sexta-feira, 20 de setembro de 2013

25 - BRIENNE



Foi Hyle Hunt quem insistiu para que levassem as cabeças.
- Tarly há de querê-las para as muralhas.
- Não temos alcatrão - Brienne observou. - A carne apodrecerá. Deixe-as - não queria viajar através da penumbra verde dos pinhais com as cabeças dos homens que matara.
Hunt não lhe deu ouvidos. Ele mesmo cortou o pescoço dos mortos, atou as três cabeças pelos cabelos e pendurou-as na sela. Brienne não teve alternativa exceto fazer de conta que não estavam lá, mas, por vezes, especialmente à noite, conseguia sentir os olhos mortos em suas costas, e uma vez sonhou que as ouvia murmurar umas com as outras.
O tempo estava frio e úmido na Ponta da Garra Rachada quando caminharam sobre os próprios passos no sentido inverso. Em alguns dias chovia, em outros ameaçava chover. Nunca se sentiam quentes. Até quando acampavam, era difícil encontrar madeira seca suficiente para uma fogueira.
Quando chegaram aos portões de Lagoa da Donzela, uma hoste de moscas os seguia, um corvo comera os olhos de Shagwell, e Pyg e Timeon estavam cobertos de vermes. Brienne e Podrick havia muito tinham se acostumado a seguir cem metros à frente de Hunt, para manter o cheiro da decomposição bem atrás. Sor Hyle afirmava ter perdido todo o sentido do olfato.
- Enterre-os - dizia-lhe Brienne sempre que acampavam para a noite, mas Hunt não devia nada à teimosia. O mais certo é que ele diga a Lorde Randyll que matou os três.
Para sua honra, porém, o cavaleiro não fez nada disso.
- O escudeiro gago atirou uma pedra - disse, quando ele e Brienne foram levados à presença de Tarly no pátio do castelo de Mooton. As cabeças tinham sido apresentadas a um sargento da guarda, a quem foi ordenado que as limpasse, alcatroasse e montasse por cima do portão. - A espadachim fez o resto.
- Todos os três? - Lorde Randyll estava incrédulo.
- Lutando daquela maneira, podia ter matado mais três.
- E encontrou a garota Stark? - perguntou Tarly a Brienne.
- Não, senhor.
- Em vez disso matou umas tantas ratazanas. Gostou?
- Não, senhor.
- É um a pena. Bem, provou um pouco de sangue. Demonstrou seja o que for que queria demonstrar. É hora de tirar essa cota de malha e de voltar a vestir roupas apropriadas. Há navios no porto. Um deles terá de parar em Tarth. Quero você nele.
- Obrigada, senhor, mas não.
O rosto de Lorde Tarly sugeria que não havia nada que lhe agradasse mais do que espetar a cabeça de Brienne num espigão e colocá-la por cima dos portões de Lagoa da Donzela com Timeon, Pyg e Shagwell.
- Pretende prosseguir com essa loucura?
- Pretendo encontrar a Senhora Sansa.
- Se me permite, senhor - disse Sor Hyle - eu a vi lutar com os Saltimbancos. Ela é mais forte do que a maioria dos homens, e também é rápida...
- A espada é rápida - interrompeu Tarly. - É esta a natureza do aço valiriano. Mais forte do que a maioria dos homens? Sei. É uma aberração da natureza, longe de mim negá-lo.
Homens como ele nunca gostarão de mim, pensou Brienne, não importa o que eu faça.
- Senhor, pode ser que Sandor Clegane saiba da garota. Se conseguisse encontrá-lo...
- Clegane tornou-se fora da lei. Agora acompanha Beric Dondarrion, ao que parece. Ou não, as histórias variam. Mostre-me onde eles estão escondidos, e de bom grado lhes rasgarei a barriga, lhes puxarei as entranhas para fora e as queimarei. Enforcamos dúzias de fora da lei, mas os chefes ainda nos escapam. Clegane, Dondarrion, o sacerdote vermelho, e agora uma mulher chamada Coração de Pedra... como é que você propõe encontrá-los, se eu não consigo?
- Senhor, eu... - não tinha nenhuma boa resposta para lhe dar. - Tudo que posso fazer é tentar.
- Então tente. Tem a sua carta, não precisa da minha permissão, mas eu a dou mesmo assim. Se tiver sorte, tudo que ganhará com seu esforço serão assaduras da sela. Caso contrário, talvez Clegane lhe permita viver, depois de ele e sua matilha acabarem de violá-la. Pode rastejar de volta a Tarth com o bastardo de um cão na barriga.
Brienne ignorou aquilo.
- Se me permite a pergunta, quantos homens acompanham Cão de Caça?
- Seis, sessenta ou seiscentos. Parece que depende da pessoa a quem se pergunta - Randyll Tarly estava claramente farto da conversa, e começou a virar-lhe as costas.
