quarta-feira, 25 de setembro de 2013

10 - JON


Eles trouxeram o Rei-para-lá-da-Muralha com as mãos atadas por tiras de cânhamo e uma corda em volta do pescoço.
A outra ponta da corda estava presa na sela do corcel de Sor Godry Farring. O Matador de Gigantes e sua montaria estavam vestidos com armaduras de aço prateado, incrustadas com esmalte negro. Mance Rayder vestia apenas uma fina túnica que deixava seus tornozelos expostos ao frio. Eles poderiam tê-lo deixado .:om sua capa, Jon Snow pensou, aquela que a selvagem remendou com tiras de seda vermelha.
A notícia boa era que a Muralha estava chorando.
- Mance conhece a Floresta Assombrada melhor do que qualquer patrulheiro - Jon dissera ao Rei Stannis, em seu esforço final para convencer Sua Graça de que o Rei-para-lá-da-Muralha seria mais útil vivo do que morto. - Ele conhece Tormund Terror dos Gigantes. Lutou com os Outros. Teve o Berrante de Joramun e não O tocou. Ele poderia ter derrubado a Muralha com isso.
Suas palavras caíram em ouvidos surdos. Stannis permanecera imutável. A lei era clara: um desertor devia ser executado.
Abaixo da Muralha chorosa, a Senhora Melisandre levantou suas pálidas mãos brancas.
- Todos devemos escolher - proclamou. - Homem ou mulher, jovem ou velho, senhor ou camponês, nossas escolhas são as mesmas. - A voz dela fazia Jon pensar em anis, noz-moscada e cravo. Ela permanecia ao lado do rei, em um andaime de madeira erguido sobre o fosso. - Escolhemos a luz ou escolhemos a escuridão. Escolhemos o bem ou escolhemos o mal. Escolhemos o deus verdadeiro ou o falso.
O grosso cabelo castanho-acinzentado de Mance Rayder caía em seu rosto conforme ele andava. Ele o empurrava para longe dos olhos com as mãos amarradas, sorrindo. Mas quando viu a jaula, a coragem lhe faltou. Os homens da rainha a tinham construído com as árvores da Floresta Assombrada, a partir de mudas e ramos flexíveis, galhos de pinheiro grudentos de seiva e pedaços branco-osso de represeiros. Todo esse material fora dobrado e torcido até formar uma espécie de rede de madeira, pendurada bem acima de um fosso profundo, cheio de troncos, folhas e gravetos.
O rei selvagem recuou com a visão.
- Não! - gritou. - Piedade. Isto não é certo, não sou o rei, eles ...
Sor Godry deu um puxão na corda. O Rei-para-lá-da-Muralha não teve escolha senão tropeçar atrás dele, o laço no pescoço sufocando suas palavras. Quando caiu, Godry o arrastou pelo resto do caminho. Mance estava ensanguentado quando os homens da rainha meio o empurraram, meio o carregaram para a jaula. Uma dúzia de homens em armas ergueram-no.
A Senhora Melisandre o viu ser levantado.
- POVO LIVRE! Aqui está seu rei das mentiras. E aqui está o berrante que ele prometeu que derrubaria a Muralha.
Dois homens da rainha trouxeram o Berrante de Joramun, negro, com listas cor de ouro envelhecido, com mais de dois metros de comprimento de ponta a ponta. Runas haviam sido entalhadas nas faixas douradas, a escrita dos Primeiros Homens. Joramun morrera havia milhares de anos, mas Mance encontrara seu túmulo sobre um glaciar, no alto dos Colmilhos de Gelo. E Joramun tocou o Berrante do Inverno e levantou os gigantes da terra. Ygritte dissera a Jon que Mance nunca encontrou o berrante. Ela mentiu, ou Mance manteve esse segredo consigo.
Mil cativos olhavam através das barras de madeira das paliçadas enquanto o berrante era levantado. Estavam todos esfarrapados e meio famintos. Selvagens, os Sete Reinos os chamavam; eles se autointitulavam o povo livre. Não pareciam nem selvagens nem livres; apenas com fome, assustados e entorpecidos.
- O Berrante de Joramunr - Melisandre disse. - Não. Chame de Berrante da Escuridão. Se a Muralha cair, a noite também cairá, uma longa noite que jamais terminará. Isso não deve acontecer, não vai acontecer! O Senhor da Luz viu seus filhos em perigo e enviou seu campeão, Azor Ahai renascido. - Ela levou a mão na direção de Stannis, e o grande rubi em sua garganta pulsava, iluminado.
