quarta-feira, 14 de agosto de 2013

25 - EDDARD


- A morte de Lorde Arryn foi uma grande tristeza para todos nós, senhor - disse o Grande Meistre Pycelle. - Ficarei mais que feliz contando-lhe tudo o que puder sobre seu falecimento. Mas, por favor, sente-se. Aceita um refresco? Talvez algumas tâmaras? Tenho também uns caquis muito bons. Temo que o vinho não seja bom para minha digestão, mas posso lhe oferecer uma taça de leite gelado adoçado com mel, na minha opinião, muito refrescante neste calor.
O calor era inegável. Ned sentia a túnica de seda aderir ao seu peito. Um ar pesado e úmido cobria a cidade como um cobertor molhado de lã, e a margem do rio tinha se tornado ingovernável quando os pobres fugiram de suas casas quentes e sem ar para se acotovelarem por um lugar para dormir perto da água, onde o único sopro de vento podia ser encontrado.
- E muita gentileza - Ned agradeceu, sentando-se.
Pycelle ergueu uma minúscula campainha de prata com o indicador e o polegar e a fez soar suavemente. Uma jovem e esbelta serva apressou-se a entrar no aposento privado.
- Leite gelado para a Mão do Rei e para mim, por favor, filha. Bem doce.
Enquanto a jovem ia buscar as bebidas, o Grande Meistre entrelaçou os dedos e pousou as mãos na barriga.
- O povo diz que o último ano do verão é sempre o mais quente. Não é bem assim, mas muitas vezes parece que é, não é verdade? Em dias como este, invejo-os, nortenhos, por suas neves de verão - a corrente pesadamente carregada de joias em torno do pescoço do velho tilintou suavemente quando ele mudou de posição. - O certo é que o verão do Rei Maekar foi mais quente do que este, e quase tão longo. Houve tolos, até mesmo na Cidadela, que pensaram que isso significava que o Grande Verão tinha enfim chegado. O verão que nunca termina, mas, no sétimo ano, o tempo mudou subitamente e tivemos um curto outono e um inverno terrivelmente longo. De qualquer modo, o calor foi feroz enquanto durou. Vilavelha fumegava e sufocava durante o dia, e ganhava vida à noite. Costumávamos passear nos jardins junto ao rio e discutir sobre os deuses. Recordo os cheiros dessas noites, senhor, perfume e suor, melões prontos para estourar, de tão maduros, pêssegos e romãs, erva-moura e flor-de-lua. Eu era então um jovem, ainda forjando minha corrente. O calor então não me deixava exausto como hoje em dia - os olhos de Pycelle tinham pálpebras tão pesadas que ele parecia meio adormecido. - Minhas desculpas, Senhor Eddard. Não veio ouvir divagações disparatadas acerca de um verão que já tinha sido esquecido antes do nascimento de seu pai. Perdoe-me, se possível, os devaneios de um velho. Temo que as mentes sejam como espadas. As velhas enferrujam. Ah, e aqui está o nosso leite - a criada depositou a bandeja entre eles e Pycelle lhe concedeu um sorriso. - Querida criança - ergueu uma taça, saboreou-a e acenou com a cabeça: - Obrigado. Pode ir.
Depois de a jovem se retirar, Pycelle dirigiu a Ned seus olhos claros e cheios de remela.
- Bem, onde estávamos? Ah, sim. Falávamos de Lorde Arryn...
- É verdade - Ned tomou um gole bem-educado do leite gelado. Estava agradavelmente frio, mas doce demais para seu gosto.
- A bem da verdade, a Mão já não parecia bem há algum tempo - disse Pycelle. - Já nos sentávamos juntos no conselho havia muitos anos, ele e eu, e os sinais estavam à vista, mas os debitei na conta dos grandes fardos que suportara tão fielmente durante tanto tempo. Aqueles largos ombros estavam sobrecarregados com todas as preocupações do reino, e mais ainda. Seu filho andava sempre adoentado, e a senhora sua esposa, tão ansiosa, que quase não deixava que a criança saísse de baixo de sua vista. Era o bastante para cansar até um homem forte, e Lorde Jon não era jovem. Não era de se admirar que parecesse melancólico e cansado. Pelo menos era o que eu pensava nesse tempo. Agora, no entanto, tenho menos certezas - abanou gravemente a cabeça.
