sexta-feira, 27 de setembro de 2013

20 - FEDOR


Eles lhe deram um cavalo, um estandarte, um gibão de lã macia e uma capa quente de pele e o deixaram solto. E, pela primeira vez, ele não fedia.
- Volte com aquele castelo - disse Damon-Dance-para-Mim enquanto ajudava Fedor a subir trêmulo na sela - ou vá embora e veja o quão longe consegue ir antes que apanhemos você. Ele gostaria disso, ele gostaria. - Sorrindo, Damon deu uma chicotada na traseira do cavalo, e o velho pangaré relinchou e se pôs a caminho.
Fedor não ousava olhar para trás, com medo de que Damon, Caralho Amarelo, Grunhido e o resto deles o seguissem, que tudo aquilo fosse mais uma das brincadeiras de Lorde Ramsay, algum teste cruel para ver o que faria se lhe dessem um cavalo e o libertassem. Acham que eu fugiria? O pangaré no qual montava era uma coisa miserável, com joelhos tortos e meio morto de fome; ele nunca esperaria ultrapassar os finos cavalos de Lorde Ramsay e de seus caçadores em uma corrida. E Ramsay adorava soltar suas garotas para que latissem nas trilhas, atrás de alguma presa fresca.
Além do mais, para onde fugiria? Atrás dele estavam os acampamentos, cheios de homens do Forte do Pavor e aqueles que Ryswell havia trazido dos Regatos, com as tropas de Vila Acidentada entre eles. Ao sul de Fosso Cailin, outro exército subia a estrada, um exército de Boltons e Freys marchando sob os estandartes do Forte do Pavor. A leste da estrada havia uma costa desolada e árida e um gelado mar salgado; a oeste, os brejos e os atoleiros do Gargalo, infestados de serpentes, lagartos-leões e demônios do pântano com suas flechas envenenadas.
Ele não fugiria. Não podia fugir.
Entregarei o castelo para ele. Eu vou. Eu devo.
Era um dia cinzento, molhado e enevoado. O vento vinha do sul, úmido como um beijo. As ruínas de Fosso Cailin eram visíveis ao longe, mergulhadas na névoa da manhã. Seu cavalo se moveu em direção a elas, os cascos fazendo um leve som de chapinhado enquanto saíam da lama verde-acinzentada.
Já fiz este caminho antes. Era um pensamento perigoso, do qual se arrependeu imediatamente.
- Não - disse - não, esse era outro homem, foi antes de você saber seu nome. - O nome dele era Fedor. Tinha que se lembrar disso. Fedor, Fedor, que rima com licor.
Quando aquele outro homem fizera este caminho, um exército o seguia de perto, a grande tropa do Norte cavalgando para a guerra sob o estandarte cinza e branco da Casa Stark. Fedor cavalgava sozinho, carregando um estandarte de paz em um ramo de pinheiro. Quando aquele outro homem fizera este caminho, montava um corcel, rápido e vigoroso. Fedor cavalgava um pangaré quebrado, todo pele, ossos e costelas, e cavalgava devagar, com medo de que o animal caísse. O outro homem fora um bom cavaleiro, mas Fedor se agarrava inseguro no lombo do cavalo. Fora havia tanto tempo. Ele não era um cavaleiro. Não era nem mesmo um homem. Era uma criatura de Lorde Ramsay, menos que um cão, um verme em forma humana.
- Você vai fingir ser um príncipe - Lorde Ramsay dissera para ele na noite passada, enquanto Fedor era mergulhado em uma banheira de água escaldante - mas sabemos a verdade. Você é Fedor. Sempre será Fedor, não importa o quão cheiroso esteja. Seu nariz pode mentir para você. Lembre-se de seu nome. Lembre-se de quem você é.
- Fedor - ele respondera. - Seu Fedor.
- Faça essa coisinha para mim, e poderá ser meu cão e comer carne todos os dias - Lorde Ramsay prometera. - Você ficará tentado a me trair. A fugir, a lutar ou a se juntar aos nossos inimigos. Não, quieto, não quero ouvir você negando isso. Minta para mim, e arranco sua língua. Um homem se voltaria contra mim no seu lugar, mas sabemos o que você é, não é? Me traia se quiser, não importa ... mas conte seus dedos primeiro, você sabe o preço.
Fedor sabia o preço. Sete, pensou, sete dedos. Um homem pode se contentar com sete dedos. Sete é um número sagrado. Ele se lembrava do quanto doera quando Lorde Ramsay ordenara que Peleiro esfolasse seu dedo anelar.
O ar estava úmido e pesado, e piscinas rasas de água pontilhavam o chão. Fedor abria caminho entre elas cuidadosamente, seguindo os restos da estrada de troncos e tábuas que a vanguarda de Robb Stark fizera no solo macio para apressar a passagem das tropas. Onde certa vez existira uma muralha coberta, sobravam apenas pedras espalhadas, blocos de basalto negro tão grandes que deviam ter sido colocados no lugar por uma centena de homens. Alguns haviam afundado tão profundamente no pântano que somente uma ponte era vista; outros permaneciam jogados como brinquedos abandonados de algum deus, rachados e se desintegrando, manchados de líquen. A chuva da noite anterior deixara as enormes pedras molhadas e reluzentes; a luz do sol da manhã fazia que parecessem revestidas de uma fina camada de óleo negro.