- Se o meu escudeiro e eu pudermos suplicar por sua hospitalidade até...
- Suplique o que quiser. Não os tolerarei sob o meu telhado.
Sor Hyle Hunt deu um passo adiante.
- Se me permite a ousadia, julgava que o telhado ainda era de Lorde Mooton.
Tarly lançou ao cavaleiro um olhar venenoso.
- Mooton tem a coragem de um verme. Não me fale de Mooton. Quanto a você, senhora, diz-se que seu pai é um bom homem. Se assim é, tenho pena dele. Há homens que são abençoados com filhos, outros, com filhas. Nenhum homem merece ser amaldiçoado com alguém como você. Viva ou morra, Senhora Brienne, mas não regresse à Lagoa da Donzela enquanto eu governar aqui.
As palavras são vento, Brienne disse a si mesma. Não podem machucá-la. Deixe-as passar por você como água.
"Às suas ordens, senhor”, tentou dizer, mas Tarly foi-se embora antes de ela conseguir articular as palavras. Saiu do pátio como uma sonâmbula, sem saber para onde ir.
Sor Hyle pôs-se a seu lado.
- Há estalagens.
Brienne balançou a cabeça. Não queria conversa com Hyle Hunt.
- Lembra-se do Ganso Fedorento?
Seu manto ainda guardava o fedor do lugar.
- Por quê?
- Encontre-se comigo lá amanhã, ao meio-dia. Meu primo Alyn foi um dos homens enviados para encontrar o Cão de Caça. Eu falo com ele.
- E por que faria isso?
- Por que não? Se tiver sucesso onde Alyn falhou, poderei atormentá-lo com isso durante anos.
Ainda havia estalagens em Lagoa da Donzela; Sor Hyle não se enganara. Contudo, algumas tinham sido incendiadas durante um ou outro saque, e assim continuavam, e aquelas que restavam estavam cheias até rebentar com homens da hoste de Lorde Tarly. Ela e Podrick visitaram-nas todas naquela tarde, mas não havia camas disponíveis em nenhuma.
- Sor? Senhora? - disse Podrick no momento em que o sol se punha. - Há navios. Navios têm camas. Camas de rede. Ou beliches.
Os homens de Lorde Randyll ainda patrulhavam as docas, tantos como as moscas que tinham esvoaçado em volta das cabeças dos três Saltimbancos Sangrentos, mas seu sargento conhecia Brienne de vista e os deixou passar. Os pescadores locais prendiam amarras para a noite e anunciavam a captura do dia, mas o interesse dela centrava-se nos navios maiores que percorriam as águas tempestuosas do mar estreito. Havia meia dúzia no porto, embora um deles, uma galeota chamada Filha do Titã, estivesse atirando as amarras para o cais a fim de zarpar com a maré da noite. Ela e Podrick Payne fizeram a ronda aos navios que ficaram. O mestre da Garota de Vila Gaivota tomou Brienne por uma prostituta e lhes disse que seu navio não era um bordel, e um arpoeiro de um baleeiro ibenês ofereceu-se para lhe comprar o garoto, mas encontraram melhor sorte em outros navios. Comprou uma laranja para Podrick no Caminhante do Mar, uma coca vinda de Vilavelha, via Tyrosh, Pentos e Valdocaso.
- A seguir é Vila Gaivota - disse-lhe o capitão - e daí dobramos os Dedos e rumamos a Vilirmãs e Porto Branco, se as tempestades deixarem. Aqui o Caminhante é um navio limpo, não tem tantos ratos como a maioria, e vamos ter a bordo ovos frescos e manteiga recém-preparada. A senhora está à procura de passagem para o norte?
- Não - ainda não. Sentia-se tentada, mas...
Enquanto se dirigiam ao cais seguinte, Podrick saltou de um pé para o outro e disse:
- Sor? Senhora? E se a senhora fosse para casa? Minha outra senhora, quero dizer. Sor. A Senhora Sansa.
- Incendiaram a casa dela.
- Mesmo assim. É onde estão seus deuses. E os deuses não morrem.
Os deuses não morrem, mas as garotas sim.
- Timeon era um homem cruel e um assassino, mas não me parece que tenha mentido sobre Cão de Caça. Não podemos ir para o norte até termos certeza. Haverá outros navios.
Na ponta oriental do porto finalmente encontraram abrigo para a noite a bordo de uma galé mercante maltratada pelo mar, chamada Senhora de Myr. Estava bastante adernada, depois de ter perdido o mastro e metade da tripulação numa tempestade, mas o dono não tinha a quantia de que necessitava para repará-la, de modo que ficou feliz por aceitar algumas moedas de Brienne e permitir que ela e Pod partilhassem uma cabine vazia.
