê-la... e aos seus direitos. Colocar-lhe uma coroa na cabeça.
- Eu prestei um juramento!
- A Joffrey, não a Tommen.
- Sim, mas Tommen é um garoto de boa índole. Ele será melhor rei do que Joffrey.
- Mas não melhor do que Myrcella. Ela também ama o garoto. Eu sei que não permitirá que nenhum mal lhe aconteça. Ponta Tempestade é legitimamente sua, visto que Lorde Renly não deixou herdeiros e Lorde Stannis está proscrito. A seu tempo, Rochedo Casterly também passará para o garoto, por via da senhora sua mãe. Será um lorde tão importante como qualquer outro no reino... mas Myrcella deve ocupar o Trono de Ferro.
- A lei... não sei...
- Eu sei - quando se levantava, o longo emaranhado negro de seus cabelos caía-lhe até a parte inferior das costas. - Aegon, o Dragão, criou a Guarda Real e seus votos, mas o que um rei faz, outro pode desfazer ou alterar. Antes, a Guarda Real servia de forma vitalícia, mas Joffrey demitiu Sor Barristan para que seu cão pudesse ter um manto. Myrcella vai querer que seja feliz, e também gosta de mim. Ela nos dará licença para casar se lhe pedirmos - Arianne pôs os braços em volta dele e encostou o rosto em seu peito. O topo da cabeça chegava-lhe logo abaixo do queixo. - Pode ficar comigo e com o manto branco, se for isto o que deseja.
Ela está me dilacerando.
- Sabe que quero, mas...
- Eu sou uma princesa de Dorne - ela falou com sua voz enrouquecida e não é adequado que me faça implorar.
Sor Arys sentia o cheiro do perfume que tinha nos cabelos, e sentia-lhe o coração batendo contra seu peito. Seu corpo estava respondendo à proximidade da mulher e não duvidava de que ela também o sentia. Quando pôs os braços sobre seus ombros, percebeu que ela tremia.
- Arianne? Minha princesa? O que há, meu amor?
- Terei de dizer, sor? Tenho medo. Chama-me amor, mas recusa-me, no momento em que me é mais necessário. Será assim tão errado da minha parte querer um cavaleiro que me mantenha em segurança?
Ele nunca a ouvira parecer tão vulnerável.
- Não - disse - mas tem os guardas de seu pai para mantê-la em segurança, porque...
- São os guardas de meu pai que temo - por um momento, pareceu mais nova do que Myrcella. - Foram os guardas de meu pai que acorrentaram minhas queridas primas.
- Acorrentadas, não. Ouvi dizer que têm todo o conforto.
Ela soltou uma gargalhada amarga:
- Você as viu? Ele não me permite vê-las, sabia disso?
- Andavam falando de traição, fomentando a guerra...
- Loreza tem seis anos. Dorea oito. Que guerras podiam elas fomentar? E, no entanto, meu pai as aprisionou com as irmãs. Você o viu. O medo leva até mesmo os homens fortes a fazer coisas que talvez nunca fizessem, e meu pai nunca foi forte. Arys, coração, escuta-me pelo amor que diz sentir por mim. Nunca fui tão destemida como minhas primas, pois fui feita com semente mais fraca, mas Tyene e eu temos a mesma idade e somos próximas como irmãs desde pequenas. Não há segredos entre nós. Se ela pode ser aprisionada, eu também posso, e pelo mesmo motivo... este, de Myrcella.
- Seu pai nunca faria isso.
- Não conhece meu pai. Eu o tenho desapontado desde que cheguei a este mundo sem um pau. Tentou casar-me meia dúzia de vezes com grisalhos desdentados, cada um mais desprezível do que o anterior. Nunca me ordenou que os desposasse, admito, mas bastam as ofertas para demonstrar a baixa conta em que me tem.
- Mesmo assim, é sua herdeira.
- Sou?
- Ele a deixou governando Lançassolar quando se mudou para os seus Jardins de Água, não deixou?
- Governando? Não. Deixou o primo, Sor Manfrey, como castelão, o velho e cego Ricasso como senescal, seus beleguins para coletar taxas e impostos para o tesoureiro Alyse Ladybright contar, seus xerifes para policiar a cidade sombria, seus funcionários judiciais para realizar julgamentos, e Meistre Myles para tratar de quaisquer cartas que não precisassem de atenção pessoal do príncipe. Acima de todos, colocou a Víbora Vermelha. Minha tarefa eram os festejos e os divertimentos, e o entretenimento de hóspedes distintos. Oberyn visitava os Jardins de Água duas vezes a cada quinzena. A mim, convocava duas vezes por ano. Não sou a herdeira que meu pai quer, ele deixou isto claro. Nossas leis o constrangem, mas sei que ele preferiria que meu irmão o sucedesse.
