segunda-feira, 30 de setembro de 2013

38 - O SENTINELA


- Vamos dar uma olhada nessa cabeça - o príncipe ordenou.
Areo Hotah passava a mão pelo cabo suave de seu machado longo, sua esposa de freixo e ferro, enquanto observava. Observou o cavaleiro branco, Sor Balon Swann, e os outros que vieram com ele. Observou as Serpentes de Areia, cada uma em uma mesa diferente. Observou os senhores e senhoras, os servos, o velho senescal cego e o jovem Meistre Myles, com sua barba sedosa e seu sorriso servil. Parado, meio na luz, meio na sombra, via todos eles. Servir. Proteger. Obedecer. Essa era sua tarefa.
Todos os demais tinham olhos apenas para a arca. Fora esculpida em ébano, com fechos e dobradiças em prata. Uma caixa muito bonita, sem dúvida, mas muitos dos que se reuniam aqui no Palácio Antigo de Lançassolar poderiam logo estar mortos, dependendo do que estivesse na arca.
Com as sandálias sussurrando contra o chão, Meistre Caleotte cruzou o salão na direção de Sor Balon Swann. O homenzinho redondo parecia esplêndido em sua túnica nova, com faixas largas nas cores castanho-escuro e creme e estreitas listras vermelhas. Fazendo uma reverência, pegou a arca das mãos do cavaleiro branco e levou-a até o palanque, onde Doran Martell estava sentado em sua cadeira com rodas entre sua filha Arianne e a querida amante de seu irmão, Ellaria. Uma centena de velas perfumava o ar. Pedras preciosas brilhavam nos dedos dos senhores, e nos cinturões e nas redes de cabelo das senhoras. Areo Hotah polira sua camisa de escamas de bronze até deixá-la com o reflexo de espelhos, então ele brilhava sob as luzes das velas também.
O silêncio caiu sobre a sala. Dorne segura a respiração. Meistre Caleotte colocou a caixa no chão, ao lado da cadeira do Príncipe Doran. Os dedos do meistre, normalmente tão seguros e ágeis, tornaram-se desajeitados enquanto ele lutava para destravar e abrir a tampa e revelar o crânio lá dentro. Hotah ouviu alguém limpar a garganta. Um dos gêmeos Fowler sussurrou alguma coisa para o outro. Ellaria Sand tinha fechado os olhos e murmurava uma prece.
Sor Balon Swann estava tenso como a corda de um arco, o capitão dos guardas observou. Esse novo cavaleiro não era tão alto ou tão agradável quanto o antigo, mas tinha o peito maior, era mais corpulento, seus braços grossos de músculos. Sua capa nevada estava presa ao pescoço por dois cisnes em um broche de prata. Um era de marfim, o outro de ônix, e parecia, para Areo Hotah, que os dois estavam lutando. O homem que os usava parecia um lutador, também. Este não morrerá com a mesma facilidade do outro. Não vai avançar para o meu machado, como Sor Arys fez. Este ficará atrás do escudo e me fará ir até ele. Se chegasse a isso, Hotah estaria pronto. Seu machado longo era afiado o suficiente para se fazer a barba com ele.
Ele se permitiu um rápido olhar para a arca. a crânio repousava em uma cama de feltro negro, sorrindo. Todos os crânios sorriam, mas este parecia mais feliz do que a maioria. E maior. a capitão dos guardas nunca vira um crânio tão grande. A testa era grossa e pesada, a mandíbula, maciça. a osso brilhava sob a luz das velas, branco como a capa de Sor Balon.
- Coloque-o no pedestal - o príncipe ordenou. Tinha lágrimas brilhando nos olhos.
O pedestal era uma coluna de mármore negro, noventa centímetros mais alta do que Meistre Caleotte. a pequeno e gordo meistre ficou na ponta dos pés, mas mesmo assim não alcançou. Areo Hotah estava prestes a ajudá-lo, mas abara Sand se moveu antes. Mesmo sem seu chicote e escudo, ela tinha um visual zangado e masculinizado. Em vez de vestido, usava calções de homem e uma túnica de linho abaixo dos joelhos, presa à cintura por um cinto com sóis de cobre. Seu cabelo castanho estava preso atrás em um coque. Arrebatando o crânio das suaves mãos rosadas do meistre, ela o colocou no alto da coluna de mármore.