Tiveram uma noite agitada. Brienne acordou por três vezes. Uma quando a chuva começou e outra com um rangido que a fez pensar que Lesto Dick se aproximava pé ante pé para matá-la. Da segunda vez acordou de faca na mão, mas não era nada. Na escuridão da pequena e apertada cabine, precisou de um momento para se lembrar de que Lesto Dick estava morto. Quando finalmente voltou a adormecer, sonhou com os homens que matara. Dançavam em volta dela, troçando, dando-lhe beliscões enquanto ela os golpeava com a espada. Fez todos eles em tiras sangrentas, mesmo assim continuaram a formigar em volta dela... Shagwell, Timeon e Pyg, sim, mas também Randyll Tarly, e Vargo Hoat, e Ronnet Vermelho Connington. Ronnet tinha uma rosa entre os dedos. Quando lhe apresentou a rosa, Brienne cortou-lhe a mão.
Acordou transpirando, e passou o resto da noite encolhida sob o manto, ouvindo a chuva tamborilar no convés sobre sua cabeça. Foi uma noite violenta. De tempos em tempos ouvia o som de trovões distantes e pensava no navio bravosiano que zarpara na maré da noite.
Na manhã seguinte, redescobriu o Ganso Fedorento, acordou sua desmazelada proprietária e pagou-lhe por umas salsichas gordurentas, pão frito, meia taça de vinho, um jarro de água fervida e duas taças limpas. A mulher olhou Brienne com o canto dos olhos enquanto punha a água para ferver.
- Você é a grandalhona que foi com Lesto Dick. Estou me lembrando. Ele enganou você?
- Não.
- Violou-a?
- Não.
- Roubou seu cavalo?
- Não. Foi morto por três fora da lei.
- Fora da lei? - a mulher parecia mais curiosa do que perturbada. - Sempre achei que o Dick ia acabar pendurado, ou mandado para a Muralha.
Comeram o pão frito e metade das salsichas. Podrick Payne empurrou a sua para baixo com água com sabor de vinho, enquanto Brienne embalava uma taça de vinho aguado e perguntava a si mesma por que teria vindo. Hyle Hunt não era um verdadeiro cavaleiro. Seu rosto honesto era só uma máscara de saltimbanco. Não preciso de sua ajuda, não preciso de sua proteção, e não preciso dele, disse a si mesma. Ele provavelmente nem sequer virá. Dizer-me para nos encontrarmos aqui foi só mais uma brincadeira.
Estava se levantando para ir embora quando Sor Hyle chegou.
- Senhora. Podrick - olhou de relance as taças, os pratos e as salsichas meio comidas que esfriavam numa poça de gordura, e disse: - Deuses, espero que não tenha comido a comida deste lugar.
- O que comemos não lhe diz respeito - Brienne respondeu. - Encontrou seu primo? O que foi que ele lhe disse?
- Sandor Clegane foi visto pela última vez em Salinas, no dia do ataque. Depois cavalgou para oeste, ao longo do Tridente.
Brienne franziu as sobrancelhas.
- O Tridente é um rio comprido.
- Sim, mas não me parece que nosso cão tenha vagueado até muito longe da foz. Westeros perdeu o encanto que tinha para ele, ao que parece. Em Salinas andava à procura de um navio - Sor Hyle tirou um rolo de pele de ovelha da bota, afastou as salsichas, e o desenrolou. Revelou-se um mapa. - Cão de Caça matou três dos homens do irmão na velha estalagem junto ao entroncamento, aqui. Liderou o ataque a Salinas, aqui - tamborilou em Salinas com o dedo. - Pode estar encurralado. Os Frey estão aqui em cima nas Gêmeas, Darry e Harrenhal ficam para o sul, do outro lado do Tridente, a oeste tem os Blackwood e os Bracken em guerra, e Lorde Randyll está aqui em Lagoa da Donzela. A estrada de altitude até o Vale está fechada pela neve, ainda que conseguisse passar pelos clãs da montanha. Para onde haveria um cão de ir?
- Se ele estiver com Dondarrion...?
- Não está. Alyn tem certeza disso. Os homens de Dondarrion também andam à procura dele. Espalharam o rumor de que pretendiam enforcá-lo pelo que fez em Salinas. Não participaram nisso. Lorde Randyll anda dizendo que participaram na esperança de virar os plebeus contra Beric e sua irmandade. Nunca apanhará o senhor do relâmpago enquanto o povo continuar a protegê-lo. E há um outro bando, liderado pela tal mulher, Coração de Pedra... amante de Lorde Beric, de acordo com uma história. Ela supostamente foi enforcada pelos Frey, mas Dondarrion a beijou e devolveu-a à vida, e agora ela não pode morrer, assim como ele - Brienne examinou o mapa.
- Se Clegane foi visto pela última vez em Salinas, esse seria o lugar certo para encontrar seu rasto.