Um pouco além estavam as torres.
A Torre do Bêbado inclinava-se como se estivesse prestes a cair, exatamente como estivera por quinhentos anos. A Torre dos Filhos erguia-se para o céu, tão reta quanto uma lança, mas sua parte superior estava aberta para o vento e para a chuva. A Torre do Portão, atarracada e espaçosa, era a maior das três, coberta de musgo, com uma árvore retorcida crescendo nas pedras, na face norte, e fragmentos da muralha quebrada ainda no leste e no oeste. Os Karstark tomaram a Torre do Bêbado e os Umber, a Torre dos Filhos, ele se lembrava. Robb exigira a Torre do Portão para si.
Se fechasse os olhos, podia ver os estandartes em sua mente, agitando-se bravamente no vivo vento norte. Todos se foram agora, todos caíram. O vento em seu rosto soprava do sul, e o único estandarte sobre as ruínas de Fosso Cailin mostrava uma lula gigante dourada em um campo negro.
Estava sendo observado. Podia sentir os olhares. Quando olhou para cima, vislumbrou rostos pálidos espiando por trás das ameias da Torre do Portão e através da alvenaria quebrada que coroava a Torre dos Filhos, onde, segundo a lenda, os filhos da floresta certa vez invocaram o martelo das águas para partir as terras de Westeros em dois.
O único caminho seco através do Gargalo era a estrada, e as torres do Fosso Cailin ficavam em sua extremidade norte como uma rolha em uma garrafa. A estrada era estreita, as ruínas posicionadas de modo a obrigar que os inimigos que viessem do sul passassem por baixo e entre elas. Para assaltar qualquer uma das três torres, um atacante teria que expor sua retaguarda às flechas das outras duas, enquanto escalava paredes de pedra úmida cobertas de pele-de-fantasma, um musgo branco e viscoso. As terras pantanosas ao redor da estrada eram intransitáveis, um atoleiro sem fim de rodamoinhos sugadores, areia movediça e reluzentes gramados verdes que pareciam sólidos para olhos incautos, mas que se transformavam em água no instante em que se pisava neles, tudo ali completamente infestado de serpentes, flores venenosas e monstruosos lagartos-leões com dentes que eram como adagas. Tão perigosos quanto as pessoas que viviam ali, raramente vistas, mas sempre à espreita, os moradores do pântano, os comedores de sapo, os homens lama. Fenn, Reed, Peat, Boggs, Cray, Quagg, Greengood e Blackmyre, era esse tipo de nome que davam a si mesmos. Os homens de ferro os chamavam de demônios do pântano.
Fedor passou pela carcaça podre de um cavalo, com uma flecha espetada no pescoço. Uma serpente longa e branca deslizou da órbita vazia do olho do animal quando o homem se aproximou. Atrás do cavalo, pôde ver o cavaleiro, ou o que restara dele. Os corvos haviam arrancado a carne do seu rosto, e um cão feroz havia escavado sob a cota de malha para comer suas entranhas. Mais adiante, outro corpo afundara tanto na lama que era possível ver apenas o rosto e os dedos.
Mais perto das torres, cadáveres estavam espalhados por todos os lados. Vermes brotavam das feridas abertas, como pálidas flores cujas pétalas gordas e úmidas eram como os lábios de uma mulher.
A guarnição nunca me reconhecerá. Alguns poderiam se lembrar do garoto que fora antes de aprender seu nome, mas Fedor seria um estranho para eles. Fazia muito tempo desde que olhara em um espelho, mas sabia como devia parecer velho. Seu cabelo se tornara branco; a maior parte caíra, mas o que restara estava duro e seco como palha. Os calabouços o haviam deixado fraco como uma mulher velha e tão magro que um vento forte podia derrubá-lo.
E as mãos dele ... Ramsay lhe dera luvas, luvas finas de couro negro, macias e flexíveis, recheadas com lã para esconder os dedos que faltavam, mas se alguém olhasse de perto poderia ver que três de seus dedos não dobravam.
- Não se aproxime! - uma voz gritou. - O que você quer?
- Conversar. - Ele avançou com o pangaré, agitando o estandarte de paz para que ninguém deixasse de vê-lo. - Vim desarmado.
Ninguém respondeu. Dentro das muralhas, sabia, os homens de ferro discutiam se deviam deixá-lo entrar ou se enchiam seu peito de flechas. Não fazia diferença. Uma morte rápida seria cem vezes melhor do que retornar para Lorde Ramsay como um fracassado.
Então os portões foram escancarados.
- Rápido.