- A Montanha não cavalga mais - o príncipe disse, gravemente.
- Sua morte foi longa e sofrida, Sor Balon? - perguntou Tyene Sand, em um tom que uma donzela poderia usar para perguntar se seu vestido era bonito.
- Gritou por dias, minha senhora - o cavaleiro branco respondeu, embora fosse claro que não o agradava nem um pouco dizer isso. - Podíamos ouvi-lo por toda a Fortaleza Vermelha.
- Isso o incomoda, sor? - perguntou a Senhora Nym. Ela usava um vestido de seda amarela tão pura e fina que as velas brilhavam através do tecido, para revelar os fios de ouro e as joias embaixo. Tão indecente era sua roupa que o cavaleiro branco parecia desconfortável olhando para ela, mas Hotah aprovou. Nymeria era menos perigosa quando estava quase nua. De outro modo, certamente teria uma dúzia de lâminas ocultas em seu traje. - Sor Gregor era um bruto sanguinário, todos concordavam. Se alguma vez um homem mereceu sofrer, foi ele.
- Isso pode ser assim, minha senhora - disse Balon Swann - mas Sor Gregor era um cavaleiro, e um cavaleiro deve morrer com a espada na mão. Veneno é uma maneira criminosa e suja de matar.
A Senhora Tyene sorriu daquilo. Seu vestido era creme e verde, com longas mangas de renda, tão modesta e tão inocente que qualquer homem que olhasse para ela poderia pensar que era a mais casta das donzelas. Areo Hotah sabia a verdade. Suas mãos suaves e claras eram tão mortais quanto as mãos calosas de abara, se não mais. Ele a observava cuidadosamente, alerta a qualquer pequeno movimento de seus dedos.
O Príncipe Doran franziu a testa.
- Isso é verdade, Sor Balon, mas a Senhora Nym está certa. Se alguma vez um homem mereceu morrer gritando, esse foi Gregor Clegane. Ele massacrou minha boa irmã, esmagou a cabeça de seu bebê contra a parede. Eu apenas oro para que agora esteja queimando em algum inferno, e que Elia e seus filhos estejam em paz. Essa era a justiça pela qual Dorne estava faminta. Estou feliz de ter vivido o suficiente para saboreá-la. Finalmente, os Lannister provaram a verdade de suas intenções e pagaram seu débito de sangue.
O príncipe deixou que Ricasso, seu senescal cego, se erguesse e propusesse um brinde.
- Senhores e senhoras, vamos agora beber a Tommen, o Primeiro de Seu Nome, Rei dos Ândalos, dos Roinares e dos Primeiros Homens, e Senhor dos Sete Reinos.
Servos começaram a se mover entre os convidados enquanto o senescal falava, enchendo as taças com os jarros que carregavam. O vinho era um forte dornense, escuro como sangue e doce como a vingança. O capitão não bebeu. Nunca bebia em festas. Nem o próprio príncipe tomou parte. Ele tinha seu próprio vinho, preparado por Meistre Myles e bem misturado com leite de papoula para aliviar a agonia de suas articulações inchadas.
O cavaleiro branco bebeu, embora apenas por cortesia. Seus companheiros, da mesma maneira. O mesmo fez a Princesa Arianne, a Senhora Jordayne, o Senhor da Graçadivina, o Cavaleiro de Limoeiros, a Senhora de Colina Fantasma ... até mesmo Ellaria Sand, querida amante do Príncipe Oberyn, que estava com ele em Porto Real quando foi morto. Hotah prestou mais atenção naqueles que não beberam: Sor Daemon Sand, Lord Tremond Gargalen, os gêmeos Fowler, Dagos Manwoody, os Uller da Toca do Inferno, os Wyl do Caminho do Espinhaço. Se houver algum problema, pode começar com um deles. Dome era uma terra zangada e dividida, e a mão do Príncipe Doran não estava tão firme quanto deveria. Muitos de seus próprios senhores o achavam fraco e teriam apoiado uma guerra aberta contra os Lannister e o rei menino no Trono de Ferro.
