Lorde
Alester olhou vivamente para cima.
- Vozes -
disse. - Está ouvindo, Davos? Alguém vem nos buscar.
-
Lampreia - disse Davos. - Está na hora do jantar, ou perto disso. -
Na noite anterior, Lampreia trouxera meio empadão de carne com bacon
e também um jarro de hidromel. Só de pensar nisso sua barriga
começou a roncar.
- Não, é
mais de uma pessoa.
Ele tem
razão, Davos ouvia pelo menos duas vozes, e passos se tornavam mais
sonoros. Ficou em pé e dirigiu-se às barras.
Lorde
Alester sacudiu a palha da roupa.
- O rei
mandou me buscar. Ou então a rainha, sim, Selyse nunca me deixaria
ficar aqui apodrecendo, logo eu, de seu próprio sangue.
Fora da
cela, Lampreia surgiu com um molho de chaves na mão. Sor Axell
Florent e quatro guardas seguiam-no de perto. Esperaram sob o archote
enquanto Lampreia procurava a chave certa.
- Axell -
disse Lorde Alester. - Pela bondade dos deuses. É o rei que manda me
buscar, ou a rainha?
- Ninguém
mandou buscá-lo, traidor - disse Sor Axell.
Lorde
Alester recuou como se tivesse levado um tapa.
- Não,
juro, não cometi nenhuma traição. Por que não me escuta? Se ao
menos Sua Graça me deixasse explicar...
Lampreia
enfiou uma grande chave de ferro na fechadura, virou-a e abriu a
cela. As ferraduras enferrujadas guincharam num protesto.
- Você -
disse ele a Davos. - Venha.
- Para
onde? - Davos olhou para Sor Axell. - Diga-me a verdade, sor,
pretendem me queimar?
-
Mandaram chamá-lo. Consegue andar?
-
Consigo. - Davos saiu da cela. Lorde Alester soltou um grito de
consternação quando Lampreia voltou a fechar a porta com estrondo.
- Traga o
archote - ordenou Sor Axell ao carcereiro. - Deixe o traidor nas
trevas,
- Não -
disse o irmão, - Axell, por favor, não leve a luz... que os deuses
tenham piedade...
- Deuses?
Só existem R'hllor e o Outro. - Sor Axell gesticulou
categoricamente, e um de seus guardas puxou o archote da arandela e
começou a subir a escada à frente dos demais.
- Está
me levando até Melisandre? - perguntou Davos.
- Ela
estará lá - disse Sor Axell. - Nunca está longe do rei. Mas é Sua
Graça em pessoa quem manda buscá-lo.
Davos
levou a mão ao peito, ao local onde a sua sorte estivera pendurada
por uma correia, dentro de uma bolsa de couro. Desapareceu,
lembrou-se, e as pontas de meus dedos com ela. Mas as mãos ainda
eram suficientemente longas para se fechar em volta da garganta de
uma mulher, pensou, especialmente uma garganta esguia como a dela.
E
subiram, ascendendo em fila indiana pela escada em caracol. As
paredes eram de pedra escura áspera. Fria ao toque. A luz das tochas
seguia à frente e, nas paredes, as sombras dos homens marchavam ao
lado deles. Na terceira volta, passaram por um portão de ferro que
se abria para a escuridão, e por um outro na quinta volta. Davos
calculou que, a essa altura, deviam estar perto da superfície,
talvez já acima dela. A terceira porta a que chegaram era feita de
madeira, mas continuaram a subir. Agora as paredes eram interrompidas
por estreitas fendas para arqueiros, mas nenhuma brecha de luz do sol
abria caminho através da espessura da pedra. Lá fora era noite.
Suas
pernas doíam quando Sor Axell escancarou uma porta pesada e, com
gestos, lhe indicou que passasse. Para lá da porta, uma ponte
elevada de pedra fazia um arco sobre o vazio e levava à maciça
torre central que tinha o nome de Tambor de Pedra. Um vento marítimo
soprava incessantemente pelas arcadas que suportavam o telhado, e
quando cruzou a ponte, Davos conseguiu sentir o cheiro da água
salgada. Respirou fundo, enchendo os pulmões com o ar puro e frio.
Vento e água, deem-me forças, orou. Uma enorme fogueira ardia no
pátio lá embaixo, para manter afastados os terrores da escuridão,
e os homens da rainha encontravam-se reunidos ao seu redor, cantando
louvores ao seu novo deus vermelho.
Estavam
no centro da ponte quando Sor Axell parou subitamente. Fez um gesto
brusco com a mão, e seus homens afastaram-se para onde não pudessem
ouvi-los.
- Se a
escolha fosse minha, queimaria você com o meu irmão Alester - disse
a Davos. - São ambos traidores.
- Diga o
que quiser. Eu nunca trairia o Rei Stannis.