Fedor estava se virando em direção ao som quando a flecha o atingiu. Veio de algum lugar à sua direita onde pedaços quebrados da parede estavam meio submersos no pântano. A seta rasgou as dobras de seu estandarte e ficou pendurada, a menos de um palmo de seu rosto. Ele se assustou tanto que derrubou o estandarte de paz e caiu da sela.
- Para dentro - a voz gritou - rápido, idiota, rápido!
Fedor se arrastou escada acima com as mãos e os joelhos enquanto outra flecha passava sobre sua cabeça. Alguém o agarrou e o puxou para dentro, e ele ouviu a porta se fechando. Foi colocado em pé e arremessado contra uma parede. Então havia uma faca em sua garganta e um rosto barbudo tão próximo que podia contar os pelos do nariz do homem.
- Quem é você? O que quer aqui? Rápido, ou farei o mesmo que fiz com ele. - O guarda acenou com a cabeça em direção a um corpo apodrecendo no chão ao lado da porta, a carne esverdeada e coberta de vermes.
- Sou um homem de ferro - Fedor respondeu, mentindo. O rapaz que ele fora no passado havia sido um homem de ferro, é verdade, mas Fedor viera ao mundo nos calabouços do Forte do Pavor. - Olhe para meu rosto. Sou o filho de Lorde Balon. Seu príncipe. - Ele poderia ter dito o nome, mas de alguma forma as palavras ficaram presas em sua garganta. Fedor, sou Fedor, que rima com clamor. Mas teria que se esquecer disso por enquanto. Nenhum homem se renderia a uma criatura como Fedor, não importa quão desesperada fosse sua situação. Devia fingir ser um príncipe novamente.
O captor olhou para seu rosto, apertando os olhos, a boca torta com a suspeita. Os dentes eram marrons e o hálito fedia a cerveja e cebola.
- Os filhos de Lorde Balon foram mortos.
- Meus irmãos. Não eu. Lorde Ramsay me fez cativo depois de Winterfell. Me mandou aqui para negociar com vocês. Você comanda aqui?
- Eu? - O homem abaixou a faca e deu um passo para trás, quase tropeçando sobre o cadáver. - Eu não, senhor. - Sua cota de malha estava enferrujada, seus couros, apodrecidos. Nas costas de uma das mãos, uma ferida aberta sangrava. - Ralf Kenning está no comando. O capitão disse. Eu estou na porta, só isso.
- E quem é este? - Fedor deu um chute no cadáver.
O guarda encarou o morto como se o visse pela primeira vez.
- Ele ... ele bebeu a água. Tive que cortar a garganta dele, para que parasse de gritar. Intestino ruim. Não podemos beber água. Por isso tomamos cerveja. - O guarda esfregou o rosto, os olhos vermelhos e inflamados. - Costumávamos arrastar os mortos para as adegas. Todos os porões estão inundados aqui. Ninguém quer se dar ao trabalho agora, então os deixamos onde eles caem.
- A adega é um lugar melhor para eles. Devem ser dados para a água. Para o Deus Afogado.
O homem riu.
- Não há deuses aqui, senhor. Apenas ratos e cobras-d'água. Coisas brancas, grossas como sua perna. Algumas vezes elas deslizam escada acima e o mordem enquanto você dorme.
Fedor se lembrou dos calabouços sob o Forte do Pavor, o rato se contorcendo entre seus dentes, o gosto de sangue quente nos lábios. Se eu falhar, Ramsay vai me mandar de volta para lá, mas primeiro vai esfolar a pele de outro dedo.
- Quantos sobraram da guarnição?
- Alguns - disse o homem de ferro. - Não sei. Menos do que antes. Há alguns na Torre do Bêbado também. Nenhum na Torre dos Filhos. Dagon Codd esteve lá há poucos dias. Apenas dois homens estavam vivos, disse, e estavam comendo os mortos. Ele matou ambos, se é que se pode acreditar nisso.
Fosso Cailin caiu, Fedor percebeu, só que ninguém se deu ao trabalho de avisá-los. Esfregou a boca para esconder os dentes quebrados e disse:
- Preciso falar com seu comandante.
- Kenning? - O guarda pareceu confuso. - Ele não tem muito a dizer nestes dias. Está morrendo. Talvez já esteja morto. Não vejo ele desde ... não lembro quando ...
- Onde ele está? Leve-me até ele.
- E quem vai guardar a porta?
- Ele. - Fedor deu um chute no cadáver.
Aquilo fez o homem rir.
- Sim. Por que não? Venha comigo, então. - Tirou a tocha de um candeeiro da parede e a agitou até que a chama ficasse brilhante e quente. - Por aqui. - O guarda o levou através de uma porta e por uma escada em espiral, a luz da tocha iluminando as paredes de pedra negra enquanto subiam.
A câmara no topo dos degraus estava escura, esfumaçada e opressivamente quente. Uma pele esfarrapada havia sido pendurada na janela estreita para manter a umidade do lado de fora, e um pedaço de turfa ardia lentamente em um braseiro. O cheiro no quarto era desagradável, uma mistura de mofo, urina e excrementos, de fumaça e doença. Juncos sujos cobriam o chão, enquanto um monte de palha num canto passava por uma cama.