- Alyn disse que já não resta ninguém em Salinas, a não ser um velho cavaleiro escondido em seu castelo.
- Mesmo assim, seria um lugar para começar.
- Há um homem - disse Sor Hyle. - Um septão. Ele atravessou meu portão um dia antes de vocês aparecerem. O nome dele é Meribald. Nascido e criado no rio, e serviu ali a vida toda. Parte amanhã para fazer seu circuito, e visita sempre Salinas. Devíamos ir com ele.
Brienne ergueu vivamente o olhar.
- Devíamos?
- Eu vou com você.
- Não, não vai.
- Bem, eu vou com o Septão Meribald até Salinas. Você e Podrick podem ir para onde bem quiserem.
- Lorde Randyll ordenou que me seguisse outra vez?
- Ele ordenou que ficasse longe de você. Lorde Randyll é de opinião que você talvez se beneficiasse de uma boa e rija violação.
- Então por que haveria de seguir comigo?
- É isso ou voltar aos deveres do portão.
- Se o seu senhor ordenou...
- Ele já não é o meu senhor.
Aquilo a surpreendeu.
- Abandonou seu serviço?
- Sua senhoria informou-me de que já não tinha necessidade da minha espada, nem da minha insolência. Vai dar no mesmo. Daqui em diante, desfrutarei da vida aventurosa de um cavaleiro andante... se bem que, no caso de encontrarmos Sansa Stark, imagino que seremos bem recompensados.
Ouro e terras, é tudo que ele vê nisto.
- Pretendo salvar a garota, não vendê-la. Fiz um juramento.
- Eu não me lembro de tê-lo feito.
- É por isso que não virá comigo.
Partiram na manhã seguinte, ao nascer do sol.
Era uma estranha procissão: Sor Hyle montado num corcel cor de avelã e Brienne em sua grande égua cinzenta, Podrick Payne escarranchado em seu cavalo malhado de dorso curvado, e o Septão Meribald caminhando ao lado deles, com seu cajado, indicando o caminho a um pequeno burro e a um grande cão. O burro levava uma carga tão pesada que Brienne sentiu certo temor de que lhe quebrasse o dorso.
- Comida para os pobres e famintos das terras fluviais - disse-lhes o Septão Meribald aos portões de Lagoa da Donzela. - Sementes, nozes e fruta seca, mingau de aveia, farinha, pão de cevada, três queijos amarelos da estalagem perto do Portão do Bobo, bacalhau salgado para mim, carneiro salgado para o Cão... oh, e sal. Cebolas, cenouras, nabos, duas sacas de feijão, quatro de cevada e nove de laranjas. Tenho um fraquinho por laranjas, confesso. Comprei estas de um marinheiro, e temo que sejam as últimas que comerei até a primavera.
Meribald era um septão sem septo, apenas um degrau acima de um irmão mendicante na hierarquia da Fé. Havia centenas como ele, um bando esfarrapado cuja humilde tarefa era se arrastar de uma aldeia minúscula como cocô de mosca para a seguinte, conduzindo serviços sagrados, celebrando casamentos e perdoando pecados. Esperava-se que aqueles que visitava o alimentassem e lhe fornecessem abrigo, mas a maioria era tão pobre quanto ele, e Meribald não podia permanecer muito tempo num lugar sem causar dificuldades aos seus hóspedes. Estalajadeiros bondosos deixavam-no por vezes dormir em suas cozinhas ou estábulos, e havia septerias e castros, e até alguns castelos, onde sabia que lhe seria dada hospitalidade. Onde não havia lugares assim por perto, dormia sob as árvores ou dentro de sebes.
- Há muitas boas sebes nas terras fluviais - dizia Meribald. - As velhas são as melhores. Nada bate uma sebe com cem anos. Dentro de uma dessas, um homem pode dormir tão aconchegado quanto numa estalagem, e com menos medo de pulgas.
O septão não sabia ler nem escrever, como confessou alegremente na estrada, mas conhecia uma centena de preces diferentes e podia recitar de memória longas passagens da Estrela de Sete Pontas, o que era tudo que bastava nas aldeias. Tinha o rosto marcado por cicatrizes e a pele queimada pelo vento, uma mecha de espessos cabelos grisalhos, rugas nos cantos dos olhos. Embora fosse um homem grande, com um metro e oitenta, tinha um modo de se inclinar para a frente ao caminhar que o fazia parecer muito mais baixo. Suas mãos eram grandes e exibiam uma textura de couro, com os nós dos dedos vermelhos e sujeira debaixo das unhas, e ele tinha os maiores pés que Brienne alguma vez vira, nus, negros e duros como chifres.
- Não uso sapato há vinte anos - disse ele a Brienne, - No primeiro ano, tinha mais bolhas do que dedos nos pés, e as solas sangravam como porcos sempre que caminhava por pedra dura, mas rezei, e o Sapateiro no Céu transformou-me a pele em couro.
