sexta-feira, 20 de setembro de 2013

21 - A FAZEDORA DE RAINHA



Sob o sol ardente de D orne, a riqueza era tanto medida em água como em ouro, de modo que cada poço era zelosamente guardado. Contudo, o poço em Pedramarela secara havia cem anos, e seus guardiões tinham partido para algum lugar mais úmido, abandonando sua modesta fortaleza com suas colunas caneladas e arcadas triplas. Mais tarde, as areias tinham chegado, para reclamar o que lhes pertencia.
Arianne Martell chegou com Drey e Sylva no momento em que o sol se punha, com o ocidente transformado numa tapeçaria de ouro e púrpura e as nuvens brilhando em tons de carmesim. As ruínas pareciam também ter brilho; as colunas tombadas projetavam uma luz rosada, sombras rubras rastejavam pelo chão de pedra rachado, e as próprias areias passavam de dourado a laranja e a púrpura à medida que a luz se desvanecia. Garin chegara algumas horas antes, e o cavaleiro chamado Estrela Negra no dia anterior.
- Isto aqui é lindo - observou Drey enquanto ajudava Garin a dar água aos cavalos. Tinham trazido consigo sua própria água. Os corcéis de areia de Dorne eram rápidos e incansáveis, e continuavam a avançar longas léguas depois de os outros cavalos cederem, mas nem mesmo eles podiam passar sem água. - Como soube deste lugar?
- Meu tio me trouxe aqui, com Tyene e Sarella - a recordação fez Arianne sorrir. - Apanhou umas tantas víboras e mostrou a Tyene a maneira mais segura de obter seu veneno. Sarella pôs-se a revirar pedras, sacudir areia dos mosaicos, e quis saber tudo o que havia para saber sobre as pessoas que tinham vivido ali.
- E o que você fez, princesa? - Sylva Malhada perguntou.
Sentei-me junto ao poço e fingi que um cavaleiro ladrão tinha me trazido para cá para avançar sobre mim, pensou, um homem alto e duro, com olhos negros e cabelo recuado nas têmporas. A recordação a deixou embaraçada.
- Sonhei - disse - e, quando o sol se pôs, sentei-me de pernas cruzadas aos pés do meu tio e supliquei-lhe uma história.
- Príncipe Oberyn era um homem cheio de histórias - Garin também estivera com eles naquele dia; era irmão de leite de Arianne, e os dois tornaram-se inseparáveis desde antes de aprenderem a andar. - Lembro-me de ele ter contado a história do Príncipe Garin, aquele em honra do qual me deram o nome.
- Garin, o Grande - Drey confirmou - a maravilha de Roine.
- Esse mesmo. Fez Valíria tremer.
- Tremeram - disse Sor Gerold - e depois o mataram. Se eu levasse um quarto de milhão de homens para a morte, me chamariam Gerold, o Grande? - fungou. - Acho que vou ficar como Estrela Negra. Pelo menos o nome é meu - desembainhou sua espada, sentou-se à beira do poço seco e pôs-se a amolar a lâmina com uma pedra.
Arianne o observou com cuidado. É suficientemente bem-nascido para dar um consorte de mérito, pensou. O pai questionaria meu bom-senso, mas nossos filhos seriam tão belos quanto senhores dos dragões. Se existia homem mais atraente em Dorne, ela não o conhecia. Sor Gerold Dayne tinha um nariz aquilino, malares elevados, e maxilar forte. Mantinha o rosto escanhoado, mas os cabelos densos caíam-lhe até o colarinho como um glaciar de prata, dividido por uma faixa negra como a meia-noite. Mas tem uma boca cruel, e uma língua mais cruel ainda. Ali, sentado contra a luz do sol moribundo, amolando o aço, seus olhos pareciam negros, mas ela observara-os de mais perto e sabia que eram purpúreos. De um púrpura escuro. Escuro e furioso.
Ele deve ter sentido o olhar dela posto em si, pois levantou os olhos da espada, enfrentou seu olhar e sorriu. Arianne sentiu calor subir-lhe ao rosto. Nunca devia tê-lo trazido. Se me lançar um olhar daqueles quando Arys estiver aqui, teremos sangue na areia. De quem, não saberia dizer. Por tradição, os homens da Guarda Real eram os melhores cavaleiros de todos os Sete Reinos... mas Estrela Negra era o Estrela Negra.
As noites de Dorne tornavam-se frias na areia. Garin arranjou-lhes madeira, galhos descorados até se tornarem brancos, provenientes de árvores que tinham murchado e morrido havia cem anos. Drey acendeu uma fogueira, assobiando enquanto fazia saltar faíscas da pederneira.