Ralf Kenning tremia sob uma montanha de peles. Suas armas estavam empilhadas ao lado: espada e machado, cota de malha, elmo de ferro. Seu escudo trazia a mão do rei da tempestade entre nuvens, soltando relâmpagos de seus dedos sobre um mar agitado, mas a pintura estava desbotada e descascada, e a madeira embaixo começava a apodrecer.
Ralf estava apodrecendo também. Embaixo das peles, estava nu e febril, a pele pálida e inchada coberta com feridas abertas e crostas. A cabeça estava disforme, uma bochecha grotescamente inchada, o pescoço tão cheio de sangue que ameaçava engolir seu rosto. O braço do mesmo lado estava grande como uma tora e coberto de vermes brancos. Pela sua aparência, ninguém o banhava ou o barbeava havia dias. Um olho vazava pus e a barba estava incrustada de vômito seco.
- O que aconteceu com ele? - perguntou Fedor.
- Ele estava nos parapeitos e algum demônio do pântano acertou uma flecha nele. Foi só um arranhão, mas ... eles envenenam as setas, esfregam as pontas na merda ou em coisas piores. Jogamos vinho fervente na ferida, mas não fez diferença.
Não posso tratar com esta coisa.
- Mate-o - Fedor disse ao guarda. - Seu juízo já se foi. Ele está cheio de sangue e vermes.
O homem olhou para ele, boquiaberto.
- O capitão o colocou no comando.
- Você derrubaria um cavalo moribundo.
- Que cavalo? Nunca tive um cavalo.
Eu já. A lembrança veio de repente. Os gritos de Sorridente soaram quase humanos. Com a crina em chamas, ele se levantara sobre as patas traseiras, cego de dor, atacando com os cascos. Não, não. Não era meu, ele não era meu, Fedor nunca teve um cavalo.
- Eu o matarei para você. - Fedor pegou a espada de Ralf Kenning de onde ela se apoiava contra o escudo. Ainda tinha dedos suficientes para segurar o cabo. Quando pressionou a ponta da lâmina contra a garganta inchada da criatura sobre a palha, a pele se abriu em uma gota de sangue negro e pus amarelo. Kenning se sacudiu violentamente, depois ficou imóvel. Um cheiro horrível tomou o quarto. Fedor correu para as escadas. O ar estava úmido e frio ali, mas muito mais limpo em comparação. O homem de ferro tropeçou atrás dele, pálido e se segurando para não vomitar. Fedor o agarrou pelo braço.
- Quem era o segundo em comando? Onde está o resto dos homens?
- Nas ameias ou no salão. Dormindo, bebendo. Levo você até eles, se quiser.
- Faça isso agora. - Ramsay só lhe dera um dia.
O salão era de pedra escura, o teto alto e com correntes de ar, cheio de fumaça e com enormes manchas de líquen claro nas paredes. Um fogo de turfa queimava lentamente em um forno enegrecido por chamas mais quentes de anos passados. Uma mesa maciça de pedra esculpida enchia a câmara, havia séculos. Foi ali que sentei na última vez que estive aqui, lembrou-se. Robb estava na cabeceira da mesa, com Grande-Jon à sua direita e Roose Bolton à sua esquerda. Os Glover estavam sentados perto de Helman Tallhart. Karstark e seus filhos estavam na frente deles.
Duas dúzias de homens de ferro estavam sentados à mesa, bebendo. Quando entrou, poucos olharam para ele, dirigindo-lhe um olhar entediado. Os demais o ignoraram. Todos os homens eram estranhos para ele. Muitos usavam capas presas por broches no formato de bacalhaus de prata. Os Codd não eram bem vistos nas Ilhas de Ferro; dizia-se que os homens eram ladrões e covardes, e as mulheres, devassas que se deitavam com seus pais e irmãos. Não o surpreendia que seu tio tivesse decidido deixar esses homens para trás quando a Frota de Ferro foi para casa. Isso tornará minha tarefa muito mais fácil.
- Ralf Kenning está morro - disse. - Quem comanda aqui?
Os bebedores o encararam fixamente. Um riu. Outro cuspiu. Finalmente, um dos Codd disse:
- Quem quer saber?
- O filho de Lorde Balon. - Fedor, meu nome é Fedor, e rima com sabor. - Estou aqui sob comando de Ramsay Bolton, Lorde de Hornwood e herdeiro do Forte do Pavor, que me capturou em Winterfell. A tropa dele está ao norte daqui, a de seu pai vem do sul, mas Lorde Ramsay está disposto a ser misericordioso se vocês entregarem Fosso Cailin antes que o sol se ponha. - Pegou a carta que lhe tinham dado e jogou na mesa, diante dos bebedores.
Um deles pegou-a e ficou virando-a nas mãos, cutucando a cera rosa que a selava. Depois de um momento, disse:
- Pergaminho. Quem quer isso? É de queijo que precisamos, e carne.