As líderes entre esses descontentes eram as Serpentes de Areia, filhas bastardas de Oberyn, a Serpente Vermelha, irmão falecido do príncipe. Doran Martell era o mais sábio dos príncipes, e não era função de seu capitão da guarda questionar suas decisões, mas Areo Hotah se perguntava por que decidira soltar as senhoras Obara, Nymeria e Tyene de suas celas solitárias na Torre da Lança.
Tyene declinou o brinde de Ricasso com um murmúrio, e a Senhora Nym com um aceno da mão. Obara deixou que enchessem sua taça até a borda, então despejou o vinho tinto no chão. Quando a serva se ajoelhou para limpar a sujeira, Obara deixou o salão. Depois de um momento, a Princesa Arianne se desculpou e foi atrás dela. Obara nunca descontaria a raiva na princesinha, Hotah sabia. São primas e se amam também.
A celebração continuou até tarde da noite, presidida pelo crânio sorridente no pilar de mármore negro. Sete pratos foram servidos, em honra aos sete deuses e aos sete irmãos da Guarda Real. A sopa era feita com ovos e limões, as grandes pimentas-verdes, recheadas com queijo e cebola. Havia tortas de lampreia, capões mergulhados no mel, um peixe-gato do fundo do Sangueverde tão grande que foram necessários quatro homens para levá-lo até a mesa. Depois disso, veio um ensopado picante de cobra, com pedaços de sete tipos de cobras cozidos lentamente com pimenta-dragão, laranjas sanguíneas e uma pitada da peçonha para dar uma boa ardência. O ensopado estava pegando fogo, Hotah sabia, embora não tivesse provado. Limonada veio na sequência, para esfriar a língua. Para a sobremesa, cada convidado foi servido com um crânio confeitado em açúcar. Quando a crosta era quebrada, havia um creme doce dentro com pedaços de ameixa e cereja.
A Princesa Arianne retornou no momento das pimentas recheadas. Minha princesinha, Hotah pensou, embora Arianne fosse uma mulher agora. As sedas escarlate que usava não deixavam dúvidas sobre isso. Ultimamente, ela mudara de outras maneiras também. Seu plano de coroar Myrcella fora traído e esmagado, seu cavaleiro branco perecera de modo sangrento nas mãos de Hotah, e ela fora confinada à Torre da Lança, condenada à solidão e ao silêncio. Tudo aquilo a castigara. Mas havia algo mais, algum segredo que seu pai lhe confiara antes de libertá-la do confinamento. O que era, o capitão não sabia.
O príncipe colocara a filha entre ele e o cavaleiro branco, um lugar de alta honra. Arianne sorriu, sentou-se novamente e murmurou algo no ouvido de Sor Balon. O cavaleiro optou por não responder. Ele comia pouco, Hotah observou; uma colherada de sopa, uma mordida na pimenta, um pedaço do capão, um pouco de peixe. Afastou a torta de lampreia e experimentou apenas uma pequena colherada do ensopado. Mesmo assim, aquilo fez o suor brotar em sua testa. Hotah simpatizava com essa reação. Quando chegara a Dorne, a comida apimentada amarrava suas entranhas e queimava sua língua. Mas isso fora anos atrás; agora seu cabelo estava branco e era capaz de comer qualquer coisa que os dornenses comessem.
Quando o crânio confeitado foi servido, Sor Balon apertou os lábios e deu ao príncipe um olhar demorado, para ver se estava sendo ridicularizado. Doran Martell não percebeu, mas a filha, sim.
- É uma pequena brincadeira da cozinheira, Sor Balon - disse Arianne. - Nem mesmo a morte é sagrada para os dornenses. Não ficará zangado conosco, espero. - Passou os dedos nas costas da mão do cavaleiro branco. - Espero que tenha apreciado seu tempo em Dorne.
- Todos têm sido muito hospitaleiros, minha senhora.
Arianne tocou no broche que prendia a capa dele, com os cisnes lutando.
- Sempre fui apaixonada por cisnes. Nenhuma outra ave chega à metade da beleza deles neste lado das Ilhas do Verão.
- Seus pavões poderiam questionar isso - disse Sor Balon.
- Poderiam - respondeu Arianne - mas pavões são criaturas vãs e orgulhosas, exibindo-se em todas aquelas cores berrantes. Dê-me um cisne, sereno em branco, ou lindo em negro.
