segunda-feira, 9 de setembro de 2013

56 - TYRION


Chella, filha de Cheyk. dos Orelhas Negras, tinha se adiantado para reconhecer o terreno, e foi ela quem trouxe a notícia sobre o exército na encruzilhada.
- Pelas fogueiras, digo que são vinte mil homens - ela disse. - Os estandartes são vermelhos, com um leão dourado.
- Seu pai? - perguntou Bronn.
- Ou meu irmão Jaime - Tyrion respondeu. - Saberemos em breve - examinou seu andrajoso bando de salteadores: quase trezentos Corvos de Pedra, Irmãos da Lua, Orelhas Negras e Homens Queimados, e estes eram apenas a semente do exército que esperava cultivar. Gunthor, filho de Gurn, andava ainda recrutando os outros clãs. Perguntou a si mesmo o que o senhor seu pai acharia deles, com suas peles e pedaços de aço roubado. A bem da verdade, ele próprio não sabia o que achar. Seria seu comandante ou seu prisioneiro? Durante a maior parte do tempo, parecia ser um pouco de ambos. - Pode ser melhor que eu desça sozinho - sugeriu.
- Melhor para Tyrion, filho de Tywin - disse Ulf, que falava pelos Irmãos da Lua. Shagga apertou as sobrancelhas, o que era uma visão assustadora.
- Shagga, filho de Dolf, não gosta disto. Shagga irá com o homem-rapaz, e se o homem-rapaz mente, Shagga lhe cortará o membro viril...
- ... e o dará de comer às cabras, já sei - disse Tyrion num tom fatigado. - Sagga, eu voltarei, dou a minha palavra como Lannister.
- E por que deveríamos confiar na sua palavra? - Chella era uma mulher pequena e dura, reta como um rapaz, e não era nada tola. - Os senhores das terras baixas já mentiram antes aos clãs.
- Você me magoa, Chella - disse Tyrion. - E eu que pensava que nos tínhamos tornado tão bons amigos. Mas seja como quiser. Virá comigo, e também Shagga e Cronn pelos Corvos de Pedra, Ulf pelos Irmãos da Lua e Timett, filho de Timett, pelos Homens Queimados - os homens dos clãs trocaram olhares cautelosos à medida que os ia nomeando. - Os outros ficarão aqui até que os mande chamar. Tentem não se matar ou mutilar uns aos outros enquanto eu estiver fora.
Esporeou o cavalo e afastou-se a trote, não lhes deixando escolha que não fosse segui-lo ou ficar para trás. Uma ou outra coisa para ele estava bem, bastava que não se sentassem para conversar durante um dia e uma noite. Era este o problema dos clãs; tinham a ideia absurda de que a voz de todos os homens devia ser ouvida em conselho, e por isso discutiam sem fim sobre tudo. Até as mulheres eram autorizadas a falar. Pouco admirava que se tivessem passado centenas de anos desde a última vez que ameaçaram o Vale com algo mais que uma incursão ocasional. Tyrion pretendia mudar isso.
Bronn o acompanhou. Atrás deles, depois de uma rápida sessão de resmungos, os cinco homens dos clãs seguiram-nos em seus pequenos cavalos, umas coisas magricelas que pareciam pôneis e subiam vertentes pedregosas como cabras. Os Corvos de Pedra iam juntos, e Chella e Ulf também se mantinham perto um do outro, uma vez que os Irmãos da Lua e os Orelhas Negras tinham laços fortes entre si. Timett, filho de Timett, ia só. Todos os clãs das Montanhas da Lua temiam os Homens Queimados, que flagelavam a carne com fogo para provar sua coragem e (segundo os outros) assavam bebês em seus banquetes. E mesmo os outros Homens Queimados temiam Timett, que arrancara o próprio olho esquerdo com uma faca incandescente quando chegou à idade adulta. Tyrion deduzira que era mais habitual que um rapaz arrancasse a fogo um mamilo, um dedo ou (se fosse realmente bravo, ou realmente louco) uma orelha. Os outros Homens Queimados ficaram tão atemorizados pela sua escolha de um olho que imediatamente o nomearam Mão Vermelha, o que parecia ser algum tipo de chefe de guerra.
