terça-feira, 24 de setembro de 2013

3 - JON


O lobo branco corria por um tronco negro, ao pé de um pálido penhasco tão alto quanto o céu. A lua corria com ele, deslizando por um emaranhado de galhos desfolhados suspenso sobre sua cabeça, no céu estrelado.
- Snow - a lua murmurou. O lobo não respondeu. A neve era triturada sob suas patas. O vento soprava por entre as árvores.
Ao longe, ele podia ouvir seus companheiros de matilha chamando por ele, de igual para igual. Estavam caçando também. Uma chuva selvagem chicoteava as costas de seu irmão negro, enquanto ele rasgava a carne de um enorme bode, lavando o sangue do lado do seu corpo onde o longo chifre da presa o havia acertado. Em outro lugar, sua irmãzinha levantava a cabeça para cantar para a lua, e uma centena de pequenos primos cinzentos interrompia a caçada para cantar com ela. As colinas eram mais quentes onde ela estava, e mais abundantes de comida. Várias noites a matilha da irmã se fartara com carne de ovelhas, vacas e cavalos, as presas dos homens, e, às vezes, até com a carne do próprio homem.
- Snow - a lua chamou novamente, tagarelando. O lobo branco seguia ao longo da trilha do homem, sob o penhasco de gelo. O gosto de sangue estava em sua língua, e em seus ouvidos soava a canção dos cem primos. Antes eles eram seis, cinco choramingando cegos na neve, ao lado do cadáver da mãe, sugando o leite gelado de seus duros mamilos mortos, enquanto ele se arrastava sozinho. Restavam quatro ... e um deles o lobo branco não conseguia mais sentir.
- Snow - a lua insistia.
O lobo branco correu dela, seguindo em direção à caverna da noite onde o sol tinha se escondido, sua respiração congelando no ar. Nas noites sem estrelas, o grande penhasco ficava negro como uma rocha, a escuridão elevando-se sobre o mundo inteiro, mas, quando a lua saía, ele brilhava pálido e frio como um córrego congelado. A pele do lobo era grossa e peluda, mas quando o vento soprava sob o gelo, nenhum pelo conseguia afastar a sensação de frio. Do outro lado, o vento estava ainda mais frio, o lobo sentia. Era onde seu irmão estava, o irmão cinzento que cheirava a verão.
- Snow. - Um pingente de gelo caiu de um galho. O lobo branco virou-se e mostrou os dentes. - Snow. - Seu pelo se eriçou, conforme a floresta se dissolvia ao seu redor. - Snow, Snow, Snow! - Ele ouviu o bater de asas. Através da escuridão, um corvo voou.
A ave pousou no peito de Jon Snow, com um baque e um arranhar de garras.
- SNOW! - gritou diante de seu rosto.
- Já ouvi. - A sala estava escura, e seu colchão de palha, duro. Uma luz acinzentada vazava pelas persianas, prometendo mais um frio dia sombrio. - Era assim que você acordava Mormont? Tire as penas da minha cara. - Jon estendeu o braço para fora dos cobertores para espantar o corvo. Era um pássaro grande, velho, ousado e desalinhado, e totalmente sem medo. Snow, ele gritou, batendo as asas até o dossel da cama. Snow, Snow. Jon encheu o punho com o travesseiro e o arremessou no ar, mas o pássaro alçou voo. O travesseiro atingiu a parede e estourou, espalhando seu recheio por todo lado, bem no momento em que Edd Doloroso Tollett enfiava a cabeça pela porta.
- Com licença - disse, ignorando o turbilhão de penas - devo buscar o café da manhã, Senhor?
Grão, gritou o corvo. Grão, grão.
- Corvo assado - Jon sugeriu. - E meio quartilho de cerveja. - Ter um intendente para servi-lo ainda era algo estranho; havia não muito tempo, era ele quem servia o café da manhã do Senhor Comandante Mormont.
- Três milhos e um corvo assado - disse Edd Doloroso. - Muito bem, Senhor, só que Hobb fez ovos cozidos, chouriço e maçãs cozidas com ameixas secas. As maçãs com ameixas estão ótimas, exceto pelas ameixas. Eu mesmo não vou comê-las. Bem, havia uma época em que Hobb picava-as com castanhas e cenouras e escondia-as dentro de uma galinha. Nunca confie em um cozinheiro, senhor. Eles servirão ameixas secas quando menos se esperar.
- Mais tarde. - O café da manhã podia esperar; Stannis, não. - Algum problema com as paliçadas na noite passada?
- Não, desde que colocou guardas nas guaritas, senhor.
