quinta-feira, 26 de setembro de 2013

16 - DAENERYS


O dançarinos brilhavam, seus lustrosos corpos depilados cobertos com uma fina camada de óleo. Tochas acesas passavam de mão em mão, acompanhando o bater de tambores e o trinado de uma flauta. Sempre que duas tochas cruzavam o ar, uma garota nua saltava entre elas, rodopiando. A luz das tochas brilhava em seus membros, peitos e nádegas oleosos.
Três homens tinham ereções. A visão da excitação deles era excitante, embora Daenerys Targaryen também achasse um pouco cômico. Os homens eram todos altos, com longas pernas e barrigas achatadas, cada músculo perfeitamente desenhado, como se esculpido em pedra. De algum modo, seus rostos pareciam iguais ... o que era estranho, já que um tinha a pele escura como ébano, o segundo era branco como leite e o terceiro brilhava como cobre polido.
Será que querem me excitar? Dany agitou-se contra suas almofadas de seda. De costas para os pilares, seus Imaculados permaneciam como estátuas, com seus capacetes espigados e as faces lisas sem expressão. Não estavam assim todos os homens. Reznak mo Reznak estava de boca aberta, e seus lábios brilhavam, úmidos, enquanto assistia. Hizdahr zo Loraq dizia algo para o homem ao seu lado, mas seus olhos não saíam de cima das dançarinas. A cara feia e oleosa do Cabeça-Raspada estava tão séria quanto sempre, mas não perdia nada.
Era difícil saber o que seu honorável convidado achava de tudo aquilo. O homem pálido, magro e de rosto aquilino que dividia a mesa com ela estava resplandecente na túnica de seda marrom e samito, sua careca brilhando sob a luz das tochas enquanto comia um figo com mordidas pequenas, precisas e elegantes. Opalas brilhavam ao longo do nariz de Xaro Xhoan Daxos conforme ele virava a cabeça para acompanhar os dançarinos.
Em homenagem a ele, Daenerys usava um vestido qarteno, uma confecção pura de samito violeta, cortado de modo a deixar seu seio esquerdo de fora. O cabelo ouro-prateado dela fora penteado até cair suavemente sobre os ombros, quase alcançando um mamilo. Metade dos homens no salão olhava disfarçadamente para ela, mas não Xaro. Em Qarth era a mesma coisa. Ela não atraía o príncipe mercador dessa forma. De algum jeito, no entanto, eu mexo com ele. Ele viera de Qarth na galé Nuvem Sedosa, seguido por outros treze navios, uma frota que era uma oração respondida. O comércio de Meereen recuara a quase nada desde que ela acabara com a escravidão, mas Xaro tinha o poder de restaurá-lo.
Com os tambores aumentando em um crescendo, três garotas saltaram sobre as chamas, rodopiando no ar. Dançarinos as pegaram pela cintura, e as deslizaram até seus membros. Dany viu como as mulheres arquearam as costas e enrolaram as pernas em seus parceiros, enquanto as flautas choravam e os homens se arremetiam contra elas no ritmo da música. Ela já vira o ato sexual; os dothrakis copulavam abertamente, como suas éguas e seus garanhões. Mas esta era a primeira vez que via luxúria em forma de música.
O rosto dela estava quente. O vinho, disse para si mesma. E, mesmo assim, se pegou pensando em Daario Naharis. O mensageiro dele chegara naquela manhã. Os Corvos Tormentosos retornavam de Lhazar. Seu capitão voltava para ela, trazendo a amizade dos Homens-Ovelha. Comida e comércio, ela recordou-se. Ele não falhou comigo, nem falhará. Daario vai me ajudar a salvar a cidade. A rainha desejava ver o rosto dele, acariciar sua barba de três pontas, contar-lhe seus problemas ... mas os Corvos Tormentosos estavam a muitos dias de distância, além do Passo Khyzai, e ela tinha um reino para governar.
Fumaça pairava entre os pilares púrpura. Os dançarinos se ajoelharam, cabisbaixos.
- Estavam esplêndidos - Dany lhes disse. - Raramente vi tamanha graça, tamanha beleza. - Acenou para Reznak mo Reznak, e o senescal correu para o lado dela. Gotas de suor salpicavam sua careca brilhante. - Acompanhe nossos convidados até as salas de banho, para que possam se refrescar, e lhes dê comida e bebida.
- Será uma grande honra, Magnificência.
Daenerys estendeu sua taça para que Irri a enchesse. O vinho era doce e forte, impregnado com o cheiro de especiarias orientais, muito superior ao ralo vinho ghiscari que ela tomava ultimamente. Xaro examinou os frutos na travessa que Jhiqui ofereceu para ele e escolheu um caqui. A pele laranja do fruto era da mesma cor do coral no nariz dele. Deu uma mordida e apertou os lábios.
- Ácido.
- Talvez o senhor preferisse algo mais doce?
- A doçura enjoa. Frutas ácidas e mulheres ácidas dão sabor à vida. - Xaro deu outra mordida, mastigou e engoliu. - Daenerys, doce rainha, não consigo expressar o prazer que me dá estar mais uma vez em sua presença. Uma criança partiu de Qarth, tão perdida quando adorável. Temi que a criança navegasse para a perdição, mas, em vez disso, a encontro aqui, entronada, senhora de uma antiga cidade, cercada por um exército poderoso que tirou de seus sonhos.