Depois de a madeira pegar fogo, sentaram-se em volta das chamas e passaram um odre de vinho do verão de mão em mão... todos menos Estrela Negra, que preferiu beber limonada amarga. Garin estava animado e os entreteve com as últimas histórias de Vila Tabueira, na foz do Sangueverde, onde os órfãos do rio vinham comerciar com as carracas, cocas e galés provenientes do outro lado do mar estreito. Se fosse possível acreditar nos marinheiros, o leste fervilhava de maravilhas e terrores: uma revolta de escravos em Astapor, dragões em Qarth, praga cinzenta em Yi Ti. Um novo rei corsário ascendera nas Ilhas Basilisco e atacara a Vila das Árvores Altas, e em Qohor, seguidores dos sacerdotes vermelhos tinham se amotinado e tentado incendiar a Cabra Negra.
- E a Companhia Dourada quebrou o contrato com Myr, justamente no momento em que os myranos se preparavam para declarar guerra a Lys.
- Os lisenos os compraram - Sylva sugeriu,
- Lisenos espertos - Drey retrucou. - Lisenos espertos e covardes.
Arianne sabia que não era assim. Se Quentyn tiver a Companhia Dourada atrás de si... Seu grito era “Sob o ouro, o aço amargo” Vai precisar de aço amargo e de mais do que isso, irmão, se pensa em me pôr de lado. Arianne era amada em Dorne e Quentyn, pouco conhecido. Nenhuma companhia de mercenários podia mudar isso.
Sor Gerold se levantou.
- Acho que vou dar uma mijada.
- Veja onde põe os pés - aconselhou Drey. - Já faz algum tempo que o Príncipe Oberyn colheu o veneno das víboras da região.
- Eu fui criado com veneno, Dalt. Qualquer víbora que me morda vai se arrepender - Sor Gerold desapareceu através de uma arcada quebrada.
Depois de ele sair, os outros trocaram olhares,
- Perdoe-me, princesa - disse Garin em voz baixa - mas não gosto daquele homem.
- Que pena - Drey lamentou. - Acho que ele está meio apaixonado por você.
- Precisamos dele - recordou-lhes Arianne. - Pode ser que precisemos de sua espada, e certamente necessitaremos do seu castelo.
- O Alto Ermitério não é o único castelo de Dorne - observou Sylva Malhada - e você tem outros cavaleiros que a querem bem. Drey é um cavaleiro.
- Sou - ele afirmou. - Tenho um cavalo maravilhoso e uma espada muito boa, e meu valor só é inferior a... bem, a vários homens, na verdade.
- Melhor dizendo, a várias centenas, sor - Garin retrucou.
Arianne os deixou na brincadeira. Drey e Sylva Malhada eram seus amigos mais queridos, se não contasse a prima Tyene, e Garin andava provocando-a desde a época em que ambos bebiam das mamas da mãe dele, mas naquele momento não estava com disposição para brincadeiras. O sol tinha se posto, e o céu estava cheio de estrelas. Tantas. Apoiou as costas em um pilar canelado e perguntou a si mesma se o irmão estaria olhando as mesmas estrelas naquela noite, estivesse onde estivesse. Vê a branca, Quentyn? A quela é a estrela de Nymeria, ardendo, luminosa, e aquela faixa leitosa atrás dela, aquilo são dez mil navios. Ela ardeu tanto quanto qualquer homem, e eu farei o mesmo. Não roubará meu direito de nascença!
Quentyn era muito novo quando foi enviado para Paloferro; novo demais, segundo a mãe deles. Os norvoshi não criavam os filhos fora de casa, e a Senhora Mellario nunca perdoara o Príncipe Doran por dela afastar o filho.
“Não gosto mais disso do que você", Arianne ouvira o pai dizer, “mas há uma dívida de sangue, e Quentyn é a única moeda que Lorde Ormond aceitará”.
“Moeda?", sua mãe gritara. “Ele é seu filho. Que tipo de pai usa sua carne e seu sangue para pagar dívidas?”
“O tipo principesco” respondera Doran Martell.
Príncipe Doran ainda fingia que o irmão se encontrava com Lorde Yronwood, mas a mãe de Garin vira-o em Vila Tabueira, disfarçado de mercador. Um de seus companheiros tinha um olho vesgo, tal como Cletus Yronwood, o turbulento filho de Lorde Anders. Um meistre também viajava com eles, um meistre conhecedor de línguas. Meu irmão não é tão esperto quanto julga ser. Um homem esperto teria partido de Vilavelha, mesmo que isso significasse uma viagem mais longa. Em Vilavelha, podia ter passado incógnito. Arianne tinha amigos entre os órfãos de Vila Tabueira, e alguns tinham ficado curiosos com o motivo que levaria um príncipe e um filho de senhor a viajar sob nomes falsos e a procurar passagem para o outro lado do mar estreito. Um deles subira a uma janela, arrombara a fechadura no pequeno cofre de Quentyn e encontrara os pergaminhos lá dentro.