-
Trairia. Trairá. Vejo em seu rosto. E também vi nas chamas. R'hllor
abençoou-me com esse dom. Tal como à Senhora Melisandre, mostra-me
o futuro no fogo. Stannis Baratheon irá sentar no Trono de Ferro. Eu
vi. E sei o que tem de ser feito. Sua Graça precisa fazer de mim sua
Mão, no lugar de meu irmão traidor. E você vai lhe dizer
exatamente isso.
Ah, vou?
Davos nada disse.
- A
rainha pediu a minha nomeação - prosseguiu Sor Axell. - Até seu
velho amigo de Lys, o pirata Saan, até ele diz o mesmo. Construímos
juntos um plano, ele e eu. Mas Sua Graça não age. A derrota o
corrói por dentro, um verme negro em sua alma. Cabe a nós, os que o
amamos, mostrar-lhe o que fazer. Se é tão devotado à sua causa
como diz, contrabandista, irá juntar sua voz à nossa. Diga-lhe que
eu sou a única Mão de que ele necessita. Diga-lhe e, quando
zarparmos, vou me assegurar de que você tenha um novo navio.
Um navio.
Davos estudou o rosto do outro. Sor Axell tinha grandes orelhas
Florent, muito semelhantes às da rainha. Pelos ralos cresciam nelas,
tal como nas narinas; mais pelos brotavam em tufos e manchas por
baixo de seu queixo duplo. Seu nariz era largo e a testa,
proeminente, os olhos eram juntos e hostis. Ele antes me daria uma
pira do que um navio, foi o que afirmou, mas se lhe fizer esse
favor...
- Se acha
que pode me trair - disse Sor Axell rogo que se lembre de que sou
castelão de Pedra do Dragão há muito tempo. A guarnição é
minha. Talvez não possa queimá-lo sem o consentimento do rei, mas
quem dirá que não poderia sofrer uma queda? - apoiou uma mão
carnuda na parte de trás do pescoço de Davos e empurrou-o com força
contra a balaustrada da ponte, que chegava à cintura, e depois
empurrou com um pouco mais de força, para obrigar sua cabeça a
projetar-se sobre o pátio. - Está me ouvindo?
- Estou -
disse Davos. E atreve-se a me chamar de traidor?
Sor Axell
largou-o.
- Ótimo.
- Sorriu. - Sua Graça aguarda. E melhor não o fazermos esperar.
Bem no
topo do Tambor de Pedra, dentro da grande sala redonda chamada Câmara
da Mesa Pintada, foram encontrar Stannis Baratheon em pé, atrás do
objeto que dava nome ao salão, uma maciça prancha de madeira
esculpida e pintada com a forma de Westeros, tal como havia sido nos
tempos de Aegon, o Conquistador. Um braseiro de ferro estava ao lado
do rei, com as brasas brilhando num tom laranja avermelhado. Quatro
janelas altas e pontiagudas olhavam para norte, sul, leste e oeste.
Para além delas ficava a noite e o céu estrelado, Davos ouvia o
vento em movimento e, mais baixos, os sons do mar.
- Vossa
Graça - disse Sor Axell - segundo as suas ordens, trouxe o Cavaleiro
das Cebolas.
- Estou
vendo que sim. - Stannis usava uma túnica de lã cinza, um manto
vermelho-escuro e um cinto simples de couro negro, de onde pendiam a
espada e o punhal. Uma coroa de ouro vermelho com pontas em forma de
chama rodeava sua testa. Sua aparência foi um choque.
Parecia
dez anos mais velho do que o homem que Davos tinha deixado em Ponta
Tempestade quando zarpou para a Água Negra e para a batalha que
seria a ruína deles. A barba do rei, aparada rente, incluía vários
pelos grisalhos, e ele tinha perdido quinze quilos ou mais. Nunca foi
um homem carnudo, mas, agora, os ossos moviam-se sob a sua pele como
lanças, lutando para atravessá-la. Até a coroa parecia grande
demais para a sua cabeça. Os olhos eram poços azuis perdidos em
profundas covas, e conseguia-se ver a forma do crânio sob o rosto.
Mas
quando viu Davos, um tênue sorriso roçou seus lábios.
- Então
o mar devolveu-me meu cavaleiro do peixe e das cebolas.
-
Devolveu, Vossa Graça. - Será que sabe que me tinha numa masmorra?
Davos ajoelhou-se.
-
Levante-se, Sor Davos - ordenou Stannis. - Senti sua falta, sor.
Tenho necessidade de bons conselhos, e você nunca me deu outra
coisa. Portanto, diga-me a verdade: qual é a pena por traição?
A palavra
pairou no ar. Uma palavra medonha, pensou Davos. Estaria sendo pedido
a ele que condenasse o companheiro de cela? Ou talvez a si próprio?
Os reis conhecem melhor do que qualquer outro homem a pena por
traição.