- Não há nenhum sapateiro no céu - Podrick protestou.
- Há, sim, moço... embora talvez o conheça por outro nome. Diga-me, de qual dos sete deuses gosta mais?
- Do Guerreiro - Podrick respondeu, sem um momento de hesitação.
Brienne pigarreou.
- No Entardecer, o septão de meu pai sempre disse que não havia mais do que um deus.
- Um deus com sete aspectos. É verdade, senhora, e tem razão em fazer notar isso, mas o mistério dos Sete Que São Um não é fácil de entender para a gente simples, e se eu sou alguma coisa simples, falo de sete deuses - Meribald voltou-se de novo para Podrick. - Nunca conheci um garoto que não adorasse o Guerreiro. Mas eu sou velho e, como velho, adoro o Ferreiro. Sem o seu trabalho, o que defenderia o Guerreiro? Todas as vilas têm um ferreiro, e todos os castelos também. Fazem os arados de que precisamos para plantar as nossas culturas, os pregos que usamos para construir os nossos navios, as ferraduras para proteger os cascos de nossos fiéis cavalos, as brilhantes espadas de nossos senhores. Ninguém podia duvidar do valor de um ferreiro, por isso batizamos um dos Sete em sua honra, mas podíamos perfeitamente ter lhe chamado Lavrador ou Pescador, Carpinteiro ou Sapateiro. Aquilo em que ele trabalha não importa. O que importa é que trabalha. O Pai governa, o Guerreiro luta, o Ferreiro labuta, e juntos fazem tudo aquilo que é legítimo que um homem faça. Tal como o Ferreiro é um aspecto da divindade, o Sapateiro é um aspecto do Ferreiro. Foi ele quem ouviu as minhas preces e me curou os pés.
- Os deuses são bons - disse Sor Hyle numa voz seca - mas para que incomodá-los, quando podia simplesmente ter ficado com os sapatos?
- Andar descalço era a minha penitência. Até os santos septões podem ser pecadores, e a minha carne era tão fraca quanto a carne pode ser. Era jovem e cheio de vitalidade, e as garotas... Um septão pode parecer galante como um príncipe se for o único homem que se conhece que já esteve a mais de uma milha de nossa aldeia. Eu recitava-lhes coisas da Estrela de Sete Pontas. O Livro da Donzela era o que funcionava melhor. Oh, eu era um homem perverso antes de tirar os sapatos. Envergonha-me pensar em todas as donzelas que deflorei.
Brienne moveu-se desconfortavelmente na sela, recordando o acampamento à sombra das muralhas de Jardim de Cima e a aposta que Sor Hyle e os outros tinham feito para ver quem primeiro conseguia dormir com ela.
- Andamos à procura de uma donzela - confidenciou Podrick Payne. - Uma donzela bem-nascida de treze anos, com cabelos ruivos.
- Pensava que procurava um fora da lei.
- Também - Podrick admitiu.
- A maior parte dos viajantes faz o possível para evitar homens assim - disse o Septão Meribald - mas vocês andam à procura deles.
- Só procuramos um fora da lei -disse Brienne. - O Cão de Caça.
- Foi o que Sor Hvle me contou. Que os Sete os protejam, filha. Diz-se que ele deixa um rastro de bebês assassinados e donzelas violentadas por onde passa. Ouvi chamarem-no Cão Louco de Salinas. O que gente boa iria querer de tal criatura?
- A donzela de que Podrick falou pode estar com ele.
- De verdade? Então temos de rezar pela pobre garota.
E por mim, pensou Brienne, uma prece também por mim. Pedi à Velha para erguer a lâmpada e me levar até a Senhora Sansa, e ao Guerreiro para dar força ao meu braço, para que eu possa protegê-la. Mas não disse aquelas palavras em voz alta; não as diria onde Hyle Hunt pudesse ouvi-las e zombar de sua fraqueza de mulher.
Com o Septão Meribald a pé e seu burro tão carregado, o progresso foi lento ao longo de todo aquele dia. Não seguiram pela estrada principal para oeste, o caminho que Brienne outrora percorrera com Sor Jaime, quando vieram em sentido contrário e foram encontrar Lagoa da Donzela saqueada e cheia de cadáveres. Em vez disso, dirigiram-se para noroeste, seguindo a costa da Baía dos Caranguejos por uma trilha tortuosa que era tão pequena que não aparecia em nenhum dos preciosos mapas de pele de ovelha de Sor Hyle. Os íngremes montes, os negros pântanos e as florestas de pinheiros da Ponta da Garra Rachada não se viam em parte alguma daquele lado de Lagoa da Donzela. As terras por onde viajavam eram baixas e úmidas, uma região selvagem de dunas de areia e pântanos de água salgada sob a vasta abóbada azul-acinzentada do céu. A estrada tendia a desaparecer por entre os juncos e as lagoas de maré, apenas para voltar a aparecer uma milha mais à frente; Brienne sabia que sem Meribald certamente já teriam se perdido. O chão era frequentemente pouco estável, de modo que havia lugares em que o septão avançava sozinho, sondando o terreno com o cajado para se assegurar de que havia apoio suficiente. Não se viam árvores por léguas ao redor, só o mar, o céu e a areia.