Arianne teria dado muito, e mais ainda, para saber se aquela viagem secreta pelo mar estreito tinha sido obra de Quentyn e apenas sua... mas os pergaminhos que transportava estavam selados com o sol e a lança de Dorne. O primo de Garin não se atrevera a quebrá-lo para lê-los, mas...
- Princesa - Sor Gerold Dayne estava atrás dela, meio iluminado pela luz das estrelas e meio escondido pelas sombras.
- Como foi sua mijada? - inquiriu maliciosamente Arianne.
- A areia ficou devidamente grata - Dayne pôs um pé na cabeça de uma estátua que podia ter sido a Donzela antes de as areias destruírem os traços do rosto. - Ocorreu-me enquanto mijava que esse seu plano pode não lhe trazer o que deseja.
- E o que é que eu desejo, sor?
- A libertação das Serpentes de Areia. Vingança para Oberyn e Elia. Conheço a canção. Quer provar um pouco de sangue de leão.
Isto, e o meu direito de nascença. Quero Lançassolar e o trono do meu pai. Quero Dorne.
- Quero justiça.
- Chame do que quiser. Coroar a garota Lannister é um gesto sem significado. Ela nunca ocupará o Trono de Ferro. Nem obterá a guerra que deseja. O leão não é tão facilmente provocado.
- O leão está morto. Quem sabe qual das crias a leoa prefere?
- Aquela que estiver em sua toca - Sor Gerold puxou a espada, que cintilou à luz das estrelas, afiada como mentiras. - É com isto que se começa uma guerra. Não com uma coroa de ouro, mas com uma lâmina de aço.
Não sou nenhuma assassina de crianças.
- Guarde isso. Myrcella está sob minha proteção. E Sor Arys não permitirá que nenhum mal aconteça à sua preciosa princesa, sabe disso.
- Não, senhora. O que sei é que os Dayne andam matando os Oakheart há vários milhares de anos.
A arrogância do homem a deixou sem fôlego.
- Parece-me que os Oakheart andam matando os Dayne há tanto tempo quanto,
- Todos nós temos nossas tradições familiares - Estrela Negra embainhou a espada. - A lua está nascendo, e vejo seu modelo de perfeição se aproximar.
Os olhos dele eram penetrantes. O cavaleiro no grande palafrém cinzento revelou ser realmente Sor Arys, com o manto branco esvoaçando ousadamente enquanto esporeava o cavalo areia afora. Princesa Myrcella vinha atrás, em montaria dupla, enrolada numa veste com capuz que lhe escondia os cachos dourados.
No momento em que Sor Arys a ajudou a descer do cavalo, Drey caiu sobre um joelho na sua frente.
- Vossa Graça.
- Senhora minha suserana - Sylva Malhada ajoelhou-se ao lado dele.
- Minha rainha, sou seu - Garin caiu sobre ambos os joelhos.
Confusa, Myrcella agarrou-se ao braço de Arys Oakheart.
- Por que é que estão me chamando Graça? - perguntou Myrcella em voz lamentosa. - Sor Arys, que lugar é este, e quem são eles?
Será que ele não lhe disse nada? Arianne avançou num rodopio de seda, sorrindo para deixar a criança à vontade.
- São meus amigos verdadeiros e leais, Vossa Graça... e querem ser também seus amigos.
- Princesa Arianne? - a garota atirou os braços em volta dela. - Por que é que me chamam rainha? Aconteceu algo de ruim a Tommen?
- Ele caiu sob o domínio de homens maus, Vossa Graça - disse Arianne - e temo que tenham conspirado com ele para lhe roubar o trono.
- O trono? Está falando do Trono de Ferro? - a garota estava mais confusa do que nunca. - Ele não o roubou. Tommen é...
- ... mais novo do que você, certo?
- Eu sou um ano mais velha.
- Isto quer dizer que o Trono de Ferro é seu por direito - Arianne explicou. - Seu irmão é apenas um garotinho, não deve culpá-lo. Tem maus conselheiros... Mas você tem amigos. Posso ter a honra de apresentá-la? - pegou na mão da menina. - Vossa Graça, apresento-lhe Sor Andrey Dalt, o herdeiro de Limoeiros.
- Os amigos me chamam Drey - ele disse - e ficaria muito honrado se Vossa Graça fizesse o mesmo.
Embora Drey tivesse um rosto aberto e um sorriso fácil, Myrcella olhou-o com prudência.
- Até que o conheça, tenho de chamá-lo sor.
- Seja qual for o nome que Vossa Graça prefira, estou às suas ordens.
Sylva pigarreou, e Arianne disse:
- Posso lhe apresentar a Senhora Sylva Santagar, minha rainha? Minha querida Sylva Malhada.
- Por que a chamam assim? - perguntou Myrcella.
- Por causa das minhas sardas, Vossa Graça - Sylva respondeu - embora todos finjam que é por eu ser herdeira de Matamalhada.