- Aço, você quer dizer - falou o homem que estava atrás dele, um de barba cinzenta cujo braço esquerdo terminava em um toco. - Espadas. Machados. Sim, e arcos, mais de cem arcos, e homens para atirar flechas.
- Os homens de ferro não se rendem - disse uma terceira voz.
- Diga isso ao meu pai. Lorde Balon ajoelhou-se quando Robert arrebentou suas muralhas. De outra forma, teria morrido. Como acontecerá com vocês, se não se renderem. - Apontou para o pergaminho. - Quebre o selo. Leia as palavras. Isso é um salvo-conduto, escrito pela própria mão de Lorde Ramsay. Abaixem as espadas e venham comigo, e sua senhoria os alimentará e os deixará marchar sem serem molestados até a Costa Rochosa, onde encontrarão navios que os levem para casa. De outra forma, morrerão.
- Isso é uma ameaça? - Um dos Codd se levantou. Um homem grande, mas de olho arregalado e boca larga, com carne branca morta. Parecia que seu pai o gerara em um peixe, mas mesmo assim tinha uma espada longa. - Dagon Codd não se rende a ninguém.
Não, por favor, vocês têm que escutar. O pensamento do que Ramsay faria se ele se arrastasse de volta ao acampamento sem a rendição da guarnição era quase suficiente para fazê-lo mijar nos calções. Fedor, Fedor, que rima com terror.
- É esta a sua resposta? - As palavras soaram debilmente em seus ouvidos. - Esse bacalhau fala por todos vocês?
O guarda que o encontrara na porta parecia menos seguro.
- Victarion ordenou a todos nós que esperássemos. Ouvi com meus próprios ouvidos. Fiquem aqui até eu retornar, ele disse para Kenning.
- Sim - disse o homem de um braço só. - Foi o que ele disse. A assembleia de homens livres o chamou, mas ele jurou que voltaria, com uma coroa de madeira do mar na cabeça e mil homens com ele.
- Meu tio nunca voltará - Fedor contou para eles. - A assembleia de homens livres coroou seu irmão Euron, e o Olho de Corvo tem outras guerras para lutar. Vocês pensam que meu tio valoriza vocês? Não valoriza. Vocês são aqueles que ele deixou para trás, para morrer. Livrou-se de vocês do mesmo jeito que se livra da lama em suas botas quando vem para terra firme.
As palavras os atingiram em cheio. Podia ver nos olhos deles, no jeito que olhavam uns para os outros, ou franziam a testa sobre seus copos. Todos temiam ter sido abandonados, e tive que transformar esse medo em certeza. Esses homens não eram parentes de capitães famosos, nem tinham o sangue das grandes Casas das Ilhas de Ferro. Eram filhos de escravos e de esposas de sal.
- Se nos rendermos, poderemos ir embora? - disse o homem de um braço. - É isso que você diz que está escrito aqui? - Cutucou o rolo de pergaminho, o selo de cera ainda intacto.
- Leia você mesmo - ele respondeu, embora tivesse quase certeza de que nenhum deles sabia ler. - Lorde Ramsay trata seus cativos de maneira honrada, enquanto permanecerem fiéis a ele. - Ele só tirou os dedos dos pés e das mãos e aquela outra coisa, quando podia ter arrancado minha língua ou esfolado minhas pernas do calcanhar até a coxa. - Rendam suas espadas, e viverão.
- Mentiroso. - Dagon Codd desembainhou sua espada. - Você é aquele que chamam de vira-casaca. Por que deveríamos acreditar em suas promessas?
Ele está bêbado, Fedor percebeu. A cerveja está falando.
- Acredite no que quiser. Eu trouxe a mensagem de Lorde Ramsay. Agora preciso voltar para ele. Jantaremos javalis e nabos, regados com vinho tinto forte. Aqueles que vierem comigo serão bem-vindos ao banquete. O restante vai morrer em um dia. O Senhor do Forte do Pavor está trazendo cavaleiros estrada acima, enquanto seu filho lidera seus próprios homens para cá, vindos do norte. Nenhuma instalação está garantida. Aqueles que morrerem lutando serão os sortudos. Os que viverem serão entregues aos demônios dos pântanos.
- Chega! - rosnou Dagon Codd. - Acha que pode assustar os homens de ferro com palavras? Vá embora. Corra para seu mestre antes que eu abra sua barriga, puxe suas tripas para fora e faça você comê-las.
Ele poderia ter dito mais, mas de repente seus olhos se arregalaram. Um machado de arremesso atingiu o centro de sua testa com um sólido impacto. A espada de Codd caiu de seus dedos. Ele estremeceu como um peixe em um anzol e caiu de: cara sobre a mesa.
Fora o homem de um braço só que arremessara o machado. E, enquanto se levantava, já tinha outro nas mãos.