- Pergunto a mim mesmo o que o rei deles queimou - dissera Tyrion a Bronn quando ouviu a história. Sorrindo, o mercenário agarrara a virilha... mas até Bronn mantinha um respeitoso cuidado com a língua perto de Timett. Se um homem era suficientemente louco para destruir o próprio olho, era pouco provável que se mostrasse gentil para com os inimigos.
Vigias distantes espreitavam de torres de pedra solta quando o grupo desceu pelo sopé dos montes, e uma vez Tyrion viu um corvo levantando voo. Onde a estrada de altitude se retorcia entre dois afloramentos rochosos, chegaram ao primeiro ponto fortificado. Um muro baixo de terra com um metro e vinte de altura fechava a estrada, e uma dúzia de soldados com atiradeiras guarnecia os pontos altos. Tyrion fez seus homens parar fora do alcance e se dirigiu sozinho para a muralha.
- Quem comanda aqui? - gritou.
O capitão foi rápido para surgir, e ainda mais rápido para providenciar uma escolta a Tyrion quando reconheceu o filho do seu senhor. Passaram a trote por campos enegrecidos e fortificações queimadas, até as terras do rio e o Ramo Verde do Tridente. Tyrion não viu cadáveres, mas o ar estava cheio de corvos e gralhas-pretas; tinha havido luta ali, e recentemente.
A meia légua da encruzilhada, tinha sido erigida uma barricada de estacas aguçadas, guarnecida por lanceiros e arqueiros. Atrás dessa linha, o acampamento estendia-se até perder de vista. Finos pilares de fumaça erguiam-se de centenas de fogueiras para cozinhar; homens vestidos de cota de malha sentavam-se à sombra de árvores e amolavam suas lâminas; estandartes familiares ondulavam em mastros enfiados no terreno lamacento.
Um grupo de cavaleiros avançou ao seu encontro quando se aproximaram das estacas. O cavaleiro que os liderava usava uma armadura prateada com ametistas encravadas e um manto listrado de púrpura e prata. Seu escudo mostrava o símbolo do unicórnio, e um corno em espiral com sessenta centímetros de comprimento projetava-se da testa de seu elmo em forma de cabeça de cavalo. Tyrion puxou as rédeas para saudá-lo.
- Sor Flement.
Sor Flement Brax ergueu o visor.
-Tyrion - disse, espantado. - Senhor, todos temíamos que estivesse morto, ou... - olhou incerto para os homens dos clãs. - Estes... seus companheiros...
- Amigos de peito e vassalos leais - disse Tyrion. - Onde poderei encontrar o senhor meu pai?
- Usa a estalagem no entroncamento como abrigo.
Tyrion soltou uma gargalhada. A estalagem no entroncamento! Talvez os deuses afinal fossem justos.
- Desejo vê-lo de imediato.
- Às suas ordens, senhor - Sor Flement virou o cavalo e gritou ordens.
Três filas de estacas foram arrancadas do chão para abrir um buraco na linha. Tyrion o atravessou com o grupo. O acampamento de Lorde Tywin espalhava-se ao longo de léguas. A estimativa de Chella de vinte mil homens não podia estar muito longe da verdade. Os plebeus acampavam a céu aberto, mas os cavaleiros possuíam tendas e alguns dos grandes senhores tinham erigido pavilhões grandes como casas. Tyrion vislumbrou o touro vermelho dos Prester, o javali malhado de Lorde Crakehall, a árvore ardente de Marbrand, o texugo de Lynden. Cavaleiros chamavam-no enquanto ele ia passando a meio galope, e homens de armas embasbacavam-se perante os homens dos clãs, em evidente espanto.
Shagga respondia-lhes também abrindo a boca; com toda certeza nunca tinha visto tantos homens, cavalos e armas em sua vida. Os outros salteadores da montanha faziam melhor trabalho em manter uma expressão neutra, mas Tyrion não tinha dúvidas de que estavam tão cheios de espanto como Shagga. Cada vez melhor. Quanto mais impressionados estivessem com o poder dos Lannister, mais fácil seria comandá-los.
