quarta-feira, 18 de setembro de 2013

10 - SANSA



Uma vez, quando era apenas uma menininha, um cantor ambulante ficara com eles em Winterfell durante meio ano. Era um velho, com cabelos brancos e rosto queimado pelo vento, mas cantava sobre cavaleiros, demandas e belas senhoras, e Sansa chorara lágrimas amargas quando ele os deixara, e suplicara ao pai que não lhe permitisse partir.
“O homem cantou-nos três vezes cada canção que conhece” dissera-lhe Lorde Eddard com gentileza. "Não posso mantê-lo aqui contra sua vontade. Mas não precisa chorar. Prometo a você que outros cantores virão.”
Mas não tinham vindo, durante um ano ou mais. Sansa rezara aos Sete no seu septo e aos deuses antigos junto à árvore-coração, pedindo-lhes para trazerem o velho de volta, ou, melhor ainda, para mandarem outro cantor, jovem e de boa aparência. Mas os deuses não responderam, e os salões de Winterfell mantiveram-se silenciosos.
Mas isso tinha sido quando era uma menininha, e tola. Agora era uma donzela, com treze anos e florescida. Todas as suas noites estavam cheias de canções, e de dia rezava por silêncio.
Se o Ninho da Águia fosse como os outros castelos, só ratazanas e carcereiros teriam ouvido o morto cantando. As paredes das masmorras eram suficientemente espessas para engolir tanto canções como gritos. Mas as celas do céu tinham uma parede de ar livre, e cada acorde que o morto tocava voava livre para ir ecoar nas saliências rochosas da Lança do Gigante. E as canções que ele escolhia... Cantava sobre a Dança dos Dragões, sobre a bela Jonquil e seu bobo, sobre Jenny de Pedravelhas e o Príncipe das Libélulas. Cantava sobre traições e assassinatos dos mais chocantes, sobre homens enforcados e vingança sangrenta. Cantava sobre a dor e a tristeza.
Não importa para onde fosse no castelo, Sansa não conseguia fugir à música. Pairava pela escada em caracol da torre acima, encontrava-a nua no banho, jantava com ela ao pôr do sol e esgueirava-se para o interior de seu quarto mesmo quando trancava bem as portas. Chegava no fino ar frio e, tal como o ar, arrepiava-a, Embora não tivesse nevado sobre o Ninho da Águia, desde o dia em que a Senhora Lysa caíra, as noites tinham sido todas amargamente frias.
A voz do cantor era forte e doce. Sansa achava que ele soava melhor do que alguma vez soara antes, com a voz de certo modo mais rica, cheia de dor, medo e saudade. Não compreendia por que teriam os deuses dado uma voz assim a um homem tão perverso. Ele teria me tomado à força nos Dedos se Petyr não tivesse posto Sor Lothor p ara me vigiar, Sansa tinha de recordar a si mesma. E tocou para sufocar meus gritos quando tia Lysa tentou me matar.
Aquilo não tornava as canções mais fáceis de ouvir.
- Por favor - suplicou a Lorde Petyr - não pode obrigá-lo a parar?
- Dei ao homem minha palavra, querida - Petyr Baelish, Senhor de Harrenhal, Senhor Supremo do Tridente e Senhor Protetor do Ninho da Águia e do Vale de Arryn, ergueu os olhos da carta que escrevia. Escrevera uma centena de cartas desde a queda da Senhora Lysa. Sansa vira os corvos partindo e voltando à colônia. - Prefiro suportar suas canções do que ouvi-lo soluçar. É melhor que ele cante, sim, mas...
- Ele tem que tocar a noite inteira, senhor? Lorde Robert não consegue dormir. Ele chora...
- ... pela mãe. Não podemos fazer nada quanto a isso, a mulher está morta - Petyr encolheu os ombros - Não será por muito mais tempo. Lorde Nestor subirá até aqui amanhã de manhã.
Sansa já se encontrara uma vez com Lorde Nestor, após o casamento de Petyr com a tia. Royce era o Guardião dos Portões da Lua, o grande castelo que se erguia na base da montanha e protegia a escada que levava ao Ninho da Águia. O grupo nupcial passara uma noite como seu hóspede antes de começar a subida. Lorde Nestor quase não a olhara por duas vezes, mas a perspectiva de ele estar a caminho a aterrorizava. Ele também era o Supremo Intendente do Vale, vassalo de confiança de Jon Arryn e da Senhora Lysa.
- Ele não... não deixará que Lorde Nestor se encontre com Marillion, não?
O horror deve ter transparecido em seu rosto, pois Petyr pousou a pena:
- Pelo contrário. Insistirei para que fale com ele - indicou-lhe com um gesto que se sentasse na cadeira ao seu lado. - Chegamos a um entendimento, eu e Marillion, Mord consegue ser muito persuasivo. E se o nosso cantor nos desiludir e cantar uma canção que não queiramos ouvir, ora, você e eu teremos apenas de dizer que ele mente. Em quem imagina que Lorde Nestor acreditará?