Não, ela pensou, tirei do sangue e do fogo.
- Estou feliz que tenha vindo. É bom ver seu rosto novamente, meu amigo. - Não vou confiar em você, mas preciso de você. Preciso dos seus Treze, de seus navios, preciso de seu comércio.
Por séculos, Meereen e suas cidades-irmãs, Yunkai e Astapor, haviam sido os pontos centrais do comércio de escravos, os locais onde os khals dothrakis e os corsários das Ilhas Basilisco vendiam seus cativos e o resto do mundo vinha para comprá-los. Sem escravos, Meereen tinha pouco a oferecer aos mercadores. As colinas ghiscaris estavam repletas de cobre, mas o metal já não era tão valioso como quando o bronze governava o mundo. Os cedros que certa vez cresciam ao longo da costa, já não estavam mais lá, derrubados a machadadas pelo Velho Império ou consumidos pelo fogo de dragão quando Ghis entrou em guerra contra Valíria. Depois que as árvores desapareceram, o solo cozinhou sob o sol escaldante e rachou em vários pedaços vermelhos.
- Foram essas calamidades que transformaram meu povo em comerciante de escravos - Galazza Galare contara para ela, no Templo da Graça. E eu serei a calamidade que vai transformar esses comerciantes de escravos em pessoas novamente, Dany jurara a si mesma.
- Eu tinha que vir - Xaro disse em tom lânguido. - Mesmo na distante Qarth histórias assustadoras chegavam aos meus ouvidos. Chorei ao ouvi-las. Dizem que seus inimigos prometeram riqueza, glória e uma centena de escravas virgens para qualquer homem que assassinar você.
- Os Filhos da Harpia. - Como ele sabia disso? - Eles rabiscam as paredes à noite e cortam as gargantas de libertos honestos enquanto dormem. Quando o sol nasce, escondem-se como baratas. Temem minhas Bestas de Bronze. - Skahaz mo Kandaq organizara a nova patrulha que ela pedira, feita com igual número de libertos e de cabeças-raspadas meereeneses. Eles andavam pelas ruas da cidade dia e noite, com capuzes escuros e máscaras de bronze. Os Filhos da Harpia haviam prometido uma morte terrível para qualquer traidor que ousasse servir a rainha dragão, e para seus amigos e parentes também, então os homens do Cabeça-Raspada eram chacais, corujas e outros animais, que mantinham suas identidades ocultas. - Eu teria medo dos Filhos se eles me pegassem andando sozinha pela rua, mas só se fosse noite e eu estivesse nua e desarmada. São criaturas covardes.
- A faca de um covarde pode matar uma rainha tanto quanto a de um herói. Eu dormiria mais profundamente se soubesse que o deleite do meu coração mantém seus ferozes senhores dos cavalos por perto. Em Qarth, você tinha três companheiros de sangue que nunca saíam do seu lado. Onde eles estão?
- Aggo, Jhoqo e Rakharo ainda me servem. - Ele está jogando comigo. Dany também podia jogar. - Sou apenas uma garota e sei pouco sobre essas coisas, mas homens mais velhos e mais sábios me disseram que para manter Meereen devo controlar o interior, toda a terra a oeste de Lhazar e ao sul até as colinas yunkaítas.
- O interior não é precioso para mim. Você é. Se algum mal lhe sucedesse, o mundo perderia o sabor.
- Meu senhor é bom em se preocupar tanto, mas estou bem protegida. - Dany fez um gesto em direção ao local em que Barristan Selmy permanecia com uma mão sobre o cabo da espada. - Ele é conhecido como Barristan, o Ousado. Por duas vezes me salvou de assassinos.
Xaro fez uma inspeção rápida em Selmy.
- Barristan, o Ousado, você diz: Seu cavaleiro urso era mais jovem e devotado a você.
- Não quero falar sobre Jorah Mormont.
- Certamente. O homem era grosseiro e peludo. - O príncipe mercador se debruçou sobre a mesa. - Falemos, em vez disso, de amor, de sonhos, de desejos e de Daenerys, a mais bela mulher deste mundo. Estou embriagado só de olhá-la.
Ela não era estranha às cortesias exageradas de Qarth.
- Se está embriagado, culpe o vinho.
- Nenhum vinho é tão embriagante quanto sua beleza. Minha mansão parece tão vazia quanto uma tumba desde que Daenerys partiu, e todos os prazeres da Rainha das Cidades têm sido como cinzas em minha boca. Por que me abandonou?
Eu era perseguida em sua cidade e temia por minha vida.
- Já era hora. Qarth queria que eu partisse.
- Quem? Os Puronatos? Eles têm águas nas veias. A Antiga Guilda das Especiarias? Eles têm coalhada entre as orelhas. E os Imortais estão todos mortos. Você devia ter se casado comigo. Estou quase certo de ter pedido sua mão. Implorado, inclusive.
- Somente meia centena de vezes. - Dany provocou. - Você desistiu muito facilmente, senhor. Devo casar, todos concordam.
- Uma khaleesi deve ter um khal - disse Irri, enquanto enchia a taça da rainha mais uma vez. - Isso é sabido.
