quinta-feira, 19 de setembro de 2013

19 - O AFOGADO



Foi só quando ficou com os braços e as pernas dormentes de frio que Aeron Greyjoy lutou por retornar à terra e voltou a envergar suas vestes.
Fugira de Olho de Corvo como se ainda fosse a coisinha fraca de antes, mas, quando as ondas se quebraram sobre sua cabeça, voltaram a recordar-lhe que esse homem estava morto. Renasci do mar como um homem mais duro e mais forte. Nenhum mortal poderia assustá-lo, assim como a escuridão ou os ossos de sua alma, os cinzentos e terríveis ossos de sua alma. O som de um a porta se abrindo, o grito de uma dobradiça de ferro enferrujada.
A veste do sacerdote crepitou quando a puxou para baixo, ainda rígida do sal proveniente da última lavagem, uma quinzena antes. A lã aderiu ao seu peito úmido, bebendo a água salgada que lhe escorria cabelos abaixo. Encheu o odre e o colocou sobre o ombro.
Ao caminhar pela praia, um afogado que regressava de um chamamento da natureza encontrou-se com ele na escuridão.
- Cabelo-Molhado - murmurou. Aeron pôs-lhe a mão na cabeça, o abençoou e prosseguiu seu caminho. O chão ergueu-se sob seus pés, a princípio levemente, e logo de um modo mais íngreme. Quando sentiu mato entre os dedos dos pés, soube que tinha deixado a praia para trás. Lentamente subiu, escutando as ondas. O mar nunca se cansa. Eu tenho de ser igualmente incansável.
No topo da colina, quarenta e quatro costelas monstruosas erguiam-se da terra como os troncos de grandes árvores pálidas. A cena fazia o coração de Aeron bater mais depressa. Nagga tinha sido o primeiro dragão marinho, o mais poderoso que alguma vez se erguera das ondas. Alimentava-se de lulas gigantes e leviatãs, e afogava ilhas inteiras em sua ira, mas o Rei Cinzento o matou, e o Deus Afogado transformou seus ossos em pedra, para que os homens nunca deixassem de se maravilhar com a coragem do primeiro dos reis. As costelas de Nagga transformaram-se nas vigas e nos pilares de seu salão, e as mandíbulas do dragão foram seu trono. Reinou aqui durante mil e sete anos, Aeron recordou. Foi aqui que tomou sua esposa sereia e planejou as guerras contra o Deus da Tempestade. Daqui governou tanto pedra como sal, usando vestes de algas cosidas e uma coroa branca e alta feita com os dentes de Nagga.
Mas isso fora na alvorada dos dias, quando homens poderosos ainda viviam na terra e no mar. O salão fora aquecido pelo fogo da vida de Nagga, que fora transformado pelo Rei Cinzento num servo seu. Das paredes pendiam tapeçarias tecidas de algas prateadas muito agradáveis à vista. Os guerreiros do Rei Cinzento banqueteavam-se com as dádivas do mar numa mesa com a forma de uma grande estrela-do-mar, sentados em tronos esculpidos de madrepérola. Acabou, toda a glória acabou. Os homens eram agora menores. Suas vidas tinham se tornado curtas. O Deus da Tempestade afogara o fogo de Nagga após a morte do Rei Cinzento, as cadeiras e as tapeçarias tinham sido roubadas, o telhado e as paredes tinham apodrecido. Até o grande trono de colmilhos do Rei Cinzento fora engolido pelo mar. Só os ossos de Nagga resistiram, para recordar aos homens de ferro os prodígios do passado.
Basta, pensou Aeron Greyjoy.
Nove largos degraus tinham sido talhados no cume pedregoso da colina. Por trás erguiam-se os grandes montes de Velha Wyk, com montanhas a distância, negras e cruéis. Aeron fez uma pausa onde ficavam as portas, tirou a rolha do odre, bebeu um gole de água salgada e virou-se para encarar o mar. Nascemos do mar e ao mar temos de regressar. Mesmo ali conseguia ouvir o incessante estrondo das ondas e sentir o poder do deus que se ocultava debaixo das águas. Aeron caiu de joelhos. Enviou-m e o seu povo, orou. Eles deixaram seus palácios e suas cabanas, seus castelos e suas fortalezas, e vieram para este lugar, para os ossos de Nagga, de todas as aldeias de pescadores e de todos os vales escondidos. Agora, conceda-lhes a sabedoria para reconhecer o verdadeiro rei quando ele se erguer à sua frente, e a força para repelir o falso. Passou a noite toda orando, pois quando o deus se encontrava em si, Aeron Greyjoy não tinha mais necessidade de sono do que as ondas ou os peixes do mar.
