quinta-feira, 18 de julho de 2013

POLLYANNA 2 - 19 - Jimmy e Jamie


Pollyanna não foi a única a achar difícil aquele Inverno. Em Boston, Jimmy Pendleton, apesar dos muitos esforços para ocupar o tempo e os pensamentos, descobria que nada conseguia apagar a imagem de um certo par de olhos azuis e sorridentes e a memória de uma certa voz adorável.
Jimmy dizia a si próprio que se não fosse Mrs. Carew e o fato de ele lhe poder ser útil, a vida não valeria a pena. Mesmo em casa de Mrs. Carew nem tudo era um mar de rosas, pois estava lá sempre Jamie e este recordava-lhe Pollyanna e os pensamentos tristes a ela associados.
Estando convencido de que Jamie e Pollyanna gostavam um do outro e estando igualmente convencido de que ele próprio tinha o dever de honra de se pôr de lado e deixar o caminho livre ao jovem deficiente, nunca lhe ocorreu investigar mais a questão. Por isso, desgostava-o ouvir falar dela, mormente quando Jamie ou Mrs. Carew, a propósito de notícias recebidas, a lembravam. Precisava de fazer algum esforço para os escutar, apesar da dor que lhe assolava o coração. Para Jimmy, uma Pollyanna que não fosse sua não era mais do que uma fonte de sofrimento e tristeza, e daí que se sentisse aliviado quando deixou Beldingsville. Estar próximo geograficamente de Pollyanna e ao mesmo tempo tão afastado era para ele uma tortura. Um paradoxo, mas era o que sentia.
Em Boston, com todo o ardor de um espírito inquieto que busca distrair-se de si próprio, lançou-se ao trabalho de executar os planos de Mrs. Carew em relação às moças trabalhadoras, dedicando a este trabalho todo o tempo que lhe sobrava dos seus próprios deveres. Tudo isso constituía motivo de grande deleite e gratidão para Mrs. Carew.
Assim passou o Inverno para Jimmy. Aproximava- se a Primavera, florida e verdejante, repleta de fragrâncias. Para si, porém, talvez não fosse uma Primavera feliz enquanto o seu coração continuasse mergulhado num Inverno de tristeza.
"Ao menos, se eles marcassem as coisas e anunciassem o noivado de uma vez por todas. Quanto mais não fosse, ficava com uma certeza, e assim acho que suportaria melhor! ", murmurava Jimmy para si próprio cada vez mais frequentemente.
Foi assim que, numa bela manhã dos fins de Abril, viu o seu desejo de ter alguma certeza parcialmente realizado. Eram dez horas da manhã de domingo e Mary, na casa de Mrs. Carew, conduziu-o ao salão de música dizendo-lhe:
- Vou dizer a Mrs. Carew que já aqui está. Creio que ela o espera.
Nesse salão, por inesperado, Jimmy teve um forte baque ao ver o Jamie sentado ao piano. E já se preparava para se retirar discretamente quando o rapaz levantou a cabeça, revelando um rosto corado e olhos febris.
- Então, Carew, aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu, se aconteceu! - exclamou o jovem paralítico, agitando nas mãos uma carta aberta. Aconteceu tudo! Diga-me como reagiria se, num instante, lhe surgisse a oportunidade de pedir em casamento a moça que ama? Não pense que estou maluco! Embora esteja doido de alegria! Quer ouvir-me Tenho de desabafar com alguém!
Pendleton levantou a cabeça. Era como se, consciente, se preparasse para receber um murro. Empalidecera, mas a voz manteve-se firme quando respondeu.
- Claro que sim, amigo! Ficarei contente por ouvi-lo.
Carew, porém, quase nem esperara pela resposta, apressando-se a contar com alguma incoerência.
- Para si, certamente, não é importante. Dispõe de boas pernas e de liberdade. Tem as suas ambições e as suas pontes. Mas, para mim, isto representa tudo. É uma oportunidade de viver uma vida de homem e, talvez, de realizar uma obra, sem que sejam pontes ou barragens. É alguma coisa! Algo que demonstrei poder realizar! Ouça. Esta carta dá-me a notícia de que uma pequena história que escrevi ganhou o primeiro prêmio num concurso. Três mil dólares! E nesta outra carta, uma grande editora aceitou, entusiasmada, o meu primeiro livro para publicação. Por coincidência, vieram as duas esta manhã. É ou não é de se ficar louco de alegria?
- Sim, sim!Claro Felicito-o, Carew, de todo o coração. - Exclamou Jimmy calorosamente.
- Obrigado! Pense no que isto significa para mim. No que significa poder ser independente. No que significa, se puder um dia tornar Mrs. Carew orgulhosa e contente, por ter arranjado um lugar em sua casa e no seu coração a um rapazito aleijado. Já imaginou o que é eu poder declarar-me à moça que amo?
- Sim, claro, rapaz! - exclamou Jimmy, com firmeza, apesar de ter empalidecido imenso.
- Porém, mesmo assim, se calhar não devo fazê-lo - disse Jamie, irresoluto. - Bem vê, continuo amarrado a estas muletas.