- Em nós? - Sansa desejava poder ter certeza.
- Claro. Ele ganhará com as nossas mentiras.
O aposento privado estava quente, o fogo na lareira crepitava alegremente, mas Sansa estremeceu mesmo assim.
- Sim, mas... mas e se...
- E se Lorde Nestor der mais valor à honra do que ao lucro? - Petyr pôs o braço em volta dela. - E se o que ele quiser for a verdade e a justiça para sua senhora assassinada? - sorriu. - Eu conheço Lorde Nestor, querida. Acha que alguma vez permitiria que ele fizesse mal à minha filha?
Eu não sou sua filha, ela pensou. Sou Sansa Stark, filha de Lorde Eddard e da Senhora Catelyn, do sangue de Winterfell. Mas não disse nada. Se não fosse Petyr Baelish, teria sido Sansa em vez de Lysa Arryn a rodopiar pelo frio céu azul até a morte rochosa cento e oitenta metros abaixo. Ele é tão ousado. Sansa gostaria de ter a sua coragem. Quis voltar para a cama e se esconder debaixo do cobertor, dormir, e voltar a dormir. Não dormia uma noite inteira desde a morte de Lysa Arryn.
- Não podia dizer a Lorde Nestor que eu estou... indisposta, ou...
- Ele vai querer ouvir seu relato da morte de Lysa.
- Senhor, se... se Marillion disser o que realmente...
- Se ele mentir, você quer dizer?
- Mentir? Sim... se ele mentir, será a minha história contra a dele, e se Lorde Nestor me olhar nos olhos e vir como estou assustada...
- Um toque de medo não será descabido, Alayne. Viu uma coisa temível. Nestor ficará comovido - Petyr estudou-lhe os olhos, como se os estivesse vendo pela primeira vez. - Tem os olhos de sua mãe. Olhos honestos e inocentes. Azuis como um mar ao sol. Quando for um pouco mais velha, muitos homens irão se afogar nesses olhos.
Sansa não soube o que responder àquilo.
- Tudo o que precisa fazer é contar a Lorde Nestor a mesma história que contou a Lorde Robert - Petyr prosseguiu.
Robert não passa de um garotinho doente, pensou, Lorde Nestor é um homem-feito, severo e desconfiado. Robert não era forte e tinha de ser protegido, até da verdade.
- Algumas mentiras são ditas por amor - assegurara-lhe Petyr. E fez que se lembrasse dessas palavras.
- Quando mentimos a Lorde Robert, foi apenas para poupá-lo - ela disse.
- E essa mentira pode poupar a nós. De outra forma, você e eu teremos de abandonar o Ninho da Águia pela mesma porta que Lysa usou - Petyr voltou a pegar na pena. - Serviremos mentiras e dourado da Árvore a Lorde Nestor, e ele os beberá e pedirá mais, garanto a você.
Também está servindo mentiras a mim, Sansa compreendeu. Contudo, eram mentiras reconfortantes, e julgava que a intenção era boa. Uma mentira não é tão ruim se a intenção for boa. Se ao menos acreditasse nelas...
As coisas que a tia dissera imediatamente antes de cair ainda perturbavam seriamente Sansa.
- Delírios - chamava-os Petyr. - Minha esposa estava louca, viu isso com seus próprios olhos - e tinha visto. Tudo que fiz foi construir um castelo de neve, e ela quis me empurrar pela Porta da Lua. Petyr me salvou. Ele amava minha mãe, e...
E a ela? Como podia duvidar? Ele a salvara.
Ele salvou Alayne, sua filha, sussurrou uma voz dentro de si. Mas ela era também Sansa... e por vezes parecia-lhe que o Senhor Protetor era também duas pessoas. Era Petyr, seu protetor, caloroso, divertido e gentil... mas também era Mindinho, o senhor que ela conhecera em Porto Real, sorrindo maliciosamente e afagando a barba enquanto sussurrava ao ouvido da Rainha Cersei. E Mindinho não era seu amigo. Quando Joff mandara espancá-la, fora o Duende que a defendera, não o Mindinho. Quando os Lannister a casaram com Tyrion contra sua vontade, fora Sor Garlan, o Galante, que a reconfortara, não o Mindinho. Mindinho nunca erguera nem sequer o mindinho por ela.