Ele é pedra e ela é chama. Os olhos do rei, profundamente mergulhados em um rosto vazio, tinham um tom azul manchado. Ele vestia armadura cinza, com uma capa de pele com samito fluindo de seus ombros largos. O peitoral tinha um coração flamejante bem em cima do dele. Cingindo a testa estava uma coroa vermelho-dourada com pontas como chamas torcidas. Val estava ao lado dele, alta e séria. Eles a coroaram com um simples aro de bronze escuro, e mesmo assim ela parecia mais real em bronze do que Stannis em ouro. O olhos dela eram cinzentos e destemidos, resolutos. Sob um manto de arminho. ela vestia branco e dourado. Seu cabelo loiro-mel havia sido preso em uma trança que pendia sobre o ombro direito até a cintura. O frio no ar colocara cor em suas bochechas.
A Senhora Melisandre não usava nenhuma coroa, mas cada homem ali sabia que ela era a verdadeira rainha de Stannis Baratheon, não a mulher desajeitada que ele deixara tremendo em Atalaialeste do Mar. Dizia-se que o rei não pretendia buscar a Rainha Selyse e sua filha até que Fortenoite estivesse habitável. Jon sentia por elas. A Muralha oferecia poucos dos confortos com os quais as senhoras sulistas e as pequenas meninas de alto nascimento estavam acostumadas, e Fortenoite não oferecia nenhum. Era um lugar impiedoso, até mesmo em seus melhores dias.
- POVO LIVRE! - gritou Melisandre. - Veja o destino daqueles que escolhem a escuridão!
O Berrante de Joramun explodiu em chamas.
Ele subiu com um silvo, enquanto línguas rodopiantes de fogo verde e amarelo crepitavam em toda sua extensão. O garrano de Jon recuou nervosamente, e para cima e para baixo das fileiras outros também lutavam com suas montarias. Um lamento veio das paliçadas conforme o povo livre via sua esperança em brasas. Alguns começaram a gritar e amaldiçoar, mas a maioria permaneceu em silêncio. Por um instante, as runas gravadas nas faixas douradas pareceram tremular no ar. Os homens da rainha arremessaram o berrante, que caiu bem no meio da pira armada no fosso.
Dentro de sua jaula, Mance Rayder agarrou a corda em volta do pescoço com as mãos atadas e começou a berrar de modo incoerente sobre traição e bruxaria, negando seu reinado, negando seu povo, negando seu nome, negando tudo o que fora. Gritou por perdão, amaldiçoou a mulher vermelha e começou a rir histericamente.
Jon assistia sem piscar. Não ousava parecer incomodado diante de seus irmãos. Ordenara duzentos homens, mais da metade da guarnição do Castelo Negro. Montados em solenes fileiras escuras, com compridas lanças nas mãos, eles usavam capuz para ocultar a face ... e esconder o fato de que muitos eram anciãos ou rapazes inexperientes. O povo livre temia a Patrulha. Jon queria que levassem esse temor com eles quando estabelecessem seus novos lares ao sul da Muralha.
O berrante caiu entre os troncos, folhas e gravetos. Em menos de três segundos, todo o fosso estava em chamas. Segurando as barras da jaula com as mãos amarradas, Mance soluçava e implorava. Quando o fogo o alcançou, fez uma pequena dança. Seus gritos tornaram-se um longo berro de medo e dor. Dentro da jaula, ele voava como uma folha em chamas, uma mariposa capturada pelo fogo de uma vela.
Jon se pegou lembrando uma canção:
Irmãos, oh, irmãos, meus dias se foram,
o dornense tirou minha vida,
mas o que importa, pois todos os homens devem morrer,
é que eu experimentei a esposa do dornense.
Val permaneceu na plataforma como se tivesse sido esculpida em sal. Ela não vai chorar e não desviará o olhar. Jon se perguntava o que Ygritte teria feito no lugar dela. As mulheres são as mais fortes. Ele se pegou pensando em Sam, no Meistre Aemon, em Goiva e no bebê. Ela vai me amaldiçoar até seu último suspiro, mas não tinha outro jeito. Atalaialeste relatara tempestades selvagens no Mar Estreito. Eu queria mantê-los a salvo. Será que em vez disso fiz deles comida para caranguejos? Noite passada, sonhara com Sam se afogando, com Ygritte morrendo atravessado por sua flecha (não havia sido a flecha dele, mas nos seus sonhos sempre era) e com Goiva chorando lágrimas de sangue.
Jon havia visto o bastante.
- Agora - disse.
Ulmer da Mata de Rei espetou a lança no chão, pegou o arco pendurado nas costas e tirou uma flecha da aljava. Doce Donnel Hill jogou o capuz para trás para fazer o mesmo. Garth Pena-Cinza e Ben Barbudo colocaram as flechas, dobraram os arcos e dispararam.
Uma flecha atingiu Mance Rayder no peito, uma nos intestinos e uma na garganta. A quarta acertou uma das barras de madeira da jaula e balançou um instante antes de pegar fogo. O soluço de uma mulher ecoou pela Muralha enquanto o rei selvagem deslizava para o chão da gaiola, envolto em fogo.
- E agora sua Patrulha acabou - Jon murmurou baixinho. Mance Rayder fora um homem da Patrulha da Noite uma vez, antes de trocar sua capa negra por uma recortada com brilhante seda vermelha.