- Devo pedir novamente: - perguntou-se Xaro. - Não, conheço esse sorriso. É uma rainha cruel que corta o coração dos homens. Mercadores humildes como eu não são mais do que pedras sob suas sandálias repletas de joias. - Uma única lágrima escorreu lentamente pelo rosto branco dele.
Dany o conhecia bem demais para se comover. Homens qartenos podiam chorar à vontade.
- Ah, pare com isso. - Ela pegou uma cereja da tigela sobre a mesa e atirou no nariz dele. - Posso ser uma garota jovem, mas não sou tão tola a ponto de casar com um homem que acha uma travessa de frutas mais atraente do que meus seios. Vi quais dançarinos você olhava.
Xaro limpou a lágrima.
- Os mesmos que Vossa Graça olhava, acredito. Você pode ver, somos iguais. Se você não me quer para seu marido, me contento em ser seu escravo.
- Não quero escravos. Liberto você. - O nariz incrustado de joias dele era um alvo tentador. Dessa vez, Dany jogou um damasco nele.
Xaro pegou a fruta no ar e deu uma dentada nela.
- De onde veio essa loucura: Devo me considerar afortunado por você não ter libertado meus escravos quando foi minha convidada em Qarth:
Eu era uma rainha pedinte, e você era Xaro dos Treze, pensou Dany, e tudo o que você queria eram meus dragões.
- Seus escravos pareciam bem tratados e contentes. Foi só em Astapor que meus olhos se abriram. Você sabe como os Imaculados são obtidos e treinados?
- Cruelmente, não tenho dúvidas. Quando um ferreiro faz uma espada, ele enfia a lâmina no fogo, bate nela com um martelo e então a mergulha em água gelada para temperar o aço. Se quer saborear o gosto doce da fruta, tem que irrigar a árvore.
- Essa árvore era irrigada com sangue.
- De que outra maneira, para fazer um soldado? Vossa Iluminada apreciou meus dançarinos. Ficaria surpresa em saber que são escravos, criados e treinados em Yunkai? Eles dançam desde que tiveram idade suficiente para andar. De que outra maneira chegariam a essa perfeição? - Ele tomou um gole de vinho. - São especialistas em todas as artes eróticas também. Eu tinha pensado em presentear Vossa Graça com eles.
- De toda maneira - Dany não estava surpresa - vou libertá-los.
Aquilo o fez estremecer.
- E o que eles fariam com essa liberdade? É o mesmo que dar uma cota de malha a um peixe. Foram feitos para dançar.
- Feitos por quem? Pelos mestres deles? Talvez seus dançarinos teriam preferido construir, fazer pães ou plantar. Já perguntou a eles?
- Talvez seus rouxinóis teriam preferido ser elefantes. Em vez de um canto doce, as noites de Meereen estariam cheias de trombas retumbantes, e suas árvores cairiam sob o peso de suas grandes aves cinzentas. - Xaro suspirou. - Daenerys, minha querida, atrás desses seios doces e jovens bate um coração tenro ... mas aceite o conselho de alguém mais velho e mais sábio. As coisas não são sempre como parecem. Muito do que parece mau pode ser bom. Considere a chuva.
- Chuva? - Ele me considera uma tola, ou apenas uma criança?
- Nós amaldiçoamos a chuva que cai em nossas cabeças, mas sem ela estaríamos famintos. O mundo precisa de chuva ... e de escravos. Você faz careta, mas é verdade. Considere Qarth. Na arte, na música, no comércio, em tudo o que nos faz mais do que animais, Qarth está acima do resto da humanidade, como você no topo desta pirâmide... mas no fundo, em vez de tijolos, a magnificência da Rainha das Cidades é construída sobre as costas dos escravos. Pergunte a si mesma, se todos os homens tivessem que escavar a terra por comida, como alguns levantariam os olhos para contemplar as estrelas? Se cada um de nós tivesse que arrebentar as costas para construir um casebre, quem levantaria os templos para glorificar os deuses? Para alguns homens serem grandes, outros devem ser escravizados.
Ele era muito eloquente para ela. Dany não tinha resposta, só o nó em seu estômago.
- Escravidão não é o mesmo que chuva - ela insistiu. - Já tomei chuva, e já fui vendida. Não é o mesmo. Nenhum homem quer ser propriedade de alguém.
Xaro deu de ombros languidamente.
- Acontece que quando cheguei a sua doce cidade, tive a chance de ver um homem à margem do rio que, certa vez esteve como convidado em minha mansão, um mercador que lidava com especiarias raras e vinhos especiais. Estava nu da cintura para cima, vermelho e descamando, e parecia estar cavando um buraco.
- Não é um buraco. É um canal, para levar água do rio para os campos. Pretendemos plantar feijões. Os campos de feijão precisam de água.
- Que gentil da parte do meu velho amigo ajudar a cavar. E como isso se parece pouco com ele. É possível que ele não tenha tido outra escolha? Não, certamente não. Você não tem escravos em Meereen.
Dany corou.
- Seu amigo está sendo pago com comida e abrigo. Não posso devolver a riqueza dele. Meereen precisa mais de feijão do que de especiarias raras, e feijões precisam de água.