A estalagem e seus estábulos estavam muito parecidos com o que ele recordava, embora pouco restasse da aldeia além de pedras derrubadas e fundações enegrecidas. Fora erigida uma forca no pátio, e o corpo que dela pendia estava coberto de corvos. Quando Tyrion se aproximou, levantaram voo, guinchando e batendo as asas negras. Desmontou e olhou de relance para o que restava do cadáver. As aves tinham-lhe comido os lábios, os olhos e a maior parte das bochechas, deixando arreganhados os dentes manchados de vermelho, num hediondo sorriso.
- Um quarto, uma refeição e um jarro de vinho, foi tudo o que lhe pedi - disse ao cadáver com um suspiro de censura.
Rapazes emergiram hesitantemente dos estábulos para tratar de seus cavalos. Shagga não queria entregar o seu.
- O rapaz não roubará sua égua - garantiu-lhe Tyrion. - Só quer dar-lhe um pouco de aveia e água, e escovar-lhe o pelo - o pelo de Shagga também precisava de uma boa escovada, mas mencioná-lo teria demonstrado pouco tato. - Tem a minha palavra, não farão mal ao cavalo.
Irritado, Shagga largou as rédeas.
- Este é o cavalo de Shagga, filho de Dolf - rugiu para o cavalariço.
- Se ele não o devolver, arranca-lhe o membro viril e o dá de comer às cabras - sugeriu Tyrion. - Desde que consiga encontrar alguma.
Um par de guardas domésticos, usando mantos carmesins e elmos encimados por leões, encontrava-se sob a tabuleta da estalagem, de ambos os lados da porta. Tyrion reconheceu o capitão.
- Meu pai?
- Na sala comum, senhor.
- Meus homens querem comer e beber - disse-lhe Tyrion. - Trata disso - e entrou na estalagem, ali estava seu pai.
Tywin Lannister, Senhor de Rochedo Casterly e Protetor do Oeste, tinha cinquenta e poucos anos, mas era duro como um homem de vinte. Mesmo sentado, era alto, com pernas longas, ombros largos e barriga lisa. Os braços finos estavam envolvidos por músculos. Quando os cabelos dourados, antes espessos, começaram a cair, ordenara ao barbeiro que lhe rapasse a cabeça; Lorde Tywin não acreditava em meias medidas. Também escanhoava o queixo e o bigode, mas conservava as suíças, dois grandes matagais de rijos pelos dourados que lhe cobriam a maior parte das bochechas, das orelhas à maxila. Os olhos eram verde-claros salpicados de ouro. Um bobo mais tolo que a maioria certa vez dissera brincando que até a merda de Lorde Tywin era salpicada de ouro. Havia quem dissesse que o homem ainda estava vivo, enterrado bem fundo nas entranhas de Rochedo Casterly.
Sor Kevan Lannister, o único irmão sobrevivente do pai, partilhava um jarro de cerveja com Lorde Tywin quando Tyrion entrou na sala comum. O tio era corpulento e estava perdendo cabelo, com uma barba amarela cortada curta que seguia a linha do maciço maxilar. Sor Kevan foi o primeiro a vê-lo.
- Tyrion - disse, surpreso.
- Tio - disse Tyrion, fazendo uma reverência. - E o senhor meu pai. Que prazer encontrá-los aqui.
Lorde Tywin não se mexeu da cadeira, mas lançou ao filho anão um longo olhar perscrutador,
- Vejo que os rumores sobre seu falecimento eram infundados.
- Lamento desapontá-lo, pai - disse Tyrion. - Não há necessidade de saltar da cadeira e vir me abraçar, não desejo que se canse - atravessou a sala até a mesa onde eles estavam, agudamente consciente do modo como as pernas deformadas o faziam oscilar a cada passo. Sempre que os olhos do pai caíam sobre ele, ficava desconfortavelmente consciente de todas as suas deformidades e imperfeições. - Foi amável de sua parte ir à guerra por mim - disse, enquanto subia em uma cadeira e se servia de uma taça da cerveja do pai,
- Segundo vejo as coisas, foi você quem começou isto - respondeu Lorde Tywin. - Seu irmão Jaime nunca teria se submetido docilmente a ser capturado por uma mulher.
- Esta é uma das coisas em que diferimos, Jaime e eu. Ele também é mais alto, talvez tenha notado.
O pai ignorou o aparte.