- Quem mais quer morrer? - perguntou para os outros bebedores. - Fale, que providencio. - Finas correntes de sangue se espalhavam pela mesa, saindo da poça de sangue onde a cabeça de Dagon Codd caíra. - Pretendo viver, e isso não significa ficar aqui para apodrecer.
Um homem tomou um gole de cerveja. Outro virou seu copo para lavar o sangue que escorria, antes que alcançasse o lugar em que estava sentado. Ninguém falou. Quando o homem de um braço guardou o machado de arremesso no cinto, Fedor sabia que tinha vencido. Quase se sentiu um homem novamente. Lorde Ramsay ficará satisfeito comigo.
Arrancou o estandarte da lula gigante com as duas mãos, um pouco desajeitado por causa dos dedos que faltavam, mas graças aos dedos que Lorde Ramsay lhe permitira manter. Foi necessária grande parte da tarde para que os homens de ferro se aprontassem para partir.
Havia mais soldados do que ele imaginara: quarenta e sete na Torre do Portão e outros dezoito na Torre do Bêbado. Dois deles estavam tão próximos da morte que não havia mais esperança, e outros cinco estavam fracos demais para andar. Com isso, ainda restavam cinquenta e oito com força suficiente para lutar. Fracos como estavam, mesmo se fossem três vezes esse número, Lorde Ramsay teria tomado as ruínas. Ele fez bem em me mandar, Fedor disse para si mesmo enquanto montava no pangaré para liderar a esfarrapada coluna através dos campos pantanosos, até o acampamento dos nortenhos.
- Deixem suas armas aqui - disse aos prisioneiros. - Espadas, arcos, adagas. Homens armados serão mortos imediatamente.
Levaram três vezes mais tempo para percorrer a distância que Fedor havia feito sozinho. Macas rústicas foram feitas para quatro dos homens que não conseguiam andar; o quinto foi carregado pelo filho, nas costas. Era uma caminhada lenta, e todos os homens de ferro estavam cientes do quão expostos se encontravam, bem na mira dos arcos dos demônios dos pântanos e suas flechas envenenadas. Se morrer, morri. Fedor só rezava para que o arqueiro soubesse o que estava fazendo, e que sua morte fosse rápida e limpa. A morte de um homem, não o fim que Ralf Kenning sofreu.
O homem de um braço andava na frente da procissão, mancando muito. Seu nome, disse, era Adrack Humble, e tinha uma esposa de pedra e três esposas de sal que o esperavam na Grande Wyk.
- Três das quatro estavam barrigudas quando saí de lá - se gabou - e os Humble costumam ter gêmeos. A primeira coisa que preciso fazer quando voltar para casa é contar meus novos filhos. Talvez dê seu nome para um deles, senhor.
Sim, chame-o de Fedor, ele pensou, e, quando ele for mau, você pode cortar os dedos dele e dar para os ratos comerem. Virou a cabeça e cuspiu, e se perguntou se Ralf Kenning não teria sido o sortudo do grupo.
Uma garoa leve começara a cair do céu cinza-ardósia no momento em que o acampamento de Lorde Ramsay apareceu na frente deles. Uma sentinela os viu passar em silêncio. O ar estava cheio de fumaça das fogueiras afogadas pela chuva. Uma coluna de cavaleiros veio logo atrás, liderada por um fidalgote com uma cabeça de cavalo em seu escudo. Um dos filhos de Lorde Ryswell, Fedor soube. Roger, ou talvez Rickard. Ele não sabia quem era quem quando estavam separados.
- Estes são todos? - o cavaleiro perguntou, do alto de um garanhão castanho.
- Todos os que não estavam mortos, senhor.
- Achei que seriam mais. Nós os atacamos três vezes, e três vezes eles nos repeliram.
Somos homens de ferro, pensou, com um súbito clarão de orgulho, e por meio segundo era um príncipe novamente, o filho de Lorde Balon, o sangue de Pyke. Mas até mesmo pensar era perigoso. Tinha que lembrar seu nome. Fedor, meu nome é Fedor, que rima com rancor.
Estavam do lado de fora do acampamento quando os latidos de um bando de cães de caça indicou a aproximação de Lorde Ramsay. O Terror das Rameiras estava com ele, juntamente com meia dúzia de seus favoritos, Peleiro, Alyn Azedo, Damon-Dance-para-Mim e os Walder, o Grande e o Pequeno também. Os cães se juntaram ao redor deles, mordendo e rosnando para os estranhos. As garotas do Bastardo, Fedor pensou, antes de se lembrar que nunca, nunca, nunca deveria usar essa palavra na presença de Ramsay.
Fedor desceu da sela e se ajoelhou.
- Senhor, Fosso Cailin é seu. Aqui estão os últimos defensores.
- Tão poucos. Eu esperava mais. Estes são os tais inimigos teimosos. - Os olhos claros de Lorde Ramsay brilharam. - Vocês devem estar famintos. Damon, Alyn, cuidem deles. Vinho, cerveja e toda a comida que possam comer. Peleiro, mostre os feridos para nossos meistres.