- Você colocará meus dançarinos para cavar canais também? Doce rainha, quando meu velho amigo me viu, caiu de joelhos e implorou para que eu o comprasse como escravo e o levasse de volta a Qarth.
Ela sentiu como se ele a tivesse esbofeteado.
- Compre-o, então.
- Se lhe agradar. Sei que agradaria a ele. - Colocou a mão sobre o braço dela. - Há verdades que apenas um amigo pode dizer. Eu a ajudei quando você chegou a Qarth como pedinte, e percorri muitos quilômetros e mares tormentosos para ajudá-la novamente. Há algum lugar onde possamos falar francamente?
Dany podia sentir o calor dos dedos dele. Ele foi caloroso em Qarth também, lembrava-se, até o dia em que não teve mais uso para mim. Ela se levantou.
- Venha - disse, e Xaro a seguiu cruzando os pilares, até a ampla escadaria de mármore que levava aos aposentos privados dela, no topo da pirâmide.
- Oh, mais bela das mulheres - disse Xaro quando começaram a subir os degraus - há passos atrás de nós. Estamos sendo seguidos.
- Meu velho cavaleiro não assusta você, certamente. Sor Barristan é jurado para manter meus segredos.
Ela o levou para o terraço do qual era possível ver toda a cidade. Uma lua cheia nadava no céu negro sobre Meereen.
- Podemos andar? - Dany deslizou o braço no dele. O ar estava pesado com o cheiro das flores noturnas. - Você falou em ajuda. Negocie comigo, então. Meereen tem sal para vender, e vinho ...
- Vinho ghiscari? - Xaro fez uma cara azeda. - O mar providencia todo o sal que Qarth precisa, mas eu ficaria feliz em levar todas as azeitonas que você pudesse me vender. Azeite de oliva também.
- Não tenho nenhum para oferecer. Os senhores de escravos queimaram as árvores. - Oliveiras cresciam ao longo da costa da Baía dos Escravos havia séculos, mas os meereeneses incendiaram as antigas plantações enquanto o exército de Dany avançava em direção à cidade, fazendo-a atravessar um deserto enegrecido. - Nós replantamos, mas uma oliveira leva sete anos até que comece a dar frutos, e trinta até que possa ser considerada realmente produtiva. Que tal cobre?
- Um metal bonito, mas inconstante como uma mulher. Já ouro ... ouro é sincero. Qarth ficaria feliz em lhe dar ouro ... em troca de escravos.
- Meereen é uma cidade livre de homens livres.
- Uma cidade pobre, que já foi rica. Uma cidade com fome, e que já foi farta. Uma cidade sangrenta, que já foi pacífica.
As acusações dele doeram. Havia verdade demais nelas.
- Meereen será rica, farta e pacífica novamente, e também livre. Procure os dothrakis se precisa de escravos.
- Os dothrakis fazem escravos, os ghiscaris os treinam. E, para chegar a Qarth, os senhores dos cavalos precisam levar seus cativos através do deserto vermelho. Centenas morreriam, se não milhares ... e muitos cavalos também, motivo pelo qual nenhum khal se arriscaria. E também há outra coisa: Qarth não quer khalasares próximos de suas muralhas. O fedor de todos aqueles cavalos ... sem ofensa, khaleesi.
- Um cavalo tem cheiro honesto. É mais do que pode ser dito a respeito de alguns grandes senhores e príncipes mercadores.
Xaros não tomou conhecimento do ataque.
- Daenerys, deixe-me ser honesto com você, como convém a um amigo. Você não vai tornar Meereen rica, opulenta e pacífica. Você só a levará à destruição, como fez com Astapor. Está ciente de que há uma batalha acontecendo no Chifre de Hazzat? O Rei Açougueiro fugiu para seu palácio, com seus novos Imaculados nos calcanhares.
- Isso é sabido. - Ben Mulato Plumm trouxera notícias da batalha. - Os yunkaítas contrataram novos mercenários, e duas legiões de Nova Ghis estão lutando agora com vontade ao lado deles.
- Duas que logo serão quatro, e então dez. E enviados yunkaítas foram mandados para Myr e Volantis, para conseguir mais espadas. A Companhia do Gato, as Longas Lanças e os Soprados pelo Vento. Alguns dizem que os Sábios Mestres contrataram a Companhia Dourada também.
Certa vez, seu irmão Viserys oferecera um banquete para os capitães da Companhia Dourada, na esperança de que pudessem apoiar sua causa. Eles comeram sua comida, ouviram seus apelos e riram dele. Dany era apenas uma garotinha, mas se lembrava.
- Tenho mercenários também.
- Duas companhias. Os yunkaítas mandarão vinte contra você, se puderem. E, quando marcharem, não marcharão sozinhos. Tolos e Mantarys fizeram uma aliança.
Essas eram más notícias, se fossem verdadeiras. Daenerys enviara missões a Tolos e Mantarys, esperando encontrar novos amigos no oeste para equilibrar a inimizade com Yunkai ao sul. Os enviados nunca retornaram.
- Meereen fez aliança com Lhazar.
Aquilo só o fez rir.
- Os senhores dos cavalos dothrakis chamam os lhazarenos de Homens-Ovelha. Você pode tosquiá-los, e tudo o que fazem é balir. Não são um povo guerreiro.
