Uma
semana antes do Natal, Pollyanna enviou a sua história,
impecavelmente dactilografada, para o concurso. Os vencedores dos
prêmios não seriam anunciados antes de Abril, segundo dizia a
revista, de modo que Pollyanna preparou-se para a longa espera com a
sua característica paciência.
"Não
sei porquê, mas não desespero por ainda demorar", dizia para
si própria. "Assim, tenho todo o Inverno para pensar que posso
ganhar o primeiro prêmio. Se pensar que o vou ganhar, e o ganhar
mesmo, nunca me terei sentido infeliz. Por outro lado, se o não
ganhar, não terei passado todas estas semanas infeliz e poderei até
ficar contente com um prêmio menor. "
Nos
planos de Pollyanna não cabia a possibilidade de não ganhar
qualquer prêmio. A história, tão bem datilografada por Millie Snow
até parecia já estar impressa.
Esse ano,
o Natal não foi uma época feliz no solar dos Harrington apesar dos
esforços de Pollyanna. A tia Polly recusou-se em absoluto a
autorizar qualquer tipo de festa, mostrando-se tão determinada que
Pollyanna nem conseguiu oferecer-lhe um pequeno presente.
Na
véspera de Natal, John Pendleton veio visitá-las. Mrs. Chilton não
apareceu, mas Pollyanna, cansada de um dia inteiro com a tia,
recebeu-o alegremente. Porém, isto não trouxe maior satisfação a
Pollyanna pois John Pendleton trouxe consigo uma carta de Jimmy, e a
carta pormenorizava os planos que ele e Mrs. Carew faziam para
preparar os festejos de Natal num lar para moças trabalhadoras.
De fato,
Pollyanna não estava com disposição para ouvir falar das festas
dos outros e muito menos da de Jimmy. John Pendleton, porém,
insistiu no assunto, mesmo depois de lhe ter lido entusiasticamente a
carta.
- Que
grandes proezas - exclamou ele enquanto dobrava a carta.
- Sim,
ótimo! - murmurou Pollyanna tentando falar com algum entusiasmo.
- E é
esta noite. Gostava de lá estar.
- Sim,
sim - murmurou Pollyanna, tentando parecer entusiasmada.
- Mrs.
Carew sabia o que fazia quando pediu a Jimmy para a ajudar. Mas
gostaria de saber se lhe agrada fazer de Papai Noel para tantos
jovens!.
- Claro
que vai gostar imenso! - disse Pollyanna.
- Talvez.
No entanto, e concordarás comigo, não tem nada com o aprender a
construir pontes.
- Ah sim!
- Mas
acredito que essas jovens nunca tenham uma noite tão agradável como
a que vão passar hoje.
- Sim,
claro! - respondeu Pollyanna, tentando evitar que a voz lhe tremesse
e esforçando-se intensamente por não comparar a sua infeliz noite
de Natal, em Beldingsville, com a das moças, em
Boston,
com Jimmy.
Fez-se um
breve silêncio, com John Pendleton a fitar a lareira com ar
sonhador.
- Mrs.
Carew é uma mulher maravilhosa! - disse ele por fim.
- É
verdade! - desta vez, o entusiasmo na voz de Pollyanna era sincero.
- O Jimmy
já me descreveu algumas das coisas que ela tem feito por essas moças
- disse John Pendleton, continuando a olhar para o fogo. - Na carta
anterior, para além das coisas, falou-me mais sobre ela,
confessando-se admirado com a sua real maneira de ser e estar na
vida.
- É
verdade, Mrs. Carew é muito querida! - declarou Pollyanna com calor.
- É mesmo muito querida sob todos os aspectos. Eu gosto muito dela.
John
Pendleton agitou-se. Virou-se para Pollyanna mostrando uma expressão
estranha nos olhos. E insistiu ainda:
- Eu sei
que gostas dela. E também sei que existem outras pessoas que gostam
dela.
O coração
de Pollyanna parou de bater. Uma ideia súbita ocorreu-lhe. Seria que
John Pendleton queria dizer daquela maneira que Jimmy gostava de Mrs.
Carew?
- Que
quer dizer?
Com um
gesto nervoso que lhe era peculiar, John Pendleton pôs-se de pé.