- O que pode me dizer de sua doença final?
O Grande Meistre abriu as mãos num gesto de desamparada mágoa:
- Ele veio ter comigo um dia em busca de certo livro, tão robusto e sadio como sempre, embora me parecesse que algo o perturbava profundamente. Na manhã seguinte, estava retorcido de dores, doente demais para sair da cama. Meistre Colemon pensou que se tratasse de um calafrio no estômago. O tempo estivera quente, e a Mão costumava gelar o vinho, o que pode perturbar a digestão. Quando Lorde Jon continuou a enfraquecer, fui até ele, mas os deuses não me concederam o poder de salvá-lo.
- Ouvi dizer que afastou Meistre Colemon.
O aceno do Grande Meistre foi tão lento e deliberado como geleira se derretendo.
- Sim, o afastei, e temo que a Senhora Lysa nunca me perdoe. Talvez tivesse cometido um erro, mas naquele momento foi o que me pareceu melhor. Meistre Colemon é para mim como um filho, e não há ninguém que mais estime suas capacidades, mas ele é jovem, e muitas vezes os jovens não se dão conta da fragilidade de um corpo mais velho. Ele estava tratando Lorde Arryn com poções desgastantes e sumo de pimenta. Temi que pudesse matá-lo.
- Lorde Arryn lhe disse alguma coisa durante suas últimas horas?
Pycelle enrugou uma sobrancelha.
- No estágio final de sua febre, a Mão gritou várias vezes o nome Robert, mas eu não saberia dizer se chamava pelo filho ou pelo rei. A Senhora Lysa não permitia que seu filho entrasse no quarto, temendo que também ele caísse doente. O rei veio e ficou sentado ao lado da cama durante horas, falando e gracejando de tempos há muito passados, na esperança de alimentar o ânimo de Lorde Jon. Seu amor era digno de se ver.
- Nada mais aconteceu? Nenhuma última palavra?
- Quando vi que toda a esperança tinha escapado, dei à Mão o leite de papoula, para que não sofresse. Antes de fechar os olhos pela última vez, segredou algo ao rei, e à senhora sua esposa, uma bênção para o filho. A semente é forte, ele disse. No fim, seu discurso estava por demais confuso para ser compreendido. A morte só chegou na manhã seguinte, mas, depois disso, Sor Jon ficou em paz. Não voltou a falar. Ned bebeu mais um pouco de leite, tentando não se engasgar com sua doçura.
- Pareceu-lhe haver algo de não natural na morte de Lorde Arryn?
- Não natural? - a voz do idoso meistre era fina como um suspiro. - Não, não diria isso. Triste, com toda a certeza. Mas, à sua maneira, a morte é a coisa mais natural de todas, Lorde Eddard. Jon Arryn agora descansa em paz, por fim aliviado de seus fardos.
- Essa doença que o acometeu - Ned voltou a falar. - Alguma vez viu algo de semelhante em outros homens?
- Sou Grande Meistre dos Sete Reinos há quase quarenta anos - Pycelle respondeu. - Sob o reinado do nosso bom Robert, antes dele sob Aerys Targaryen, sob o pai deste, Jaehaerys Segundo, e até durante curtos meses sob o reinado do pai de Jaehaerys, Aegon, o Afortunado, o Quinto de Seu Nome. Vi mais doença do que gostaria de recordar, senhor. Digo-lhe apenas isto: cada caso é diferente, e todos os casos são semelhantes. A morte de Lorde Jon não foi mais estranha que qualquer outra.
- Sua esposa pensa o contrário.
O Grande Meistre acenou com a cabeça.
- Agora me lembro, a viúva é irmã de sua nobre esposa. Se se pode perdoar a um velho seu discurso direto, permita-me que lhe diga que a dor pode desequilibrar até a mais forte e disciplinada das mentes, e a da Senhora Lysa nunca foi assim. Desde o seu último natimorto que vê inimigos em cada sombra, e a morte do senhor seu esposo a deixou destroçada e perdida.
- Então, tem total certeza de que Jon Arryn morreu de uma doença súbita?