Um amigo pacato é melhor do que nenhum.
- Os Sábios Mestres deviam seguir o exemplo deles. Poupei Yunkai uma vez, mas não cometerei esse erro novamente. Se eles ousarem me atacar, desta vez porei a Cidade Amarela deles no chão.
- E, enquanto estiver arrasando Yunkai, meu doce, Meereen se levantará atrás de você. Não feche os olhos aos perigos, Daenerys. Seus eunucos são excelentes soldados, mas são poucos para enfrentar os exércitos que Yunkai mandará contra você, assim que Astapor cair.
- Meus libertos ... - começou Dany.
- Escravos de cama, barbeiros e oleiros não ganham batalhas.
Ele estava errado quanto a isso, ela esperava. Os libertos eram gente do povo, mas ela organizara os homens em idade de batalha em companhias e ordenara a Verme Cinzento que os transformasse em soldados. Deixe-o pensar o que quiser.
- Você se esqueceu? Tenho dragões.
- Tem? Em Qarth, você raramente era vista sem um dragão no ombro ... e no entanto agora percebo que seu ombro bem torneado está tão nu quanto seu doce seio.
- Meus dragões cresceram, meus ombros não. Eles estão percorrendo os campos, caçando. - Hazzea, me perdoe. Ela se perguntava quanto Xaro sabia, que sussurros teria escutado. - Pergunte aos Bons Mestres de Astapor sobre meus dragões, se duvida deles. - Vi os olhos de um comerciante de escravos derreter e escorrer por seu rosto. - Diga-me a verdade, velho amigo, o que deseja de mim, se não quer negociar?
- Trazer um presente para a rainha do meu coração.
- Diga. - Que armadilha é essa, agora?
- O presente que me implorou em Qarth. Navios. Há treze galés na baía. Suas, se as desejar. Trouxe uma frota para você, para levá-la a Westeros.
Uma frota. Era mais do que ela podia esperar, então é claro que ficou desconfiada. Em Qarth, Xaro oferecera trinta navios para ela ... por um dragão.
- E qual o preço por esses navios?
- Nenhum. Não desejo mais dragões. Vi o trabalho deles em Astapor, no meu caminho para cá, quando meu Nuvem Sedosa parou para reabastecer. Os navios são seus, doce rainha. Treze galés, e homens para puxar os remos.
Treze. Certamente. Xaro era um dos Treze. Sem dúvida, havia convencido cada um dos companheiros de irmandade a dar um navio.
Ela conhecia o príncipe mercador bem demais para imaginar que ele sacrificaria treze de seus próprios navios.
- Preciso pensar nisso. Posso inspecionar esses navios?
- Ficou desconfiada, Daenerys.
Sempre.
- Fiquei prudente, Xaro.
- Inspecione o que desejar. Quando estiver satisfeita, me jure que voltará para Westeros imediatamente, e os navios são seus. Jure por seus dragões, pelo seu deus de sete faces e pelas cinzas de seus antepassados, e vá.
- E se eu decidir esperar um ano, ou três?
Um olhar triste cruzou o rosto de Xaro.
- Isso me faria muito infeliz, meu doce deleite... por mais jovem e forte que pareça, você não viverá muito. Não aqui.
Ele oferece favos de mel com uma mão e mostra o chicote com a outra.
- Os yunkaítas não são tão temíveis assim.
- Nem todos os seus inimigos estão na Cidade Amarela. Tenha cuidado com homens de coração frio e lábios azuis. Você tinha saído de Qarth havia menos de quinze dias quando Pyat Pree partiu com três feiticeiros para procurá-la em Pentos.
Dany achou isso mais divertido do que assustador.
- Ainda bem que mudei de caminho, então. Pentos está a meio mundo de Meereen.
- É verdade - ele concordou - mesmo assim, cedo ou tarde eles saberão da rainha dragão da Baía dos Escravos.
- Isso deveria me assustar: Vivi no medo por catorze anos, senhor. Acordei assustada cada manhã, e fui dormir com medo cada noite ... Mas meus medos desapareceram no dia em que emergi das chamas. Apenas uma coisa me assusta agora.
- E o que a assusta, doce rainha?
- Sou apenas uma jovem tola - Dany se levantou na ponta dos pés e deu-lhe um beijo no rosto. - Mas não tão tola para lhe contar isso. Meus homens olharão esses navios. Aí você terá minha resposta.
- Como desejar. - Ele tocou o seio nu dela suavemente e sussurrou - Deixe-me ficar e ajudá-la a se persuadir.
Por um momento, ela ficou tentada. Talvez os dançarinos tivessem mexido com ela no final das contas. Eu fecharia os olhos e fingiria estar com Daario. Um Daario imaginado seria mais seguro do que o real. Mas ela deixou a ideia de lado.
- Não, senhor. Agradeço, mas não. - Dany deslizou dos braços dele. - Em outra noite, talvez.
- Em outra noite. - Sua boca estava triste, mas seus olhos pareciam mais aliviados do que desapontados.
Se eu fosse um dragão, poderia voar até Westeros, ela pensou quando ele se foi. Não precisaria de Xaro ou de seus navios. Dany se perguntou quantos homens treze galés podiam levar. Foram necessárias três para levá-la, juntamente com seu khalasar, de Qarth até Astapor, mas isso foi antes de ela ter oito mil Imaculados, mil mercenários e uma vasta horda de libertos. E os dragões, o que farei com eles?