O seguinte era Garin, um tipo de membros soltos, trigueiro, com um longo nariz e um botão de jade numa orelha.
- Este é o alegre Garin, dos órfãos, que me faz rir - Arianne o apresentou - a mãe dele foi minha ama de leite.
- Lamento que esteja morta - Myrcella disse.
- Não está, querida rainha - Garin mostrou o dente de ouro que Arianne lhe comprara para substituir aquele que quebrara. - O que minha senhora quer dizer é que pertenço aos órfãos do Sangueverde.
Myrcella teria tempo bastante para aprender a história dos órfãos durante a viagem rio acima. Arianne levou sua futura rainha até o último membro do pequeno bando.
- Por último, mas primeiro em valor, apresento-lhe Sor Gerold Dayne, um cavaleiro de Tombastela.
Sor Gerold caiu sobre um joelho. O luar brilhou em seus olhos escuros enquanto ele estudava friamente a menina.
- Houve um Arthur Dayne - disse Myrcella. - Ele foi cavaleiro da Guarda Real nos tempos do Rei Louco Aerys.
- Era a Espada da Manhã. Está morto.
- Agora é você a Espada da Manhã?
- Não. Os homens chamam-me Estrela Negra, e eu pertenço à noite.
Arianne afastou dele a criança.
- Deve estar com fome. Temos tâmaras, queijo e azeitonas, e limonada doce para beber. Mas não deve comer ou beber demais. Após um pequeno descanso, temos de nos colocar a caminho. Aqui na areia é sempre melhor viajar à noite, antes de o sol subir no céu. E melhor para os cavalos.
- E para os cavaleiros - emendou Sylva Malhada. - Venha, Vossa Graça, se aqueça. Eu me sentirei honrada se deixar que lhe sirva.
Enquanto levava a princesa para perto da fogueira, Arianne sentiu Sor Gerold atrás de si.
- Minha Casa existe há dez mil anos, desde a aurora dos tempos - ele protestou. - Por que é que meu primo é o único Dayne de que as pessoas se lembram?
- Ele foi um grande cavaleiro - interveio Sor Arys Oakheart.
- Tinha uma grande espada - completou Estrela Negra.
- E um grande coração - Sor Arys tomou Arianne pelo braço. - Princesa, gostaria de lhe falar por um momento.
- Venha - ela levou Sor Arys mais para dentro das ruínas. Por baixo do manto, o cavaleiro usava um gibão de pano de ouro com as três folhas verdes de carvalho de sua Casa nele bordadas. Na cabeça, trazia um elmo de aço leve encimado por um espigão denteado, coberto por voltas de um lenço amarelo, à moda dornesa. Podia ter passado por um cavaleiro qualquer, não fosse o manto. Era de cintilante seda branca, pálido como o luar e etéreo como uma brisa. Um manto da Guarda Real para lá de qualquer dúvida, o galante tolo. - O que a garota sabe?
- Muito pouco. Antes de deixarmos Porto Real, o tio a fez lembrar que eu era seu protetor e que quaisquer ordens que lhe desse se destinavam a mantê-la a salvo. Ela também ouviu o povo nas ruas gritando por vingança. Sabia que isso não era jogo nenhum. A garota é valente, e sábia para além da idade. Fez tudo o que lhe pedi e nunca levantou nenhuma questão - o cavaleiro tomou-lhe o braço, olhou em volta, e abaixou a voz. - Há outras notícias que deve ouvir. Tywin Lannister está morto.
Aquilo era um choque.
- Morto?
- Assassinado pelo Duende. A rainha assumiu a regência.
- Ah foi? - uma mulher no Trono de Ferro? Arianne refletiu sobre aquilo por um momento e decidiu que tanto melhor. Se os senhores dos Sete Reinos se acostumassem ao governo da Rainha Cersei, ser-lhes-ia muito mais fácil dobrar os joelhos à Rainha Myrcella. E Lorde Tywin fora um adversário perigoso; sem ele, os inimigos de Dorne seriam muito mais fracos. Os Lannister andam matando Lannisters, que bom - Que aconteceu ao anão?
- Fugiu - Sor Arys respondeu. - Cersei oferece uma senhoria a quem quer que lhe entregue sua cabeça - num pátio interior coberto de azulejos, meio enterrado pela areia solta, empurrou-a de encontro a uma coluna para beijá-la, e a mão subiu-lhe ao seio. Beijou-a longa e profundamente, e tentou subir-lhe as saias, mas Arianne se libertou dele, rindo.
- Estou vendo que fazer rainhas o excita, sor, mas não temos tempo para isso. Mais tarde, prometo - tocou-o no rosto. - Encontrou algum problema?
- Só Trystane. Queria sentar-se junto à cama de Myrcella e jogar cryvasse com ela.