Nenhuma terra poderia ser mais diferente de Tarth, com suas montanhas e quedas-d'água, seus prados de altitude e vales ensombrados, mas Brienne achou que aquele lugar tinha sua própria beleza. Atravessaram uma dúzia de lentos cursos de água, repletos de rãs e de grilos, viram andorinhas-do-mar flutuando muito acima da baía, ouviram o chamado dos borrelhos entre as dunas. Uma vez, uma raposa cruzou seu caminho e pôs o cão de Meribald a latir como louco.
E também havia pessoas. Algumas viviam entre os juncos, em casas feitas de lama e palha, enquanto outras pescavam na baía em pequenos barcos de couro e construíam as casas sobre instáveis estacas de madeira nas dunas. A maior parte parecia viver só, longe da vista de qualquer habitação humana além da sua. Pareciam ser, na maior parte, um povo reservado, mas perto do meio-dia o cão desatou de novo a latir, e três mulheres emergiram dos juncos para dar a Meribald um cesto de vime cheio de amêijoas. Em troca, o septão deu uma laranja a cada uma, embora as amêijoas fossem no mundo tão comuns como lama, e as laranjas raras e valiosas. Uma das mulheres era muito velha, outra estava pesada com uma criança na barriga, e a terceira era uma garota tão fresca e bonita como uma flor na primavera. Quando Meribald as levou consigo para escutar seus pecados, Sor Hyle soltou um risinho e disse:
- Dir-se-ia que os deuses caminham conosco... pelo menos a Donzela, a Mãe e a Velha - Podrick pareceu tão espantado que Brienne teve de lhe dizer que não, que eram só três mulheres dos pântanos.
Mais tarde, quando retomaram a viagem, ela se virou para o septão e disse:
- Essas pessoas vivem a menos de um dia de viagem de Lagoa da Donzela, e no entanto a guerra não as tocou.
- Têm pouco que se toque, senhora. Seus tesouros são conchas, pedras e barcos de couro, suas melhores armas são facas de ferro enferrujadas. Nascem, vivem, amam, morrem. Sabem que Lorde Mooton governa suas terras, mas poucos foram os que alguma vez o viram, e Correrrio e Porto Real não passam de nomes para eles.
- E, no entanto, conhecem os deuses - Brienne retrucou. - Isto é obra sua, me parece. Há quanto tempo percorre as terras fluviais?
- Fará quarenta anos em breve - disse o septão, e o cão soltou um sonoro latido. - De Lagoa da Donzela a Lagoa da Donzela, meu circuito demora meio ano, e às vezes mais, mas não direi que conheço o Tridente. Vislumbro os castelos dos grandes senhores só a distância, mas conheço as vilas francas e os castros, as aldeias pequenas demais para terem nome, as sebes e os montes, os regatos onde um homem com sede pode beber e as grutas onde pode se abrigar. E também conheço as estradas que o povo usa, os trilhos tortos e lamacentos que não aparecem em mapas de pergaminho - soltou um risinho. - E é bom que conheça. Meus pés percorreram dez vezes cada milha.
As estradas secundárias são aquelas que os fora da lei usam, e as grutas seriam belos locais para homens foragidos se esconderem. Uma ponta de desconfiança levou Brienne a perguntar a si mesma se Sor Hyle conheceria aquele homem tão bem quanto pensava.
- Isso tudo dá uma vida solitária, septão.
- Os Sete estão sempre comigo - disse Meribald - e tenho o meu fiel criado, e o Cão.
- Seu cão tem nome? - Podrick Payne qui saber.
- Deve ter - disse Meribald - mas não é meu. Ele não.
O cão latiu e abanou a cauda. Era uma criatura enorme e hirsuta, pelo menos sessenta quilos de cão, mas amigável.
- A quem pertence? - o rapaz perguntou novamente.
- Ora, a si mesmo, e aos Sete. Quanto ao nome, não me disse qual é. Chamo-lhe Cão.
- Oh - era evidente que Podrick não sabia o que pensar de um cão chamado Cão. O garoto ruminou aquilo durante algum tempo, após o que disse: - Eu tinha um cão quando era pequeno. Dei-lhe o nome de Herói.
- E era?
- E era o quê?
- Um herói.
- Não. Mas era um bom cão. Morreu.