- Drogon - ela sussurrou suavemente - onde está você? - Por um momento, quase pôde vê-lo varrendo o céu, as asas negras engolindo as estrelas.
Ela virou as costas para a noite, para onde Barristan Selmy permanecia em silêncio nas sombras.
- Certa vez, meu irmão me contou um enigma westerosi. Quem ouve tudo e, mesmo assim, não escuta nada?
- Um cavaleiro da Guarda Real - A voz de Selmy era solene.
- Ouviu a oferta de Xaro?
- Ouvi, Vossa Graça. - O velho cavaleiro se esforçava para não olhar o seio desnudo dela enquanto conversavam.
Sor Jorah não teria tirado os olhos. Ele me amava como mulher, enquanto Sor Barristan me ama apenas como sua rainha. Mormont fora um informante, reportando-se aos inimigos dela, em Westeros, mas mesmo assim lhe dera bons conselhos.
- O que você acha disso? Dele?
- Dele, pouco e ainda menos. Dos navios, no entanto ... Vossa Graça, com esses navios poderemos estar em casa antes do final do ano.
Dany nunca conhecera uma casa. Em Bravos havia uma casa com portas vermelhas, mas isso era tudo.
- Cuidado com presentes vindos de qartenos, especialmente mercadores dos Treze. Há alguma armadilha aí. Talvez os navios estejam estragados ou ...
- Se fossem incapazes de navegar, não teriam atravessado o mar de Qarth até aqui - Sor Barristan apontou - mas Vossa Graça foi sábia em insistir em uma inspeção. Irei com o Almirante Groleo até as galés na primeira hora da manhã, com os capitães e duas equipes de marinheiros dele. Podemos varrer cada centímetro daqueles navios.
Era um bom conselho.
- Sim, faça isso. - Westeros. Lar. Mas, se ela partisse, o que aconteceria com a cidade? Meereen nunca foi sua cidade, a voz do irmão parecia sussurrar. Suas cidades estão do outro lado do mar. Seus sete reinos, onde seus inimigos esperam por você. Você nasceu para servir-lhes sangue e fogo.
Sor Barristan limpou a garganta e disse:
- Esse feiticeiro sobre o qual o mercador falou ...
- Pyat Pree. - Ela tentou lembrar-se do rosto dele, mas tudo o que via eram seus lábios. O vinho dos feiticeiros tornava os lábios azuis. A bebida era chamada sombra-da-noite. - Se o encanto de um feiticeiro pudesse me matar, estaria morta agora. Transformei o palácio deles em cinzas. Drogon me salvou quando tentaram drenar minha vida. Drogon queimou todos eles.
- Como diz, Vossa Graça. Mesmo assim. Eu serei cuidadoso.
Ela o beijou no rosto.
- Sei que será. Venha, me acompanhe de volta ao banquete.
Na manhã seguinte, Dany acordou tão esperançosa quanto estivera ao chegar à Baía dos Escravos.
Daario logo estaria ao seu lado e, juntos, navegariam até Westeros. Para casa. Uma de suas jovens hóspedes lhe trouxe a refeição matinal, uma menina rechonchuda e tímida chamada Mezzara, cujo pai governava a pirâmide de Merreq. Dany lhe deu um abraço, feliz, e lhe agradeceu com um beijo.
- Xaro Xhoan Daxos me ofereceu treze galés - contou para Irri e Jhiqui enquanto a vestiam para a corte.
- Treze é um número mau, Khaleesi - murmurou Jhiqui, na língua dothraki. - Isso é sabido.
- É sabido - concordou Irri.
- Trinta teria sido melhor - Daenerys concordou. - Trezentas, melhor ainda. Mas treze podem ser suficientes para nos levar a Westeros.
As duas garotas Dothraki trocaram um olhar.
- A água envenenada é amaldiçoada, Khaleesi - disse Irri. - Cavalos não podem ingeri-la.
- Não pretendo bebê-la - Dany prometeu.
Apenas quatro peticionários aguardavam por ela naquela manhã. Como sempre, Lorde Ghael foi o primeiro a se apresentar, parecendo ainda mais miserável do que de costume.
- Vossa Iluminada - gemeu, ao cair no mármore, sob os pés dela - os exércitos dos yunkaítas descem sobre Astapor. Eu imploro, vá ao sul com toda a sua força.
- Eu avisei ao seu rei de que essa guerra era uma insensatez - Dany recordou. - Ele não me ouviu.
- O Grande Cleon pretendia apenas destruir os vis comerciantes de escravos de Yunkai.
- O Grande Cleon é um comerciante de escravos também.
- Eu sei que a Mãe de Dragões não nos abandonará na hora em que estamos em perigo. Mande seus Imaculados defenderem nossas muralhas.
E, se eu fizer isso, quem defenderá minhas muralhas?
- Muitos dos meus libertos eram escravos em Astapor. Talvez alguns deles desejem ajudar a defender seu rei. É escolha deles, como homens livres. Dei liberdade para Astapor. Vocês devem defendê-la.