-
Traição? - conseguiu enfim dizer, em voz fraca.
- De que
mais chamaria renegar o rei e tentar roubar o trono que é dele por
direito? Volto a perguntar: qual é a pena por traição, segundo a
lei?
Davos não
tinha alternativa exceto responder.
- A morte
- disse. - A pena é a morte, Vossa Graça.
- Sempre
foi assim. Eu não sou... um homem cruel, Sor Davos. Conhece-me.
Conhece-me há muito tempo. Este decreto não é meu. Sempre foi
assim, desde os tempos de Aegon, e mesmo antes. Daemon Blackfyre, os
irmãos Toyne, o Rei Abutre, o Grande Meistre Hareth... traidores
sempre pagaram com a vida... até Rhaenyra Targaryen. Era filha de um
rei e mãe de mais dois, e no entanto teve uma morte de traidora por
tentar usurpar a coroa do irmão. E a lei. Lei, Davos. Não
crueldade.
- Sim,
Vossa Graça. - Ele não fala de mim. Davos sentiu um momento de
compaixão por seu companheiro de cela, lá embaixo, no escuro. Sabia
que deveria manter silêncio, mas estava cansado e doente até o
âmago, e ouviu-se dizer: - Senhor, Lorde Florent não pretendeu
trair.
- Os
contrabandistas têm outro nome para o ato? Fiz dele Mão, e ele
teria vendido meus direitos por uma tigela de creme de ervilhas. Até
lhes teria dado Shireen. Minha única filha, que ele teria casado com
um bastardo nascido do incesto. - A voz do rei estava carregada de
fúria. - Meu irmão tinha um dom para inspirar lealdade. Até nos
adversários. Em Solarestival ganhou três batalhas num só dia, e
trouxe Lorde Grandison e Lorde Cafferen para Ponta Tempestade como
prisioneiros. Pendurou seus estandartes como troféus no salão. Os
corços brancos de Cafferen estavam manchados de sangue, e o leão
adormecido de Grandison encontrava-se quase rasgado em dois. E, no
entanto, eles passavam noites sentados por baixo desses estandartes,
bebendo e festejando com Robert. Até os levou à caça. "Esses
homens queriam entregá-lo a Aerys para ser queimado", eu
disse-lhe depois de vê-los arremessando machados no pátio. "Não
devia pôr machados em suas mãos." Robert limitou-se a rir. Eu
teria atirado Grandison e Cafferen numa masmorra, mas ele
transformou-os em amigos. Lorde Cafferen morreu no Castelo de
Vaufreixo, abatido por Randyll Tarly enquanto lutava por Robert.
Lorde Grandison foi ferido no Tridente e morreu em decorrência disso
um ano mais tarde. Meu irmão fez com que o amassem, mas, ao que
parece, eu só inspiro traição. Até no meu próprio sangue e
família. Irmão, avô, primos, tio da esposa...
- Vossa
Graça - disse Sor Axell - eu imploro, dê-me a oportunidade de lhe
provar que nem todos os Florent são assim tão fracos.
- Sor
Axell gostaria de me levar a retomar a guerra - disse o Rei Stannis a
Davos. - Os Lannister acham que estou acabado e derrotado, e os
senhores meus vassalos abandonaram-me, quase todos. Até Lorde
Estermont, pai de minha própria mãe, dobrou o joelho a Joffrey. Os
poucos homens leais que me restam vão perdendo o ânimo. Desperdiçam
seus dias bebendo e jogando e lambem as feridas como vira-latas
enxotados.
- A
batalha voltará a incendiar seus corações, Vossa Graça - disse
Sor Axell. - A derrota é uma doença, e a vitória é a cura.
-
Vitória. - A boca do rei retorceu-se. - Há vitórias e vitórias,
sor. Mas conte o seu plano a Sor Davos. Quero ouvir o que ele pensa
do que você propõe.
Sor Axell
virou-se para Davos, com uma expressão no rosto bem próxima à
expressão que o orgulhoso Lorde Belgrave deve ter feito no dia em
que o Rei Baelor, o Abençoado, lhe ordenou que lavasse os pés
ulcerados do pedinte. Apesar disso, obedeceu.
O plano
que Sor Axell concebera com Salladhor Saan era simples. A algumas
horas de viagem de Pedra do Dragão estava a Ilha da Garra, sede
marítima ancestral da Casa Celtigar. Lorde Ardrian Celtigar lutara
sob o coração flamejante na Água Negra, mas, depois de capturado,
não perdeu tempo até passar para o lado de Joffrey. Ainda
permanecia em Porto Real.
- Com
medo demais da fúria de Sua Graça para se aproximar de Pedra do
Dragão, sem dúvida - declarou Sor Axell. - E sensatamente. O homem
traiu seu legítimo rei.