- Ótimo. - Mil selvagens estavam confinados para lá da Muralha, os cativos que Stannis Baratheon fizera quando seus cavaleiros esmagaram a miscelânea de tropas de Mance Rayder. Muitos dos prisioneiros eram mulheres, e alguns dos guardas as tinham furtivamente levado para aquecer suas camas. Homens do rei, homens da rainha, não parecia importar; e alguns irmãos negros haviam tentado a mesma coisa. Homens são homens, e aquelas eram as únicas mulheres a mil léguas.
- Mais duas selvagens se renderam - Edd continuou. - Uma mãe com uma menina pendurada em suas saias. Ela tinha um bebê também, todo enrolado em peles, mas estava morto.
Morto, disse o corvo. Era uma das palavras favoritas da ave. Morto, morto, morto.
Eles tinham vagado livremente na maioria das noites, mortos de fome, criaturas semicongeladas que haviam fugido da batalha na Muralha, só para rastejar de volta quando perceberam que não havia lugar seguro para onde fugir.
- A mãe foi interrogada? - Jon perguntou. Stannis Baratheon havia esmagado as tropas de Mance Rayder e tomado o Rei-para-lá-da-Muralha como seu prisioneiro ... mas os selvagens ainda estavam lá fora, o Chorão, Tormund Terror dos Gigantes e milhares mais.
- Sim, senhor - disse Edd - mas tudo o que ela sabia é que tinha fugido durante a batalha e se escondido na floresta. Enchemos ela de papa de aveia, a mandamos para as paliçadas e queimamos o bebê.
Queimar crianças mortas tinha deixado de ser um problema para Jon Snow; já as vivas eram outro assunto. Dois reis para acordar o dragão. O pai primeiro e depois o filho, para que ambos os reis morram. As palavras tinham sido murmuradas por um dos homens da rainha, enquanto Meistre Aemon limpava suas feridas. Jon imaginou que era a febre falando. Aemon tinha hesitado.
- Há poder no sangue de um rei - o velho Meistre lhe avisara - e homens melhores do que Stannis fizeram coisas piores do que essa. - O rei pode ser duro e implacável, sim, mas um bebê de peito? Apenas um monstro daria uma criança viva às chamas.
Jon mijou na escuridão, enchendo seu penico enquanto o corvo do Velho Urso murmurava queixas. Os sonhos de lobo estavam ficando mais fortes, e ele se pegava lembrando-se deles até mesmo acordado. Fantasma sabe que Vento Cinzento morreu. Robb tinha morrido nas Gêmeas, traído por homens que acreditava serem seus amigos, e seu lobo havia perecido com ele. Bran e Rickon tinham sido assassinados também, decapitados por ordem de Theon Greyjoy, que fora protegido de seu pai... mas, se os sonhos não mentem, seus lobos escaparam. Na Coroadarrainha, um deles tinha saído das trevas para salvar a vida de Jon. Verão, tinha de ser ele. Sua pele era cinzenta, e Cão Felpudo é negro. Ele se perguntava se alguma parte de seus falecidos irmãos vivia dentro de seus lobos.
Encheu a bacia com o garrafão de água do lado da cama, lavou o rosto e as mãos, vestiu um conjunto negro de lã limpo, atou um gibão de couro preto e calçou um par de botas surradas. O corvo de Mormont o olhava com astutos olhos escuros, e então voou até a janela.
- Você acha que sou seu servo? - Quando Jon abriu a janela com seus grossos painéis de vidro amarelo em forma de diamante, o frio da manhã bateu em seu rosto. Respirou para limpar os vestígios da noite enquanto o corvo voava para longe. Esse pássaro é muito espertinho. Tinha sido companheiro do Velho Urso por longos anos, mas isso não o impedira de comer o rosto de Mormont quando ele morreu.
Do lado de fora dos aposentos de dormir, um lance de degraus descia para uma sala maior, decorada com uma mesa de pinho marcada pelo uso e uma dúzia de cadeiras de carvalho e couro. Com Stannis na Torre do Rei e a Torre do Senhor Comandante queimada até só restar a casca, Jon havia se estabelecido nas modestas instalações de Donal Noye, atrás do arsenal. Com o tempo, sem dúvida, precisaria de alojamentos maiores, mas esses serviriam por enquanto, até ele se acostumar a comandar.
A concessão que o rei lhe deixara para assinar estava sobre a mesa, embaixo de uma taça de prata que tinha sido de Donal Noye. O ferreiro de um braço havia deixado poucos pertences pessoais: a taça, seis moedas de um dinheiro e uma estrela de cobre, um broche de esmalte negro com o fecho quebrado, um gibão brocado mofado com o veado de Ponta Tempestade. Seus tesouros eram suas ferramentas e as espadas e facas que fez. Sua vida estava na forja. Jon moveu a taça para cima e leu o pergaminho mais uma vez. Se eu colocar meu selo nisso, serei sempre lembrado como o Senhor Comandante que entregou a Muralha, pensou, mas se eu recusar...