- A honra da nossa Casa estava em causa. Não tive alternativa que não fosse ir para a guerra. Ninguém derrama impunemente sangue Lannister.
- Ouça-me rugir - disse Tyrion, sorrindo, as palavras Lannister. - A bem da verdade, nenhuma gota do meu sangue chegou a ser derramada, embora estivesse perto disso uma ou duas vezes, Morrec e Jyck foram mortos.
- Suponho que vá querer novos homens.
- Não se incomode, pai, adquiri alguns homens meus - experimentou um gole da cerveja. Era marrom e cheia de levedura, tão espessa que quase se conseguia mastigá-la. Muito boa, realmente. Uma pena que o pai tivesse enforcado a estalajadeira. - Como anda a sua guerra?
Foi o tio quem respondeu.
- Bastante bem, até aqui. Sor Edmure tinha espalhado pequenas companhias ao longo das fronteiras para parar as nossas incursões, e o senhor seu pai e eu conseguimos destruir, pouco a pouco, a maior parte antes que conseguissem se reagrupar.
- Seu irmão tem se coberto de glória - disse o pai. - Esmagou os lordes Vance e Piper no Dente Dourado e defrontou o poderio conjunto dos Tully à sombra das muralhas de Correrrio. Os senhores do Tridente foram postos em fuga. Sor Edmure Tully foi feito cativo, com muitos de seus cavaleiros e vassalos. Lorde Blackwood levou alguns sobreviventes para Correrrio, onde Jaime os tem sob cerco. O resto fugiu para suas próprias terras.
- Seu pai e eu temos vindo marchando contra um deles de cada vez - disse Sor Kevan. -Com Lorde Blackwood fora. Corvarbor caiu de imediato, e a Senhora Whent rendeu Harrenhal por falta de homens para defender o castelo. Sor Gregor incendiou os Piper e os Bracken...
- Deixando-os sem oposição? - disse Tyrion.
- Não totalmente - disse Sor Kevan. - Os Mallister ainda detêm Guardamar e Walder Frey põe em ordem seus recrutas nas Gêmeas.
- Não importa - disse Lorde Tywin. - Frey só se põe em campo quando o cheiro da vitória paira no ar, e tudo o que cheira agora é a ruína. E a Jason Mallister falta força para lutar sozinho. Uma vez tomado Correrrio por Jaime, ambos dobrarão o joelho bastante depressa. A menos que os Stark e os Arryn avancem para nos confrontar, esta guerra está ganha.
- Não me preocuparia muito com os Arryn se estivesse em seu lugar - disse Tyrion. - Os Stark são outra coisa. Lorde Eddard...
- ... é nosso refém - disse o pai. - Não comandará exércitos enquanto apodrece numa masmorra sob a Fortaleza Vermelha.
- Não - concordou Sor Kevan - mas o filho convocou os vassalos e está em Fosso Cailin com uma tropa forte em volta dele.
- Nenhuma espada é forte até ser temperada - declarou Lorde Tywin. - O rapaz Stark é uma criança. Sem dúvida que gosta bastante do som das trombetas de guerra e de ver suas bandeiras esvoaçarem ao vento, mas, no fim das contas, tudo se resume a trabalho de carniceiro. Duvido que tenha estômago para tanto.
Tyrion pensou que as coisas tinham se tornado interessantes enquanto estivera longe.
- E o que faz nosso destemido monarca enquanto todo este "trabalho de carniceiro" se desenrola? - quis saber. - Como foi que minha adorável e persuasiva irmã levou Robert a concordar com o aprisionamento de seu querido amigo Ned?
- Robert Baratheon está morto - seu pai respondeu. - Seu sobrinho reina em Porto Real.
Aquilo apanhou mesmo Tyrion de surpresa.
- Minha irmã, quer dizer - bebeu outro gole de cerveja. O reino seria um lugar muito diferente com Cersei a governar no lugar do marido.
- Se tem intenção de se tornar útil, dou-lhe um comando - seu pai continuou. - Marq Piper e Karyl Vance andam à solta na nossa retaguarda, saqueando as terras ao longo do Ramo Vermelho.
Tyrion soltou um tsc.