- Sim, senhor.
Alguns dos homens de ferro murmuraram agradecimentos antes de cambalearem em direção às fogueiras no centro do acampamento. Um dos Codd até tentou beijar o anel de Lorde Ramsay, mas os cães o afastaram antes que se aproximasse, e Alison arrancou um pedaço de sua orelha. Mesmo com o sangue escorrendo pelo pescoço, o homem acenava, inclinava-se e louvava a misericórdia de sua senhoria.
Quando o último deles se foi, Ramsay Bolton voltou seu sorriso para Fedor. Agarrou-o pela nuca, puxou seu rosto para perto, beijou-o na face e sussurrou:
- Meu velho amigo, Fedor. Eles realmente o tomaram pelo príncipe deles? Que malditos tolos, esses homens de ferro. Os deuses estão rindo.
- Tudo o que querem é ir para casa, senhor.
- E o que você quer, meu doce Fedor? - Ramsay murmurou, tão suavemente quanto um amante. Seu hálito cheirava a vinho quente e cravo, tão doce. - Serviço tão valoroso merece uma recompensa. Não posso devolver seus dedos das mãos e dos pés, mas certamente há algo que você deve ter de mim. Devo libertá-lo, em vez disso? Liberá-lo de meu serviço? Quer ir com eles, voltar para suas ermas ilhas no frio mar cinzento e ser um príncipe novamente? Ou prefere ficar como meu leal servidor?
Uma faca fria percorreu sua espinha. Tenha cuidado, disse para si mesmo, tenha muito, muito cuidado. Não gostava do sorriso de sua senhoria, do jeito que seus olhos brilhavam, da saliva reluzente no canto da boca. Vira esses sinais antes. Você não é um príncipe. Você é Fedor, somente Fedor, que rima com torpor. Dê a resposta que ele quer.
- Senhor - disse - meu lugar é aqui, com você. Sou seu Fedor. Só quero servi-lo. Tudo o que peço ... um odre de vinho, isso seria recompensa suficiente para mim ... vinho tinto, o mais forte que tiver, todo o vinho que um homem possa beber...
Lorde Ramsay riu.
- Você não é um homem, Fedor. É apenas minha criatura. Mas terá seu vinho. Walder, providencie isso. E não tema, você não voltará para os calabouços, tem minha palavra como um Bolton. Faremos de você um cão, em vez disso. Carne todos os dias, e eu ainda lhe deixarei dentes suficientes para que coma. Você pode dormir entre minhas garotas. Ben, temos uma coleira para ele?
- Farei uma, senhor - disse o velho Ben Ossos.
O velho fez melhor do que isso. Naquela noite, além da coleira, havia um cobertor esfarrapado e meia galinha. Fedor teve que lutar com os cães pela carne, mas era a melhor refeição que tivera desde Winterfell.
E o vinho ... o vinho era escuro e azedo, mas forte. De cócoras entre os cães de caça, Fedor bebeu até a cabeça girar, vomitou, limpou a boca e bebeu mais um pouco. Depois, deitou-se de costas e fechou os olhos. Quando acordou, um cão lambia o vômito de sua barba e nuvens escuras cobriam a lua em formato de foice. Em algum lugar na noite, homens gritavam. Ele afastou o cachorro, virou-se e voltou a dormir.
Na manhã seguinte, Lorde Ramsay despachou três cavaleiros pela estrada, para avisar ao senhor seu pai que o caminho estava livre. O homem esfolado da Casa Bolton estava hasteado sobre a Torre do Portão, de onde Fedor havia arrancado a lula gigante dourada de Pyke. Ao longo da estrada de placas apodrecidas, estacas de madeira haviam sido enfiadas profundamente no solo pantanoso; lá cadáveres se decompunham, vermelhos e pingando. Sessenta e três, ele sabia, são sessenta e três deles. Um não tinha metade de um braço. Outro tinha um pergaminho enfiado entre os dentes, o selo de cera ainda intocado.
Três dias mais tarde, a vanguarda da tropa de Roose Bolton atravessou as ruínas e passou pela fileira de sentinelas macabras; quatrocentos Frey montados, vestidos de azul e cinza, as pontas de suas lanças brilhando todas as vezes que o sol saía de trás das nuvens. Dois dos filhos do velho Lorde Walder lideravam a frente.
Um deles era forte, com uma maciça mandíbula saliente e grossos braços musculosos. O outro tinha olhos famintos, muito próximos, o nariz pontudo, uma barba rala castanha que não chegava a esconder o queixo fraco, e a cabeça careca. Hosteen e Aenys. Ele se lembrou deles antes de saber seus nomes. Hosteen era um touro, difícil de se irritar, mas implacável depois que sua ira era despertada, e tinha a reputação de ser o mais feroz guerreiro de Lorde Walder. Aenys era mais velho, mais cruel e mais esperto; um comandante, não um espadachim. Ambos eram soldados experientes.