Sor Axell
propunha usar a frota de Salladhor Saan e os homens que escaparam da
Água Negra - Stannis ainda tinha cerca de mil e quinhentos homens em
Pedra do Dragão, mais de metade dos quais pertenciam aos Florent - a
fim de exigir compensação pela deserção de Lorde Celtigar. A Ilha
da Garra tinha uma guarnição leve, e dizia-se que o castelo estava
recheado de tapetes de Myr, vidro volanteno, baixelas de ouro e
prata, taças cravejadas de joias, magníficos falcões, um machado
de aço valiriano, um berrante que era capaz de invocar monstros
vindos das profundezas, baús de rubis, e mais vinho do que um homem
conseguiria beber em cem anos. Embora o Celtigar tivesse mostrado ao
mundo um rosto avarento, nunca impusera limites ao seu próprio
conforto.
- Sugiro
que imponha a tocha ao seu castelo e a espada ao seu povo - concluiu
Sor Axell. - Que deixe a Ilha da Garra numa desolação de cinzas e
ossos, adequada apenas para gralhas pretas, para que o reino veja o
destino que aguarda aqueles que se deitam na cama dos Lannister.
Stannis
ouviu em silêncio a récita de Sor Axell, mexendo lentamente o
maxilar de um lado para o outro. Quando terminou de ouvir, disse:
- Creio
que pode ser realizado. O risco é pequeno. Joffrey não tem força
no mar até que Lorde Redwyne zarpe da Árvore. O saque pode servir
para manter leal esse pirata liseno do Salladhor Saan durante algum
tempo. A Ilha da Garra em si não tem valor algum, mas sua queda pode
servir de aviso ao Lorde Tywin que a minha causa ainda não está
acabada. - O rei virou-se de novo para Davos. - Fale a verdade, sor.
O que acha da proposta de Sor Axell?
Fale a
verdade, sor. Davos lembrou-se da cela escura que dividira com Lorde
Alester, lembrou-se de Lampreia e de Mingau. Pensou nas promessas que
Sor Axell havia feito na ponte por cima do pátio, Um navio ou um
empurrão, o que será? Mas aquele que perguntava era Stannis.
- Vossa
Graça - disse lentamente - acho uma loucura... sim, e uma covardia.
-
Covardia? - Sor Axell quase gritou - Ninguém me chama de covarde
perante meu rei!
-
Silêncio - ordenou Stannis. - Sor Davos, prossiga, quero ouvir suas
razões.
Davos
virou-se para encarar Sor Axell.
- Diz que
devíamos mostrar ao reino que ainda não estamos acabados. Dar um
golpe. Sim, fazer a guerra... mas com que inimigo? Não vai encontrar
nenhum Lannister na Ilha da Garra.
-
Encontraremos traidores - disse Sor Axell se bem que eu possa até
encontrar alguns mais perto de casa. Até mesmo nesta sala.
Davos
ignorou a provocação.
- Não
duvido de que Lorde Celtigar tenha dobrado o joelho ao jovem Joffrey.
É um homem velho e acabado, que nada mais deseja do que terminar
seus dias no seu castelo, bebendo seu bom vinho de uma de suas taças
cravejadas de joias. - Voltou-se novamente para Stannis. - E, no
entanto, veio quando o chamou, senhor. Veio, com seus navios e suas
espadas. Esteve ao seu lado em Ponta Tempestade quando Lorde Renly
caiu sobre nós, e seus navios subiram a Água Negra. Seus homens
lutaram pelo senhor, mataram pelo senhor, arderam pelo senhor. A Ilha
da Garra tem fracas defesas, sim. E defendida por mulheres, crianças
e velhos. E por quê? Porque seus maridos, filhos e pais morreram na
Água Negra, eis o porquê. Morreram nos remos, ou com espadas nas
mãos, lutando sob as nossas bandeiras. E, no entanto, Sor Axell
propõe que ataquemos as casas que eles deixaram para trás, que
violemos suas viúvas e que submetamos seus filhos à espada. Essas
pessoas não são traidoras...
- Mas são
- insistiu Sor Axell. - Nem todos os homens de Celtigar foram mortos
na Água Negra. Centenas foram capturados com o seu senhor e dobraram
o joelho quando ele o fez.
- Quando
ele o fez - repetiu Davos. - Eram seus homens. Estavam juramentados a
ele. Que alternativa foi dada a eles?
- Todo
homem tem alternativas. Podiam ter se recusado. Alguns se recusaram e
morreram por isso. Mas morreram honestos e leais.
- Alguns
homens são mais fortes do que outros. - Era uma resposta fraca, e
Davos sabia disso.
Stannis
Baratheon era um homem com determinação de ferro, que nem
compreendia nem perdoava a fraqueza nos outros. Estou perdendo,
pensou, desesperando-se.
- E dever
de todos os homens permanecerem leais ao seu legítimo rei, mesmo se
o senhor que servem se revela falso - declarou Stannis num tom que
não admitia discussões.