- Estamos todos mortos, então. Você nos deu a morte, não liberdade. - Ghael ficou em pé em um salto e cuspiu no rosto dela.
Belwas, o Forte, o agarrou pelo ombro e o atirou contra o mármore com tanta força que Dany ouviu os dentes dele quebrarem. O Cabeça-Raspada teria feito pior, mas ela o impediu.
- Basta - disse, limpando o rosto com a ponta do tokar. - Ninguém jamais morreu por uma cuspida. Levem-no daqui.
Eles o arrastaram pelos pés, deixando vários dentes quebrados e um rastro de sangue. Dany ficaria satisfeita em dispensar os outros peticionários ... mas ainda era a rainha, então escutou cada um deles e fez o melhor para que tivessem justiça.
No final daquela tarde, o Almirante Groleo e Sor Barristan retornaram da inspeção das galés. Dany reuniu seu conselho para ouvi-los. Verme Cinzento estava lá pelos Imaculados, Skahaz mo Kandaq pelas Bestas de Bronze. Na ausência de seus companheiros de sangue, um encarquilhado jaqqa rhan chamado Rommo, vesgo e de pernas arqueadas, falava pelos dothrakis. Seus libertos eram representados pelos capitães das três companhias que ela formara: Mollono Yos Dob dos Escudos Robustos, Symon Costas-Listradas dos Irmãos Livres e Marselen dos Homens da Mãe. Reznak mo Reznak permanecia sentado ao lado da rainha e Belwas, o Forte, estava em pé atrás dela, com os enormes braços cruzados. Dany não teria falta de conselhos.
Groleo tornara-se o homem mais infeliz do mundo desde que seu navio fora destruído no cerco que tomara Meereen. Dany tentara consolá-lo nomeando-o Senhor Almirante, mas era uma honra vazia; a frota meereenese partira para Yunkai quando as forças de Dany se aproximaram da cidade, então o velho pentoshi era um almirante sem navios. No entanto, agora ele sorria por detrás da barba manchada de sal de uma maneira que a rainha quase não se lembrava.
- Os navios são sólidos, então? - ela perguntou, esperançosa.
- Sólidos o suficiente, Vossa Graça. São navios velhos, sim, mas a maioria bem-conservada. O casco do Princesa Purossangue está carcomido. Eu não gostaria de levá-lo para longe da costa. O Narraqqa pode precisar de novos lemes e linhadas, e o Lagarto Listrado tem alguns remos rachados, mas vão servir. Os remadores são escravos, mas, se oferecermos um pagamento honesto, a maioria ficará com a gente. Remar é tudo o que sabem fazer. E os que partirem podem ser substituídos pela minha tripulação. É uma longa e difícil viagem até Westeros, mas esses navios são sólidos o bastante para nos levar até lá, acredito.
Reznak mo Reznak deu um gemido comovente.
- Então é verdade. Vossa Adoração pretende nos abandonar. - Torceu as mãos. - Os yunkaítas vão trazer os Grandes Mestres de volta no momento em que partir, e aqueles que a serviram fielmente serão passados pela espada, nossas doces esposas e filhas donzelas serão estupradas e escravizadas.
- Não as minhas - grunhiu Skahaz Cabeça-Raspada. - Eu mato elas antes, com minhas próprias mãos. - Deu um tapa no cabo da espada.
Dany sentiu como se o tapa tivesse sido em seu rosto.
- Se teme o que pode acontecer quando eu partir, venha comigo para Westeros.
- Aonde quer que a Mãe de Dragões vá, os Homens da Mãe também irão - anunciou Marselen, o irmão que restava de Missandei.
- Como? - questionou Symon Costas-Listradas, que recebeu esse nome pelo emaranhado de cicatrizes entrelaçadas em suas costas e ombros, uma lembrança das chicotadas que recebeu quando era escravo em Astapor. - Treze navios ... não são suficientes. Cem navios podem não ser suficientes.
- Cavalos de madeira não são bons - objetou Rommo, o velho jaqqa rhan. - Os dothrakis vão cavalgando.
- Estes aqui podem marchar por terra, ao longo da costa - sugeriu Verme Cinzento. - Os navios podem manter o ritmo e reabastecer a coluna.
- Isso daria certo até alcançar as ruínas de Bhorash - disse o Cabeça-Raspada. - Depois disso, os navios teriam que voltar-se para sul, passar Tolos e a Ilha de Cedros, e contornar Valíria, enquanto as forças a pé continuariam até Mantarys pelo velho caminho do dragão.
- Caminho do demônio, é chamado agora - disse Mollono Yos Dob. O roliço comandante dos Escudos Robustos parecia mais um escriba do que um soldado, com as mãos manchadas de tinta e a pesada pança, mas era bem esperto. - Muitos de nós vão morrer.
- Os que forem deixados para trás, em Meereen, vão invejar essa morte fácil - gemeu Reznak. - Eles nos escravizarão, ou nos jogarão nas arenas. Tudo será como antes, ou pior.
- Onde está a coragem de vocês? - Sor Barristan atacou. - Vossa Graça os libertou das correntes. É para vocês afiarem as espadas e defenderem sua liberdade quando ela partir.
- Bravas palavras, de alguém que pretende navegar para o pôr do sol - Symon Costas-Listradas rosnou de volta. - Vai olhar para trás para ver nossa morte?