Nuvens escuras corriam à frente do vento quando a primeira luz da aurora penetrou furtivamente no mundo. O céu negro tornou-se cinzento como ardósia, e o mar negro cinza-esverdeado; as montanhas negras de Grande Wyk, do outro lado da baía, envergaram os tons azul-esverdeados dos pinheiros marciais. Enquanto a cor se esgueirava de volta ao mundo, uma centena de estandartes ergueu-se e começou a tremular. Aeron contemplou o peixe prateado de Botley, a lua sangrenta de Wynch, as árvores verde-escuras de Orkwood. Viu berrantes de guerra, leviatãs e foices, e por todo lado as lulas gigantes, grandiosas e douradas. Por baixo, servos e esposas de sal começavam a se movimentar, remexendo brasas para lhes dar nova vida e preparar peixe para os capitães e os reis quebrarem o jejum. A luz da alvorada tocou a praia pedregosa, e Aeron observou homens que acordavam, atirando para o lado suas mantas de pele de foca enquanto pediam seu primeiro corno de cerveja. Bebam longamente, pensou, pois hoje temos um trabalho divino a fazer.
O mar também se agitava. As ondas aumentavam à medida que o vento se levantava, erguendo plumas de borrifos contra os dracares. O Deus Afogado acorda, pensou Aeron. Ouvia sua voz irromper das profundezas do mar. Estarei com você aqui, neste dia, meu forte e fiel servo, dizia a voz. Nenhum homem sem deus pode se sentar em minha Cadeira de Pedra do Mar.
Foi ali, sob o arco das costelas de Nagga, que seus afogados o foram encontrar, em pé, alto e austero com seus longos cabelos negros soprados pelo vento.
- Chegou o momento? - perguntou Rus. Aeron assentiu e disse:
-Chegou. Faça soar a convocação.
Os afogados pegaram nas clavas de madeira trazida pelo mar e puseram-se a batê-las umas nas outras enquanto desciam a colina. Outros juntaram-se a eles, e o clangor espalhou-se ao longo da praia. Faziam um tal estalar e tinir que era como se uma centena de árvores estivessem batendo umas nas outras com os ramos. Timbales também começaram a soar, bum -bum -bum-bum -bum , bum -bum -bum -bum -bum . Um berrante de guerra berrou, seguido por outro. AAAAAAuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu.
Homens abandonaram as fogueiras para abrir caminho até os ossos do Palácio do Rei Cinzento; remadores, timoneiros, fabricantes de velas, construtores navais, guerreiros com seus machados e pescadores com suas redes. Alguns tinham servos para servi-los; outros, esposas de sal. Outros, que tinham velejado com bastante frequência até as terras verdes, eram servidos por meistres, cantores e cavaleiros. Os plebeus aglomeraram-se num crescente em volta da base da colina, com os servos, as crianças e as mulheres na retaguarda. Os capitães e os reis subiram as vertentes. Aeron Cabelo-Molhado viu o alegre Sigfry Stonetree, Andrik, o Sério, o cavaleiro Sor Harras Harlaw. Lorde Baelor Blacktyde, em seu manto de zibelina, encontrava-se ao lado de Stonehouse, com suas esfarrapadas peles de foca. Victarion erguia-se mais alto do que os demais, à exceção de Andrik. O irmão não trazia elmo, mas fora isso vestia a armadura completa, com o manto da lula gigante pendendo-lhe, dourado, dos ombros. Será ele o nosso rei. Quem poderá olhá-lo e duvidar?
Quando Cabelo-Molhado ergueu as mãos ossudas, os timbales e os berrantes de guerra silenciaram-se, os afogados abaixaram as clavas e todas as vozes se calaram. Só restou o som das ondas batendo, um rugido que não havia homem que conseguisse aquietar.
- Nascemos do mar, e todos ao mar regressamos - começou Aeron, a princípio em voz baixa, para que os homens se esforçassem por ouvir. - O Deus da Tempestade, em sua ira, arrancou Balon de seu castelo e o derrubou, mas ele agora banqueteia-se sob as ondas, nos salões aquáticos do Deus Afogado - ergueu os olhos para o céu. - Balon está morto! O rei de ferro está morto!
- O rei está morto! - gritaram seus afogados.
- No entanto, o que está morto não pode morrer, mas volta a se erguer, mais duro e mais forte! - recordou-lhes. - Balon caiu, Balon, meu irmão, que honrou o Costume Antigo e pagou o preço de ferro. Balon, o Bravo, Balon, o Abençoado, Balon, o Três-Vezes-Coroado, que nos reconquistou a liberdade e nosso deus. Balon está morto... Mas um rei de ferro voltará a se erguer para ocupar a Cadeira de Pedra do Mar e governar as ilhas.
- Um rei se erguerá! - responderam eles. - Ele se erguerá!
- Ele vai. Tem de se erguer - a voz de Aeron trovejou como as ondas. - Mas, quem? Quem deverá ocupar o lugar de Balon? Quem deverá governar estas ilhas sagradas? Estará ele agora entre nós? - o sacerdote abriu as mãos. - Quem deverá reinar sobre nós?