Exceto para me tirar de lá. Ele fez isso por mim. Julgava que era Sor Dontos, o meu pobre, velho e bêbado Florian, mas foi sempre Petyr. Mindinho era apenas uma máscara que ele tinha de usar. Só que, por vezes, Sansa achava difícil distinguir onde o homem terminava e a máscara começava. Mindinho e Lorde Petyr se pareciam muito. Teria fugido de ambos, talvez, mas não havia para onde ir. Winterfell estava incendiado e desolado, Bran e Rickon, mortos e frios. Robb fora traído e assassinado nas Gêmeas, com a senhora sua mãe, Tyrion fora executado por matar Joffrey, e se alguma vez regressasse a Porto Real, a rainha também mandaria cortar sua cabeça. A tia, por quem nutrira esperança de que a manteria a salvo, tentara assassiná-la. Tio Edmure era refém dos Frey, ao passo que o tio-avô, o Peixe Negro, se encontrava cercado em Correrrio. Não tenho para onde ir exceto permanecer aqui, Sansa pensou, infeliz, e nenhum amigo verdadeiro além de Petyr.
Naquela noite o morto cantou “O Dia em que Enforcaram o Robin Negro” “ As Lágrimas da Mãe” e "As Chuvas de Castamere” Depois, parou por um bom tempo, mas, no exato momento em que Sansa começava a cair no sono, ele recomeçou a tocar. Cantou “Seis Mágoas", “Folhas Caídas” e “Alysanne” Canções tão tristes, pensou. Quando fechava os olhos conseguia vê-lo em sua cela do céu, enrolado a um canto, longe do céu frio e negro, encolhido por baixo de uma pele de animal, com a harpa aninhada ao peito. Não posso ter pena dele, disse a si mesma. É vaidoso e cruel, e logo estará morto. Não podia salvá-lo. E por que quereria fazê-lo? Marillion tentara violá-la, e Petyr salvara-lhe a vida não uma, mas duas vezes. Há mentiras que é preciso contar. Foram mentiras que a tinham mantido viva em Porto Real. Se não tivesse mentido a Joffrey, sua Guarda Real a teria espancado até sangrar.
Após “Alysanne” o cantor voltou a ficar em silêncio, por tempo suficiente para Sansa se apoderar de uma hora de descanso. Mas, no momento em que a primeira luz da manhã espreitou através das janelas, ouviu os suaves acordes de “Numa Manhã Nevoenta” pairando, vindos de baixo, e acordou imediatamente. Aquela canção era mais adequada para uma mulher, um lamento cantado por uma mãe na alvorada que se seguira a uma terrível batalha, enquanto procurava entre os mortos o corpo do único filho. A mãe canta sua dor pelo filho morto, pensou Sansa, mas Marillion sofre por seus dedos, por seus olhos. As palavras subiram como flechas e trespassaram-na na escuridão.
Oh, viu meu moço, bom sor?
Tem cabelo de um castanho-avermelhado
Prometeu que voltaria para mim
Em Vila Vêndea está seu lar situado
Sansa cobriu as orelhas com uma almofada de pena de ganso para fugir ao resto da canção, mas de nada serviu. O dia chegou, ela acordou, e Lorde Nestor Royce subia a montanha.
O Supremo Intendente e seu grupo chegaram ao Ninho da Águia no fim da tarde, quando o vale se estendia lá embaixo em tons de dourado e vermelho e o vento aumentava. Trouxe o filho, Sor Albar, bem como uma dúzia de cavaleiros e uma vintena de homens de armas. Tantos estranhos. Sansa olhou ansiosamente seus rostos, perguntando a si mesma se seriam amigos ou inimigos.
Petyr recebeu os visitantes com um gibão de veludo negro provido de mangas cinzentas que combinavam com os calções de lã e emprestavam certa escuridão aos seus olhos verde-acinzentados. Meistre Colemon estava ao seu lado, com a corrente de muitos metais pendendo, solta, em volta de seu pescoço longo e magricela. Embora o meistre fosse de longe o mais alto dos dois homens, era o Senhor Protetor que atraía o olhar. Pusera de lado seus sorrisos naquele dia, segundo parecia. Escutou solenemente enquanto Royce apresentava os cavaleiros que o acompanhavam e depois disse:
- Os senhores são bem-vindos aqui. Conhecem nosso Meistre Colemon, naturalmente. Lorde Nestor, lembra-se de Alayne, minha filha ilegítima?
- Com certeza - Lorde Nestor Royce era um homem de pescoço taurino e peito em forma de barril, estava ficando calvo e possuía uma barba salpicada de cinza e, além disso, tinha um olhar severo. Inclinou a cabeça um centímetro inteiro em saudação.
Sansa fez uma reverência, assustada demais para falar, temendo dizer algo que não devia, Petyr a colocou em pé.
- Querida, seja uma boa menina e traga Lorde Robert ao Alto Salão para receber os convidados.
- Sim, pai - a voz soou-lhe fina e tensa. Uma voz de mentirosa, pensou, enquanto corria escadas acima e atravessava a galeria até a Torre da Lua. Um a voz culpada.
Gretchel e Maddy ajudavam Robert Arryn a enfiar-se nos calções quando Sansa entrou em seu quarto. O Senhor do Ninho da Águia tinha estado de novo chorando. Tinha os olhos vermelhos e úmidos, as pestanas remelentas, o nariz inchado e ranhoso. Um fio de muco cintilava por baixo de uma narina, e o lábio inferior estava ensanguentado no local onde o mordera. Lorde Nestor não pode vê-lo assim, Sansa pensou, desesperada.
