Os
preparativos de John Pendleton para a partida foram feitos com duas
exceções, tornadas em duas cartas. Uma, dirigida a Pollyanna, e
outra, a Mrs. Polly Chilton. Foram elas entregues, com instruções
rigorosas, a Susan, a sua governanta, que deveria proceder à entrega
imediatamente após a partida deles. E tudo isso sem conhecimento de
Jimmy.
Ao
aproximarem-se de Boston, John Pendleton disse a Jimmy:
- Meu
rapaz, tenho de pedir-te um favor, ou melhor, dois. O primeiro, é
que não digas nada a Mrs. Carew antes de amanhã à tarde; o outro,
é deixares-me ir primeiro ser teu embaixador, contigo a aparecer em
cena só depois das quatro horas. Concordas?
- Está
bem! - respondeu Jimmy. - Satisfaz-me a ideia, até porque estava a
pensar como haveria de quebrar o gelo e, assim, tenho quem o faça
por mim.
- Ótimo!
Então, agora, vou tentar que a tua tia venha ao telefone, para
marcar a visita.
Fiel à
promessa, Jimmy não apareceu na mansão dos Carew antes das quatro
da tarde do dia seguinte. Mesmo então, sentiu-se tão embaraçado
que passou duas vezes diante da casa antes de conseguir a coragem
suficiente para subir a escada e tocar à campainha.
Em breve,
porém, chegou à presença de Mrs. Carew. Voltara a ser ele próprio,
pois ela pô-lo imediatamente à vontade e abordou a situação com
muito tato. Ao princípio houve algumas lágrimas e algumas
exclamações incoerentes. O próprio John Pendleton teve de lançar
apressadamente a mão ao seu lenço. Mas em breve foi restaurada a
tranquilidade normal e só o brilho terno dos olhos de Mrs. Carew e a
felicidade que se espelhava em Jimmy e John Pendleton marcavam aquela
ocasião como algo de incomum.
- Acho
que a sua atitude, por causa do Jamie, é tão bonita! - exclamou
Mrs. Carew, passado um pouco. - Por razões óbvias, vou continuar a
chamar-lhe Jimmy. Além de que também gosto mais desse nome. Acho
que está a proceder muito corretamente. Eu própria farei algum
sacrifício - continuou ela, com lágrimas nos olhos -, pois teria
imenso orgulho em o apresentar ao mundo como meu sobrinho.
- E, tia
Ruth, eu... - Jimmy parou imediatamente de falar face a uma
exclamação aflita de John Pendleton, denunciadora da presença do
Jamie e da Sadie Dean, acabados de entrar.
O Jamie,
espantado e pálido, exclamou:
- Tia
Ruth! Tia Ruth não quer dizer que.
Os rostos
de Mrs. Carew e de Jimmy ficaram sem um pingo de sangue. John
Pendleton, porém, avançou elegantemente e disse:
- Sim
Jamie, porque não? Eu ia dizer-lhe em breve, mas, assim, digo-lhe
já.
Jimmy deu
um passo adiante, aflito, mas John Pendleton silenciou-o com um
olhar.
- Há
pouco, Mrs. Carew fez de mim o homem mais feliz do mundo, ao
responder-me afirmativamente a uma pergunta. Portanto, se Jimmy me
trata por tio John, porque não há-de tratar Mrs. Carew por tia
Ruth?
- Oh! -
exclamou Jamie contentíssimo, enquanto Jimmy, sob o olhar firme de
John Pendleton, salvou a situação, evitando manifestar a sua
surpresa e satisfação.
Naturalmente,
Mrs. Carew tornou-se o centro do interesse de todos e o perigo foi
ultrapassado. Só Jimmy ouviu John Pendleton segredar-lhe, um pouco
depois:
- Então,
meu maroto, vês como não te vou perder! Queremos-te ambos!
Ainda se
ouviam exclamações e parabéns, quando Jamie, ainda mais
satisfeito, se virou para Sadie Dean, dizendo enigmático:
- Sadie,
vou dizer-lhes agora!
E a
expressão felicíssima de Sadie denunciou desde logo a todos o que
se passava, antes, portanto, de Jamie começar a falar. Seguiram-se
mais parabéns e exclamações de alegria, abraçando-se todos
profusamente.
Jimmy,
começou a olhá-los com algum desconsolo.
- Está
tudo muito bem, para vocês - queixou-se. - Já se têm uns aos
outros, e eu? No entanto, posso dizer-vos que se uma certa jovem aqui
estivesse, também teria uma coisa para vos comunicar.
- Espera
só um minuto, Jimmy - interpôs-se John Pendleton. - Vamos fazer de
conta que eu sou o Aladin e vou esfregar a lâmpada. Mrs. Carew,
dá-me licença que chame a Mary?
- Sim,
com certeza! - murmurou a senhora, que, tal como os outros, ficara
surpreendida.
Momentos
depois Mary surgiu à entrada da sala.
- Foi
Miss Pollyanna que chegou há momentos? - perguntou John Pendleton.
- Sim,
senhor, ela está aqui.
-
Importa-se de dizer-lhe que entre, por favor?
-
Pollyanna, aqui? - exclamaram todos em coro, quando Mary saiu, e
Jimmy virou-se muito pálido e um tanto corado:
- Sim.
Mandei-lhe uma nota através da minha governanta, ontem à tarde.
Tomei a liberdade de lhe pedir para vir passar alguns dias consigo,
Mrs. Carew. Pensei que a jovem precisasse de descansar um pouco e a
minha governanta recebeu instruções para permanecer com Mrs.
Chilton e tratar dela. Escrevi também uma nota a Mrs. Chilton -
acrescentou, virando-se de repente para Jimmy com uma expressão
significativa nos olhos. - E pensei que depois de ela ler o que lhe
escrevi, deixaria vir Pollyanna. Está visto que deixou mesmo.
E, de
fato, Pollyanna aí estava a transpor a porta, corada, de olhos muito
abertos, e um tanto tímida e interrogativa.
-
Pollyanna, minha querida! - gritou Jimmy, que correu para ela sem
hesitar, tomando-a nos braços e beijando-a.
- Oh,
Jimmy, assim, diante de toda a gente! protestou Pollyannna
embaraçada.
- Nem que
fosse no meio da Avenida Whashinton tinha de beijar-te - confessou
Jimmy. - Basta olhares ao teu redor.
E
Pollyanna olhou e viu. Junto a uma janela, de costas voltadas,
estavam Jamie e Sadie Dean. Ao pé de outra janela, também de costas
voltadas, estavam Mrs. Carew e John Pendleton.
Pollyanna
sorriu tão adoravelmente que Jimmy voltou a beijá-la.
- Oh,
Jimmy, como é maravilhoso! - murmura ela docemente. - A tia Polly,
agora, já sabe de tudo e está tudo bem. Embora, por mim, estivesse
sempre tudo bem. Como ela se estava a sentir tão mal por minha
causa! Agora está feliz e eu também Jimmy, estou tão contente, tão
CONTENTE com tudo!
Jimmy
conteve a respiração com uma alegria que até doía.
- Minha
querida, só desejo que te sintas sempre assim - disse ele,
estreitando-a com força.
- Tenho a
certeza que sim - suspirou Pollyanna com um olhar pleno de confiança.
FIM
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