-
Referia-me às moças, evidentemente - respondeu ele com o seu
sorriso curioso. - Não achas que aquelas cinquenta moças devem
adorá-la?
- Sim,
claro -, respondeu Pollyanna que murmurou mais alguma coisa
apropriada em resposta à observação de John Pendleton.
Os seus
pensamentos estavam em tumulto e durante o resto da noite deixou o
senhor falar durante quase todo o tempo. E John Pendleton pareceu não
se importar muito com isso. Inquieto, deu uma ou duas voltas à sala,
voltando depois a sentar-se no seu antigo lugar, retomando a conversa
sobre o mesmo assunto.
- Curiosa
a questão do Jamie, não é? Será que ele é mesmo sobrinho de Mrs.
Carew?
Como
Pollyanna não respondeu o senhor continuou após um breve silêncio.
- É um
ótimo rapaz. Gosto dele. Tem algo de bom e genuíno. Ela está muito
ligada a ele. Gostava de saber se será de fato sobrinho dela.
Fez-se
nova pausa. Depois, com a voz ligeiramente alterada, John Pendleton
disse:
- Quando
penso nisso, não deixa de me parecer estranho que ela não tenha
voltado a casar. Continua a ser uma bela mulher, não achas?
- Sim, é
verdade.
Na voz de
Pollyanna registou-se uma ligeira quebra. Tinha acabado de ver o seu
próprio rosto no espelho e nunca se achara a si própria "uma
bela mulher".
John
Pendleton continuava com os olhos postos na lareira. O fato de ter ou
não respostas ao que era de responder, parecia ser-lhe indiferente.
Aparentemente, parecia apenas querer conversar. Até que, finalmente,
se levantou, sem grande vontade, e despediu-se. Há algum tempo que
Pollyanna desejava que ele se fosse embora, para estar só, mas
depois de ele ter partido já achava que teria sido melhor ele ter
ficado mais tempo. Percebera afinal que não queria ficar sozinha com
os seus pensamentos.
Para
Pollyanna, era agora claríssimo que Jimmy gostava de Mrs. Carew.
Isso explicava o fato de ele ter estado tão triste e inquieto após
a partida dela. E seria também a razão pela qual ele a visitara tão
poucas vezes a partir daí. Pollyanna associou igualmente uma série
de outras circunstâncias ocorridas no Verão, de que bem se lembrava
e que reforçavam inegavelmente essa sua convicção.
Tendo
agora a certeza de que Jimmy e Mrs. Carew gostavam um do outro,
Pollyanna tornou-se especialmente sensível em relação a tudo
quanto pudesse fortalecer essa crença. Em breve descobriu o que
esperava. Primeiro, nas cartas de Mrs. Carew.
"Tenho
estado muito com o seu jovem amigo Pendleton e cada vez gosto mais
dele. Porém, gostava, só por curiosidade, de conhecer a fonte deste
sentimento estranho de já o ter visto antes.”
Depois
dessa carta, ela passou a referi-lo frequentemente e Pollyanna achava
que a presença de Jimmy se tornara para Mrs. Carew uma coisa
perfeitamente natural. Noutras fontes, Pollyanna veio ainda a
encontrar combustível para o fogo das suas suspeitas. John
Pendleton, aparecia cada vez mais frequentemente com as suas
histórias sobre o Jimmy e aquilo que ele estava a fazer, sem omitir
as referências a Mrs. Carew. A pobre Pollyanna chegava por vezes a
pensar se John Pendleton não sabia falar de mais nada que não fosse
de Mrs. Carew e do Jimmy.
Havia
também as cartas de Sadie Dean que lhe falavam de Jimmy e do que ele
fazia com Mrs. Carew. Até Jamie, que de vez em quando escrevia,
contribuiu para fortalecer tal ideia.
“São
dez horas. Estou aqui sentado, sozinho, à espera de Mrs. Carew. Ela
e Pendleton foram a uma das reuniões no lar.”
Claro, do
Jimmy propriamente dito, Pollyanna não tinha quase notícias, de
modo que pensava tristemente que devia ficar contente com isso, pois
"se ele não sabe falar de mais nada senão de Mrs. Carew e das
suas moças, fico contente por não me escrever muitas vezes! ",
desabafou.
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