Sobre a plataforma, Stannis estava carrancudo. Jon recusou-se a encontrar seus olhos. O fundo da gaiola caiu e as barras estavam desmoronando. Cada vez que o fogo subia, mais e mais galhos se soltavam, vermelhos e negros.
- O Senhor da Luz fez o sol, a lua e as estrelas para iluminar nosso caminho, e nos deu o fogo para manter a noite a distância. - Melisandre disse para os selvagens. - Ninguém pode se opor às suas chamas.
- Ninguém pode se opor às suas chamas - os homens da rainha ecoaram.
As vestes de um profundo tom escarlate da mulher vermelha rodopiavam em volta dela, e seu cabelo acobreado formava um halo em volta do seu rosto. Altas chamas amarelas dançavam em seus dedos como garras.
- POVO LIVREI Seus falsos deuses não podem ajudá-los. Seu falso berrante não salvou vocês. Seu falso rei trouxe para vocês apenas morte, desespero, derrota ... mas aqui está o verdadeiro rei. VEJAM SUA GLÓRIA!
Stannis Baratheon desembainhou a Luminífera.
A espada brilhava vermelha, amarela e laranja, viva com a luz. Jon havia visto o espetáculo antes ... mas não como este, nunca antes como este. A Luminífera era o sol feito aço. Quando Stannis levantou a lâmina sobre sua cabeça, os homens tiveram que virar o rosto ou cobrir os olhos. Os cavalos recuaram, e um deles derrubou seu cavaleiro. A fogueira na pira pareceu encolher diante dessa tempestade de luz, como um cão pequeno se abaixa diante de um maior. A própria Muralha tornou-se vermelha, rosa e laranja, com ondas coloridas dançando pelo gelo. É este o poder do sangue de um rei?
- Westeros tem apenas um rei - disse Stannis. Sua voz soou áspera, sem nada da melodia de Melisandre. - Com esta espada defendo meus súditos e destruo aqueles que os ameaçam. Dobrem os joelhos e prometo para vocês comida, terras e justiça. Ajoelhem-se e vivam. Ou partam e morram. A escolha é de vocês. - Ele colocou a Luminífera na bainha, e o mundo escureceu novamente, como se o sol tivesse se escondido atrás de uma nuvem. - Abram os portões.
- ABRAM OS PORTÕES! - berrou Sor Clayton Suggs, com uma voz tão profunda quanto um berrante de guerra.
- ABRAM OS PORTÕES! - ecoou Sor Corliss Penny, comandando os guardas.
- ABRAM OS PORTÕES! - gritaram os oficiais. Os homens se esforçavam para obedecer. Estacas afiadas foram arrancadas do chão, tábuas foram retiradas das profundas valas e os portões da paliçada, abertos. Jon Snow levantou a mão e depois a baixou, e suas negras fileiras se moveram para a direita e para a esquerda, abrindo caminho até a Muralha, onde Edd Doloroso abrira os portões de ferro.
- Venham - instou Melisandre. - Venham para a luz ... ou corram de volta para a escuridão. - No fosso abaixo dela, o fogo estalava. - Se escolherem a vida, venham até mim.
E eles foram. Lentamente no início, alguns mancando ou apoiados em seus companheiros, os cativos começaram a emergir de seu tosco engradado. Se querem comer, venham até mim, Jon pensou. Se não querem congelar ou morrer de fome, submetam-se. Hesitantes, com medo de alguma armadilha, alguns poucos prisioneiros cruzaram as tábuas e o anel de estacas, em direção a Melisandre e à Muralha. Mais os seguiram, quando viram que nada de mau acontecera àqueles que foram antes. Então mais, até que o fluxo tornou-se constante. Homens da rainha em casacos forrados e meio-elmos entregavam a cada homem, mulher ou criança que passava um pedaço de represeiro branco: uma vara, um galho partido pálido como osso quebrado, um ramo de folhas vermelhas como sangue. Um pedaço dos velhos deuses para alimentar os novos. Jon flexionou os dedos da mão da espada.
O calor da pira era palpável até mesmo a distância; para os selvagens, devia formar bolhas na pele. Ele viu homens chorando enquanto se aproximavam das chamas, ouviu crianças chorando. Alguns foram para a floresta. Viu uma jovem mulher caminhando aos tropeços com uma criança em cada mão. A cada poucos passos, ela olhava para trás para ter certeza de que ninguém a acompanhava e, quando se aproximou das árvores, começou a correr. Um ancião pegou o galho de represeiro que lhe deram e usou como arma, atacando com ele até que os homens da rainha convergiram sobre ele com lanças. Os outros ficaram rodeando seu corpo, até que Sor Corliss o atirou ao fogo. Mais do povo livre escolheu a floresta depois disso; um em cada dez, talvez.