- Seu irmão? - Sor Arys pôs-lhe a mão debaixo do queixo e ergueu-lhe a cabeça, para melhor olhar nos seus olhos. - Não pode estar falando de Tristane, ele é só um garoto.
- Não é Tris, Quentyn - os olhos dela eram arrojados e negros como o pecado, e não vacilavam - Sei a verdade desde meus catorze anos, desde o dia em que fui ao aposento privado do meu pai para lhe dar um beijo de boa-noite e não o encontrei lá. Soube mais tarde que minha mãe tinha mandado chamá-lo. Ele deixara uma vela acesa. Quando fui apagá-la, encontrei uma carta incompleta ao seu lado, para meu irmão Quentyn, que se encontrava em Paloferro. Meu pai dizia a Quentyn que ele devia fazer tudo o que seu meistre e o mestre de armas lhe pedissem, porque “um dia sentará onde me sento e governará todo o Dorne, e um governante deve ser forte de mente e de corpo” - uma lágrima correu pela face macia de Arianne. - Palavras do meu pai, escritas com sua letra. Ficaram marcadas a fogo na minha memória. Nessa noite, e muitas depois, chorei até adormecer.
Sor Arys ainda não conhecia Quentyn Martell. O príncipe fora criado por Lorde Yronwood desde tenra idade, servira-lhe como pajem, depois como escudeiro, e até preferira ser armado cavaleiro por suas mãos em vez das da Víbora Vermelha. Se eu fosse um pai, também quereria que meu filho me sucedesse, pensou, mas tinha sentido dor na voz dela e sabia que, se dissesse o que pensava, a perderia.
- Talvez tenha compreendido mal - disse. - Era apenas uma criança. O príncipe talvez tenha escrito isso só para encorajar seu irmão a ser mais diligente.
- Acha isso? Então, diga-me, onde Quentyn está agora?
- O príncipe está com a hoste de Lorde Yronwood no Caminho do Espinhaço - Sor Arys respondeu cautelosamente. Era o que o muito idoso castelão de Lançassolar lhe dissera quando chegou a Dorne. O meistre com a barba sedosa dissera o mesmo.
Arianne objetou:
- Isto é o que meu pai quer que pensemos, mas tenho amigos que me dizem outras coisas. Meu irmão atravessou o mar estreito em segredo, pretendendo ser um simples mercador. Por quê?
- Como hei de saber? Pode haver uma centena de motivos.
- Ou um só. Está ciente de que a Companhia Dourada quebrou seu contrato com Myr?
- Os mercenários sempre quebram contratos.
- A Companhia Dourada não. Gabam-se de que nossa palavra vale ouro desde os dias do Açamargo. Myr está à beira da guerra com Lys e Tyrosh. Por que quebrar um contrato que lhes oferecia a possibilidade de bom pagamento e bom saque?
- Talvez Lys lhes tenha oferecido pagamento melhor. Ou Tyrosh.
- Não - ela rebateu. - Acreditaria nisso se fosse alguma das outras companhias livres, sim. A maioria mudaria de lado por moeda de prata. A Companhia Dourada é diferente. Uma irmandade de exilados e de filhos de exilados, unida pelo sonho de Açamargo. O que eles desejam é a terra natal, tanto como o ouro. Lorde Yronwood sabe disso tão bem quanto eu. Seus ancestrais acompanharam Açamargo durante três das Rebeliões Blackfyre - pegou na mão de Sor Arys e entrelaçou seus dedos nos dele. - Alguma vez já viu as armas da Casa Toland, de Monte Espírito?
Arys teve de pensar por um momento.
- Um dragão comendo a própria cauda?
- O dragão é o tempo. Não tem princípio nem fim, portanto, todas as coisas ressurgem. Anders Yronwood é Criston Cole renascido. Ele murmura aos ouvidos do meu irmão que é ele quem deve governar depois do meu pai, que não está certo que os homens se ajoelhem perante as mulheres... que Arianne, em particular, não está preparada para governar, sendo a voluntariosa libertina que é - sacudiu os cabelos em desafio. - Portanto, suas duas princesas partilham uma causa comum, sor... E partilham também um cavaleiro que afirma amá-las a ambas, mas não quer lutar por elas.
- Lutarei - Sor Arys caiu sobre um joelho. - Myrcella é a mais velha, e a mais adequada para a coroa. Quem defenderá seus direitos, se não seu guarda real? Minha espada, minha vida, minha honra, todas lhe pertencem... e a você, delícia do meu coração. Juro, nenhum homem a espoliará do seu direito de nascença enquanto eu ainda tiver forças para erguer uma espada. Sou seu. O que quer de mim?
- Tudo - ela se ajoelhou para beijar-lhe os lábios. - Tudo, meu amor, meu amor verdadeiro, meu doce amor, e para sempre. Mas, primeiro...
- Peça, e será seu.
- ... Myrcella.  

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