Uma gaivota respondeu-lhe com um grito. A multidão começou a se agitar, como homens despertando de um sonho. Cada homem olhava os vizinhos, para ver qual deles poderia ousar reivindicar uma coroa. Olho de Corvo nunca foi paciente, disse Aeron Cabelo-Molhado a si mesmo. Talvez seja o primeiro a falar. Se o fizesse, isto seria o seu fim. Os capitães e os reis tinham percorrido um longo caminho para chegar àquele banquete, e não escolheriam o primeiro prato que fosse posto na sua frente. Eles vão querer provar e experimentar, uma dentada de um, uma mordiscadela de outro, até encontrar aquele que mais lhes convêm.
Euron devia também saber disso. Ficou de braços cruzados entre seus mudos e seus monstros. Só o vento e as ondas responderam à convocação de Aeron.
- Os homens de ferro precisam de um rei - insistiu o sacerdote após um longo silêncio. - Volto a perguntar. Quem deverá reinar sobre nós?
- Eu - chegou a resposta, vinda de baixo.
De imediato soou um grito irregular de “Gylbert! Gylbert Rei!” Os capitães abriram alas para deixar que o pretendente e seus campeões subissem a colina para se colocar ao lado de Aeron sob as costelas de Nagga.
O pretendente a rei era um lorde alto e seco, com uma expressão melancólica e um rosto cavado e escanhoado. Seus três campeões tomaram posição dois degraus abaixo dele, trazendo sua espada, seu escudo e seu estandarte. Partilhavam certa semelhança com o fidalgo alto, e Aeron tomou-os por seus filhos. Um deles desenrolou o estandarte, um grande dracar negro contra um sol poente.
- Sou Gylbert Farwynd, Senhor da Luz Solitária - disse o lorde à assembleia de homens livres.
Aeron conhecia alguns Farwynd, uma gente estranha que possuía terras nas costas mais ocidentais de Grande Wyk e nas ilhas espalhadas mais adiante, rochedos tão pequenos que a maioria não podia suportar mais do que uma única família. Dessas ilhas, a Luz Solitária era a mais distante, a oito dias de viagem para noroeste, por entre colônias de focas e leões-marinhos e o ilimitado oceano cinzento. Os Farwynd daí eram ainda mais estranhos do que os outros. Havia quem lhes chamasse troca-peles, profanas criaturas que podiam tomar a forma de leões-marinhos, morsas e até baleias malhadas, os lobos-do-mar selvagens.
Lorde Gylbert começou a falar. Falou de uma terra maravilhosa para além do Mar do Poente, uma terra sem inverno nem necessidades, onde a morte não dominava.
- Façam de mim seu rei, e os levarei até lá - gritou. - Construiremos dez mil navios, como Nymeria fez um dia, e zarparemos com todo nosso povo para ir desembarcar para lá do poente. Nesse lugar, cada homem será um rei, e cada esposa uma rainha.
Seus olhos, viu Aeron, eram agora cinzentos, logo azuis, tão mutáveis como o mar. Olhos de louco, pensou, olhos de tolo. A visão de que falava era sem dúvida um ardil implantado pelo Deus da Tempestade para atrair os nascidos de ferro à destruição. As oferendas que seus homens espalharam perante a assembleia de homens livres incluíam peles de foca e dentes de morsa, braçadeiras feitas de osso de baleia, berrantes de guerra com enfeites de bronze. Os capitães olharam e viraram-lhes as costas, deixando que homens menores se servissem dos presentes. Quando o tolo terminou de falar e seus campeões se puseram a gritar seu nome, só os Farwynd acompanharam o grito, e mesmo assim, nem todos. Logo os gritos de “Gylbert! Gylbert Rei!” desvaneceram-se no silêncio. A gaivota gritou sonoramente por cima deles e foi empoleirar-se no topo de uma das costelas de Nagga enquanto o Senhor da Luz Solitária descia a colina.
Aeron Cabelo-Molhado deu de novo um passo à frente.
- Volto a perguntar. Quem deverá reinar sobre nós?
- Eu! - trovejou uma voz profunda, e uma vez mais a multidão abriu alas.
O dono da voz foi carregado colina acima numa cadeira de madeira trazida pelo mar esculpida, transportada nos ombros por seus netos. Uma grande ruína em forma de homem, com cento e trinta quilos de peso e noventa anos de idade, trazia um manto branco de pele de urso. Seus cabelos também eram brancos como a neve, e a enorme barba cobria-o como uma manta, do rosto às ancas, de tal modo que era difícil determinar onde terminava a barba e começava a pele. Embora os netos fossem homens grandes e bem constituídos, lutavam com seu peso nos íngremes degraus de pedra. Sentaram-no diante do Palácio do Rei Cinzento, e três permaneceram abaixo dele na condição de campeões.