Mas a maioria veio. Atrás deles havia somente o frio e a morte. Adiante, a esperança. Eles vieram, agarrando seus pedaços de madeira até que chegou a hora de alimentar as chamas. R'hllor era uma divindade ciumenta, sempre com fome. Então o novo deus devorou o cadáver do velho e lançou sombras gigantes de Stannis e Melisandre sobre a Muralha, negras contra o vermelho corado refletido no gelo.
Sigorn foi o primeiro a ajoelhar-se diante do rei. O novo Magnar de Thenn era uma versão mais velha e mais baixa de seu pai: magro, careca, vestindo grevas de bronze e uma camisa de couro costurada com escamas de bronze. Depois veio Camisa de Ossos, com sua ruidosa armadura feita de ossos e couro fervido, seu elmo um crânio de gigante. Sob os ossos ocultava-se uma criatura arruinada e miserável, com os rachados dentes marrons e um tom amarelado tingindo o branco de seus olhos. Um homem pequeno, malicioso e traiçoeiro, tão estúpido quanto cruel. Jon não acreditou nem por um momento que ele fosse manter a fé. E se perguntou o que Val estaria sentindo ao vê-lo ajoelhar-se, perdoado.
Líderes menores os seguiram. Dois chefes dos homens cornopés, cujos pés eram negros e duros. Uma velha sábia venerada pelos povos do Guadeleite. Um menino esquelético de olhos escuros e doze, filho de Alfyn Mata-Corvos. Halleck, irmão de Harma Cabeça de Cão, com os porcos dela. Cada um deles ajoelhou-se diante do rei.
Está muito frio para este espetáculo de pantomimeiros, pensou Jon.
- O povo livre despreza ajoelhadores - ele avisara Stannis. - Deixe-os manter seu orgulho, e eles o amarão mais.
Sua Graça não o ouvira. E dissera:
- É das espadas deles que eu preciso, não dos beijos.
Depois de se ajoelharem, os selvagens passavam pelas fileiras de irmãos negros até o portão. Jon havia destacado Cavalo, Cetim e mais meia dúzia para conduzi-los pela Muralha com tochas. Do outro lado, tigelas de sopa de cebola quente os aguardava, além de nacos de pão negro e salsichas. Roupas também: capas, calções, botas, túnicas, boas luvas de couro. Dormiriam em pilhas de palha limpa, com fogueiras para manter o frio da noite afastado. O rei não era nada senão metódico. Cedo ou tarde, no entanto, Tormund Terror dos Gigantes assaltaria a Muralha novamente, e, quando essa hora chegasse, Jon se perguntava que lado os novos súditos de Stannis escolheriam. Você pode dar terras e perdão para eles, mas o povo livre escolhe seus próprios reis, e foi Mance quem eles escolheram, não você.
Bowen Marsh aproximou sua montaria da de Jon.
- Este é um dia que nunca esperei ver.
o Senhor Intendente diminuíra notadamente desde que sofrera um ferimento na cabeça na Ponte das Caveiras. Parte de uma orelha havia se perdido. Já não se parece tanto com uma romã, Jon pensou. Marsh disse:
- Sangramos para parar os selvagens na Garganta. Bons homens morreram lá, amigos e irmãos. E para quê?
- O reino vai amaldiçoar todos nós por isso - declarou Sor Alliser Thorne, em tom venenoso. - Todo homem honesto de Westeros vai virar a cara e cuspir à qualquer menção da Patrulha da Noite.
O que você sabe sobre homens honestos?
- Silêncio nas fileiras.
Sor Alliser tornara-se mais circunspecto desde que Lorde Janos perdera a cabeça, mas a malícia ainda estava lá. Jon brincara com a ideia de dar a ele o comando que Slynt recusara, mas queria manter o homem por perto. Ele sempre fora o mais perigoso dos dois. Em vez disso, enviara um intendente grisalho da Torre Sombria para comandar a Guardagris.
Ele esperava que as duas novas guarnições fizessem diferença. A Patrulha pode fazer o povo livre sangrar, mas no fim não podemos ter a esperança de pará-lo. Entregar Mance Rayder ao fogo não mudara a verdade disso. Ainda somos poucos e eles ainda são muitos, e sem patrulheiros somos tão bons quanto cegos. Tenho que enviar homens. Mas se fizer isso, eles voltarão?
O túnel através da Muralha era estreito e sinuoso, e muitos dos selvagens eram velhos ou estavam doentes ou feridos, então o percurso era dolorosamente lento. No momento em que o último deles dobrou o joelho, a noite havia caído. A pira queimava baixo, e a sombra do rei na Muralha encolhera a um quarto da altura original. Jon Snow podia ver sua respiração no ar. Frio, ele pensou, e ficando mais frio. Este espetáculo de pantomimeiros já foi longe demais.
Dois grupos de cativos permaneciam na paliçada. Quatro gigantes estavam entre eles, maciças criaturas peludas, com ombros inclinados, pernas tão largas quanto troncos de árvore e enormes pés espalmados. Grandes como eram, ainda podiam atravessar a Muralha, mas um deles não queria deixar seu mamute, e os outros não o deixariam. O resto dos que permaneceram tinha estatura humana. Alguns estavam mortos, outros morrendo; a maioria era parente ou amigo próximo, dispostos a não abandoná-los, mesmo que perdessem a sopa de cebola.