Um
desvario desesperado dominou Davos, uma temeridade próxima da
loucura.
- Tal
como o senhor permaneceu leal ao Rei Aerys quando seu irmão convocou
os vassalos? -
deixou
escapar.
Seguiu-se
um pesado silêncio, até que Sor Axell gritou:
-
Traição! - e desembainhou o punhal. - Vossa Graça, ele diz essa
infâmia na sua cara!
Davos
ouvia Stannis rangendo os dentes. Uma veia latejava, azul e inchada,
na testa do rei. Os olhos dos dois encontraram-se.
- Guarde
essa faca, Sor Axell. E deixe-nos.
- Se
Vossa Graça desejar...
- Desejo
que vá embora - disse Stannis. - Saia da minha presença e mande-me
Melisandre.
- Às
suas ordens. - Sor Axell voltou a embainhar a faca, fez uma
reverência e apressou-se em direção à porta. Suas botas ressoavam
contra o chão, furiosas.
- Sempre
abusou de minha indulgência - preveniu-o Stannis quando ficaram
sozinhos. - Posso encurtar sua língua tão facilmente como encurtei
seus dedos, contrabandista.
- Eu
pertenço ao senhor, Vossa Graça. Por isso a língua é sua, para
fazer com ela o que quiser.
- Pois é
- disse ele, mais calmo. - E eu quero que ela fale a verdade. Mesmo
que a verdade às vezes tenha um gosto amargo. Aerys? Se soubesse...
essa foi uma escolha difícil. Meu sangue ou meu suserano. Meu irmão
ou meu rei. - Fez uma careta. - Alguma vez viu o Trono de Ferro? As
farpas no encosto, as fitas de aço retorcido, as pontas espetadas de
espadas e facas, todas emaranhadas e derretidas? Não é um assento
confortável, sor. Aerys cortava-se tantas vezes que os homens
começaram a chamá-lo de Rei Crosta, e Maegor, o Cruel, foi
assassinado nessa cadeira. Por essa cadeira, segundo a versão que
alguns contam. Não é assento em que um homem possa descansar
descontraído. Muitas vezes me pergunto por que será que meus irmãos
o desejaram tão desesperadamente.
- Então
por que é que o senhor o deseja? - perguntou-lhe Davos.
- Não é
questão de desejo. O trono é meu, como herdeiro de Robert. Essa é
a lei. Depois de mim, deve passar para a minha filha, a menos que
Selyse finalmente me dê um filho. - Passou três dedos levemente
pela mesa, sobre as camadas de verniz liso e duro, escurecido pela
idade. - Eu sou rei. Os quereres não entram nisso. Tenho um dever
para com a minha filha. Para com o reino. Até para com Robert. Ele
gostava pouco de mim, eu sei, mas era meu irmão. A mulher Lannister
pôs os chifres nele e fez dele um bobo vestido de xadrez. Até pode
tê-lo assassinado, tal como assassinou Jon Arryn e Ned Stark. Para
crimes assim tem de haver justiça. Começando por Cersei e suas
abominações. Mas só para começar. Pretendo esfregar aquela corte
até ficar limpa. Como Robert devia ter feito, depois do Tridente.
Sor Barristan disse-me uma vez que a podridão no reinado do Rei
Aerys começou com Varys. O eunuco nunca devia ter sido perdoado. Tal
como o Regicida. No mínimo, Robert devia ter arrancado de Jaime o
manto branco e enviado o homem para a Muralha, como Lorde Stark lhe
pediu. Em vez disso, deu ouvidos a Jon Arryn. Eu ainda estava em
Ponta Tempestade, sob cerco e sem ser consultado - Virou-se
abruptamente, para lançar a Davos um olhar duro e astuto. - E agora
a verdade. Por que quis assassinar a Senhora Melisandre?
Então
ele sabe. Davos não podia mentir.
- Quatro
de meus filhos arderam na Água Negra. Ela entregou-os às chamas.
- Está
sendo injusto com Melisandre. Aqueles incêndios não foram obra
dela. Amaldiçoe o Duende, amaldiçoe os piromantes, amaldiçoe
aquele idiota do Florent que avançou com a minha frota para dentro
das mandíbulas de uma armadilha. Ou amaldiçoe-me por meu orgulho
obstinado, por mandá-la embora quando mais precisava dela. Mas
Melisandre não. Ela continua sendo minha fiel servidora.
- Meistre
Cressen era seu fiel servidor. Ela matou-o, tal como matou Sor
Cortnay Penrose e seu irmão Renly.
- Agora
soa como um tolo - protestou o rei. - Ela viu o fim de Renly nas
chamas, sim, mas não desempenhou nele um papel maior do que eu. A
sacerdotisa estava na minha companhia. Seu Devan poderá confirmar.