- Eu disse a você que ele teve manchas vermelhas quando tinha quatro anos. Só se pode pegá-las uma vez. Devia ter dito que Myrcella sofria de escamagris, isso o teria mantido bem longe.
- O garoto, talvez, mas não o meistre de seu pai.
- Caleotte - ela disse. - Ele tentou vê-la?
- Depois de eu lhe descrever as manchas vermelhas que ela tinha no rosto, não. Disse que não se podia fazer nada até que a doença seguisse seu caminho, e me deu um pote de unguento para lhe diminuir a coceira.
Nunca ninguém com menos de dez anos morrera de manchas vermelhas, mas a doença podia ser mortal em adultos, e Meistre Caleotte nunca sofrera dela quando criança.
Arianne descobrira isso quando sofreu com as suas manchas, aos oito anos.
- Ótimo. E a aia? É convincente?
- A distância, O Duende a escolheu com este propósito, entre muitas garotas de nascimento mais nobre. Myrcella a ajudou a cachear os cabelos, e foi ela mesma quem lhe pintou as manchas na cara. São parentes distantes. Lanisporto está cheio de Lannys, Lannetts, Lantells e Lannisters menores, e metade deles tem aquele cabelo amarelo. Vestida com o roupão de Myrcella, com o unguento do meistre espalhado no rosto... até podia enganar a mim, numa luz fraca. Foi muito mais difícil arranjar um homem que tomasse meu lugar. Dake é o que tem altura mais próxima da minha, mas é gordo demais, por isso enfiei Rolder na minha armadura e lhe disse para manter a viseira abaixada. O homem é sete centímetros mais baixo do que eu, mas talvez ninguém repare se não estivermos lado a lado. Em todo caso, não sairá dos aposentos de Myrcella.
- Não precisamos mais do que alguns dias. Depois, a princesa estará fora do alcance do meu pai.
- Onde? - puxou-a para si e esfregou-lhe o nariz no pescoço. - Está na hora de me contar o resto do seu plano, não acha?
Ela riu, afastando-o.
- Não, está na hora de nos pormos a cavalo.
A lua coroara Donzela da Lua quando partiram das ruínas poeirentas de Pedramarela, avançando para sudoeste. Arianne e Sor Arys tomaram a dianteira, com Myrcella entre os dois, montada numa égua fogosa. Garin seguia logo atrás com Sylva Malhada, enquanto os dois cavaleiros dorneses fechavam a retaguarda. Somos sete, percebeu Arianne enquanto cavalgavam. Não pensara naquilo antes, mas parecia um bom presságio para sua causa. Sete cavaleiros a caminho da glória. Um dia, os cantores tornarão a todos nós imortais. Drey quisera um grupo maior, mas isso poderia ter atraído atenções indesejadas, e cada homem a mais duplicava o risco de traição. Isto, pelo menos, meu pai me ensinou. Mesmo quando era mais jovem e mais forte, Doran Martell tinha sido um homem cauteloso, muito dado a silêncios e a segredos. É tempo de pousar seus fardos, mas não admitirei desfeitas à sua honra ou à sua pessoa. Ela o retiraria para os seus Jardins de Água, a fim de viver os anos que lhe restassem rodeado das gargalhadas de crianças e do cheiro de limas e laranjas. Sim, e Quentyn pode lhe fazer companhia. Depois de coroar Myrcella e libertar as Serpentes de Areia, todo o Dorne se reunirá sob os meus estandartes. Os Yronwood podiam se declarar por Quentyn, mas sozinhos não constituíam ameaça. Caso passassem para o lado de Tommen e dos Lannister, faria que Estrela Negra os destruísse, das raízes aos ramos.
- Estou cansada - Myrcella protestou, depois de passar várias horas sobre a sela. - Ainda falta muito? Aonde vamos?
- Princesa Arianne vai levar Vossa Graça para um lugar onde estará a salvo - assegurou-lhe Sor Arys.
- É uma longa viagem - Arianne explicou - mas será mais fácil depois de chegarmos a Sangueverde. Alguns dos membros do povo de Garin, os órfãos do rio, irão se encontrar conosco lá. Vivem em barcos e os empurram com vara para cima e para baixo, ao longo do Sangueverde e dos afluentes, pescando e colhendo frutas, e fazendo qualquer trabalho que seja necessário.
- Sim - Garin gritou alegremente - e cantamos, tocamos e dançamos sobre a água, e conhecemos muitas e muitas coisas sobre as artes de curar. Minha mãe é a melhor parteira de Westeros, e meu pai sabe curar verrugas.
- Como podem ser órfãos se têm pai e mãe? - a garota perguntou.
- Eles são os roinares - Arianne tornou explicar - e a Mãe deles era o rio Roine.
Myrcella não compreendeu.
- Pensava que vocês fossem os roinares. Vocês, os dorneses, quero dizer.