- Gretchel, me busque a bacia - pegou na mão do garoto e o puxou para a cama.
- Meu passarinho dormiu bem ontem à noite?
- Não - o rapaz fungou. - Não dormi nem um bocadinho, Alayne. Ele estava cantando outra vez, e minha porta trancada. Chamei para me deixarem sair, mas ninguém veio. Alguém me trancou no meu quarto.
- Isso foi maldade da parte deles - mergulhando um pano macio na água morna, começou a limpar-lhe o rosto... Com suavidade, oh, com tanta suavidade. Se se esfregasse Robert com demasiada energia, ele podia se pôr a tremer. O garoto era frágil e terrivelmente pequeno para a idade. Tinha oito anos, mas Sansa conheceu crianças maiores com cinco.
O lábio de Robert palpitou:
- Eu ia dormir com você.
Eu sei que ia. O passarinho fora acostumado a aninhar-se ao lado da mãe, até ela se casar com Lorde Petyr. Desde a morte da Senhora Lysa, ele se pusera a vaguear pelo Ninho da Águia em busca de outras camas. Aquela de que mais gostava era a de Sansa... Motivo pelo qual ela pedira a Sor Lothor Brune para que trancasse sua porta na noite anterior. Não teria se importado se ele se limitasse a dormir, mas o garoto sempre tentava se aconchegar em seus seios, e quando era dominado pelos ataques de tremores costumava molhar a cama.
- Lorde Nestor Royce subiu dos Portões para falar com você - Sansa limpou-o por baixo do nariz.
- Eu não quero falar com ele - Robert resmungou. - Quero uma história. Uma história sobre o Cavaleiro Alado.
- Depois - Sansa retrucou. - Primeiro tem de falar com Lorde Nestor.
- Lorde Nestor tem um sinal - ele disse, contorcendo-se. Robert tinha medo de homens com sinais no rosto. - Mamãe dizia que ele era terrível.
- Meu pobre passarinho - Sansa alisou-lhe o cabelo para trás. - Tem saudades dela, eu sei. Lorde Petyr também tem. Ele a amava tanto quanto você - aquilo era uma mentira, apesar de bem-intencionada. A única mulher que Petyr alguma vez amara fora a mãe assassinada de Sansa. Confessara-o à Senhora Lysa imediatamente antes de empurrá-la pela Porta da Lua. Ela era louca e perigosa. Assassinou o próprio senhor seu marido, e teria me assassinado se Petyr não tivesse aparecido p ara me salvar.
Robert não precisava saber disso, porém. Era apenas um garotinho doente que amava a mãe.
- Pronto - Sansa tentou animá-lo - agora já parece um senhor como deve ser. Maddy, vá buscar o manto dele - era de lã de ovelha, macia e quente, de um bonito azul-celeste que realçava o creme de sua túnica. Sansa prendeu o manto em volta dos ombros com um broche de prata em forma de um crescente de lua e o levou pela mão. Desta vez, Robert foi docilmente.
O Alto Salão estivera fechado desde a queda da Senhora Lysa, e voltar àquele lugar fez que Sansa sentisse arrepios. O salão era longo, grandioso e belo, supunha, mas não gostava dele. No melhor dos tempos era um lugar pálido e frio. Os esguios pilares pareciam ossos de dedos, e os veios azuis no mármore branco faziam lembrar as veias nas pernas de uma velha. Embora cinquenta arandelas de prata se projetassem das paredes, tinham sido acendidos menos de uma dúzia de archotes, e as sombras dançavam pelos assoalhos e iam aglomerar-se em todos os cantos. Seus passos e os de Robert ecoaram no mármore, e Sansa conseguiu ouvir o vento matraqueando na Porta da Lua. Não posso olhá-la, disse a si mesma, senão desato a tremer tanto quanto Robert.
Com a ajuda de Maddy, sentou Robert em seu trono de represeiro com uma pilha de almofadas por baixo e mandou dizer que sua senhoria iria receber os convidados. Dois guardas com manto azul-celeste abriram as portas na extremidade mais distante do salão, e Petyr os fez entrar e percorrer o longo tapete azul que corria por entre as fileiras de pilares brancos como osso.
O garoto saudou Lorde Nestor com uma cortesia guinchada e não fez nenhuma menção ao seu sinal. Quando o Supremo Intendente perguntou pela senhora sua mãe, as mãos de Robert começaram a tremer muito ligeiramente.
- Marillion fez mal à minha mãe. Atirou-a pela Porta da Lua.
- Vossa Senhoria viu o acontecimento? - perguntou Sor Marwyn Belmore, um cavaleiro esgalgado de cabelos ruivos, que fora capitão dos guardas de Lysa até Petyr colocar Sor Lothor Brune em seu lugar.