Pergunte a ele, se duvida de mim. Ela teria poupado Renly se tivesse
podido. Foi Melisandre quem me pediu para me encontrar com ele e lhe
dar uma última chance de reparar sua traição. E foi Melisandre
quem me disse para mandar buscar você quando Sor Axell quis
entregá-lo a R'hIlor. - Deu um fino sorriso. - Isso o surpreende?
- Sim.
Melisandre sabe que não sou amigo dela ou de seu deus vermelho.
- Mas é
meu amigo. Ela também sabe disso. - Fez sinal para que Davos se
aproximasse - O garoto está doente. Meistre Pylos tem andado
sangrando-o.
- O
garoto? - os pensamentos de Davos rumaram ao seu Devan, o escudeiro
do rei. - Meu filho, senhor?
- Devan?
Bom garoto. Tem nele muito de você. É o bastardo de Robert que está
doente, o garoto que encontramos em Ponta Tempestade.
Edric
Storm.
- Falei
com ele no Jardim de Aegon.
- Tal
como ela quis. Tal como ela viu. - Stannis suspirou. - O garoto
encantou-o? Tem esse dom. Tirou isso do pai, com o sangue. Sabe que é
filho de um rei, mas prefere esquecer que é ilegítimo. E adora
Robert, tal como Renly adorava quando era novo. O meu real irmão se
fazia de pai amigo durante as suas visitas a Ponta Tempestade, e
havia presentes... espadas, pôneis e mantos forrados de peles.
Trabalho do eunuco, todos eles. O garoto escrevia para a Fortaleza
Vermelha, cheio de agradecimentos, e Robert ria e perguntava a Varys
o que tinha enviado naquele ano. Renly não era melhor. Deixou a
educação do garoto a castelões e meistres, e todos eles caíram
vítimas de seu encanto. Penrose preferiu morrer a entregá-lo. - O
rei rangeu os dentes. - Isso ainda me enfurece. Como ele pôde pensar
que eu iria fazer mal ao garoto? Escolhi Robert, não escolhi? Quando
esse duro dia chegou. Escolhi o sangue em detrimento da honra.
Ele não
usa o nome do garoto. Isso deixou Davos muito desconfortável.
- Espero
que o jovem Edric se recupere rapidamente.
Stannis
sacudiu uma mão, colocando de lado a sua preocupação.
- E um
resfriado, nada mais. Ele tosse, tem arrepios e febre. Em breve,
Meistre Pylos irá deixá-lo bom. Em si mesmo, o garoto não é nada,
entende? Mas nas veias dele corre o sangue de meu irmão. Há poder
no sangue de um rei, diz ela.
Davos não
teve de perguntar quem ela era.
Stannis
tocou a Mesa Pintada.
- Olhe-o,
Cavaleiro das Cebolas. Meu reino de direito. Meu Westeros. - Passou
uma mão pelo mapa. - Essa conversa de Sete Reinos é uma loucura.
Aegon compreendeu isso há trezentos anos, quando estava onde nos
encontramos agora. Pintaram esta mesa por ordem dele. Pintaram rios e
baías, colinas e montanhas, castelos, cidades e vilas francas,
lagos, pântanos e florestas... mas nenhuma fronteira. É tudo um só.
Um reino, para que um rei o governe sozinho.
- Um rei
- concordou Davos. - Um rei significa a paz.
- Eu
trarei justiça a Westeros. Algo que Sor Axell compreende tão mal
quanto compreende a guerra. A Ilha da Garra não me traria nada... e
seria uma coisa maligna, como você disse. Celtigar tem de pagar o
preço da traição pessoalmente. E quando eu subir ao trono, pagará.
Cada homem colherá o que semeou, do mais alto dos senhores ao mais
baixo rato de sarjeta. E alguns perderão mais do que as pontas dos
dedos, garanto. Fizeram o meu reino sangrar, e não me esqueço
disso. - O Rei Stannis afastou-se da mesa. - De joelhos, Cavaleiro
das Cebolas.
- Vossa
Graça?
- Pelas
cebolas e pelo peixe, fiz-lhe um dia cavaleiro. Por isso, estou
decidido a fazê-lo senhor.
Isso?
Davos não entendia.
-
Sinto-me satisfeito por ser seu cavaleiro, Vossa Graça. Não saberia
como começar a ser senhorial.
- Ótimo.
Ser senhorial é ser falso. Aprendi duramente essa lição. Agora,
ajoelhe-se. É o seu rei que o ordena.
Davos
ajoelhou-se e Stannis puxou a espada. Melisandre chamara-a de
Luminífera; a espada vermelha dos heróis, arrancada dos fogos onde
os sete deuses eram consumidos. A sala pareceu ficar mais luminosa
quando a lâmina saiu de dentro da bainha. O aço possuía brilho;
ora laranja, ora amarelo, ora vermelho. O ar tremeluzia em volta
dela, e nenhuma joia algum dia cintilou tão vivamente. Mas quando
Stannis tocou com ela no ombro de Davos, este não a sentiu diferente
de qualquer outra espada.