- Somos em parte, Vossa Graça. Tenho em mim o sangue de Nymeria, bem como o de Mors Martell, o lorde dornês com quem ela se casou. No dia do casamento, Nymeria incendiou seus navios, para que seu povo compreendesse que não podia haver regresso. A maioria ficou feliz por ver aquelas chamas, pois suas viagens tinham sido longas e terríveis até chegar a Dorne, e muitos e mais ainda tinham sido perdidos para tempestades, doenças e escravidão. Houve uns poucos que choraram, porém. Não gostaram desta terra seca e vermelha, nem do seu deus de sete caras, e agarraram-se aos seus costumes antigos, construíram barcos com os cascos dos navios queimados e se transformaram nos órfãos do Sangueverde. A Mãe, em suas canções, não é a nossa Mãe, mas sim a Mãe Roine, cujas águas os alimentaram desde a aurora dos tempos.
- Ouvi dizer que os roinares tinham um deus tartaruga qualquer - disse Sor Arys.
- O Velho do Rio é um deus menor - Garin respondeu. - Também nasceu da Mãe Rio e lutou contra o Rei Caranguejo para conquistar o domínio sobre todos os que vivem sob a corrente.
- Oh - Myrcella pareceu entender.
- Ouvi dizer que você também travou algumas grandes batalhas, Vossa Graça - Drey falou na sua voz mais alegre. - Dizem que não mostra nenhuma misericórdia para com nosso valente Príncipe Trystane na mesa de cryvasse.
- Ele põe os quadrados sempre da mesma maneira, com todas as montanhas à frente e os elefantes nos passos - Myrcella respondeu. - De modo que mando o meu dragão para comer seus elefantes.
- Sua aia também sabe jogar? - Drey quis saber.
- Rosamund? - Myrcella perguntou. - Não. Tentei ensiná-la, mas ela disse que as regras são muito difíceis.
- Ela também é uma Lannister? - perguntou a Senhora Sylva.
- É uma Lannister de Lanisporto, não uma Lannister de Rochedo Casterly. Tem os cabelos da cor do meu, mas são lisos, em vez de cacheados. Rosamund realmente não me favorece, mas quando se veste com a minha roupa as pessoas que não nos conhecem julgam que sou eu.
- Então já fez isso antes?
- Oh, sim. Trocamos de lugar no Mar Ligeiro, a caminho de Bravos. A Septã Eglantine passou tinta marrom nos meus cabelos. Disse que estávamos jogando um jogo, mas a ideia era me manter a salvo caso o navio fosse capturado por meu tio Stannis.
A garota estava visivelmente cansada, de modo que Arianne gritou para que parassem. Voltaram a dar de beber aos cavalos, descansaram durante algum tempo e comeram um pouco de queijo e fruta. Myrcella dividiu uma laranja com Sylva Malhada, enquanto Garin comeu azeitonas e cuspiu os caroços para cima de Drey.
Arianne tivera esperança de chegar ao rio antes do nascer do sol, mas o grupo se colocou a caminho muito mais tarde do que planejara, e ainda estavam nas selas quando o céu de oriente ficou vermelho. Estrela Negra aproximou-se dela a meio galope.
- Princesa - disse - eu seguiria a um ritmo mais acelerado, a menos que, no fim das contas, queira mesmo matar a garota. Não temos tendas, e de dia as areias são cruéis.
- Eu conheço as areias tão bem quanto você, sor - Arianne respondeu. Apesar disso, fez o que lhe sugerira. Era duro para as montarias, mas seria melhor perder seis cavalos do que uma princesa.
Em pouco tempo o vento chegou em rajadas de oeste, quente, seco e cheio de areia.
Arianne cobriu o rosto com o véu. Era feito de uma seda tremeluzente, verde-clara em cima e amarela embaixo, com as cores fundindo-se uma na outra. Pequenas pérolas verdes davam-lhe peso e castanholavam baixinho entre si quando se mexia.
- Sei por que é que a minha princesa usa um véu - Sor Arys falou no momento em que ela o prendia às têmporas de seu elmo de cobre. - Se não fosse assim, sua beleza brilharia no céu mais do que o sol.
Arianne teve de rir.
- Não, sua princesa usa um véu para manter a luminosidade afastada dos olhos e a areia da boca. Devia fazer o mesmo, sor - perguntou a si mesma quanto tempo seu cavaleiro branco teria levado polindo aquele laborioso galanteio. Sor Arys era uma companhia agradável na cama, mas ele e o espírito não se conheciam.
Seus dorneses cobriram os rostos tal como ela, e Sylva Malhada ajudou a velar a pequena princesa contra o sol, mas Sor Arys permaneceu obstinado. Não demorou muito até o suor começar a escorrer-lhe pelo rosto e as faces tomarem um rubor rosado. Muito mais tempo, e ele cozerá naquela roupa pesada, ela refletiu. Não seria o primeiro. Em séculos anteriores, muitas hostes tinham cruzado o Passo do Príncipe com estandartes esvoaçando, só para secarem e assarem nas quentes e rubras areias de Dorne.