- Tenho - Pycelle respondeu gravemente. - Se não foi doença, meu bom senhor, que mais poderia ser?
- Veneno - sugeriu Ned com a voz calma.
Os olhos sonolentos de Pycelle abriram-se de súbito. O idoso meistre agitou-se desconfortavelmente no assento.
- Um pensamento perturbador. Não estamos nas Cidades Livres, onde tais coisas são comuns. O Grande Meistre Aethelmure escreveu que todos os homens carregam o homicídio no coração, mas mesmo assim o envenenador merece menos que desprezo - o velho caiu em silêncio por um momento, pensando de olhos perdidos. - O que está sugerindo é possível, senhor, mas não penso que seja provável. Qualquer meistre ignorante conhece os venenos comuns, e o Senhor Arryn não mostrava nenhum dos sintomas. E a Mão era amada por todos. Que tipo de monstro em forma humana se atreveria a assassinar um senhor tão nobre?
- Tenho ouvido dizer que veneno é uma arma de mulher.
Pycelle afagou a barba pensativamente.
- É o que se diz. Mulheres, covardes... e eunucos - limpou a garganta e cuspiu um espesso globo de muco para os juncos. Acima deles, um corvo grasnou sonoramente. - Lorde Varys nasceu escravo em Lys, sabia? Nunca deposite confiança em aranhas, senhor.
Aquilo não era propriamente algo que Ned precisava que lhe fosse dito. Havia qualquer coisa em Varys que o arrepiava.
- Eu me lembrarei do conselho, Meistre. E agradeço-lhe pela ajuda. Já tomei bastante do seu tempo - Ned pôs-se em pé.
O Grande Meistre Pycelle ergueu-se lentamente da cadeira e acompanhou Ned até a porta.
- Espero que tenha ajudado um pouco a acalmar a sua mente. Se houver algum outro serviço que eu lhe possa prestar, basta pedir,
- Há uma coisa - disse-lhe Ned. - Tenho curiosidade em examinar o livro que emprestou a Jon um dia antes de cair enfermo.
- Temo que seja de pouco interesse - disse Pycelle. - Foi um solene volume escrito pelo Grande Meistre Malleon sobre as linhagens das grandes Casas.
- De qualquer modo, gostaria de vê-lo.
O velho abriu a porta.
- Como desejar. Tenho-o guardado por aqui. Quando encontrá-lo, mandarei imediatamente entregar-lhe.
- O senhor foi de grande cortesia - disse-lhe Ned. E então, como se algo lhe tivesse ocorrido subitamente, disse: - Uma última pergunta, se sua bondade me permite. O senhor mencionou que o rei esteve à cabeceira de Lorde Arryn quando morreu. Pergunto se a rainha o acompanhava.
- Ora, não - Pycelle respondeu. - Ela e os filhos estavam a caminho de Rochedo Casterly, em companhia do pai. O Senhor Tywin tinha trazido um séquito até a cidade para o torneio do dia do nome do Príncipe Joffrey, sem dúvida esperando ver o filho Jaime ganhar a coroa de campeão. Mas ficou tristemente desapontado. Caiu sobre mim a tarefa de enviar à rainha a notícia da norte súbita de Lorde Arryn. Nunca antes enviei uma ave de coração mais pesado.
- Asas escuras, palavras escuras - Ned murmurou.
Era um provérbio que a Velha Ama lhe ensinara quando ainda era um rapaz.
- É o que dizem as mulheres dos pescadores - concordou o Grande Meistre Pycelle - mas sabemos que nem sempre é assim. Quando a ave de Meistre Luwin trouxe a notícia sobre seu filho Bran, a mensagem aqueceu todos os corações verdadeiros do castelo, não é verdade?
- É bem assim, Meistre,
- Os deuses são misericordiosos - Pycelle inclinou a cabeça. - Visite-me sempre que desejar, Senhor Eddard. Estou aqui para servir.
Sim, pensou Ned quando a porta se fechou, mas a quem?
No caminho de volta aos seus aposentos, deparou com a filha Arya nos degraus em espiral da Torre da Mão, girando os braços enquanto lutava para se equilibrar sobre uma perna. A pedra áspera tinha esfolado seus pés nus. Ned parou e olhou para ela.
- Arya, o que está fazendo?