- A Alayne viu - disse o rapaz. - E o senhor meu padrasto.
Lorde Nestor olhou para ela. Sor Albar, Sor Marwyn, Meistre Colemon, todos estavam olhando. Ela era minha tia, mas queria me matar, Sansa pensou. Arrastou-me para a Porta da Lua e tentou me empurrar para fora. Não quis beijo nenhum, estava fazendo um castelo na neve. Abraçou-se para evitar tremer.
- Perdoe-a, senhores - Petyr Baelish disse brandamente. - Ela ainda tem pesadelos com aquele dia. Pouco admira que não suporte falar sobre o assunto - aproximou-se por trás dela e pousou-lhe gentilmente as mãos nos ombros. - Eu sei como é difícil para você, Alayne, mas nossos amigos têm de ouvir a verdade,
- Sim - sentia a garganta tão seca que quase lhe doía falar. - Eu vi... eu estava com a Senhora Lysa quando... - uma lágrima rolou-lhe pela face. Isso é bom, uma lágrima é bom. - ... quando Marillion... a empurrou - e voltou a contar a história, quase sem sequer ouvir as palavras que iam jorrando de sua boca.
Antes de chegar à metade, Robert começou a chorar, com as almofadas movendo-se perigosamente debaixo de seu corpo.
- Ele matou minha mãe. Quero que ele voe! - o tremor nas mãos piorara, e os braços também estavam se sacudindo. A cabeça do garoto deu um puxão violento e os dentes desataram a bater. - Voar! - guinchou. - Voar, voar - os braços e as pernas agitavam-se violentamente. Lothor Brune correu para o estrado a tempo de apanhar o garoto, que escorregava do trono. Meistre Colemon estava um passo atrás dele, embora não houvesse nada que pudesse fazer.
Tão impotente quanto os demais, Sansa pôde apenas ficar no mesmo lugar, observando enquanto o ataque de tremores se desenrolava. Uma das pernas de Robert atingiu Sor Lothor no rosto. Brune soltou uma praga, mas manteve-se agarrado ao garoto, que se torcia, esbracejava e se molhava. Os visitantes não proferiram uma palavra; Lorde Nestor, pelo menos, já vira aqueles ataques. Passaram-se longos momentos até que os espasmos de Robert começaram a acalmar, e pareceram ainda mais longos. Perto do fim, o pequeno fidalgo estava tão fraco que não conseguia se endireitar.
- É melhor levar sua senhoria para a cama e sangrá-lo - disse Lorde Petyr, Brune ergueu o garoto nos braços e o levou do salão. Meistre Colemon o seguiu, de cara fechada.
Quando os passos dos dois homens se desvaneceram, não se ouviu um som no Alto Salão do Ninho da Águia. Sansa conseguia ouvir o vento noturno gemendo lá fora e arranhando a Porta da Lua. Sentia muito frio, e estava muito cansada. Terei de voltar a contar a história? Perguntou a si mesma.
Mas deve tê-la contado suficientemente bem. Lorde Nestor limpou a garganta:
- Aquele cantor desagradou-me desde o princípio - resmungou. - Pedi à Senhora Lysa para mandá-lo embora. Pedi-lhe muitas vezes.
- Sempre deu bons conselhos a ela, senhor.
- Ela não se importou - queixou-se Royce. - Escutou-me de má vontade, e não ligou.
- Minha senhora era demasiado confiante para este mundo - Petyr falou com tanta ternura que Sansa quase teria podido acreditar que amara a esposa. - Lysa não conseguia ver o mal nos homens, só o bem. Marillion cantava canções doces, e ela confundiu isso com a sua natureza.
- Ele nos chamou de porcos - Sor Albar Royce falou. Um cavaleiro de modos bruscos e ombros largos que raspava o queixo, mas cultivava espessas suíças negras que lhe emolduravam o rosto rústico como se fossem vedações, Sor Albar era uma versão mais nova do pai. - Fez uma canção sobre dois porcos que andavam fuçando em volta de uma montanha, comendo os restos de um falcão. Supomos sermos nós, mas quando o disse, ele riu de mim. “Ora, sor, é uma canção sobre alguns porcos” ele disse.
- E também fez piada de mim - Sor Marwyn Belmore lembrou. - Apelidou-me de Sor Ding-Dong. Quando jurei que lhe cortaria a língua, fugiu para junto da Senhora Lysa e se escondeu atrás de suas saias.
- Como fazia com frequência - Lorde Nestor emendou. -O homem era covarde, mas o favor que a Senhora Lysa lhe mostrava tornava-o insolente. Ela vestia-o como um lorde, deu-lhe anéis de ouro e um cinto de pedra de lua.
- E até o falcão preferido de Lorde Jon - o gibão do cavaleiro ostentava as seis velas brancas de Waxley. - Sua senhoria adorava aquela ave. Foi Rei Robert quem lhe deu.