Alguns tremendo, outros entorpecidos demais para tremer, eles ouviram a voz do rei retumbando na Muralha:
- Vocês são livres para ir - disse Stannis. - Digam ao seu povo o que testemunharam. Digam para eles que viram o rei verdadeiro e que eles são bem-vindos ao meu reino, enquanto mantiverem minha paz. De outro modo, é melhor que fujam ou se escondam. Não admitirei mais ataques à minha Muralha.
- Um reino, um deus, um rei! - gritou a Senhora Melisandre.
Os homens da rainha repetiram o grito, batendo a coronha de suas lanças contra os escudos.
- Um reino, um deus, um rei! STANNIS! STANNIS! UM REINO, UM DEUS, UM REI!
Val não se juntou ao cântico, ele viu. Nem os irmãos da Patrulha da Noite. Durante o tumulto, os poucos selvagens que sobraram sumiram entre as árvores. Os gigantes foram os últimos a ir, dois montados em mamutes, os outros dois a pé. Apenas os mortos foram deixados para trás. Jon viu Stannis descer da plataforma, com Melisandre ao seu lado. Sua sombra vermelha. Ela nunca o deixa por muito tempo. A guarda de honra do rei os cercou; Sor Godry, Sor Clayton e uma dúzia de outros cavaleiros, todos homens da rainha. A lua brilhava na armadura deles, e o vento balançava suas capas.
- Senhor Intendente - Jon disse para Marsh - quebre a paliçada e use a madeira para queimar os corpos.
- Ao seu comando, meu senhor. - Marsh gritou as ordens, e um enxame de seus intendentes deixou as fileiras para atacar as paredes de madeira. O Senhor Intendente olhava a cena com a testa franzida. - Esses selvagens ... acha que manterão a fé, senhor?
- Alguns, sim. Não todos. Temos nossos covardes e nossos velhacos, nossos fracos e nossos tolos, e eles também.
- Nossos votos ... juramos proteger o reino ...
- Uma vez que o povo livre se estabeleça na Dádiva, se tornará parte do reino. - Jon declarou. - Estes são dias desesperados, e ainda ficarão mais desesperados. Temos que encarar nosso real inimigo, um rosto branco morto com brilhantes olhos azuis. Temos uma causa em comum com os selvagens.
- Uma causa comum contra um inimigo comum, eu poderia concordar com isso - disse Bowen Marsh - mas isso não significa que devemos permitir que dezenas de milhares de selvagens semimortos de fome atravessem a Muralha. Deixe eles voltarem para suas vilas e lutarem com os Outros lá, enquanto selamos os portões. Não seria difícil, Othell me disse. Precisamos apenas encher o túnel com pedaços de pedra e jogar água pelos vãos. A Muralha faria o resto. O frio, o peso ... em uma volta da lua, seria como se o portão nunca tivesse existido. Qualquer inimigo teria que escavar seu caminho.
- Ou escalar.
- Improvável - disse Bowen Marsh. - Esses não são saqueadores, exceto para roubar uma esposa e fazer alguma pilhagem. Tormund deve ter mulheres idosas com ele, crianças, rebanhos de ovelhas e de cabras, e até mesmo mamutes. Ele precisa de um portão, e só restam três. E se enviar escaladores, bem, defender-se contra escaladores é tão simples quanto espetar um peixe em um caldeirão.
Peixes nunca escalam o caldeirão e espetam uma lança na sua barriga. Jon já havia escalado a Muralha.
Marsh continuou:
- Os arqueiros de Mance Rayder devem ter perdido dez mil flechas conosco, a julgar pelo número de hastes que recolhemos. Menos de uma centena alcançou nossos homens no topo da Muralha, a maioria desviada por alguma rajada errante de vento. Alyn Vermelho da Mata de Rosas foi o único homem que morreu lá em cima, e foi a queda que o matou, não a flecha espetada em sua perna. Donal Noye morreu para proteger o portão. Um ato nobre, sim ... mas se o portão tivesse sido selado, nosso bravo armeiro ainda estaria conosco. Mesmo se encararmos uma centena de inimigos ou cem mil deles, enquanto estivermos no topo da Muralha e eles embaixo, eles não podem nos ameaçar.
Ele não está errado. A tropa de Mance Rayder quebrara contra a Muralha como uma onda sobre uma costa rochosa, embora os defensores não fossem mais do que um punhado de homens velhos, rapazes inexperientes e aleijados. Mesmo assim, o que Bowen sugeria ia contra todos os instintos de Jon.
- Se selarmos os portões, não poderemos enviar patrulheiros - observou. - Seremos tão bons quanto cegos.