Há sessenta anos, ele podia perfeitamente ter conquistado a preferência da assembleia, pensou Aeron, mas sua hora passou há muito.
- Eu! - rugiu o homem da cadeira, numa voz tão enorme quanto ele. - E por que não? Quem há de melhor? Sou Erik Ferreiro, para aqueles que são cegos. Erik, o Justo. Erik Quebra-Bigornas. Mostre-lhes meu martelo, Thormor - um dos campeões o ergueu para que todos vissem; era uma coisa monstruosa, com o cabo coberto de couro velho e a cabeça um tijolo de aço do tamanho de um pão. - Não sei dizer quantas mãos transformei em pasta com aquele martelo - disse Erik - mas pode ser que algum ladrão saiba. Também não sei dizer quantas cabeças esmaguei contra minha bigorna, mas há umas tantas viúvas que sabem. Podia lhes contar todos os meus feitos em batalha, mas tenho oitenta e oito anos, e não viverei o suficiente para terminar. Se a idade é sabedoria, ninguém é mais sábio do que eu. Se a grandeza é força, ninguém é mais forte. Querem um rei com herdeiros? Tenho tantos que perdi a conta. Rei Erik, sim, gosto de como isso soa. Vamos, digam comigo. ERIK! ERIK QUEBRA-BIGORNAS! ERIK REI!
Enquanto os netos do homem acompanhavam o grito, seus filhos avançaram com arcas sobre o ombro. Quando as abriram na base dos degraus de pedra, uma torrente de prata, bronze e aço derramou-se; braçadeiras, colares, punhais, adagas e machados de arremesso. Alguns capitães apanharam os melhores objetos e acrescentaram suas vozes ao cântico. Mas, assim que o grito começou a crescer, uma voz de mulher cortou através dele.
- Erik! - homens afastaram-se para deixá-la passar. Com um pé no primeiro degrau, ela disse: - Erik, levante-se.
O silêncio se fez. O vento soprava, as ondas quebravam-se contra a costa, homens murmuravam aos ouvidos uns dos outros. Erik Ferreiro fitava Asha Greyjoy.
- Garota. Três vezes maldita garota. O que disse?
- Levante-se, Erik - ela gritou. - Levante-se, e eu gritarei seu nome com todos os outros. Levante-se e serei a primeira a segui-lo. Quer uma coroa, não? Levante-se e vá buscá-la.
Em outro ponto da multidão, Olho de Corvo soltou uma gargalhada. Erik o fuzilou com o olhar. As mãos do grandalhão fecharam-se com força em volta dos braços de seu trono de madeira trazida pelo mar. Seu rosto ficou vermelho, e logo depois púrpura. Os braços tremeram com o esforço. Aeron viu uma grossa veia azul pulsando em seu pescoço enquanto o homem lutava para se erguer. Por um momento pareceu que talvez conseguisse fazê-lo, mas perdeu o fôlego de repente, gemeu, e voltou a afundar-se na almofada. Euron riu ainda mais alto. O grandalhão deixou pender a cabeça e envelheceu num piscar de olhos. Os netos levaram-no de volta para o sopé da colina.
- Quem governará os nascidos no ferro? - voltou a gritar Aeron Cabelo-Molhado. - Quem reinará sobre nós?
Os homens entreolharam-se. Alguns olharam para Euron, outros para Victarion, uns poucos para Asha. Ondas quebraram-se, verdes e brancas, contra os dracares. A gaivota soltou outro grito, um grito roufenho e desamparado.
- Faça sua pretensão, Victarion - gritou Merlyn. - Acabemos com esta farsa.
- Quando estiver pronto - gritou Victarion em resposta.
Aquilo agradou a Aeron. É melhor que ele espere.
Drumm veio a seguir, outro velho, embora não tanto quanto Erik. Subiu a colina com as próprias pernas, e à anca trazia a Rubra Chuva, sua famosa espada, forjada de aço valiriano nos dias de antes da Destruição. Seus campeões eram homens dignos de nota: os filhos Denys e Donnel, ambos intrépidos guerreiros, e entre ambos vinha Andrik, o Sério, um homem gigantesco, com braços grossos como árvores. Falava bem a Drumm que tal homem o defendesse.
- Onde está escrito que nosso rei tem de ser uma lula gigante? - Drumm começou. - Que direito tem Pyke de nos governar? Grande Wyk é a maior das ilhas, Harlaw, a mais rica, Velha Wyk, a mais sagrada. Quando a linhagem negra foi consumida pelo fogo de dragão, os nascidos no ferro deram a primazia a Vickon Greyjoy, é certo... mas como lorde, não como rei.