Petyr Baelish suspirou:
- Era impróprio - concordou - e eu pus um fim nisso. Lysa concordou em mandá-lo embora. Foi por isso que se encontrou aqui com ele naquele dia. Eu devia ter estado com ela, mas nunca imaginei... se não tivesse insistido... fui eu quem a matou.
Não, Sansa rebateu em pensamento, não pode dizer isso, não pode lhe dizer, não pode. Mas Albar Royce estava balançando a cabeça.
- Não, senhor, não deve se culpar - disse.
- Isto foi obra do cantor - concordou o pai. - Traga-o para cima, Lorde Petyr. Ponhamos um ponto final neste triste episódio.
Petyr Baelish se recompôs e disse:
- Com o quiser, senhor - virou-se para os guardas, deu uma ordem, e o cantor foi trazido das masmorras. Com ele veio o carcereiro Mord, um homem monstruoso com pequenos olhos negros e um rosto torto e cheio de cicatrizes. Uma orelha e parte da face tinham sido cortadas em alguma batalha, mas restavam cento e trinta quilos de pálida carne branca. Sua roupa servia-lhe mal e tinha um cheiro rançoso e putrefato.
Marillion, por contraste, parecia quase elegante. Alguém lhe dera banho e o vestira com um par de calções azul-celeste e uma túnica branca e larga com mangas em balão, cintada com uma faixa prateada que fora presente da Senhora Lysa. Luvas brancas de seda cobriam-lhe as mãos, ao passo que uma venda de seda branca poupava aos senhores a visão de seus olhos.
Mord ficou atrás dele com um açoite. Quando o carcereiro o atingiu nas costelas, o cantor caiu sobre um joelho:
- Bons senhores, peço-lhes perdão.
Lorde Nestor franziu as sobrancelhas:
- Confessa o seu crime?
- Se tivesse olhos, choraria - a voz do cantor, tão forte e segura à noite, mostrava-se agora seca e sussurrante. - Amava-a tanto que não consegui suportar vê-la nos braços de outro homem, saber que partilhava sua cama. Não quis fazer nenhum mal à minha querida senhora, juro. Tranquei a porta para que ninguém nos pudesse perturbar enquanto declarava minha paixão, mas a Senhora Lysa foi tão fria... Quando me disse que esperava um filho de Lorde Petyr, uma... uma loucura assaltou-me...
Sansa fitou as mãos do cantor enquanto ele falava. Maddy Gorda afirmava que Mord lhe arrancara três dedos, ambos os mindinhos e um anelar. Os mindinhos realmente pareciam algo mais hirtos do que os outros dedos, mas com aquelas luvas era difícil ter certeza. Pode não ter passado de uma história. Como Maddy saberia?
- Lorde Petyr teve a bondade de me deixar ficar com a harpa - disse o cantor cego. - A harpa e... a língua... para poder cantar minhas canções. A Senhora Lysa gostava muito de meu canto...
- Leve esta criatura daqui, senão sou capaz de matá-lo eu mesmo - rosnou Lorde Nestor. - Olhar para ele me dá agonia.
- Mord, leve-o de volta para sua cela do céu - Petyr ordenou.
- Sim, senhor - Mord agarrou rudemente Marillion pelo colarinho: - Chega de falar - quando o carcereiro abriu a boca, Sansa viu, para seu espanto, que os dentes do homem eram de ouro. Ficaram a observá-lo levar o cantor na direção das portas, meio arrastado, meio empurrado.
- O homem tem de morrer - declarou Sor Marwyn Belmore depois de os dois saírem. - Devia ter seguido a Senhora Lysa pela Porta da Lua.
- Sem a língua - acrescentou Sor Albar Royce. - Sem aquela língua mentirosa e trocista.
- Fui demasiado gentil com ele, bem sei - Petyr Baelish falou em tom apologético. - Para falar a verdade, tenho pena dele. Matou por amor.
- Por amor ou por ódio - disse Belmore - ele tem de morrer.
- Logo - disse Lorde Nestor num tom duro. - Ninguém fica por muito tempo nas celas do céu. O azul chamará por ele.
- Talvez chame - Petyr Baelish retrucou - mas se Marillion responderá, só ele pode dizer - fez um gesto e seus guardas abriram as portas na ponta mais distante do salão. - Sores, sei que devem estar cansados após a subida. Foram preparados quartos para todos vocês passarem a noite, e comida e vinho os esperam no Salão Inferior. Oswell, mostre-lhes o caminho e assegure-se de que tenham tudo aquilo de que precisam - virou-se para Nestor Royce: - Senhor, me faria companhia no aposento privado para uma taça de vinho? Alayne, querida, venha nos servir.
Um fogo baixo ardia no aposento privado, onde um jarro de vinho os esperava. Dourado da Arvore. Sansa encheu a taça de Lorde Nestor, enquanto Petyr remexia a lenha com um atiçador de ferro.