Stannis Baratheon estava se mostrando um convidado espinhoso e inquieto. Tinha percorrido a estrada do rei até quase a Coroadarrainha, rondando pelas cabanas vazias da Vila da Toupeira, inspecionando as ruínas dos fortes em Portão da Rainha e em Escudo de Carvalho. Todas as noites, andava pelo alto da Muralha com a Senhora Melisandre e, durante os dias, visitava as paliçadas, escolhendo cativos para serem interrogados pela mulher vermelha. Ele não gosta de ficar parado. Aquela não seria uma manhã agradável, Jon temia.
Do arsenal veio um barulho de escudos e espadas, conforme o último grupo de rapazes e recrutas se armava. Ele podia ouvir a voz de Emmett de Ferro dizendo-lhes para se apressar com aquilo. Cotter Pyke não tinha gostado de perdê-lo, mas o jovem patrulheiro tinha o dom para treinar os homens. Ele ama lutar e vai ensinar os rapazes a gostar também. Pelo menos era o que esperava.
A capa de Jon estava pendurada em um cabide junto à porta, seu cinturão em outro. Vestiu ambos e encaminhou-se para o arsenal. O tapete onde Fantasma dormia estava vazio, notou. Dois guardas estavam no interior das portas, vestidos com capas pretas e meios-elmos de ferro, carregando lanças nas mãos. - O Senhor gostaria de escolta? - perguntou Garse.
- Acho que consigo encontrar a Torre do Rei sozinho. - Jon odiava ter guardas atrás de si aonde quer que fosse. Fazia-o sentir-se como uma mãe pata liderando uma procissão de patinhos.
Os rapazes de Emmett de Ferro estavam no pátio, espadas embotadas batendo nos escudos, e empurrando-se uns aos outros. Jon parou por um momento para ver Cavalo pressionando Salto de Pisco através do pátio. Cavalo tinha as qualidades de um bom lutador, percebeu. Era forte e estava ficando mais forte ainda, e seus instintos eram afiados. Salto de Pisco era de outro tipo. Tinha os pés bastante tortos, e também temia ser atingido. Talvez possa fazer dele um intendente. A luta terminou abruptamente, com Salto de Pisco no chão.
- Boa luta - Jon disse para Cavalo - mas você mantém o escudo muito baixo quando parte para o ataque. Você deve corrigir isso, ou acabará morto.
- Sim, senhor. Vou deixar ele no alto da próxima vez. - Cavalo puxou Salto de Pisco, que estava caído a seus pés, e o rapaz levantou-se com o corpo em um arco desajeitado.
Alguns dos cavaleiros de Stannis estavam treinando do outro lado do pátio. Homens do rei em um canto, homens da rainha no outro, Jon não podia deixar de notar, mas apenas alguns deles. Está muito frio para a maioria. Ao passar por eles, uma voz potente chamou em suas costas.
- RAPAZ! VOCÊ AÍ! RAPAZ!
Rapaz não era a pior coisa da qual Jon Snow havia sido chamado desde que fora escolhido Senhor Comandante. Ele ignorou.
- Snow - a voz insistiu. - Senhor Comandante.
Dessa vez ele parou.
- Sor?
O cavaleiro era quase quinze centímetros mais alto do que ele.
- Um homem que carrega consigo aço valiriano deve usá-lo para algo mais do que coçar o traseiro.
Jon tinha visto o sujeito pelo castelo - um cavaleiro de grande renome segundo ele mesmo dizia. Durante a batalha sob a Muralha, Sor Godry Farring havia matado gigantes em fuga, perseguindo-os a cavalo e atingindo-os com a lança pelas costas, desmontando então para cortar as cabeças lamentavelmente pequenas das criaturas. Os homens da rainha passaram a chamá-lo de Godry, o Matador de Gigantes.
Jon se lembrou de Ygritte, gritando. Eu sou o último dos gigantes.
- Uso Garralonga quando devo, sor.
- Muito bem, vamos? - Sor Godry desembainhou sua própria lâmina. - Mostre-nos. Prometo não machucá-lo, rapaz.
Quanta gentileza.
- Numa outra hora, sor. Temo ter outros deveres agora.
- Teme. Posso ver. - Sor Godry sorriu para seus amigos. - Ele teme - repetiu, para os mais lentos.
- Com sua licença - Jon deu-lhe as costas.
O Castelo Negro parecia um lugar triste e abandonado à luz do pálido amanhecer. Meu comando, Jon Snow refletiu com tristeza, é tanto uma ruína quanto uma fortaleza. A Torre do Senhor Comandante era apenas uma casca, os Salões Comuns, uma pilha de madeira enegrecida, a Torre de Hardin parecia prestes a desabar na próxima rajada de vento ... embora estivesse assim havia anos. Atrás, levantava-se a Muralha: imensa, proibitiva, gélida, apinhada de construtores que colocavam novos remendos na escada, unindo vigas novas às antigas. Eles trabalhavam do amanhecer ao anoitecer. Sem a escada, não havia como chegar ao topo da Muralha, salvo pela gaiola de ferro. E isso não serviria se os selvagens atacassem novamente.