Era um bom início. Aeron ouviu gritos de aprovação, mas estes minguaram quando o velho se pôs a falar da glória dos Drumm. Falou de Dale, o Pavor, de Roryn, o Salteador, dos cem filhos de Gormond Drumm, o Velho Pai. Desembainhou a Rubra Chuva e contou-lhes como Hilmar Drumm, o Astucioso, obtivera-a de um cavaleiro couraçado com miolos e uma clava de madeira. Falou de navios havia muito perdidos e de batalhas esquecidas há oitocentos anos, e a multidão foi ficando irrequieta. Falou, e falou, e depois falou ainda mais.
E quando as arcas de Drumm foram abertas, os capitães viram os avaros presentes que lhes tinha trazido. Nunca nenhum trono foi comprado com bronze, pensou Cabelo-Molhado. A verdade naquele pensamento era ouvida claramente, à medida que os gritos de “Drumm! Drumm! Dunstan Rei!” se dissipavam.
Aeron sentiu um aperto na barriga, e pareceu-lhe que as ondas estavam batendo com mais força do que antes. É tempo, pensou. É tempo de Victarion avançar com sua pretensão.
- Quem reinará sobre nós? - gritou o sacerdote uma vez mais, mas daquela vez seus ferozes olhos negros descobriram o irmão na multidão. - Nove filhos nasceram das virilhas de Quellon Greyjoy. Um era mais poderoso do que todos os outros, e não conhecia o medo.
Victarion devolveu-lhe o olhar e assentiu. Os capitães afastaram-se à sua frente enquanto ele subia os degraus.
- Irmão, dê-me uma bênção - ele disse ao chegar ao topo. Ajoelhou-se e inclinou a cabeça. Aeron tirou a rolha de seu odre e despejou um jato de água do mar na testa de Victarion.
- O que está morto não pode morrer - disse o sacerdote, e o irmão respondeu:
- ... mas volta a se erguer, mais duro e mais forte.
Quando Victarion se levantou, seus campeões se posicionaram abaixo dele; Ralf, o Coxo, Ralf Vermelho Stonehouse e Nute, o Barbeiro, todos eles notáveis guerreiros. Stonehouse trazia o estandarte Greyjoy: a lula gigante dourada num campo tão negro quanto o mar da meia-noite. Assim que ele se desenrolou, os capitães e os reis começaram a gritar o nome do Senhor Capitão. Victarion esperou que se aquietassem, e então disse:
- Todos vocês me conhecem. Se querem palavras doces, procurem em outro lugar. Não tenho língua de cantor. Tenho um machado, e tenho isto - ergueu suas enormes mãos revestidas de cota de malha para lhes mostrar, e Nute, o Barbeiro, exibiu seu machado, um temível bocado de aço. - Fui um irmão leal - Victarion prosseguiu. - Quando Balon se casou, foi a mim que enviou a Harlaw para lhe trazer a noiva. Liderei seus dracares em muitas batalhas, e não perdi mais do que uma. Da primeira vez que Balon pôs uma coroa, fui eu quem velejou para Lanisporto, a fim de fazer cerco à cauda do leão. Da segunda vez, foi a mim que enviou para esfolar o Jovem Lobo, caso ele voltasse aos uivos para casa. Tudo que terão de mim é mais daquilo que tiveram com Balon. É tudo o que tenho a dizer.
Com aquelas palavras, seus campeões começaram a entoar: “VICTARION! VICTARION REI!” Embaixo, seus homens despejavam as arcas, uma cascata de prata, ouro e pedras preciosas, uma riqueza de saque. Capitães lutaram para conseguir as mais ricas peças, gritando enquanto o faziam. “VICTARION! VICTARION! VICTARION REI!” Aeron observou Olho de Corvo. Falará agora, ou deixará que a assembleia siga seu rumo? Orkwood de Montrasgo murmurava no ouvido de Euron.
Mas não foi Euron quem pôs fim aos gritos, foi a mulher. Enfiou dois dedos na boca e assobiou, um som penetrante e estridente que cortou através do tumulto como uma faca corta coalhada.
- Tio! Tio! - dobrando-se, apanhou um colar de ouro torcido e saltitou degraus acima. Nute pegou-lhe pelo braço, e durante meio segundo Aeron teve esperança de que os campeões do irmão a mantivessem em silêncio, mas Asha libertou-se da mão do Barbeiro com uma sacudidela e disse qualquer coisa a Ralf Vermelho que o fez se afastar. Enquanto abria caminho, os aplausos iam se desvanecendo. Era a filha de Balon Greyjoy, e a multidão tinha curiosidade de ouvi-la falar.
- Foi bom de sua parte trazer tais dádivas à minha assembleia de homens livres, tio - disse a Victarion - mas não precisa usar tanta armadura. Prometo que não lhe farei mal - Asha virou-se para encarar os capitães. - Não há homem mais bravo do que meu tio, ninguém é mais forte, ninguém é mais feroz numa luta. E ele conta até dez tão depressa quanto qualquer outro, já o vi fazê-lo... apesar de ter de descalçar as botas quando precisa chegar a vinte - aquilo os fez rir. - Mas não tem filhos. As esposas dele andam sempre morrendo. Olho de Corvo é mais velho e tem melhor pretensão...