- Que descaramento deles responder lutando. Em circunstâncias normais, ficaria feliz por punir tanta falta de educação, pai, mas a verdade é que tenho negócios mais prementes em outro local.
- Ah, sim? - Lorde Tywin não parecia surpreso. - Também temos um par de ideias tardias de Ned Stark que tentam se tornar uma maçada atormentando meus destacamentos logísticos, Beric Dondarrion, um jovem fidalgote qualquer com ilusões de valor. Tem com ele aquela caricatura gorda de um sacerdote, aquele que gosta de pôr fogo na espada. Acha que poderia tratar deles enquanto foge? Sem estragar demais o serviço?
Tyrion limpou a boca com as costas da mão e sorriu.
-Pai, aquece-me o coração pensar que poderia me confiar... o quê, vinte homens? Cinquenta? Está seguro de poder dispensar tantos assim? Bem, não importa. Se encontrar Thoros e Lorde Beric, espancarei ambos - desceu da cadeira e bamboleou até o aparador, onde uma rodela de queijo fresco raiado estava rodeada de frutas. - Mas primeiro tenho algumas promessas minhas a cumprir - disse, enquanto cortava um pedaço. - Preciso de três mil elmos e outras tantas camisas de cota de malha, mais espadas, lanças, pontas de lança em aço, maças, machados de batalha, manoplas, gorjais, grevas, placas de peito, carroças para transportar isso tudo...
A porta atrás dele abriu-se com estrondo, tão violentamente que Tyrion quase deixou cair o queijo. Sor Kevan saltou do banco, praguejando, enquanto o capitão da guarda atravessou a sala voando e foi de encontro à lareira.
Enquanto caía sobre as cinzas frias, com o elmo de leão torto, Shagga partiu a espada do homem em duas num joelho grosso como um tronco de árvore, atirou os pedaços ao chão e entrou pesadamente na sala comum. Foi precedido pelo fedor que exalava, mais forte que o do queijo e avassalador naquele espaço fechado,
- Pequeno capa-vermelha - rosnou - da próxima vez que desembainhar o aço contra Shagga, filho de Dolf, cortarei seu membro viril e o assarei numa fogueira.
- O quê? Nada de cabras? - disse Tyrion, dando uma dentada no queijo.
Os outros homens dos clãs seguiram Shagga para a sala comum, com Bronn entre eles. O mercenário encolheu tristemente os ombros na direção de Tyrion.
- E quem são vocês? - perguntou Lorde Tywin, frio como a neve.
- Seguiram-me até em casa, pai - explicou Tyrion. - Posso ficar com eles? Não comem muito.
Ninguém estava sorrindo.
- Com que direito, seus selvagens, se intrometem em nossos concílios? - exigiu saber Sor Kevan.
- Selvagens, homem das planícies? - Cronn bem poderia se parecer com um se estivesse lavado. - Somos homens livres, e os homens livres, por direito, tomam parte em todos os concílios de guerra.
- Qual deles é o senhor dos leões? - perguntou Chella.
- São os dois velhos - anunciou Timett, filho de Timett, que ainda não tinha visto seu vigésimo ano.
A mão de Sor Kevan caiu sobre o cabo da espada, mas o irmão pousou dois dedos em seu pulso e o segurou. Lorde Tywin parecia imperturbável.
- Tyrion, esqueceu a boa educação? Seja amável e nos apresente os nossos... honrados hóspedes.
Tyrion lambeu os dedos.
- Com prazer - respondeu. - A bela donzela é Chella, filha de Cheyk, dos Orelhas Negras.
- Não sou donzela coisa nenhuma - protestou Chella. - Meus filhos já somam ao todo cinquenta orelhas.
- Que somem outras cinquenta - Tyrion bamboleou para longe dela. - Este é Cronn, filho de Coratt. Shagga, filho de Dolf, é aquele que se parece com um Rochedo Casterly de cabelos. São Corvos de Pedra. Aqui está Ulf, filho de Umar, dos Irmãos da Lua, e aqui, Timett, filho de Timett, Mão Vermelha dos Homens Queimados. E este é Bronn, um mercenário sem nenhuma fidelidade em especial. Já mudou de lado duas vezes no breve período em que o conheço; o senhor e ele vão se entender maravilhosamente, pai - para Bronn e para os homens dos clãs, disse: - Apresento-lhes o senhor meu pai, Tywin, filho de Tytos, da Casa Lannister, Senhor de Rochedo Casterly, Protetor do Oeste, Escudo de Lannisporto, e antiga e futura Mão do Rei.