- Syrio diz que um dançarino de água é capaz de se apoiar num dedo do pé durante horas - suas mãos bateram o ar em busca de equilíbrio.
Ned foi obrigado a sorrir.
- Qual dos dedos? - ele brincou.
- Qualquer dedo - Arya respondeu, exasperada com a pergunta. Saltou da perna direita para a esquerda, oscilando perigosamente antes de recuperar o equilíbrio.
- Precisa fazer isso aqui? - ele perguntou. - Uma queda por estes degraus é longa e dura.
- Syrio diz que um dançarino de água nunca cai - ela abaixou a perna para se apoiar nas duas. - Pai, Bran virá agora viver conosco?
- Não durante muito tempo, querida - ele respondeu.
- Ele precisa recuperar as forças.
Arya mordeu o lábio.
- O que Bran fará quando for crescido?
Ned ajoelhou-se ao seu lado.
- Ele tem muitos anos para encontrar esta resposta, Arya. Por ora, basta saber que viverá - na noite em que a ave chegara de Winterfell, Eddard Stark levara as filhas ao bosque sagrado do castelo, um acre de olmos, amieiros e choupos que pairavam sobre o rio. Ali, a árvore-coração era um grande carvalho, cujos antigos ramos estavam cobertos de trepadeiras de bagas-fumo; eles se ajoelharam para dar graças, como se fosse um represeiro.
Sansa adormeceu ao nascer da lua, Arya, várias horas mais tarde, enrolando-se na erva sob o manto de Ned. Ele manteve a vigília sozinho pelo resto das horas de sombra. Quando a madrugada surgiu sobre a cidade, os botões vermelho-escuros de sopros-de-dragão rodeavam as filhas.
- Sonhei com Bran - segredara-lhe Sansa. - Eu o vi sorrindo.
- Ele ia ser um cavaleiro - Arya agora estava dizendo. - Um cavaleiro da Guarda Real. Ainda pode ser um cavaleiro?
- Não - Ned respondeu. Não via nenhuma razão para mentir. - Mas um dia pode ser senhor de um grande castelo e sentar-se no conselho do rei. Pode erguer castelos como Brandon, o Construtor, ou dirigir um navio pelo Mar do Poente, ou entrar para a Fé da sua mãe e tornar-se Alto Septão - mas nunca mais correrá ao lado de seu lobo, pensou com uma tristeza tão profunda que as palavras não eram suficientes, ou deitar-se com uma mulher, ou tomar nos braços o próprio filho.
Arya inclinou a cabeça, para um lado.
- E eu posso ser conselheira do rei, construir castelos ou me tornar Alta Septã?
- Você - disse Ned, dando-lhe um suave beijo na testa - casará com um rei e governará seu castelo, e seus filhos serão cavaleiros, príncipes e senhores e, sim, talvez mesmo um Alto Septão.
Arya fez um trejeito.
- Não - ela protestou - esta é a Sansa - dobrou a perna direita e voltou aos exercícios de equilíbrio.
Ned suspirou e a deixou ali. No interior de seus aposentos, despiu as sedas manchadas de suor e despejou água pela cabeça abaixo. Alyn entrou no momento em que secava o rosto.
- Senhor - disse - Lorde Baelish está lá fora e pede audiência.
- Acompanhe-o ao meu aposento privado - disse Ned, estendendo a mão para uma túnica fresca do mais leve linho que conseguiu encontrar. - Eu o receberei de imediato.
Quando Ned entrou, encontrou Mindinho empoleirado no assento na frente da janela, observando o treino com espadas dos cavaleiros da Guarda Real no pátio lá embaixo.
- Se ao menos a mente do velho Selmy fosse tão ágil como sua arma - ele disse com melancolia na voz - as reuniões do nosso conselho seriam bem mais animadas.
- Sor Barristan é tão valente e respeitável como qualquer homem em Porto Real - Ned tinha um profundo respeito pelo idoso e grisalho Senhor Comandante da Guarda Real.
- E igualmente cansativo - acrescentou Mindinho. - Embora me atreva a dizer que ele deverá conseguir bons resultados no torneio. No ano passado derrubou o Cão de Caça, e foi campeão há não mais de quatro anos.