Acima da Torre do Rei, o grande estandarte de guerra dourado da Casa Baratheon estalava como um chicote no telhado, onde havia não muito tempo Jon Snow estivera com o arco na mão, matando thenns e o povo livre, ao lado de Cetim e Dick Surdo Follard. Dois homens da rainha estavam tremendo nos degraus, com as mãos sob as axilas e as lanças encostadas na porta.
- Essas luvas de tecido nunca vão servir - disse-lhes Jon. - Falem com Bowen Marsh pela manhã, e ele dará para cada um de vocês um par de luvas de couro, forradas de pele.
- Iremos, sim, senhor. Obrigado - disse o guarda mais velho.
- Isso se nossas malditas mãos não estiverem congeladas - o mais jovem completou, sua respiração uma névoa pálida. - Eu costumava achar que era frio nas Marcas de Dorne. O que eu sabia?
Nada, pensou Jon Snow, o mesmo que eu.
A meio caminho dos sinuosos degraus, deparou-se com Samwell Tarly, que descia as escadas.
- Você estava com o Rei? - Jon perguntou.
- Meistre Aemon me mandou com uma carta.
- Entendo. - Alguns senhores confiavam em seus meistres para lerem suas cartas e lhes transmitirem os conteúdos delas, mas Stannis insistia em ele mesmo romper os selos. - Como Stannis a recebeu?
- Pela cara, não muito feliz. - Sam baixou a voz até um sussurro. - Eu não deveria falar sobre isso.
- Então, não falamos. - Jon se perguntou qual dos vassalos de seu pai teria recusado prestar homenagens ao Rei Stannis desta vez. Ele havia sido bem rápido em espalhar a notícia quando Karhold lhe declarou apoio. - Como você e seu arco estão se saindo?
- Encontrei um bom livro sobre arco e flecha - Sam franziu a testa. - Mas praticar é mais difícil do que ler sobre o assunto. Fico com bolhas.
- Continue. Podemos precisar de seu arco sobre a Muralha se os Outros aparecerem em alguma noite escura.
- Oh, espero que não.
Mais guardas permaneciam do lado de fora dos aposentos do Rei.
- Não são permitidas armas na presença de Sua Graça, senhor - o sargento disse. - Vou precisar dessa espada. E das suas facas também. - Não faria bem algum protestar, Jon sabia. Entregou-lhes seu armamento.
Dentro dos aposentos o ar estava morno. A Senhora Melisandre estava sentada perto do fogo, seu rubi brilhando contra a pele branca do pescoço. Ygritte fora beijada pelo fogo; a sacerdotisa vermelha era o fogo e seus cabelos eram sangue e chamas. Stannis estava atrás da mesa rústica onde o Velho Urso costumava se sentar para fazer as refeições. Cobrindo a mesa havia um grande mapa do Norte, pintado em um pedaço irregular de couro cru. Uma vela de sebo segurava uma das extremidades do mapa, uma luva de aço, a outra.
O rei usava calções de lã de cordeiro e um gibão acolchoado, mesmo assim parecia tão duro e desconfortável como se estivesse revestido em armadura e cota de malha. Sua pele era couro pálido, sua barba, cortada tão rente que poderia ter sido pintada. Uma franja sobre as têmporas era tudo o que lhe restara do cabelo preto. Em suas mãos estava um pergaminho com um selo de cera verde-escuro rompido.
Jon se ajoelhou. O rei franziu a testa para ele e sacudiu o pergaminho com raiva.
- Levante-se. Me diga, quem é Lyanna Mormont?
- Uma das filhas da Senhora Maege, Majestade. A mais jovem. Recebeu esse nome por causa da irmã do meu pai.
- Para agradar ao senhor seu pai, não duvido. Sei que jogo é esse. Quantos anos tem essa garota miserável?
Jon teve que pensar um momento.
- Dez ... Ou quase isso. Posso saber como ela ofendeu Sua Graça?
Stannis leu a carta.
- A Ilha dos Ursos não reconhece nenhum rei que não o Rei do Norte, cujo nome é STARK. Uma garota de dez anos, você diz, e ela se atreve a repreender seu rei legítimo. - Sua barba rente parecia uma sombra pelas bochechas magras. - Mantenha essa notícia com você, Lorde Snow. Karhold está comigo, e é tudo o que os homens precisam saber. Não quero seus irmãos contando histórias sobre como essa criança cuspiu em mim.