- A última patrulha de Lorde Mormont custou um quarto dos homens da Patrulha, senhor. Precisamos conservar as forças que nos restam. Cada morte nos diminui, e já estamos tão reduzidos ... Pegue o ponto alto e vença a batalha, meu tio costumava dizer. Nenhum ponto é mais alto do que a Muralha, Senhor Comandante.
- Stannis prometeu terra, comida e justiça para qualquer selvagem que dobrar os joelhos. Ele não permitirá que os portões sejam selados.
Marsh hesitou.
- Lorde Snow, não gosto de espalhar histórias, mas estão dizendo que você está se tornando muito ... muito amistoso com Lorde Stannis. Alguns até sugerem que você é... um ...
Um rebelde e um vira-casaca, sim, e um bastardo e um warg também. Janos Slynt pode ter partido, mas suas mentiras permaneceram.
- Eu sei o que dizem. - Jon ouvira os sussurros e vira homens se afastarem quando ele cruzava o pátio. - O que eles queriam que eu fizesse? Que pegasse em armas contra Stannis e contra os selvagens? Sua Graça tem três vezes os homens que nós temos e, além disso, é nosso hóspede. As leis da hospitalidade o protegem. E nós temos uma dívida com ele.
- Lorde Stannis nos ajudou quando precisamos de ajuda - Marsh disse obstinadamente - mas ele ainda é um rebelde, e sua causa está condenada. Tão condenada quanto estaremos se o Trono de Ferro nos considerar traidores. Devemos ter certeza de não escolher o lado perdedor.
- Não pretendo escolher lado algum - disse Jon - mas não estou tão certo do resultado desta guerra como você parece estar, senhor. Não com Lorde Tywin morto. - Se os relatos vindos pela estrada do rei têm algum fundo de verdade, a Mão do Rei fora assassinada por seu filho anão enquanto estava sentado na latrina. Jon tivera um breve contato com Tyrion Lannister. Ele pegou minha mão e me chamou de amigo. Era difícil acreditar que o homenzinho tivesse a capacidade de matar o próprio pai, mas o fato de que Lorde Tywin estava morto parecia fora de dúvida. - O leão em Porto Real é um filhote, e o Trono de Ferro é conhecido por fazer homens crescidos em pedaços.
- Ele pode ser um menino, senhor, mas ... o Rei Robert era bastante amado, e a maioria dos homens ainda aceita que Tommen é seu filho. Quanto mais eles veem Lorde Stannis, menos o amam, e gostam ainda menos da Senhora Melisandre, com seus fogos e seu sombrio deus vermelho. Eles reclamam.
- Eles reclamavam do Senhor Comandante Mormont também. Homens adoram reclamar das esposas e dos senhores, ele me disse uma vez. Aqueles sem esposa reclamam duas vezes mais de seus senhores. - Jon Snow olhou na direção da paliçada. - Deixarei você terminar aqui, Bowen. Assegure-se de que todos os cadáveres sejam queimados. Obrigado pelos conselhos. Prometo que pensarei em tudo o que me disse.
Fumaça e cinzas flutuantes ainda pairavam no ar sobre o fosso enquanto Jon trotava de volta para o portão. Lá desmontou, para andar com o garrano através do gelo até o lado sul. Edd Doloroso ia na frente com uma tocha. A chama lambia o teto, e lágrimas geladas caíam sobre eles a cada passo.
- Foi um alívio ver aquele berrante queimar, senhor - Edd disse. - Noite passada sonhei que estava mijando na Muralha quando alguém decidiu tocar o berrante. Não que esteja reclamando. Este sonho é melhor do que o antigo que eu tinha, no qual Harma Cabeça de Cão me dava de comida para os porcos.
- Harma está morta - disse Jon.
- Mas não os porcos. Eles olham para mim como o Matador costumava olhar para o presunto. Não quero dizer que os selvagens pretendam nos prejudicar. Sim, fizemos seus deuses em pedaços e os queimamos, mas nós demos sopa de cebola para eles. O que é um deus comparado a urna boa tigela de sopa de cebola? Eu poderia fazer o mesmo.
Os odores de fumaça e carne queimada ainda se agarravam à roupa de Jon. Ele sabia que tinha que comer, mas era companhia que desejava, não comida. Uma taça de vinho com Meistre Aemon, algumas palavras tranquilas com Sam, umas risadas com Pyp, Grenn e Sapo. Aemon e Sam haviam partido, e seus outros amigos ...
- Jantarei com os homens esta noite.
- Carne ensopada e beterrabas. - Edd Doloroso sempre parecia saber o que cozinhavam. - Mas Hobb disse que está sem aipo-rábano. Qual a graça de carne ensopada sem rábano?
Desde que os selvagens queimaram o velho salão comum, os homens da Patrulha da Noite faziam suas refeições no porão de pedra embaixo do arsenal, um espaço cavernoso dividido por duas fileiras de pilares de pedra quadrados, com tetos abobadados e grandes tonéis de vinho e cerveja ao longo das paredes. Quando Jon entrou. quatro construtores estavam jogando damas na mesa mais próxima das escadas. Perto do fogo estava um grupo de patrulheiros e uns poucos homens do rei, conversando calmamente.