- As armas da Casa Martell ostentam o sol e a lança, as preferidas dos dorneses - escrevera um dia o Jovem Dragão em sua jactanciosa Conquista de Dorne - mas, das duas, o sol é a mais mortífera.
Felizmente não tinham de atravessar as areias profundas, apenas uma faixa das terras áridas. Quando Arianne vislumbrou um falcão rodopiando bem alto acima deles, num céu sem nuvens, soube que o pior tinha ficado para trás. Em pouco tempo chegavam a uma árvore. Era uma coisa nodosa e retorcida, com tantos espinhos quanto folhas, da espécie chamada penúria de areia, mas significava que não se encontravam longe de água.
- Estamos quase lá, Vossa Graça - Garin disse alegremente a Myrcella quando viram mais penúrias de areia em frente, um bosque delas crescendo em volta do leito seco de um riacho. O sol atingia a terra como um martelo de fogo, mas não importava, a viagem estava perto do fim. Pararam de novo para dar água aos cavalos, beberam profundamente de seus odres e umedeceram os véus, após o que montaram para a arrancada final. Meia légua depois cavalgavam sobre escalracho e passavam por olivais. Depois de uma linha de colinas pedregosas, a erva tornou-se mais verde e mais luxuriante, e apareceram limoais regados por uma teia de velhos canais. Garin foi o primeiro a vislumbrar o rio cintilando em tons de verde. Soltou um grito e correu na frente.
Arianne Martell atravessara uma vez o Vago, quando fora com três das Serpentes de Areia visitar a mãe de Tyene. Comparado com aquele poderoso curso d'água, o Sangueverde quase não merecia o nome de rio, mesmo assim era a vida de Dorne. O nome provinha do verde opaco de suas águas lentas; mas quando se aproximaram, a luz do sol pareceu transformá-las em ouro. Poucas vezes vira uma paisagem mais agradável. A parte seguinte deverá ser lenta e simples, pensou, pelo Sangueverde acima, e depois pelo Vaith, até tão longe quanto um barco de varejo pode chegar. Isto lhe daria tempo bastante para preparar Myrcella para tudo o que se seguiria. Depois do Vaith, as areias profundas os esperavam. Precisariam da ajuda de Arenito e da Toca do Inferno para fazer a travessia, mas não duvidava que ela surgiria. Víbora Vermelha fora criado em Arenito, e a concubina do Príncipe Oberyn, Ellaria Sand, era filha ilegítima de Lorde Uller; quatro das Serpentes de Areia eram suas netas. Coroarei Myrcella na Toca do Inferno e erguerei ali meus estandartes.
Encontraram o barco a meia légua para jusante, escondido sob os ramos pendentes de um grande salgueiro verde. Baixos e de través largo, os barcos de varejo quase não tinham calado de que se pudesse falar; o Jovem Dragão depreciara-os como “cabanas construídas em jangadas” mas nisso pouca justiça havia. Todos os barcos dos órfãos, exceto os dos mais pobres, eram maravilhosamente esculpidos e pintados. Aquele tinha sido trabalhado em tons de verde, com uma cana do leme curva, de madeira, com a forma de uma sereia, e cabeças de peixe espreitando das amuradas. Varas, cordas e jarros de azeite atravancavam seu convés, e lanternas de ferro balançavam à proa e à popa. Arianne não viu órfãos. Onde está a tripulação? Perguntou a si mesma.
Garin puxou as rédeas do cavalo por baixo do salgueiro.
- Acordem, seus dorminhocos de olhos de peixe - gritou ao saltar da sela. - Sua rainha está aqui e quer suas régias boas-vindas. Subam, saiam, queremos canções e vinho doce. Minha boca está pronta a...
A porta do barco de varejo abriu-se com estrondo. A luz do sol surgiu Areo Hotah, com um longo machado na mão.
Garin parou com um sobressalto, Arianne sentiu como se um machado tivesse se enterrado em sua barriga. Não era para terminar assim. Não era para isso acontecer. Quando ouviu Drey dizer:
- Aí está o último rosto que eu esperava ver - soube que tinha de agir.
- Para trás! - gritou, saltando de novo para a sela. - Arys, proteja a princesa...
Hotah bateu com o cabo do machado no convés. Por de trás das ornamentadas amuradas do barco de varejo ergueu-se uma dúzia de guardas armados com lanças de arremesso ou bestas. Mais surgiram no topo da cabine.
- Renda-se, minha princesa - gritou o capitão - caso contrário teremos de matar todos, exceto a criança e você, ordens de seu pai.