- Sor
Davos da Casa Seaworth - disse o rei - é meu verdadeiro e honesto
vassalo, agora e para sempre?
- Sou,
Vossa Graça.
- E jura
servir-me com lealdade todos os seus dias, dar-me conselhos honestos
e obediência rápida, defender os meus direitos e o meu reino contra
todos os adversários, em grandes e pequenas batalhas, proteger o meu
povo e punir os inimigos?
- Sim,
Vossa Graça.
- Então
volte a levantar-se, Davos Seaworth, e levante-se como Senhor da Mata
de Chuva, Almirante do Mar Estreito e Mão do Rei.
Por um
momento, Davos ficou atordoado demais para se mexer. Hoje de manhã
acordei em sua masmorra.
- Vossa
Graça, não pode... eu não sou o homem certo para ser Mão do Rei.
- Não há
homem mais certo. - Stannis embainhou Luminífera, ofereceu a mão a
Davos e ajudou-o a se levantar.
- Sou de
baixo nascimento - recordou-lhe. - Um contrabandista elevado a nobre.
Seus senhores nunca me obedecerão.
- Então
arranjaremos novos senhores.
- Mas...
eu não sei ler... nem escrever.
- Meistre
Pylos pode ler por você. Quanto a escrever, meu último Mão
escreveu tanto que sua cabeça saiu de cima de seus ombros. Tudo que
lhe peço é aquilo que sempre me deu. Honestidade. Lealdade.
Serviço.
-
Certamente haverá alguém melhor... algum grande senhor...
Stannis
fungou.
- Bar
Emmon, aquele rapaz? Meu avô sem fé? Celtigar abandonou-me, o novo
Velaryon tem seis anos, e o novo Sunglass zarpou para Volantis depois
de eu queimar seu irmão. - Fez um gesto irritado. - Restam alguns
bons homens, é verdade. Sor Gílbert Farring ainda controla Ponta
Tempestade em meu nome, com duzentos homens leais. Lorde Morrigen, o
Bastardo de Nocticantiga, o jovem Chy ttering, meu primo Andrew...
mas não confio em nenhum deles como confio em você, senhor da Mata
de Chuva. Será minha Mão. E o senhor que eu quero ao meu lado para
a batalha.
Outra
batalha será o fim de todos nós, pensou Davos. Lorde Alester viu
isso com bastante clareza.
- Vossa
Graça pediu conselhos honestos. Então honestamente... faltam-nos as
forças para outra batalha contra os Lannister.
- Sua
Graça está falando da grande batalha - disse uma voz de mulher,
enriquecida com o sotaque do leste, Melisandre encontrava-se junto à
porta, vestida com suas sedas vermelhas e seus cintilantes cetins,
com um prato de prata tampado nas mãos. - Essas guerrinhas não são
mais do que uma briga de crianças diante daquilo que está por vir.
Aquele cujo nome não pode ser proferido está reunindo o seu poder,
Davos Seaworth, um poder impiedoso, maligno e poderoso para lá de
todas as medidas. Em breve chegará o frio, e a noite que nunca
termina. - Apoiou o prato de prata na Mesa Pintada. - A não ser que
homens verdadeiros encontrem a coragem de lutar contra ele. Homens
cujo coração seja fogo.
Stannis
fitou o prato de prata.
- Ela
mostrou-me, Lorde Davos. Nas chamas.
- Viu
isso, senhor? - mentir sobre uma coisa dessas não seria algo que
Stannis Baratheon faria.
- Com
meus próprios olhos. Depois da batalha, quando estava perdido em
desespero, a Senhora Melisandre pediu-me para fitar o fogo da
lareira. A chaminé puxava o ar com força, e pedacinhos de cinzas
erguiam-se do fogo. Eu fitei-os, sentindo-me um pouco tolo, mas ela
me pediu para olhar mais fundo, e... as cinzas eram brancas,
erguendo-se na corrente ascendente de ar, mas de repente era como se
estivessem caindo. Neve, pensei. Então as fagulhas no ar pareceram
formar um círculo, para se transformarem em um anel de archotes, e
eu estava olhando através do fogo para um monte alto qualquer numa
floresta. As brasas tinham se transformado em homens de negro atrás
dos archotes, e havia silhuetas em movimento através da neve. Apesar
de todo o calor do fogo, senti um frio tão terrível que me
arrepiei, e quando isso aconteceu, a visão desapareceu, e o fogo era
de novo apenas um fogo. Mas o que vi foi real, apostaria nisso o meu
reino.
- E foi o
que fez - disse Melisandre.
A
convicção na voz do rei assustou Davos profundamente.
- Um
monte numa floresta... silhuetas na neve... eu não...