Os homens mais jovens estavam reunidos em outra mesa, onde Pyp esfaqueava um nabo.
- A noite é escura e cheia de nabos - anunciou, em voz solene. - Vamos todos rezar pela carne de veado, meus filhos, com algumas cebolas e um pouco de molho saboroso.
Seus amigos riram; Grenn, Sapo, Cetim, todo o grupo. Jon Snow não se juntou ao riso.
- Zombar das orações de outro homem é trabalho de tolo, Pyp. E perigoso.
- Se o deus vermelho ficou ofendido, deixe ele me derrubar.
Todos os sorrisos haviam morrido.
- Era da sacerdotisa que ríamos - disse Cetim, um jovem ágil e bonito que fora prostituto em Vilavelha. - Estávamos só brincando, senhor.
- Vocês têm seus deuses e ela tem os dela. Deixem-na.
- Ela não deixa nossos deuses - argumentou Sapo. - Ela chama os Sete de falsos deuses, senhor. Os antigos deuses também. Ela fez os selvagens queimarem galhos de represeiro. Você viu.
- A Senhora Melisandre não está sob meu comando. Vocês estão. Não terei sangue ruim entre os homens do rei e os meus.
Pyp colocou uma mão no braço de Sapo.
- Não coaxe mais, bravo Sapo, pois nosso Grande Lorde Snow falou. - Ficou em pé num pulo só e fez uma mesura zombeteira para Jon. - Peço perdão. De agora em diante não vou nem abanar minhas orelhas sem o consentimento de Sua Senhoria.
Ele acha que tudo isso é algum tipo de jogo. Jon quis chacoalhá-lo para ver se algum juízo entrava na cabeça dele.
- Abane as orelhas o quanto quiser. É quando abana a língua que causa problema.
- Eu cuidarei para que ele seja mais cuidadoso - Grenn prometeu - e vou esmurrá-lo se ele não for. - Hesitou - Senhor, vai jantar conosco? Owen, chega mais para lá e dá espaço para o Jon.
Jon não queria mais nada. Não, ele teve que dizer para si mesmo, esses dias se foram. A compreensão retorceu sua barriga como uma faca. Eles o escolheram para governar. A Muralha era dele, assim como a vida deles. Um senhor deve amar os homens que comanda, ele podia ouvir o senhor seu pai dizendo, mas não pode ser amigo deles. Um dia ele pode ter que julgá-los ou enviá-los para a morte.
- Outro dia - o Senhor Comandante mentiu. - Edd, é melhor que veja seu jantar. Tenho trabalho para terminar.
O ar do lado de fora parecia mais frio do que antes. Do outro lado do castelo, podiam-se ver luzes de velas brilhando nas janelas da Torre do Rei. Val estava no topo da torre, olhando para a Muralha. Stannis a mantinha por perto, em aposentos abaixo dos seus, mas permitia que ela andasse pelas ameias para se exercitar. Ela parece solitária, Jon pensou. Solitária e adorável. Ygritte fora bonita do seu jeito, com seu cabelo vermelho beijado pelo fogo, mas era seu sorriso que fazia o rosto tornar-se vivo. Val não precisava sorrir; ela teria virado a cabeça dos homens em qualquer corte do mundo.
Apesar disso, a princesa selvagem não era amada por seus carcereiros. Desprezava todos eles como "ajoelhadores" e tentara fugir três vezes. Quando um homem em armas se descuidou na presença dela, ela arrebatou a adaga da bainha dele e o apunhalou no pescoço. Um centímetro para a esquerda e ele teria morrido.
Solitária, adorável e letal, Jon Snow refletiu, e eu poderia tê-la tido. Ela, Winterfell e o nome do senhor meu pai. Em vez disso, escolhera a capa negra e a parede de gelo. Em vez disso, escolhera a honra. Um tipo bastardo de honra.
A Muralha assomava à direita, enquanto ele cruzava o pátio. O gelo alto brilhava pálido, mas embaixo tudo era sombra. No portão, uma tênue luz laranja indicava o lugar em que os guardas se refugiavam do vento. Jon podia ouvir o barulho das correntes, enquanto a gaiola balançava e raspava contra o gelo. No topo, os sentinelas deveriam estar encolhidos em torno do calor de um braseiro, gritando para que suas vozes fossem ouvidas com o vento. Ou, então, teriam se cansado do esforço e cada homem teria mergulhado em sua piscina de silêncio. Eu deveria estar andando no gelo. A Muralha é minha.
Caminhava entre os restos da Torre do Senhor Comandante, depois do lugar onde Ygritte morrera em seus braços, quando Fantasma apareceu ao lado dele, seu hálito quente fumegando no frio. Sob a luz do luar, os olhos vermelhos do lobo brilhavam como piscinas de fogo. O gosto de sangue quente encheu a boca de Jon, e ele soube que Fantasma matara aquela noite. Não, pensou. Sou um homem, não um lobo. Esfregou a boca com a mão enluvada e cuspiu.