Sor Balon fez um aceno com a cabeça e tomou um gole de vinho. Este aí não será seduzido tão facilmente quanto seu Irmão Juramentado, Hotah pensou. Sor Arys era um garoto, apesar de seus anos. Este aí é um homem, e cuidadoso. O capitão tinha apenas que olhar para ele para perceber que o cavaleiro branco estava pouco à vontade. Este lugar é estranho para ele, e pouco do seu gosto. Hotah entendia isso. Dorne parecera um lugar esquisito para ele também, assim que chegou aqui com sua própria princesa, havia muitos anos. Os sacerdotes barbados o haviam ensinado a Língua Comum de Westeros antes de enviá-lo para cá, mas todos os dornenses falavam rápido demais para que entendesse. As mulheres dornenses eram muito lascivas, o vinho dornense, muito azedo, e a comida dornense, cheia de estranhas especiarias picantes. E o sol dornense era mais quente do que o pálido sol de Norvos, brilhante em um céu azul dia após dia.
A jornada de Sor Balon fora mais curta, mas perturbadora em sua própria maneira, o capitão sabia. Três cavaleiros, oito escudeiros, vinte homens em armas e diversos cavalariços e servos o acompanhavam de Porto Real, mas uma vez que cruzaram as montanhas para dentro de Dorne, seu progresso fora atrasado por uma rodada de banquetes, caçadas e celebrações em cada castelo que tiveram a chance de passar. E agora que chegava a Lançassolar, nem a Princesa Myrcella nem Sor Arys Oakheart estavam por perto para cumprimentá-lo. O cavaleiro branco sabe que algo está errado, Hotah podia afirmar, mas havia algo mais. Talvez a presença das Serpentes de Areia o irritasse. Se fosse isso, o retorno de Obara ao salão só seria vinagre na ferida. Ela voltou ao seu lugar sem uma palavra, e sentou-se carrancuda e mal-humorada, sem sorrir ou conversar.
Já era quase meia-noite quando o Príncipe Doran se virou para o cavaleiro branco e disse:
- Sor Balon, li a carta que trouxe para mim de sua graciosa rainha. Posso presumir que é familiar ao seu conteúdo, sor?
Hotah viu o cavaleiro ficar tenso.
- Sou, meu senhor. Sua Graça me informou que eu poderia ser chamado para escoltar a filha dela de volta a Porto Real. O Rei Tommen está com saudades da irmã e gostaria que a Princesa Myrcella retornasse à corte para uma rápida visita.
A Princesa Arianne fez uma cara triste.
- Oh, mas todos estamos tão apaixonados por Myrcella, sor. Ela e meu irmão Trystane se tornaram inseparáveis.
- O Príncipe Trystane seria bem-vindo em Porto Real também - disse Balon Swann. - O Rei Tommen desejaria conhecê-lo, estou certo disso. Sua Graça tem muito poucas companhias da sua idade.
- Os laços formados na infância podem durar a vida toda - falou o Príncipe Doran. - Quando Trystane e Myrcella se casarem, ele e Tommen serão como irmãos. A Rainha Cersei está certa nisso. Os garotos devem se encontrar, ficar amigos. Dome sentirá falta dele, estou certo, mas já passou a hora de Trystane ver algo do mundo além das muralhas de Lançassolar.
- Sei que Porto Real o receberá calorosamente.
Por que ele está suando agora? O capitão se perguntou, observando. O salão está frio o suficiente, e ele nem tocou no ensopado.
- Quanto à outra questão que a Rainha Cersei levanta - o Príncipe Doran estava dizendo - é verdade, o assento de Dome no pequeno conselho está vazio desde a morte do meu irmão, e já passou o tempo de preenchê-lo novamente. Estou lisonjeado que Sua Graça sinta que meus conselhos lhe possam ser úteis, embora me pergunte se tenho forças suficientes para essa jornada. E se fôssemos por mar?
- De navio? - Sor Balon parecia surpreso. - Isso ... seria seguro, meu príncipe? Outono é uma péssima estação para tempestades, pelo que escutei, e... os piratas de Passopedra, eles ...