- Ele tem! - gritou o Remador Vermelho lá de baixo.
- Ah, mas a minha pretensão é ainda melhor - Asha pôs o colar na cabeça a um ângulo confiante, de forma que ouro reluzisse contra seus cabelos escuros. - O irmão de Balon não pode ter precedência sobre o filho de Balon!
- Os filhos de Balon estão mortos - gritou Ralf, o Coxo. - Não vejo mais do que a filhinha de Balon!
- Filha? - Asha enfiou a mão por baixo do gibão. - O -ho! Que é isto? Deverei lhe mostrar? Alguns de vocês já não veem uma desde que desmamaram - os homens voltaram a rir. - Tetas num rei são uma coisa terrível, a canção é esta? Ralf, me pegou, eu sou uma mulher... embora não seja uma velha como você. Ralf, o Coxo... não devia ser Ralf, o Frouxo? - Asha tirou um punhal de entre os seios. - Também sou uma mãe, e aqui está o meu bebê de peito! - ergueu-o. - E aqui, os meus campeões - forçaram passagem pelos três de Victarion para se colocarem abaixo dela: Qarl, o Donzel, Tristifer Botley e o cavaleiro Sor Harras Harlaw, cuja espada Anoitecer era tão legendária quanto a Rubra Chuva de Dunstan Drumm . - Meu tio disse que o conhecem. Também conhecem a mim...
- Quero conhecê-la melhor! - alguém gritou.
- Vá para casa e conheça sua mulher - gritou Asha em resposta. - O tio diz que lhes dará mais do que meu pai lhes deu. Bem, e o que foi isso? Ouro e glória, dirão alguns. Liberdade, sempre agradável. Sim, é verdade, ele nos deu isso... e também viúvas, como Lorde Blacktyde lhes dirá. Quantos de vocês tiveram a casa passada no archote quando Robert chegou? Quantos tiveram as filhas violadas e despojadas? Vilas incendiadas e castelos arruinados. Meu pai lhes deu isso. O que ele deu a vocês foi a derrota. O tio aqui lhes dará mais. Eu não.
- O que nos dará? - perguntou Lucas Codd. - Costura?
- Sim, Lucas. Vou costurar um reino para todos nós - atirou o punhal de uma mão para a outra. - Temos de aprender uma lição com o Jovem Lobo, que venceu todas as batalhas... e perdeu tudo.
- Um lobo não é uma lula gigante - objetou Victarion. - O que a lula gigante agarra não perde, seja dracar ou leviatã.
- E o que foi que nós agarramos, tio? O Norte? O que é isso, além de léguas e léguas de léguas e léguas longe do barulho do mar? Tomamos Fosso Cailin, Bosque Profundo, Praça de Torrhen, e até Winterfell. O que temos para mostrar? - fez um sinal e seus homens do Vento Negro abriram caminho à frente, com arcas de carvalho e ferro nos ombros. - Ofereço-lhes as riquezas da Costa Pedregosa - Asha anunciou quando a primeira foi virada ao contrário. Uma avalanche de seixos tombou, caindo em cascata degraus abaixo; seixos cinzentos, negros e brancos, alisados pelo mar. - Ofereço-lhes as riquezas de Bosque Profundo - ela falou no momento em que a segunda arca era aberta. Uma torrente de pinhas derramou-se, rolando e saltando até junto da multidão. - E , por fim, o ouro de Winterfell - da terceira arca vieram nabos amarelos, redondos, duros e tão grandes quanto uma cabeça, que caíram entre os seixos e as pinhas. Asha apunhalou um. - Harmund Sharp - gritou - seu filho Harrag morreu em Winterfell por isto - puxou o nabo da lâmina e atirou para ele. - Tem mais filhos, creio eu. Se quer trocar a vida deles por nabos, grite o nome do meu tio!
- E se gritar o seu nome? - quis saber Harmund. - O que acontece?
- A paz - ela respondeu. - Terras. Vitória. Darei a vocês Ponta do Dragão Marinho e a Costa Pedregosa, terra negra e árvores altas, e pedras suficientes para que cada filho mais novo construa um palácio. Também teremos os nortenhos... como amigos, para se oporem conosco contra o Trono de Ferro, Sua escolha é simples. Coroem-me, para a paz e para a vitória. Ou coroem meu tio, para mais guerra e mais derrota - voltou a embainhar o punhal. - O que querem, homens de ferro?
- VITÓRIA! - gritou Rodrik, o Leitor, com as mãos em volta da boca. - Vitória, e Asha!
- ASHA! - ecoou Lorde Baelor Blacktyde. - ASHA RAINHA!