- Ao seu comando, Majestade - Maege Mormont havia seguido para o Sul com Robb, Jon sabia. Sua filha mais velha também havia se unido às tropas do Jovem Lobo. Mesmo se as duas estivessem mortas, a Senhora Maege tinha deixado pelo menos uma das filhas mais velhas como castelão Ele não entendia por que Lyanna havia escrito para Stannis, e não podia ajudar, mas se perguntava se a resposta da garota seria diferente caso a carta tivesse sido selada com um lobo gigante em vez de um veado coroado e assinada por Jon Stark, Senhor de Winterfell. É tarde demais para essas dúvidas. Você fez sua escolha.
- Dois grupos de corvos foram enviados - o rei reclamou - e ainda não tivemos resposta, só silêncio e desafio. Obediência é o que cada sujeito leal deve ao seu rei. Mas todos os vassalos do seu pai viraram as costas para mim, com exceção dos Karstark. Arnolf Karstark é o único homem honrado no Norte?
Arnolf Karstark era o tio do falecido Lorde Rickard. Fora feito castelão de Karhold quando seu sobrinho e os filhos dele foram para o Sul com Robb, e havia sido o primeiro a responder ao chamado do Rei Stannis por obediência, declarando sua lealdade. Os Karstark não têm outra escolha, Jon poderia ter dito. Rickard Karstark traíra o Lobo Gigante e derramara sangue dos leões. O veado era a única esperança de Karhold.
- Em tempos confusos como estes, até mesmo os homens de honra devem se perguntar onde está seu dever. Vossa Graça não é o único rei a exigir obediência.
A Senhora Melisandre se agitou.
- Diga-me, Lorde Snow... onde estavam esses outros reis quando os selvagens atacaram sua Muralha?
- A milhares de léguas daqui, e surdos às nossas necessidades - Jon respondeu. - Não esqueci disso, minha senhora. Nem me esquecerei. Mas os vassalos do meu pai têm esposas e filhos para proteger, e camponeses que morrerão se eles escolherem mal. Sua Graça exige muito deles. Dê-lhes tempo, e eles encontrarão suas respostas.
- Respostas como esta? - O rei Stannis amassou a carta de Lyanna na mão.
- Mesmo no Norte os homens temem a ira de Tywin Lannister. Os Bolton também são maus inimigos para se ter. Não é à toa que têm um homem esfolado em seu estandar te. O Norte cavalgou com Robb, sangrou com ele, morreu por ele. Tiveram uma boa porção de tristeza e morte, e agora o senhor vem lhes oferecer outra dose. Pode culpá-los se ficarem com o pé atrás? Perdoe-me, Sua Graça, mas alguns vão olhá-lo e ver apenas outro pretendente condenado.
- Se Sua Graça está condenada, o reino está condenado também - disse a Senhora Melisandre. - Lembre-se disso, Lorde Snow. É o único rei verdadeiro de Westeros que está diante de você.
Jon manteve o rosto impenetrável.
- É como diz, senhora.
Stannis bufou.
- Você gasta suas palavras como se cada uma delas fosse um dragão de ouro. Eu me pergunto: quanto ouro você tem?
- Ouro? - Eram esses os dragões que a mulher vermelha queria acordar? Dragões feitos de ouro? - As taxas que nós coletamos são pagas em espécie, Vossa Graça. A Patrulha é rica em nabos, mas pobre em moedas.
- Nabos não vão apaziguar Salladhor Saan. Exijo ouro ou prata.
- Para isso, é necessário Porto Branco. A cidade não se compara a Vilavelha ou Porto Real, mas ainda é um próspero porto. Lorde Manderly é o vassalo mais rico do meu pai.
- Lorde Gordo-demais-para-sentar-em-um-cavalo. - A carta que Lorde Manderly tinha enviado de Porto Branco falava de sua idade e sua enfermidade, e pouco mais que isso. Stannis ordenara a Jon que também não comentasse sobre essa carta.
- Talvez o senhorio gostasse de uma esposa selvagem - disse a Senhora Melisandre.
- Esse homem gordo é casado, Lorde Snow?
- Sua esposa morreu há tempos. Lorde Wyman tem dois filhos crescidos, e netos do mais velho. E ele é gordo demais para sentar em um cavalo, cento e noventa quilos no mínimo. Val nunca iria querer um homem assim.
- Apenas uma única vez você podia tentar dar uma resposta que me agradasse, Lorde Snow - o rei resmungou.
- Eu esperava que a verdade o agradasse, Majestade. Seus homens chamam Val de princesa, mas para o povo livre ela é apenas a irmã da falecida esposa do rei deles. Se forçá-la a casar com um homem que não deseja, ela é capaz de cortar a garganta dele na noite de núpcias. Mesmo se ela aceitar um marido, isso não quer dizer que os selvagens vão segui-lo, ou ao senhor. O único homem que pode uni-los à sua causa é Mance Rayder.