- Os piratas. Certamente. Você pode ter razão, sor. É mais seguro retornar pelo caminho que você veio. - O Príncipe Doran sorriu agradavelmente. - Falaremos sobre isso novamente amanhã. Quando chegarmos aos Jardins das Águas, podemos falar com Myrcella. Sei que ela ficará entusiasmada. Ela sente falta do irmão também, não tenho dúvidas.
- Estou ansioso para vê-la novamente - disse Sor Balon. - E visitar seus Jardins das Águas. Ouvi dizer que são muito bonitos.
- Bonitos e tranquilos - o príncipe respondeu. - Brisas frescas, águas gasosas e o sorriso das crianças. Os Jardins das Águas são meu lugar favorito neste mundo, sor. Um dos meus antepassados o construiu para agradar à sua noiva Targaryen e libertá-la da poeira e do calor de Lançassolar. Daenerys era o nome dela. Era irmã do Rei Daeron, o Bom, e foi o casamento dela que garantiu que Dome fizesse parte dos Sete Reinos. O reino todo sabia que a garota amava o irmão bastardo de Daeron, Daemon Blackfyre, e era amada por ele também, mas o rei foi sábio o bastante para ver que o bem de milhares deveria vir antes do desejo de dois, mesmo que esses dois fossem caros a ele. Foi Daenerys quem encheu os jardins com os risos das crianças. No começo, seus dois filhos, mas depois os filhos e as filhas dos senhores e dos cavaleiros com terras foram trazidos para fazer companhia aos garotos e garotas de sangue principesco. Em um dia de verão, quando estava um calor terrível, ela ficou com pena dos filhos dos criados e dos servos, e os convidou a usar as piscinas e as fontes também, uma tradição que permanece até hoje. - O príncipe segurou as rodas de sua cadeira e afastou-se da mesa. - Mas, agora, deve me dar licença, sor. Toda essa conversa me cansou, e temos que partir ao raiar do dia. Obara, você faria a gentileza de me acompanhar para a cama? Nymeria, Tyene, venham também, e ofereçam ao seu velho tio um amável boa-noite.
Coube a Obara Sand empurrar a cadeira do príncipe do salão de festas de Lançassolar e por uma longa galeria até seu solar. Areo Hotah seguiu com as irmãs dela, juntamente com a Princesa Arianne e Ellaria Sand. Meistre Caleotte corria logo atrás, com suas sandálias, embalando o crânio da Montanha como se fosse um bebê.
- Você não pretende, de verdade, enviar Trystane e Myrcella para Porto Real - Obara disse, enquanto empurrava. Seus passos eram compridos e furiosos, muito rápidos, e as grandes rodas de madeira da cadeira batiam ruidosamente pelo chão de pedra áspera. - Faça isso, e nunca mais veremos a garota, e seu filho passará a vida como refém do Trono de Ferro.
- Você acha que sou tolo, Obara? - O príncipe suspirou. - Há muito que você não sabe. Coisas que não devem ser discutidas aqui, onde qualquer um pode escutar. Se você segurar a língua, posso esclarecê-la. - Fez uma careta. - Devagar, pelo amor que tem por mim. Essa última sacudida foi uma facada direto no meu joelho.
Obara diminuiu o ritmo pela metade.
- O que fará, então?
Sua irmã Tyene respondeu.
- O que ele sempre faz - ronronou. - Adiar, confundir, tergiversar. Ah, ninguém faz isso metade tão bem como nosso corajoso tio.
- Estão erradas sobre ele - disse a Princesa Arianne.
- Quietas, todas vocês - o príncipe ordenou.
Somente depois que as portas de seu solar estavam seguramente fechadas, ele virou a cadeira para encarar as mulheres. Mesmo esse esforço o deixou sem ar, e o cobertor de Myr que cobria suas pernas ficou preso entre dois aros da roda, então ele teve que parar para impedir que caísse. Sob o cobertor, suas pernas estavam pálidas, moles, assustadoras. Os dois joelhos estavam vermelhos e inchados, e os dedos dos pés estavam quase roxos, duas vezes o tamanho que deviam ter. Areo Hotah vira-os milhares de vezes e ainda achava difícil olhar para eles.
A Princesa Arianne se adiantou.