A questão de quem poderia vencer o torneio não interessava nem um pouco a Eddard Stark.
- Há algum motivo para esta visita, Lorde Petyr, ou está aqui apenas para apreciar a vista da minha janela?
Mindinho sorriu.
- Prometi a Cat que o ajudaria na sua investigação, e foi o que fiz.
Ned foi apanhado de surpresa. Com ou sem promessas, não era capaz de confiar em Lorde Petyr Baelish, que lhe parecia muitíssimo mais inteligente do que deveria.
- Tem algo para mim?
- Alguém - Mindinho o corrigiu. - Quatro, na verdade. Chegou a pensar em interrogar os criados da Mão?
Ned franziu as sobrancelhas.
- Gostaria de poder fazê-lo. A Senhora Arryn levou sua comitiva de volta para o Ninho da Águia. - Nisso Lysa não lhe fez nenhum favor. Todos os que tinham sido próximos do marido partiram com ela quando fugiu: o meistre de Jon, seu intendente, o capitão de sua guarda, seus cavaleiros e criados.
- A maior parte da sua comitiva - disse Mindinho - mas não toda. Há alguns que continuam aqui. Uma criada de cozinha grávida, casada às pressas com um dos cavalariços de Lorde Renly, um moço que se juntou à Patrulha da Cidade, um ajudante de taberna expulso por roubo e um escudeiro de Lorde Arryn.
- Seu escudeiro? - Ned estava agradavelmente surpreso. Um escudeiro sabia frequentemente muito das idas e vindas de seu senhor.
- Sor Hugh do Vale - Mindinho o identificou. - O rei o armou cavaleiro após a morte de lorde Arryn.
- Mandarei buscá-lo - disse Ned. - E os outros.
Mindinho estremeceu.
- Senhor, venha até aqui à janela, por favor.
- Por quê?
- Venha e lhe mostrarei, senhor.
De cenho franzido, Ned atravessou a sala até a janela. Petyr Baelish fez um gesto casual.
- Ali, do outro lado do pátio, em frente da porta do armeiro, vê o rapaz acocorado junto aos degraus que passa uma pedra de afiar pela espada?
- Que tem ele?
- Responde a Varys. A Aranha tomou grande interesse pelo senhor e por tudo o que faz - mudou de lugar no assento. - Olhe agora para o muro. Mais atrás para oeste, por cima das cavalariças. Vê o guarda encostado ao parapeito?
Ned viu o homem.
- Outro dos sopradores de segredos do eunuco?
- Não, este pertence à rainha. Note que ele se beneficia de uma boa visão para a porta desta torre a fim de melhor anotar quem o procura. Há outros, muitos deles desconhecidos mesmo para mim. A Fortaleza Vermelha está cheia de olhos. Por que acha que escondi Cat num bordel?
Eddard Stark não sentia nenhum apreço por aquelas intrigas.
- Pelos sete infernos - praguejou. Realmente parecia que o homem sobre o muro o observava. Subitamente desconfortável, Ned afastou-se da janela. - Será que todo mundo é informante de alguém nesta maldita cidade?
- Quase - Mindinho respondeu, e contou com os dedos da mão. - Ora, o senhor, eu, o rei... se bem que, agora que penso nisso, o rei conta à rainha muito mais do que devia, e não estou totalmente seguro a respeito dele - pôs-se em pé e continuou: - Há algum homem a seu serviço em quem confie por inteiro?
- Sim - Ned respondeu.
- Neste caso, possuo um palácio encantador em Valíria que adoraria lhe vender - disse Mindinho com um sorriso irônico. - A resposta mais sensata seria não, senhor, mas, que seja. Envie este seu modelo de perfeição a Sor Hugh e aos outros. Suas idas e vindas serão detectadas, mas nem mesmo Varys, a Aranha, é capaz de vigiar todos os homens ao seu serviço todas as horas do dia - e dirigiu-se para a porta.
- Lorde Petyr - Ned chamou. - ...Sinto-me grato por sua ajuda. Talvez tivesse sido errado de minha parte desconfiar de você.
Mindinho afagou sua pequena barba pontiaguda.
- É lento para aprender, Senhor Eddard. Desconfiar de mim foi a coisa mais sensata que fez desde que desceu de seu cavalo.  

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