A Princesa Myrcella estava sentada, imóvel, na montaria. Garin afastou-se lentamente do barco de varejo, com as mãos no ar. Drey desafivelou o cinto da espada.
- Rendermo-nos parece o mais sensato - gritou para Arianne, no momento em que a espada caía no chão com um ruído surdo.
- Não! - Sor Arys Oakheart colocou o cavalo entre Arianne e as bestas, com a espada brilhando, prateada, na mão. Desprendera o escudo e enfiara o braço esquerdo nas correias. - Não a capturará enquanto eu ainda respirar.
Seu idiota descuidado, foi tudo que Arianne teve tempo de pensar, o que acha que está fazendo?
A gargalhada de Estrela Negra ressoou:
- É cego ou estúpido, Oakheart? Eles são muitos. Abaixe a espada.
- Faça o que ele diz, Sor Arys - Drey insistiu.
Fomos capturados, sor, podia ter gritado Arianne. Sua morte não nos libertará. Se ama sua princesa, renda-se. Mas, quando tentou falar, as palavras ficaram presas na garganta.
Sor Arys Oakheart lançou-lhe um último olhar cheio de desejo, depois espetou as esporas no cavalo e avançou.
Investiu impetuosamente contra o barco de varejo, com o manto branco esvoaçando atrás de si. Arianne Martell nunca tinha visto nada com metade da galanteria, ou da estupidez, daquele ataque.
- Nãããããão - guinchou, mas encontrara a voz tarde demais. Numa besta soou um trum e, em seguida, noutra. Hotah berrou uma ordem. A tão curta distância, a armadura do cavaleiro branco bem podia ter sido feita de pergaminho. O primeiro dardo penetrou através do pesado escudo de carvalho, perfurando-lhe o ombro. O segundo raspou-lhe a têmpora. Uma lança de arremesso atingiu a montaria de Sor Arys no flanco, mesmo assim o cavalo continuou avançando, vacilando ao atingir a prancha de embarque. - Não - gritava uma garota qualquer, uma garotinha tola qualquer - não, por favor, não era para isso acontecer - também conseguia ouvir Myrcella guinchando, com a voz estridente de medo.
A espada de Sor Arys golpeou para a direita e para a esquerda, e dois lanceiros caíram. O cavalo empinou-se e escoiceou o rosto de um besteiro no momento em que o homem tentava recarregar, mas as outras bestas foram disparadas, enchendo o grande corcel com seus dardos. Os projéteis atingiam-no com tanta força que empurravam o cavalo para o lado. Perdeu o apoio das patas e caiu sobre o convés. De algum modo, Arys Oakheart saltou, livre. Até conseguiu continuar com a espada na mão. Pôs-se de joelhos com dificuldade, ao lado de seu cavalo moribundo...
... e deu com Areo Hotah em pé acima de si.
O cavaleiro branco ergueu a lâmina lento demais. O machado de Hotah cortou-lhe o braço direito no ombro, afastou-se, girando, jorrando sangue, e voltou a desferir, num relâmpago, um terrível golpe com as duas mãos que cortou a cabeça de Arys Oakheart e a atirou no ar, rodopiando. A cabeça caiu entre os juncos, e o Sangueverde engoliu o vermelho com um suave chapinhar.
Arianne não se lembrou de montar no cavalo. Talvez tenha caído. Também não se lembrava disso, Mas deu por si com as mãos e os pés na areia, tremendo, soluçando e vomitando o almoço. Não, era tudo o que conseguia pensar, não, ninguém devia sair machucado, estava tudo planejado, eu fui tão cuidadosa. Ouviu Areo Hotah rugir:
- Atrás dele. Não pode escapar. Atrás dele! - Myrcella estava no chão, chorando, tremendo, com o rosto pálido entre as mãos, e sangue escorria por entre seus dedos. Arianne não compreendia. Homens subiam precipitadamente nos cavalos enquanto outros caíam sobre ela e seus companheiros, mas nada daquilo fazia sentido. Caíra num sonho, um terrível pesadelo rubro. Isso não pode ser real. Acordarei em breve e rirei dos terrores da noite.
Quando tentaram atar-lhe as mãos atrás das costas, não resistiu. Um dos guardas a colocou de pé com um puxão. Usava as cores do pai. Outro dobrou-se e tirou a faca de arremesso que ela trazia dentro da bota, um presente da prima, a Senhora Nym.
Areo Hotah recebeu-a das mãos do homem e, de testa franzida, a olhou.
- O príncipe disse que devo levá-la de volta para Lançassolar - anunciou. Tinha as bochechas e a testa salpicadas com o sangue de Arys Oakheart. - Lamento, pequena princesa.
Arianne ergueu a face riscada por lágrimas.
- Como ele descobriu? - perguntou ao capitão. - Eu fui tão cuidadosa. Como ele descobriu?
- Alguém falou - Hotah encolheu os ombros. - Há sempre alguém que fala.  

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