A tripulação de Asha acompanhou o grito, “ASHA! ASHA! ASHA RAINHA!”. Bateram os pés no chão, sacudiram os punhos e berraram, enquanto Cabelo-Molhado os ouvia, incrédulo. Ela quer deixar a obra do pai incompleta! E, no entanto, Tristifer Botley gritava por ela, como muitos Harlaw, alguns Goodbrother, o enrubescido Lorde Merlyn, mais homens do que o sacerdote teria acreditado ser possível... por uma mulher!
Mas outros mantinham-se em silêncio, ou resmungavam comentários aos vizinhos.
- Nada de paz de covardes! - rugiu Ralf, o Coxo. Ralf Vermelho Stonehouse fez rodopiar o estandarte Greyjoy e berrou:
- Victarion! VICTARION! VICTARION! - homens começaram a se empurrar. Alguém atirou uma pinha na cabeça de Asha. Quando se esquivou, sua coroa improvisada caiu. Por um momento pareceu ao sacerdote que se encontrava no topo de um gigantesco formigueiro, com mil formigas fervilhando a seus pés. Gritos de “Asha!”' e “Victarion!” voaram de um lado para o outro, e pareceu que uma feroz tempestade estava prestes a engolir todos. O Deus da Tempestade está entre nós, pensou o sacerdote, semeando fúria e discórdia.
Penetrante como uma estocada, o som de um berrante cortou o ar.
Viva e funesta era sua voz, um grito quente e trêmulo que fazia que os ossos de um homem parecessem tamborilar com ele. O grito demorou-se no ar úmido do mar: aaaaRRIIIIIIiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
Todos os olhos se viraram na direção do som. Era um dos mestiços de Euron que soprava o chamado, um homem monstruoso com a cabeça raspada. Braçadeiras de ouro, jade e âmbar preto cintilavam em seus braços, e no seu peito largo estava tatuada uma ave de rapina qualquer, com garras que pingavam sangue.
aaaaRRRIIIIIiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
O berrante que soprava era reluzentemente negro e retorcido, e erguia-se mais alto do que um homem enquanto era sustido com ambas as mãos. Estava enfeitado com faixas de ouro vermelho e aço escuro, com antigos glifos valirianos nelas incisos, glifos que pareciam brilhar, rubros, enquanto o som ia aumentando.
aaaaaaaRRRIIIIIIIIIIIIiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
Era um som terrível, um lamento de dor e fúria que parecia queimar as orelhas. Aeron Cabelo-Molhado cobriu as suas e rezou para que o Deus Afogado fizesse erguer uma poderosa onda que esmagasse o berrante e o reduzisse ao silêncio, mesmo assim o guincho perdurava e perdurava. É o berrante do inferno, quis gritar, embora nenhum homem o pudesse ouvir. As bochechas do tatuado estavam tão distendidas que pareciam prestes a rebentar, e os músculos do seu peito torciam-se de um modo que parecia que a ave estava prestes a se libertar da sua pele e levantar voo. E agora os glifos ardiam brilhantemente, com cada linha e letra cintilando como fogo branco. O som perdurava, e perdurava, e perdurava, ecoando nas vociferantes colinas que se erguiam atrás deles e atravessando as águas do Berço de Nagga para ir ressoar nas montanhas de Grande Wyk, perdurando, e perdurando, e perdurando, até encher o mundo inteiro.
E quando parecia que o som nunca terminaria, terminou.
O fôlego do soprador por fim falhou. Ele cambaleou e quase caiu. O sacerdote viu Orkwood de Montrasgo segurá-lo, enquanto Lucas Mão-Esquerda Codd lhe tirava o retorcido berrante negro das mãos. Um fino fiapo de fumo saía do berrante, e o sacerdote viu sangue e bolhas nos lábios do homem que o soprara. A ave em seu peito também sangrava.
Euron Greyjoy subiu lentamente a colina, com todos os olhos postos nele. Por cima, a gaivota gritou, e voltou a gritar. Nenhum homem sem deus pode se sentar na Cadeira de Pedra do Mar, pensou Aeron, mas sabia que tinha de deixar o irmão falar. Seus lábios moveram-se silenciosamente numa prece.
Os campeões de Asha afastaram-se, os de Victarion também. O sacerdote deu um passo para trás e pousou a mão na pedra rude e fria das costelas de Nagga. Olho de Corvo parou no topo dos degraus, à porta do Palácio do Rei Cinzento, e virou seu olho sorridente para os capitães e os reis, mas Aeron também conseguia sentir seu outro olho, aquele que mantinha escondido.
- HOMENS DE FERRO - disse Euron Greyjoy - ouviram meu berrante. Agora escutem minhas palavras. Sou irmão de Balon, o mais velho dos filhos vivos de Quellon. O sangue de Lorde Vickon corre-me nas veias, bem como o da Velha Lula Gigante. E, no entanto, naveguei até mais longe do que qualquer um deles. Só uma lula gigante viva nunca conheceu a derrota. Só uma nunca dobrou o joelho. Só uma velejou até Asshai da Sombra e viu maravilhas e terrores além da imaginação...