Os nortenhos seguiam atrás da vanguarda, com dificuldade, seus estandartes esfarrapados agitando-se ao vento. Fedor os viu passar. A maioria estava a pé, e havia muito poucos deles. Lembrava-se da grande tropa que marchara para o Sul com o Jovem Lobo, sob o lobo gigante de Winterfell. Vinte mil espadas e lanças haviam partido para a guerra com Robb, ou algo próximo disso, mas apenas dois em cada dez estavam voltando, e a maioria eram homens do Forte do Pavor.
Atrás, onde a força era mais concentrada, cavalgava um homem de armadura cinza-escura, por sobre uma túnica acolchoada de couro vermelho-sangue. Seus medalhões eram forjados no formato de cabeças humanas, com as bocas abertas em um grito de agonia. Dos ombros pendia uma capa de lã rosa, bordada com gotículas de sangue. Longas franjas de seda vermelha jorravam do alto do elmo fechado. Nenhum cranogmano matará Roose Bolton com uma flecha envenenada, Fedor pensou assim que o viu. Um carroção fechado gemia atrás dele, puxado por seis fortes cavalos de lida e defendido por arqueiros, na frente e na retaguarda. Cortinas de veludo azul-escuro escondiam os ocupantes do veículo de olhos observadores.
Mais atrás vinha o comboio de bagagem; carroças pesadas carregadas com provisões e pilhagens obtidas na guerra e carretas lotadas de feridos e aleijados. E, na traseira, mais Freys. Pelo menos mil deles, talvez mais: arqueiros, lanceiros, camponeses armados com foices e paus afiados, mercenários, arqueiros montados e mais uma centena de cavaleiros para comandá-los.
Com a coleira, acorrentado e envolto em trapos novamente, Fedor seguia com os outros cães nos calcanhares de Lorde Ramsay quando sua senhoria foi adiante para cumprimentar o pai. Mas, assim que o cavaleiro na armadura escura tirou o elmo, o rosto que surgiu não era o de ninguém que Fedor conhecesse. O sorriso de Ramsay se distorceu à visão, e a raiva assomou seu rosto.
- O que é isso? Alguma zombaria?
- Apenas precaução - murmurou Roose Bolton, enquanto saía de trás das cortinas do carroção fechado.
O Senhor de Forte do Pavor não tinha muita semelhança com seu filho bastardo. O rosto era bem barbeado, de pele lisa, comum, mas não tão simples. Embora Roose tivesse estado em batalhas, não mostrava cicatrizes. E, mesmo que tivesse passado dos quarenta, ainda não tinha rugas, com escassas linhas para mostrar a passagem do tempo. Seus lábios eram tão finos que, quando os pressionava, pareciam desaparecer. Havia algo sem idade nele, uma quietude; no rosto de Roose Bolton, raiva e alegria eram muito parecidas. Tudo o que ele e Ramsay tinham em comum eram os olhos. Seus olhos são feitos de gelo. Fedor se perguntava se Roose Bolton alguma vez chorara. Se chorou, será que as lágrimas correram geladas sobre sua face?
Certa vez, um rapaz chamado Theon Greyjoy se divertira zombando de Bolton quando ele se sentara no conselho com Robb Stark, ironizando sua voz suave e fazendo graça com suas sanguessugas. Ele devia estar louco. Este não é um homem com quem se deva brincar. Bastava olhar para Bolton para perceber que havia mais crueldade em seu dedinho do pé do que em todos os Frey juntos.
- Pai. - Lorde Ramsay se ajoelhou diante de seu senhor.
Lorde Roose o estudou por um momento.
- Pode se levantar. - E se virou para ajudar duas jovens mulheres a sair do carroção.
A primeira era baixa e muito gorda, com um rosto redondo e três queixos balançando sob uma capa de zibelina.
- Minha nova esposa - disse Roose Bolton. - Senhora Walda, este é meu filho natural. Beije a mão de sua madrasta, Ramsay. - Ele beijou. - E estou certo de que se lembra da Senhora Arya. Sua prometida.
A garota era mais magra e mais alta do que Fedor se lembrava, mas isso era de se esperar. Meninas crescem rápido nessa idade. O vestido dela era de lã cinza, debruado com cetim branco; sobre ele, usava uma capa de arminho bordada com a cabeça de um lobo em prata. O cabelo castanho-escuro caía até a metade de suas costas. E seus olhos ...
Essa não é a filha de Lorde Eddard.
Arya tinha os olhos do pai, os olhos cinzentos dos Stark. Uma garota da idade dela podia deixar o cabelo crescer, adicionar uns centímetros à altura, ver os seios aumentarem, mas não podia mudar a cor dos olhos. Esta é a amiguinha de Sansa, a filha do intendente. Jeyne, esse era seu nome. Jeyne Poole.
- Lorde Ramsay. - A garota se curvou. Isso estava errado também. A verdadeira Arya teria cuspido na cara dele. - Rezo para ser uma boa esposa e lhe dar filhos fortes que possam segui-lo.
- Você vai - prometeu Ramsay - e logo. 

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