Clydas ainda ocupava os aposentos embaixo do viveiro das aves. Quando Jon bateu, ele veio, atrapalhado com uma vela na mão, e abriu uma fresta na porta.
- Atrapalho? - Jon perguntou.
- Nem um pouco. - Clydas abriu mais a porta. - Estava preparando um vinho. Meu senhor tomaria uma taça?
- Com prazer. - Suas mãos estavam duras de frio. Tirou as luvas e flexionou os dedos.
Clydas voltou à lareira para agitar o vinho. Ele já deve ter uns sessenta. Um homem velho. Só parecia jovem quando comparado com Aemon. Baixo e redondo, tinha os olhos opacos rosados de uma criatura noturna. Alguns fios brancos se agarravam ao couro cabeludo. Quando serviu a bebida, Jon segurou a taça com as duas mãos, cheirando as especiarias e tomando um gole. O calor se espalhou pelo seu peito. Bebeu novamente, um gole longo e profundo, para lavar o gosto de sangue da boca.
- Os homens da rainha estão dizendo que o Rei-para-lá-da-Muralha morreu como covarde. Que gritou por misericórdia e negou que era rei.
- Foi isso mesmo. A Luminífera estava mais brilhante do que eu já tinha visto. Tão brilhante quanto o sol. - Jon levantou sua taça. - Para Stannis Baratheon e sua espada mágica. - O vinho tinha um gosto amargo em sua boca.
- Sua Graça não é um homem fácil. Poucos são, os que usam uma coroa. Muitos homens bons foram maus reis, Meistre Aemon costumava dizer, e alguns homens maus foram bons reis.
- Ele sabia. - Aemon Targaryen vira nove reis sobre o Trono de Ferro. Fora filho de um rei, irmão de um rei, tio de um rei. - Eu olhei o livro que Meistre Aemon me deixou. O Compêndio de Jade. As páginas que falam de Azor Ahai. Luminífera era a espada dele. Temperada com o sangue de sua esposa, se é possível acreditar em Votar. Depois disso, Luminífera nunca foi fria ao toque, mas quente como Nissa Nissa havia sido quente. Em batalha, a lâmina queimava ardente em fogo. Uma vez Azor Ahai lutou com um monstro. Quando enfiou a espada pela barriga da criatura, o sangue do monstro começou a ferver. Fumaça e vapor saíram de sua boca, os olhos derreteram e escorreram pela sua face, e seu corpo explodiu em chamas.
Clydas piscou.
- Uma espada que faz seu próprio calor...
- ... seria uma coisa boa na Muralha. - Jon colocou a taça de vinho de lado e vestiu as luvas negras de pele de toupeira. - Uma pena que a espada que Stannis empunha é fria. Fico curioso para ver como sua Luminífera se comportaria em batalha. Obrigado pelo vinho. Fantasma, comigo. - Jon Snow levantou o capuz da capa e abriu a porta. O lobo branco o seguiu de volta à noite.
O arsenal estava escuro e silencioso. Jon acenou para os guardas antes de fazer o caminho pelas silenciosas fileiras de lanças até seus aposentos. Pendurou o cinturão em um gancho ao lado da porta e sua capa em outro. Quando tirou as luvas, as mãos estavam duras e frias. Levou um bom tempo até conseguir acender as velas. Fantasma enrolou-se em seu tapete e se preparou para dormir, mas Jon ainda não podia descansar. A mesa de pinho riscado estava coberta de mapas da Muralha e das terras além, uma relação de patrulheiros e uma carta da Torre Sombria escrita por Sor Denys Mallister de próprio punho.
Leu a carta da Torre Sombria novamente, afiando uma pena, e destampou um pote de grossa tinta negra. Escreveu duas cartas, a primeira para Sor Denys, a segunda para Cotter Pyke. Ambos estavam atrás dele por mais homens. Despachava Halder e Sapo para oeste, até a Torre Sombria, Grenn e Pyp para Atalaialeste do Mar. A tinta não fluía adequadamente, e todas as suas palavras pareciam secas, cruas e desajeitadas, mas persistiu assim mesmo.
Quando finalmente baixou a pena, o quarto estava escuro e gelado, e ele podia sentir as paredes se fechando. Pousado sobre a janela, o corvo do Velho Urso olhava para ele com astutos olhos negros. Meu último amigo, Jon pensou com tristeza. E é melhor que eu sobreviva a você, ou você vai comer meu rosto também. Fantasma não contava. Fantasma era mais próximo do que um amigo. Fantasma era parte dele.
Jon se levantou e subiu os degraus até a cama estreita que uma vez fora de Donal Noye. Esta é minha sina, ele percebeu enquanto se despia, a partir de agora e até o final dos meus dias. 

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