- Se gostou tanto assim da Sombra, volte para lá - gritou Qarl, o Donzel, o da face rosada, um dos campeões de Asha.
Olho de Corvo o ignorou.
- Meu irmão mais novo quer terminar a guerra de Balon e reclamar o Norte. Minha querida sobrinha quer nos dar paz e pinhas - seus lábios azuis torceram-se num sorriso. - Asha prefere a vitória à derrota. Victarion quer um reino, não uns escassos metros de terra. De mim, terão ambas as coisas.
“Chamam-me Olho de Corvo. Bem, quem tem um olho mais penetrante do que o corvo? Após cada batalha, os corvos chegam às centenas e aos milhares para se banquetear dos que tombaram. Um corvo pode ver a morte de longe. E eu digo que todo Westeros está morrendo. Aqueles que me seguirem se banquetearão até o fim dos seus dias.
“Somos os nascidos no ferro, e outrora fomos conquistadores. Nosso decreto corria todos os pontos em que fosse ouvido o som das ondas. Meu irmão quer que se contentem com o frio e triste Norte, e minha sobrinha, com menos ainda... mas eu lhes darei Lanisporto. Jardim de Cima, A Árvore. Vilavelha. As terras fluviais e a Campina, a mata de rei e a mata de chuva, Dorne e as marcas, as Montanhas da Lua e o Vale de Arryn, Tarth e os Degraus, O que digo é que tomemos tudo! O que digo é que tomemos Westeros - lançou um relance ao sacerdote. - Tudo para a maior glória de nosso Deus Afogado, com certeza.”
Durante meio segundo até Aeron foi arrebatado pela ousadia daquelas palavras. O sacerdote sonhara o mesmo sonho quando vira pela primeira vez o cometa no céu. Varreremos as terras verdes com fogo e espada, desenraizarem os os sete deuses dos septões e as árvores brancas dos nortenhos...
- Olho de Corvo - Asha gritou - deixou os miolos em Asshai? Se não conseguimos segurar o Norte, e realmente não conseguimos, como poderemos conquistar todos os Sete Reinos?
- Ora, já foi feito antes. Terá Balon ensinado a esta garota assim tão pouco das coisas
da guerra? Victarion, ao que parece, a filha de nosso irmão nunca ouviu falar de Aegon, o Conquistador.
- Aegon? - Victarion cruzou os braços sobre o peito couraçado. - Que tem o Conquistador a ver conosco?
- Sei tanto de guerra quanto você, Olho de Corvo - Asha voltou a falar. - Aegon Targaryen conquistou Westeros com dragões.
- E nós faremos o mesmo - prometeu Euron Greyjoy. - Aquele berrante que ouviram encontrei entre as ruínas fumegantes daquilo que foi Valíria, por onde nenhum homem, exceto eu, se atreveu a caminhar. Ouviram seu chamado e sentiram seu poder. É um berrante de dragão, enfeitado com faixas de ouro vermelho e aço valiriano com encantamentos nele gravados. Os senhores dos dragões de outrora faziam soar berrantes daqueles, antes de a Destruição devorá-los. Com este berrante, homens de ferro, posso prender dragões à minha vontade.
Asha riu sonoramente:
- Um berrante para prender cabras à sua vontade seria de maior utilidade, Olho de Corvo. Já não há dragões.
- De novo, garota, engana-se. Há três, e eu sei onde encontrá-los. Certamente isto vale uma coroa de madeira trazida pelo mar.
- EURON! - gritou Lucas Mão-Esquerda Codd.
- EURON! OLHO DE CORVO! EURON! - ecoou Remador Vermelho.
Os mudos e mestiços do Silêncio abriram as arcas de Euron e derramaram as dádivas diante dos capitães e dos reis. Então, quem o sacerdote ouviu foi Hotho Harlaw, enquanto enchia as mãos de ouro. Gorold Goodbrother também gritou, assim como Erik Quebra-Bigornas. “EURON! EURON! EURON!” O grito se expandiu, transformou-se num rugido.“EURON! EURON! OLHO DE CORVO! EURON REI!” Rolou pela colina de Nagga acima, como se fosse o Deus da Tempestade fazendo chocalhar as nuvens.“EURON! EURON! EURON! EURON! EURON! EURON!”
Até um sacerdote pode duvidar. Até um profeta pode conhecer o terror. Aeron Cabelo-Molhado procurou seu deus dentro de si, e encontrou apenas silêncio. Enquanto um milhar de vozes gritavam o nome do irmão, tudo que conseguia ouvir era o grito de uma dobradiça de ferro enferrujada.  

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