-
Significa que a batalha começou - disse Melisandre. - A areia corre
agora mais depressa pela ampulheta, e o tempo do homem sobre a terra
está quase no fim. Temos de agir com ousadia, senão toda a
esperança estará perdida, Westeros tem de se unir sob seu único
rei verdadeiro, o príncipe que foi prometido, Senhor de Pedra do
Dragão e escolhido de R'hllor.
- Então
R'hllor faz estranhas escolhas. - O rei fez uma careta, como quem
saboreia algo desagradável - Por que eu e não meus irmãos? Renly e
seu pêssego. Em meus sonhos, vejo o sumo escorrendo da boca dele, e
o sangue da garganta. Se tivesse cumprido seu dever para com o irmão,
teríamos esmagado Lorde Tywin. Uma vitória de que até Robert
poderia se orgulhar, Robert... - Seus dentes rangeram, de um lado
para o outro. - Ele também aparece em meus sonhos. Rindo, Bebendo.
Vangloriando-se. Eram as coisas que ele fazia melhor. Isso, e lutar.
Nunca o venci em nada. O Senhor da Luz devia ter feito de Robert o
seu campeão. Por que eu?
- Porque
é um homem reto - disse Melisandre.
- Um
homem reto. - Stannis tocou com um dedo a bandeja de prata tampada. -
Com sanguessugas.
- Sim -
falou Melisandre - mas tenho de lhe dizer de novo, esta não é a
maneira certa.
- Jurou
que daria certo. - O rei parecia zangado.
- Dará...
e não dará,
- Ou uma
coisa ou a outra.
- Ambas.
- Fale
com sentido comigo, mulher.
- Quando
os fogos falarem mais claramente, o mesmo farei eu. Há verdade nas
chamas, mas nem sempre é fácil ver. - O grande rubi em sua garganta
bebia fogo do clarão do braseiro. - Dê-me o garoto, Vossa Graça. É
a maneira mais segura. A melhor maneira. Dê-me o garoto e acordarei
o dragão de pedra.
- Já lhe
disse que não.
- Ele é
apenas um garoto ilegítimo, contra todos os garotos de Westeros e
todas as garotas também. Contra todas as crianças que podem nunca
chegar a nascer, em todos os reinos do mundo.
- O
garoto é inocente.
- O
garoto conspurcou sua cama nupcial e, se assim não fosse, certamente
teria filhos seus. Ele envergonhou-o.
- Quem
fez isso foi Robert. Não o garoto. Minha filha tornou-se amiga dele.
E ele é do meu próprio sangue.
- É do
sangue de seu irmão - disse Melisandre. - Do sangue de um rei. Só o
sangue de um rei pode acordar o dragão de pedra.
Stannis
rangeu os dentes.
- Não
quero ouvir mais nada sobre isso. Os dragões acabaram-se. Os
Targaryen tentaram trazê-los de volta meia dúzia de vezes. E
fizeram papel de bobos, ou de cadáveres. Cara-Malhada é o único
bobo de que precisamos neste rochedo esquecido por deus. Você tem as
sanguessugas. Faça o seu trabalho.
Melisandre
inclinou rigidamente a cabeça e disse:
- Às
ordens de meu rei. - Enfiou a mão direita na manga esquerda e atirou
um punhado de pó dentro do braseiro. Os carvões rugiram. Enquanto
chamas pálidas se contorciam por cima deles, a mulher vermelha pegou
o prato de prata e levou-o ao rei. Davos viu-a levantar a tampa. Por
baixo dela encontravam-se três grandes sanguessugas negras, inchadas
com sangue.
O sangue
do garoto, soube Davos. Sangue de um rei.
Stannis
estendeu uma mão, e seus dedos fecharam-se em volta de uma das
sanguessugas.
- Diga o
nome - ordenou Melisandre.
A
sanguessuga retorcia-se na mão do rei, tentando se prender a um de
seus dedos.
- O
usurpador - disse ele - Joffrey Baratheon - Quando atirou a
sanguessuga no fogo, ela enrolou-se entre os carvões como uma folha
de outono e incendiou-se.
Stannis
agarrou a segunda.
- O
usurpador - declarou, dessa vez mais alto. - Balon Greyjoy. - Deu-lhe
um piparote ligeiro para dentro do braseiro, e o corpo do animal
abriu-se e crepitou. O sangue jorrou de seu interior, silvando e
fumegando.
A última
sanguessuga estava na mão do rei. Estudou aquela por um momento,
enquanto se contorcia entre seus dedos.
- O
usurpador - disse por fim - Robb Stark. - E atirou-a para as chamas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
NÃO DÊ SPOILERS!
Encontrou algum erro ortográfico no texto? Comente aqui para que possa arrumar :)
Se quer comentar e não tem uma conta no blogger ou google, escolha a opção nome/url e coloque seu nome. Nem precisa preencher o url.
Comentários anônimos serão ignorados