- Vossa Graça ...
- Magnificência ...
- Vossa Adoração ...
- Basta! - Dany bateu na mesa. - Ninguém será deixado para morrer. Vocês todos são meu povo. - Seus sonhos de lar e amor a tinham cegado. - Não abandonarei Meereen ao destino de Astapor. Sinto muito dizer, mas Westeros deve esperar.
Groleo ficou horrorizado.
- Devemos aceitar esses navios. Se recusarmos esse presente...
Sor Barristan ajoelhou-se diante dela.
- Minha rainha, seu reino precisa de você. Você não é bem-vinda aqui, mas em Westeros os homens se juntarão aos seus estandartes aos milhares, grandes senhores e nobres cavaleiros. “Ela está de volta”, gritarão uns para os outros, em vozes alegres. “A irmã do Príncipe Rhaegar voltou para casa finalmente”
- Se me amam tanto, esperarão por mim. - decidiu Dany. - Reznak, convoque Xaro Xhoan Daxos.
Ela recebeu o príncipe mercador sozinha, sentada em seu banco de ébano polido, com as almofadas que Sor Barristan trouxera para ela. Quatro marujos qartenos o acompanhavam, carregando uma tapeçaria enrolada sobre os ombros.
- Trouxe outro presente para a rainha do meu coração - Xaro anunciou. - Está nos cofres da minha família desde antes da Condenação que assolou Valíria.
Os marujos desenrolaram a tapeçaria pelo chão. Era velha, empoeirada, desbotada ... e enorme. Dany teve que ir para o lado de Xaro para que o desenho ficasse claro.
- Um mapa? É lindo. - Cobria metade do chão. Os mares eram azuis, as terras, verdes, as montanhas, negras e marrons. Cidades eram mostradas como estrelas bordadas com fios dourados ou prateados. Não há Mar Fumegante, ela percebeu. Valíria não era ainda uma ilha.
- Aqui você vê Astapor, Yunkai e Meereen. - Xaro apontou para as três estrelas prateadas ao lado do azul da Baía dos Escravos. - Westeros está... em algum lugar ali. - Sua mão acenou vagamente em direção ao final do salão. - Você virou para o norte quando devia ter continuado para sul e para oeste, através do Mar de Verão, mas com meu presente logo estará no lugar ao qual pertence. Aceite minhas galés com o coração alegre e vire seus remos para o oeste.
Eu iria, se pudesse.
- Senhor, eu alegremente aceitaria esses navios, mas não posso lhe fazer a promessa que pediu. - Ela pegou a mão dele. - Me dê essas galés, e eu juro que Qarth terá a amizade de Meereen até as estrelas se apagarem. Deixe-me negociar com eles, e terá boa parte dos lucros.
O belo sorriso de Xaro morreu em seus lábios.
- O que está me dizendo? Está me dizendo que não partirá?
- Não posso partir.
Lágrimas brotaram dos olhos dele, escorrendo pelo nariz, passando por esmeraldas, ametistas e diamantes negros.
- Eu disse aos Treze que você prestaria atenção à minha sabedoria. Me entristece saber que estava enganado. Pegue esses navios e navegue para longe, ou certamente morrerá gritando. Você não tem ideia de quantos inimigos fez.
Sei que um está diante de mim agora, chorando lágrimas de crocodilo. Perceber isso a deixou triste.
- Quando fui ao Salão dos Mil Tronos e implorei por sua vida, disse que você não era mais do que uma criança - continuou Xaro - mas Egon Emeros, o Requintado, levantou-se e disse: “Ela é uma criança tola, louca, imprudente e muito perigosa para viver”. Quando seus dragões eram pequenos, eram uma maravilha. Crescidos, são morte e devastação, uma espada flamejante sobre o mundo. - Ele limpou as lágrimas. - Eu devia ter matado você em Qarth.
- Eu era uma convidada sob seu teto, comi de sua comida e bebi seu hidromel - ela disse. - Em memória a tudo o que você fez por mim, perdoarei essas palavras ... uma vez ... Mas nunca mais pense em me ameaçar novamente.
- Xaro Xhoan Daxos não ameaça. Ele promete.
A tristeza dela se transformou em fúria.
- E eu prometo que se você não partir antes que o sol nasça, saberemos quantas lágrimas de mentira são necessárias para aplacar fogo de dragão. Deixe-me, Xaro. Imediatamente.
Ele saiu, mas deixou seu mapa-múndi para trás. Dany sentou-se no banco novamente e olhou através do mar de seda azul, em direção à distante Westeros. Um dia, prometeu para si mesma.
Na manhã seguinte a galé de Xaro havia partido, mas o “presente” que ele trouxera ficara na Baía dos Escravos. Longas flâmulas vermelhas tremulavam nos mastros das treze galés qartenas, contorcendo-se ao vento. E, quando Daenerys desceu para as audiências do dia, um mensageiro dos navios a aguardava. Não disse palavra alguma, mas colocou sob os pés dela uma almofada de cetim negro, na qual repousava uma luva ensanguentada.
- O que é isso? - Skahaz exigiu saber. - Uma luva ensanguentada ...
- ... Significa guerra - disse a rainha. 

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