- O Cão mantém-me a salvo nas estradas, mesmo em tempos tão penosos como estes. Nem lobos nem os fora da lei se atrevem a me molestar quando o Cão está ao meu lado - o septão franziu as sobrancelhas. - Os lobos tornaram-se terríveis nos últimos tempos. Há lugares onde um homem sozinho faria bem em encontrar uma árvore para dormir. Ao longo de toda a vida, a maior alcateia que vi tinha menos de uma dúzia de lobos, mas a grande alcateia que percorre agora o Tridente chega a centenas.
- Você os encontrou? - perguntou Sor Hyle.
- Fui poupado disso, que os Sete me protejam, mas ouvi-os à noite, e mais de uma vez. Tantas vozes... um som capaz de gelar o sangue de um homem. Até pôs o Cão a tremer, e ele matou uma dúzia de lobos - afagou a cabeça do cão. - Há quem diga que são demônios. Dizem que a alcateia é liderada por uma loba monstruosa, uma sombra furtiva, sinistra, cinzenta e enorme. Dizem que houve quem a visse derrubar um auroque sozinha, que nenhuma armadilha ou laço consegue prendê-la, que não teme nem o aço, nem o fogo, que mata qualquer lobo que tente montá-la, e não devora nenhuma carne que não seja humana.
Sor Hyle Hunt riu.
- Agora conseguiu, septão. Os olhos do pobre Podrick estão tão grandes como ovos cozidos.
- Não estão nada - Podrick replicou, indignado. O Cão latiu.
Naquela noite, montaram um acampamento frio nas dunas. Brienne mandou Podrick percorrer a costa a fim de encontrar alguma madeira trazida pelo mar para fazer uma fogueira, mas ele voltou de mãos vazias, com lama até os joelhos.
- A maré desceu, sor. Senhora. Não há água, só lamaçais.
- Fique longe da lama, garoto - aconselhou Septão Meribald. - A lama não gosta de estranhos. Se caminhar pelo lugar errado, ela se abre e engole você.
- É só lama - Podrick insistiu.
- Até encher sua boca e começar a entrar pelo seu nariz. Então é a morte - sorriu para tirar o gelo das palavras. - Limpe essa lama e venha comer um gomo de laranja, jovem.
O dia seguinte foi mais do mesmo. Quebraram o jejum com bacalhau salgado e mais gomos de laranja, e estavam a caminho antes de o sol ter tempo de se erguer por completo, com um céu cor-de-rosa por trás e um púrpura adiante. O Cão seguiu à frente, farejando cada agrupamento de canas e parando de vez em quando para urinar num deles; parecia conhecer a estrada tão bem quanto Meribald. Os gritos das andorinhas-do-mar chegavam até eles, trêmulos, pelo ar da manhã, enquanto a maré subia com rapidez.
Perto do meio-dia pararam numa minúscula aldeia, a primeira que encontraram, onde oito das casas construídas sobre estacas erguiam-se por cima de um pequeno riacho. Os homens estavam fora, pescando em seus barcos de couro, mas as mulheres e os garotos pequenos desceram oscilantes escadas de corda e reuniram-se em volta do Septão Meribald para rezar. Após o serviço, ele os absolveu de seus pecados e deixou-lhes alguns nabos, uma saca de feijão e duas de suas preciosas laranjas.
De volta à estrada, o septão disse:
- Faríamos bem em manter uma vigia esta noite, amigos. Os aldeões dizem ter visto três desertores esgueirando-se em volta das dunas, a oeste da antiga torre de vigia.
- Só três? - Sor Hyle sorriu. - Três são moleza para a nossa espadachim. Não é provável que incomodem homens armados.
- A não ser que estejam morrendo de fome - disse o septão. - Há comida nestes pântanos, mas só para quem tem olho para encontrá-la, e esses homens são forasteiros, sobreviventes de uma batalha qualquer. Se nos abordarem, sor, suplico-lhe, deixe-os comigo.
- O que fará com eles?
- Eu os alimentarei. Pedirei para que confessem seus pecados, a fim de poder perdoá-los. E os convidarei a virem conosco até a Ilha Silenciosa.
- Isso é o mesmo que convidá-los para que abram nossas goelas enquanto dormimos - Hyle Hunt replicou. - Lorde Randyll tem maneiras melhores de lidar com desertores... aço e corda de cânhamo.
- Sor? Senhora? - Podrick os interrompeu. - Um desertor é um fora da lei?
- Mais ou menos - Brienne respondeu.
O Septão Meribald discordou.