- Eu sei disso - Stannis disse, infeliz. - Passei horas falando com o homem. Ele sabe muito e ainda mais sobre nosso verdadeiro inimigo, e é um homem astuto, lhe garanto. Mas, mesmo se ele renunciar a sua realeza, continuará a ser um perjuro. Deixe um desertor viver, e incentivará outros a desertarem. Não. Leis devem ser feitas de ferro, não de pudim. Mance Rayder deve ser executado por todas as leis dos Sete Reinos.
- As leis terminam na Muralha, Vossa Graça. O senhor podia fazer bom uso de Mance.
- E eu pretendo. Vou queimá-lo, e o Norte verá como lido com vira-casacas e traidores. Tenho outro homem para liderar os selvagens. E tenho o filho de Rayder, não se esqueça. Uma vez que o pai esteja morto, o filhote será o Rei-para-lá-da-Muralha.
- Vossa Graça está enganado. - Você não sabe nada, Jon Snow, Ygritte costumava dizer, mas ele havia aprendido. - O bebê não é mais príncipe do que Val é uma princesa. Você não se torna Rei-para-lá-da-Muralha porque seu pai era.
- Bom - disse o rei - pois eu não suportarei outros reis em Westeros. Você assinou a concessão?
- Não, Vossa Graça - E aí vem. Jon fechou seus dedos queimados e os abriu novamente. - O senhor pede muito.
- Peço? Eu pedi para você ser Lorde de Winterfell e Protetor do Norte. Eu exijo esses castelos.
- Já lhe cedemos o Fortenoite.
- Ratos e ruínas. Um presente avarento que não custará nada ao doador. Seu próprio homem, Yarwyck, diz que será necessário meio ano até que o castelo fique habitável.
- Os outros fortes não estão melhores.
- Eu sei disso. Não importa. São tudo o que temos. Há dezenove fortes ao longo da Muralha, e você tem homens em apenas três deles. Quero ter cada um deles guarnecidos novamente antes que o ano acabe.
- Não tenho nenhuma objeção a isso, Majestade, mas lá também está dito que o senhor pode conceder esses castelos para cavaleiros e senhores, a fim de mantê-los como suas próprias casas, como vassalos de Vossa Graça.
- Espera-se que os reis sejam mão-aberta com seus seguidores. Lorde Eddard não ensinou nada para seu bastardo? Muitos de meus cavaleiros e senhores abandonaram ricas terras e fortes castelos no Sul. A lealdade deles deve ficar sem recompensa?
- Se Vossa Graça deseja perder todos os vassalos do meu pai, não há meio mais seguro para isso do que dar propriedades nortenhas para lordes do Sul.
- Como posso perder homens que não tenho? Eu esperava outorgar Winterfell para um nortenho, você deve se lembrar. Um filho de Eddard Stark. Ele jogou a oferta na minha cara. - Stannis Baratheon com uma queixa era como um mastim com um osso; roía até o último pedaço.
- Por direito Winterfell deve ir para minha irmã Sansa.
- A Senhora Lannister, você quer dizer? Está assim tão ansioso para ver o Duende empoleirado na cadeira do seu pai? Eu lhe prometo que isso não acontecerá enquanto eu viver, Lorde Snow.
Jon sabia que era melhor não prolongar o assunto.
- Majestade, alguns afirmam que o senhor pretende conceder terras e castelos para Camisa de Chocalho e para o Magnar de Thenn.
- Quem disse isso?
Era a conversa que circulava pelo Castelo Negro.
- Se o Senhor quer saber, escutei a história de Goiva.
- Quem é Goiva?
- A ama de leite - disse a Senhora Melisandre. - Vossa Graça lhe deu liberdade no castelo.
- Não para espalhar histórias. Ela é necessária por suas tetas, não por sua língua. Terei mais leite dela, e menos conversas.
- Castelo Negro não precisa de bocas inúteis - Jon concordou. - Enviarei Goiva para o Sul no próximo navio que sair de Atalaialeste.
Melisandre tocou o rubi em seu pescoço. - Goiva está amamentando o filho de Dalla, além do seu próprio. Parece cruel separar nosso pequeno príncipe de seu irmão de leite, senhor.
Cuidado agora, cuidado.
- A mãe de leite é tudo o que partilharam. O filho de Goiva é maior e mais robusto. Ele chuta o príncipe e o belisca, e o empurra do peito. Craster era seu pai, um homem cruel e ganancioso, e o sangue fala.
O rei estava confuso.
- Eu pensei que a ama de leite era filha de Craster.
- Esposa e filha, Vossa Graça. Craster se casava com todas as filhas. O menino de Goiva é fruto dessa união.
- O pai a engravidou? - Stannis parecia chocado. - Faremos bem em nos livrar dela, então. Não aceitarei essas abominações aqui. Isto não é Porto Real.