Lorde Tywin ergueu-se, digno e correto.
- Mesmo no Oeste conhecemos a intrepidez dos clãs guerreiros das Montanhas da Lua. Que os traz do alto de suas terras, senhores?
- Cavalos - disse Shagga.
- A promessa de seda e aço - disse Timett, filho de Timett.
Tyrion se preparara para contar ao senhor seu pai como propunha reduzir o Vale de Arryn a um deserto fumegante, mas não lhe foi dada essa possibilidade. A porta abriu-se de novo com estrondo. O mensageiro deu uma olhadela rápida e estranha aos homens dos clãs de Tyrion enquanto caía sobre o joelho perante Lorde Tywin.
- Senhor, Sor Addam pede-me para avisar que a tropa Stark desce pelo talude.
Lorde Tywin Lannister não sorriu. Ele nunca sorria, mas Tyrion aprendera a ler o prazer do pai mesmo assim, e ele ali estava, em seu rosto.
- Então o lobinho está deixando a toca para vir brincar entre os leões - disse, numa voz de calma satisfação. - Magnífico. Regresse para junto de Sor Addam e diga-lhe para se retirar. Não deverá dar combate aos nortenhos até chegarmos, mas quero que lhes atormente os flancos e os atraia mais para o sul.
- Será feito conforme ordena - o mensageiro respondeu e se retirou.
- Aqui estamos bem situados - fez notar Sor Kevan. - Perto do rio raso e rodeados de fossos e lanças. Se vierem para o sul, pois que venham e se quebrem contra nós.
- O rapaz pode esperar ou perder a coragem quando vir nossos números - respondeu Lorde Tywin. - Quanto mais depressa quebrarmos os Stark, mais depressa estarei livre para lidar com Stannis Baratheon. Que rufem os tambores para o agrupamento, e envie uma mensagem a Jaime dizendo-lhe que marcho contra Robb Stark.
- Às suas ordens - disse Sor Kevan.
Tyrion observou com um fascínio sombrio quando o senhor seu pai se virou em seguida para os meio selvagens homens dos clãs.
- Dizem que os homens dos clãs de montanha são guerreiros sem medo.
- Dizem a verdade - respondeu Cronn, dos Corvos de Pedra.
- E as mulheres também - acrescentou Chella.
- Acompanhem-me contra os meus inimigos e terão tudo o que meu filho lhes prometeu, e mais ainda - disse-lhes Lorde Tywin.
- Pagará com a nossa própria moeda? - disse Ulf, filho de Umar. - Por que necessitaríamos da promessa do pai, quando temos a do filho?
- Nada disse sobre necessidade - respondeu Lorde Tywin. - Minhas palavras eram uma cortesia, nada mais. Não precisam se juntar a nós. Os homens das terras de inverno são feitos de ferro e gelo, e até meus cavaleiros mais corajosos temem defrontá-los.
Ah, mas que habilidade, pensou Tyrion, com um sorriso torto.
- Os Homens Queimados nada temem. Timett, filho de Timett, acompanhará os leões.
- Onde quer que os Homens Queimados forem, os Corvos de Pedra estarão lá primeiro - declarou acaloradamente Cronn. - Também vamos.
- Shagga, filho de Dolf, lhes cortará os órgãos viris e os dará de comer aos corvos.
- Vamos acompanhá-lo, senhor leão - concordou Chella, filha de Cheyk - mas só se seu filho meio-homem vier conosco. Comprou o ar que respira com promessas. Até termos o aço que nos prometeu, sua vida nos pertence.
Lorde Tywin virou os olhos semeados de ouro para o filho.
- Alegria - disse Tyrion com um sorriso resignado.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

NÃO DÊ SPOILERS!
Encontrou algum erro ortográfico no texto? Comente aqui para que possa arrumar :)
Se quer comentar e não tem uma conta no blogger ou google, escolha a opção nome/url e coloque seu nome. Nem precisa preencher o url.
Comentários anônimos serão ignorados