Lorde Nestor sentou-se junto à lareira.
- Este não será o fim desse assunto - disse a Petyr, como se Sansa não se encontrasse presente. - Meu primo pretende interrogar pessoalmente o cantor,
- Bronze Yohn desconfia de mim - Petyr puxou um pedaço de madeira para o lado.
- Ele pretende vir em força. Symond Templeton se juntará a ele, não duvide. E temo que a Senhora Waynwood também.
- E Lorde Belmore, o Jovem Lorde Hunter, Horton Redfort. Trarão Sam Forte Stone, os Tollett, os Shett, os Coldwater, alguns dos Corbray.
- Está bem informado. Que Corbray? Lorde Lyonel?
- Não, o irmão. Sor Lyn não gosta de mim, por algum motivo.
- Lyn Corbray é um homem perigoso - disse Lorde Nestor num tom obstinado.
- Que pretende fazer?
- Que posso eu fazer além de lhes dar as boas-vindas se vierem? - Petyr remexeu mais um pouco as chamas e pousou o atiçador.
- Meu primo pretende retirar-lhe o título de Senhor Protetor.
- Se assim for, não posso impedi-lo. Tenho uma guarnição de vinte homens. Lorde Royce e os amigos podem recrutar vinte mil - Petyr dirigiu-se à arca de carvalho que se encontrava sob a janela. - Bronze Yohn fará o que fizer - disse, ajoelhando-se. Abriu a arca, tirou dela um rolo de pergaminho e o levou a Lorde Nestor. - Senhor. Isto é um sinal da amizade que a minha senhora nutria por você.
Sansa viu Royce desenrolar o pergaminho, e surpreendeu-se, logo depois, por ver lágrimas nos olhos do homem.
- Isso... isso é inesperado, senhor.
- Inesperado, mas não imerecido. A senhora lhe dava mais valor do que a todos os seus outros vassalos. Era o seu rochedo, ela me disse.
- O seu rochedo - Lorde Nestor enrubesceu. - Ela disse isso?
- Com frequência. E isto - Petyr indicou o pergaminho com um gesto - é a prova.
- É... é bom saber, Jon Arryn dava valor aos meus serviços, bem sei, mas a Senhora Lysa... ela desdenhou de mim quando vim cortejá-la, e temi... - Lorde Nestor franziu a testa. - Ostenta o selo dos Arryn, bem vejo, mas a assinatura...
- Lysa foi assassinada antes de o documento lhe poder ser apresentado para assinar, por isso assinei na qualidade de Senhor Protetor. Sabia que seria este o seu desejo.
- Estou vendo - Lorde Nestor enrolou o pergaminho. - É... atencioso, senhor. Sim, e não é desprovido de coragem. Há quem chame imprópria esta concessão e o censure por fazê-la. O posto de Guardião nunca foi hereditário. Os Arryn ergueram os Portões nos dias em que ainda usavam a Coroa do Falcão e governavam o Vale como reis. O Ninho da Águia era sua sede de verão, mas quando as neves começavam a cair, a corte descia. Há quem diga que os Portões eram tão régios quanto o Ninho da Águia.
- Não há rei no Vale há trezentos anos - Petyr Baelish fez notar.
- Os dragões chegaram - Lorde Nestor concordou. - Mas mesmo depois disso, os Portões continuaram a ser um castelo Arryn. O próprio Jon Arryn foi Guardião dos Portões enquanto o pai esteve vivo. Após sua ascensão, nomeou o irmão Ronnel para esta honraria, e mais tarde o primo Denys.
- Lorde Robert não tem irmãos, apenas primos afastados.
- É verdade - Lorde Nestor segurava com força o pergaminho. - Não direi que não tive esperança de obter isto. Enquanto Lorde Jon governou o reino como Mão, coube a mim governar o Vale em seu nome. Fiz tudo o que me pediu, e não pedi nada para mim. Mas, pelos deuses, eu mereci isso!
- É verdade - Petyr confirmou - e Lorde Robert dorme mais facilmente sabendo que está sempre lá um amigo dedicado no sopé de sua montanha - ergueu uma taça. - Portanto... um brinde, senhor. À Casa Royce, Guardiã dos Portões da Lua... agora e para sempre.
- Agora e para sempre, sim! - as taças de prata tiniram uma na outra.
Mais tarde, muito mais tarde, depois de o jarro de vinho dourado da Árvore secar, Lorde Nestor retirou-se para ir se juntar à sua companhia de cavaleiros. Àquela altura, Sansa estava dormindo em pé, desejando apenas enfiar-se na cama, mas Petyr pegou-lhe pelo pulso.
- Vê as maravilhas que se conseguem com mentiras e Dourado da Árvore?
Por que sentia vontade de chorar? Era bom que Nestor Royce estivesse do lado deles.
- Foi tudo mentira?