- Posso encontrar outra ama de leite. Se não houver outra entre as selvagens, pedirei uma para os clãs da montanha. Até lá, leite de cabra deverá nutrir o garoto, se for do agrado de Vossa Graça.
- Comida pobre para um príncipe... mas melhor do que leite de prostituta, isso é. - Stannis tamborilou os dedos sobre o mapa. - Se pudermos voltar ao assunto dos fortes ...
- Vossa Graça - disse Jon, com fria cortesia - tenho alojado e alimentado seus homens a um custo terrível para nossos estoques de inverno. Tive que vesti-los para que não congelassem.
Stannis não se importou.
- Sim, você compartilhou seu porco salgado e seu mingau de aveia e jogou alguns panos pretos para nos manter aquecidos. Trapos que os selvagens teriam tirado de seus cadáveres se eu não tivesse vindo para o Norte.
Jon ignorou o comentário.
- Dei forragem para seus cavalos, e uma vez que a escada esteja pronta, enviarei construtores para restaurar Fortenoite. Também concordei que o senhor estabelecesse selvagens na Dádiva, terras que foram dadas para a Patrulha da Noite perpetuamente.
- Você me oferece terras vazias e desoladas e ainda me nega os castelos que exijo para recompensar meus lordes e vassalos.
- A Patrulha da Noite construiu esses castelos ...
- E a Patrulha da Noite os abandonou.
- ... para defender a Muralha - Jon completou, teimosamente - não como lugares para os senhores do Sul. As pedras desses fortes foram assentadas com o sangue e os ossos dos meus irmãos, mortos há muito tempo. Não posso dá-los para o senhor.
- Não pode ou não dará? - As veias no pescoço do rei destacavam-se, afiadas como espadas. - Eu lhe ofereci um nome.
- Eu tenho um nome, Vossa Graça.
- Snow. Alguma vez um nome foi mais de mau agouro? - Stannis tocou o punho da espada. - Quem você pensa que é?
- O patrulheiro na Muralha. A espada na escuridão.
- Não me venha com seu juramento. - Stannis desembainhou a espada que chamava de Luminífera. - Aqui está a espada na escuridão. - A luz ondulava para cima e para baixo pela lâmina, ora vermelha, ora amarela, ora laranja, pintando o rosto do rei em duros tons brilhantes. - Até mesmo um menino inexperiente deve ser capaz de ver isto. Você é cego?
- Não, Majestade. Concordo que esses castelos devem ser guarnecidos ...
- O garoto comandante concorda. Que sorte.
- ... pela Patrulha da Noite.
- Você não tem homens para isso.
- Então me dê homens, Majestade. Providenciarei oficiais para cada um dos fortes abandonados, comandantes experientes, que conheçam a Muralha e as terras além dela, e saibam como sobreviver ao inverno que está chegando. Em retribuição a tudo o que lhe demos, consiga-me os homens para guarnecer os fortes. Homens em armas, arqueiros, meninos ainda crus. Posso levar até seus feridos e enfermos.
Stannis olhou para ele, incrédulo, e depois deu uma gargalhada.
- Você é realmente ousado, Snow, posso garantir isso, mas é louco se acha que meus homens vão vestir negro.
- Eles podem vestir capas das cores que quiserem, desde que obedeçam a meus oficiais como obedeceriam aos seus.
O rei estava imóvel.
- Tenho cavaleiros e senhores a meu serviço, descendentes de nobres Casas, antigas em sua honra. Não se pode esperar que sigam as ordens de caçadores, camponeses e assassinos.
Ou bastardos, Majestade?
- Sua própria Mão é um contrabandista.
- Era um contrabandista. Cortei seus dedos por isso. Disseram-me que você é o nonocentésimo nonagésimo oitavo homem a comandar a Patrulha da Noite, Lorde Snow. O que você acha que o nonocentésimo nonagésimo nono diria sobre esses castelos? A imagem de sua cabeça em uma lança poderia inspirá-lo a ser mais prestativo. - O rei pousou sua brilhante espada sobre o mapa, ao longo da Muralha, o aço brilhava como a luz do sol na água. - Você só é Senhor Comandante com meu consentimento. É bom que se lembre disso.
- Sou Senhor Comandante porque meus irmãos me escolheram. - Houve manhãs em que Jon Snow quase não acreditava em si mesmo, quando ele acordava pensando que tudo não passava de um pesadelo. É como colocar novas roupas, Sam lhe havia dito. O caimento parece estranho no início, mas assim que você as usa por um tempo, parecem mais confortáveis.
- Alliser Thorne reclamou da maneira como você foi escolhido, e não posso dizer que ele não tenha razão na queixa. - O mapa permanecia entre eles como um campo de batalha, umedecido pelas cores da espada brilhante. - A contagem foi feita por um homem cego, com seu amigo gordo ao lado. E Slynt chama você de vira-casaca.