- Mais menos do que mais. Há muitas espécies de fora da lei, assim como há muitas espécies de pássaros. Tanto um borrelho como uma águia marinha têm asas, mas não são a mesma coisa. Os cantores adoram cantar sobre bons homens forçados a sair da lei para combater um senhor malvado qualquer, mas a maioria dos fora da lei são mais parecidos com esse Cão de Caça voraz do que com o senhor do relâmpago. São homens maus, movidos pela ganância, amargurados pela maldade, que desprezam os deuses e só se preocupam consigo. Os desertores são mais merecedores de nossa piedade, embora possam ser igualmente perigosos. Quase todos são plebeus, gente simples que nunca tinha estado a mais de uma milha da casa onde nasceu até que algum senhor veio levá-los para a guerra. Mal calçados e malvestidos, partem marchando sob seus estandartes, muitas vezes sem melhores armas do que uma foice, uma enxada afiada ou um martelo que eles mesmos fizeram atando uma pedra a um pedaço de madeira com tiras de pele de animal.
“Irmãos marcham com irmãos, filhos com pais, amigos com amigos. Ouviram as canções e as histórias, e por isso vão se embora de coração ansioso, sonhando com as maravilhas que verão, com as riquezas e as glórias que conquistarão. A guerra parece uma bela aventura, a melhor que a maioria deles alguma vez conhecerá. Então experimentam o sabor da batalha. Para alguns, essa única experiência é suficiente para quebrá-los. Outros resistem durante anos, até perderem a conta de todas as batalhas em que lutaram, mas mesmo um homem que sobreviveu a cem combates pode fugir no centésimo primeiro. Irmãos veem os irmãos morrer, pais perdem os filhos, amigos veem os amigos tentando manter as entranhas dentro do corpo depois de serem rasgados por um machado. Veem o senhor que os levou para aquele lugar abatido, e outro senhor qualquer grita que agora pertencem a ele. São feridos, e quando a ferida ainda está apenas meio cicatrizada, sofrem outro ferimento. Nunca há o suficiente para comer, os sapatos se desfazem devido às marchas, as roupas estão rasgadas e apodrecendo, e metade deles anda cagando nos calções por beber água ruim. Se quiserem botas novas ou um manto mais quente ou talvez um meio-elmo de ferro enferrujado, têm de tirá-los de um cadáver, e não demora muito para que comecem também a roubar dos vivos, do povo em cujas terras combatem, homens muito parecidos com os que eram. Matam suas ovelhas e roubam suas galinhas, e daí é um pequeno passo até levarem também suas filhas.
“E um dia, olham ao redor e percebem que todos os seus amigos e familiares se foram, que estão lutando ao lado de estranhos, sob um estandarte que quase nem reconhecem. Não sabem onde estão nem como voltar para casa, e o senhor por quem combatem não sabe seus nomes, mas ali vem ele, gritando-lhes para se posicionarem, para fazerem uma fileira com as lanças, foices e enxadas afiadas, para aguentarem. E os cavaleiros caem sobre eles, homens sem rosto vestidos de aço, e o trovão de ferro de seu ataque parece encher o mundo... E o homem quebra. Vira-se e foge, ou rasteja para longe, depois por cima dos cadáveres, ou escapole na calada da noite e encontra um lugar qualquer para se esconder. Toda noção de casa está perdida a essa altura, e reis, senhores e deuses significam menos para ele do que um naco de carne estragada que lhes permita sobreviver mais um dia, ou um odre de vinho ruim que possa afogar-lhes o medo durante algumas horas. O desertor sobrevive dia a dia, de refeição em refeição, mais animal do que homem. A Senhora Brienne não erra. Em tempos como estes, o viajante deve ter atenção aos desertores, e temê-los... mas também deve ter piedade por eles.”
Quando Meribald terminou, um profundo silêncio caiu sobre o pequeno bando. Brienne ouvia o vento farfalhando através de um grupo de salgueiros e, mais distante, o tênue grito de um mergulhão. Ouvia o Cão arquejar suavemente enquanto saltitava ao lado do septão e de seu burro, com a língua pendendo-lhe da boca. O silêncio estendeu-se, até que, por fim, ela disse:
- Que idade tinha quando o levaram para a guerra?
- Ora, não era mais velho do que seu garoto - Meribald respondeu. - Novo demais para tal coisa, na verdade, mas meus irmãos iam todos, e eu não quis ser deixado para trás. Willam disse que eu podia ser seu escudeiro, apesar de Will não ser nenhum cavaleiro, só um criado armado com uma faca de cozinha que tinha roubado da estalagem. Morreu nos Degraus, e não chegou a desferir um golpe. Foi a febre que deu conta dele, e de meu irmão Robin. Owen morreu de uma maça que lhe rachou a cabeça, e o amigo dele, Jon Bexigas, foi enforcado por violação.
- A Guerra dos Reis de Nove Moedas? - perguntou Hyle Hunt.
- Foi assim que a chamaram, apesar de eu nunca ter visto um rei nem ganhado uma moeda. Mas foi uma guerra. Lá isso foi.  

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