- Não tudo. Lysa chamava frequentemente Lorde Nestor de rochedo, embora não me pareça que pretendesse elogiá-lo. Chamava o filho dele de estúpido. Sabia que Lorde Nestor sonhava em ter os Portões em seu próprio nome, um senhor de verdade, e não só de nome, mas Lysa sonhava em ter outros filhos e queria que o castelo passasse para o irmão mais novo de Robert - pôs-se em pé. - Compreende o que aconteceu aqui, Alayne?
Sansa hesitou por um momento:
- Deu ao Lorde Nestor os Portões da Lua para assegurar seu apoio.
- É verdade - Petyr admitiu - mas o nosso rochedo é um Royce, o que significa que é excessivamente orgulhoso e suscetível. Se lhe tivesse perguntado qual era o seu preço, teria inchado como um sapo irritado com a desfeita feita à sua honra. Mas assim... O homem não é completamente estúpido, mas as mentiras que lhe apresentei foram mais agradáveis do que a verdade. Ele quer acreditar que Lysa lhe atribuía mais valor do que aos seus outros vassalos. Afinal, um desses outros é Bronze Yohn, e Nestor está muito consciente do fato de ter nascido no ramo menor da Casa Royce. Quer mais para o filho. Homens de honra farão coisas pelos filhos que nunca pensariam em fazer por si.
Sansa assentiu:
- A assinatura... podia ter feito Lorde Robert colocar a mão e o selo, mas em vez disso...
- ... assinei eu mesmo, como Senhor Protetor. Por quê?
- Para que... se for destituído, ou... ou morto...
- ... a pretensão de Lorde Nestor aos Portões seja subitamente posta em causa. Garanto a você que isso não lhe passou despercebido. Foi inteligente de sua parte ter visto este aspecto. Embora não seja mais do que eu esperaria de minha filha.
- Obrigada - sentia-se absurdamente orgulhosa por ter juntado as peças daquele enigma, mas também confusa. - Mas não sou sua filha. Não de verdade. Quer dizer, finjo ser Alayne, mas você sabe...
Mindinho pôs-lhe um dedo sobre os lábios:
- Eu sei o que sei, e você também. Há coisas que é melhor deixar por dizer, doçura...
- Mesmo quando estivermos a sós?
- Especialmente quando estivermos a sós. Senão, chegará um dia em que um criado entrará numa sala sem se fazer anunciar, ou um guarda, à porta, calhará de ouvir algo que não devia. Quer mais sangue em suas mãozinhas bonitas, querida?
O rosto de Marillion pareceu flutuar na sua frente, com a venda branca sobre os olhos. Atrás dele, via Sor Dontos, ainda com os dardos de besta espetados no corpo.
- Não - Sansa respondeu. - Por favor.
- Sinto-me tentado a dizer que isso que jogamos não é jogo nenhum, filha, mas claro que é. O jogo dos tronos.
Eu nunca pedi para jogar. O jogo era perigoso demais. Uma escorregadela, e estou morta.
- Oswell... senhor, Oswell trouxe-me de Porto Real na noite em que fugi. Ele deve saber quem sou.
- Se tiver metade da inteligência de um cocô de ovelha, julgo que sim. Sor Lothor também sabe. Mas Oswell está a meu serviço há muito tempo, e Brune tem a boca fechada por natureza. Kettleblack vigia Brune para mim, e Brune vigia Kettleblack. Não confie em ninguém, eu disse um dia a Eddard Stark, mas ele não quis ouvir. Você é Alayne, e tem de ser Alayne o tempo todo - pousou dois dedos no seio esquerdo dela. - Até aqui. Em seu coração. Consegue fazer isso? Consegue ser minha filha no coração?
- Eu... - eu não sei, senhor, quase disse, mas não era aquilo que ele queria ouvir. Mentiras e Dourado da Árvore, pensou. - Eu sou Alayne, pai. Quem haveria de ser?
Lorde Mindinho beijou-lhe a face.
- Com a minha inteligência e a beleza de Cat, o mundo será nosso querida. E agora, para a cama.
Gretchel acendera-lhe a lareira e afofara seu colchão de penas. Sansa despiu-se e se enfiou debaixo dos cobertores. Ele não cantará esta noite, rezou, não cantará com Lorde Nestor e os outros no castelo. Não se atreveria. Fechou os olhos.
Acordou no meio da noite, quando o pequeno Robert subiu na sua cama. Esqueci de dizer a Lothor para voltar a trancá-lo, repreendeu-se. Nada havia a fazer quanto a isso, portanto, envolveu-o com um braço.
- Passarinho? Pode ficar, mas tente não se mexer muito. Feche os olhos e durma, pequeno.
- Está bem - ele se aninhou bem e pôs a cabeça entre os seus seios. - Alayne? Você agora é a minha mãe?
- Suponho que sim - ela disse. Se uma mentira era bem-intencionada, não faria mal.  

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