E quem reconheceria um melhor do que Slynt?
- Um vira-casaca diria o que o senhor deseja ouvir e o trairia mais tarde. Vossa Graça sabe que fui escolhido de forma justa. Meu pai sempre disse que o senhor é um homem justo. - Justo mas rigoroso haviam sido as palavras exatas de Lorde Eddard, mas Jon achava que não seria sensato partilhar isso.
- Lorde Eddard não era meu amigo, mas não era destituído de algum juízo. Ele teria me dado esses castelos.
Nunca.
- Não posso dizer o que meu pai teria feito. Eu fiz um juramento, Vossa Graça. A Muralha é minha.
- Por enquanto. Veremos como vai mantê-la. - Stannis apontou para ele. - Fique com suas ruínas, se elas significam tanto para você. No entanto, eu prometo que, se alguma delas permanecer vazia quando o ano terminar, eu as tomarei com ou sem sua permissão. E se uma delas cair para o inimigo, sua cabeça a seguirá na sequência. Agora, saia.
A Senhora Melisandre levantou-se de seu lugar próximo à lareira.
- Com sua permissão, Majestade, levarei Lorde Snow de volta aos aposentos dele.
- Por quê? Ele sabe o caminho. - Stannis acenou para que os dois fossem embora. - Faça o que quiser. Devan, comida. Ovos cozidos e água de limão.
Depois do calor vindo dos aposentos do rei, a escada encaracolada parecia assustadoramente fria.
- O vento está aumentando, senhora - o sargento avisou Melisandre enquanto devolvia as armas de Jon. - Deveria colocar uma capa mais quente.
- Tenho minha fé para me aquecer. - A mulher vermelha desceu a escada ao lado de Jon. - Sua Graça está gostando cada vez mais de você.
- Percebi. Ele só ameaçou cortar minha cabeça duas vezes.
Melisandre riu.
- São seus silêncios que você deve temer, não suas palavras. - Assim que saíram para o pátio, o vento fez o manto de Jon bater contra ela. A sacerdotisa vermelha empurrou a lã negra para o lado e passou o braço pelo dele. - É possível que você não esteja errado sobre o rei selvagem. Vou rezar para o Senhor da Luz me orientar. Quando olho para as chamas, posso ver através da pedra e da terra e encontrar a verdade nas almas dos homens. Posso falar com reis há muito mortos e com crianças que ainda não nasceram, e assistir aos anos e às estações do tremulante passado, até o final dos dias.
- E o fogo nunca erra?
- Nunca ... apesar de que nós, sacerdotes, somos mortais e algumas vezes erramos, confundindo o deve ser com o pode ser.
Jon podia sentir o coração dela, mesmo através da lã e do couro fervido. A imagem dos dois de braços dados formava um quadro curioso. Teremos fofoca nos alojamentos esta noite.
- Se você realmente pode ver o futuro nas chamas, me diga quando e como o próximo ataque dos selvagens virá. - Ele escorregou o braço, libertando-se dela.
- R'hllor nos manda as visões que ele deseja, mas procurarei por este homem, Tormund, nas chamas. - Os lábios de Melisandre se curvaram em um sorriso. - Já vi você nas chamas, Jon Snow.
- É uma ameaça, senhora? Quer me queimar também?
- Você se engana com meus propósitos. - Ela lhe deu um olhar inquiridor. - Temo tê-lo deixado inquieto, Lorde Snow.
Jon não podia negar.
- A Muralha não é lugar para uma mulher.
- Está enganado. Sonhei com sua Muralha, Jon Snow. Grande foi o conhecimento que a ergueu e grandes foram os feitiços presos sob seu gelo. Nós caminhamos por baixo de uma dobradiça do mundo. - Melisandre olhou para ele, seu hálito quente formando uma nuvem úmida no ar. - Este é meu lugar tanto quanto é seu, e logo você precisará seriamente de mim. Não recuse minha amizade, Jon. Vi você na tempestade, muito pressionado, com inimigos por todos os lados. Você tem tantos inimigos ... Devo dizer-lhe seus nomes?
- Eu sei os nomes.
- Não esteja tão certo disso. - O rubi na garganta de Melisandre brilhava, vermelho. - Não são os inimigos que o maldizem abertamente que você deve temer, mas aqueles que sorriem quando você está olhando e amolam as facas quando você vira as costas. Faz bem em manter seu lobo sempre por perto. Gelo, eu vi, e adagas na escuridão. Sangue congelado vermelho e duro, e aço nu. Estava muito frio.
- É sempre frio na Muralha.
- Você acha?
- Eu sei, senhora.
- Então você não sabe nada, Jon Snow - ela sussurrou. 

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