- Mas, Carew... - começou o outro apressadamente.
Carew levantou a mão decididamente.
- Eu sei o que vai dizer. Peço-lhe que não diga. Não poderá compreender-me. Não está amarrado a duas muletas. Como criar coragem para falar a Sadie?
- Sadie? - interrompeu Jimmy, abruptamente.
- Sim, Sadie Dean! Está surpreendido! Não sabia? Nunca suspeitou do que eu sentia em relação a Sadie? - exclamou Jamie. - Terei eu conseguido guardar tão bem esses sentimentos para mim próprio? Tenho tentado, mas... - concluiu desanimado.
- Decerto que conseguiu guardar bem, pelo menos de mim - exclamou Jimmy, alegremente, vendo-se-lhe um olhar mais brilhante. - Então é de Sadie Dean que gosta. Ótimo! Felicito-o de novo. - Jimmy quase gaguejava, entusiasmado, depois de perceber que era de Sadie e não de Pollyanna que Jamie gostava.
- Não me felicite ainda. Pouco lhe disse, mas posso dizer mais. E eu a pensar que todos sabiam! Diga-me, quem pensava então que fosse, não sendo a própria Sadie?
Jimmy hesitou. Depois, um tanto precipitado, lá se descoseu:
- Pensava que era a Pollyanna. Jamie sorriu e apertou os lábios.
- Pollyanna é uma moça maravilhosa e eu gosto dela, mas não mais que isso. E, além disso, creio haver outra pessoa que pode falar a esse propósito.
Jimmy corou embaraçado.
- Crê que sim? - disse, tentando tornar a sua voz impessoal.
- Claro! É mais que evidente que é o John Pendleton.
- John Pendleton? - Jimmy virou-se de repente.
- O quê? Que há com John Pendleton? - perguntou uma outra voz, a de Mrs. Carew, que entrava na sala, sorrindo. Jimmy, que pela segunda vez em cinco minutos tinha visto o mundo que o rodeava desfazer-se em bocados, mal pôde recompor-se para cumprimentar a senhora. Ao contrário, Jamie virou-se triunfante.
- Nada de especial. Só disse que pensava que John Pendleton teria algo a dizer sobre Pollyanna gostar de alguém. Mas ele.
- Pollyanna John Pendleton - Mrs. Carew sentou-se apressadamente numa cadeira.
Se os dois jovens que tinha diante de não estivessem absorvidos nos próprios pensamentos, teriam reparado que o sorriso desaparecera do rosto de Mrs. Carew e que uma expressão estranha, quase de receio, aparecera nos seus olhos.
- Claro - manteve Jamie. - Ou estavam os dois cegos no Verão? Não o viram sempre a falar com ela com tanto interesse?
- Pensei que ele falasse naturalmente com todos - murmurou Mrs. Carew, desapontada.
- Não tanto como com Pollyanna - insistiu Jamie. - Além disso, não se lembra daquele dia em que estávamos a falar de John Pendleton não ter casado e Pollyanna ficar muito corada e hesitar, dizendo finalmente que ele tinha pensado em casar. uma vez. Foi então que eu fiquei a pensar que existia alguma coisa entre eles. Não se lembram?
- Sim, acho que sim... agora que se falou disso - murou Mrs. Carew. - Mas não liguei.
- Ah! Mas isso eu posso explicar - interrompeu Jimmy umedecendo os lábios secos. - John Pendleton teve em tempos um caso de amor, mas foi com a mãe de Pollyanna.
- Com a mãe de Pollyanna? - exclamaram ambos, surpreendidos.
- É verdade! Ele gostou dela, há anos, mas ela não lhe correspondeu. Ela gostava de um pastor e foi com ele que casou. - Foi o pai de Pollyanna.
- Oh! - respirou de alívio Mrs. Carew, inclinando-se na cadeira. - E foi por isso que ele nunca mais casou?
- Creio que sim - confessou Jimmy. - Portanto, já vê, essa sua ideia não corresponde à realidade. Ele gostou foi da mãe de Pollyanna.
- Pelo contrário, até acho que reforça o que eu disse - insistiu Jamie. Se ele gostou da mãe e não conseguiu ser correspondido, parece-me natural que goste da filha e a queira conquistar, não será?
Mrs. Carew pôs-se em pé de repente e murmurou com um gesto estranho como se quisesse pôr de parte algo detestável. - Sim, eu sei, mas... - e não concluiu a frase, deixando a sala.
Quando regressou, após cinco minutos, reparou surpreendida que Jimmy se tinha ido embora.
- Pensei que ele ia connosco ao piquenique das moças! - exclamou ela.
- Também eu - disse Jamie, franzindo a testa.
- Mas desculpou-se dizendo que tinha surgido uma coisa inesperada e ia deixar a cidade. Acho que nem percebi bem o que ele disse. estava a pensar noutra coisa! - e, radiante, mostrou-lhe as duas cartas que durante todo aquele tempo tinha continuado a segurar.
- Oh, Jamie! - exclamou Mrs. Carew contente, depois de ler as cartas - Como estou orgulhosa de ti! - depois, subitamente, os olhos encheram-se-lhe de lágrimas ao ver a alegria que iluminava o rosto de Jamie.  

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