- Deixe-me ajudá-lo, pai.
O príncipe puxou o cobertor, para soltá-lo.
- Ainda posso controlar meu próprio cobertor. Pelo menos isso. - Era muito pouco. Suas pernas estavam inutilizadas havia três anos, mas ainda tinha alguma força nas mãos e nos ombros.
- Devo buscar para meu príncipe um dedal de leite de papoula? - Meistre Caleotte perguntou.
- Eu precisaria de um balde, com esta dor. Obrigado, mas não. Quero manter o juízo. Não precisarei mais de você esta noite.
- Muito bem, meu príncipe. - Meistre Caleotte fez uma reverência, com a cabeça de Sor Gregor ainda entre suas suaves mãos rosadas.
- Ficarei com isto. - Obara Sand arrancou o crânio dele e segurou-o com os braços estendidos. - Como a Montanha se parecia? Como sabemos que este é ele? Eles podiam tê-lo mergulhado no alcatrão. Por que limpar até o osso?
- Alcatrão teria estragado a caixa - sugeriu a Senhora Nym, enquanto Meistre Caleotte saía do quarto. - Ninguém viu Montanha morrer, e ninguém viu sua cabeça ser removida. Isso me incomoda, confesso, mas o que aquela rainha vadia esperaria conseguir nos enganando? Se Gregor Clegane está vivo, cedo ou tarde a verdade virá. O homem tem dois metros e meio de altura, não há outro como ele em toda Westeros. Se algo assim aparecesse novamente, Cersei Lannister seria exposta como mentirosa diante de todos os Sete Reinos. Ela seria uma completa idiota em se arriscar assim. O que poderia esperar ganhar?
- O crânio é grande o bastante, sem dúvida - disse o príncipe. - E nós sabemos que Oberyn feriu Gregor seriamente. Cada notícia que tivemos a partir daí afirma que Clegane morreu lentamente, em grande dor.
- Assim como o pai pretendia - falou Tyene. - Irmãs, na verdade, conheço o veneno que o pai usou. Se a lança dele apenas raspou na pele da Montanha, Clegane está morto, não importa o quão grande fosse. Duvidem de sua irmãzinha, se quiserem, mas nunca duvidem do nosso pai.
Obara se eriçou.
- Nunca duvidei e nunca duvidarei. - Ela deu um beijo zombeteiro no crânio. - Isto é um começo, admito.
- Um começo? - perguntou Ellaria Sand, incrédula. - Que os deuses impeçam isso. Deveria ser um fim. Tywin Lannister está morto. Assim como Robert Baratheon, Amory Lorch e, agora, Gregor Clegane, todos aqueles que tinham uma mão no assassinato de Elia e seus filhos. Até mesmo Joffrey, que nem tinha nascido quando Elia morreu. Vi o garoto perecer com meus próprios olhos, arranhando a garganta enquanto tentava respirar. Quem mais há para matar? Myrcella e Tommen precisam morrer para que as sombras de Rhaenys e Aegon possam descansar? Onde isso termina?
- Termina em sangue, como começou - falou a Senhora Nym. - Termina quando Rochedo Casterly estiver rachado e aberto, para que o sol possa brilhar nos vermes e nas larvas dentro dele. Termina com a completa ruína de Tywin Lannister e todas as suas obras.
- O homem morreu pelas mãos do próprio filho - Ellaria retrucou. - O que mais você poderia desejar?
- Poderia desejar que tivesse morrido pelas minhas mãos. - A Senhora Nym sentou-se em uma cadeira, a longa trança negra caindo por sobre um ombro até o colo. Tinha o bico de viúva de seu pai. Embaixo, os olhos eram grandes e brilhantes. Os lábios vermelho-vinho se curvaram em um sorriso sedoso. - Se tivesse, sua morte não teria sido tão fácil.
- Sor Gregor parece solitário - disse Tyene, em sua doce voz de septã. - Ele gostaria de alguma companhia, estou certa.
O rosto de Ellaria estava coberto de lágrimas, os olhos escuros brilhavam. Mesmo chorando, há força nela, o capitão pensou.
- Oberyn queria vingança por Elia. Agora vocês três querem vingança por ele. Tenho quatro filhas, recordo vocês. Suas irmãs. Minha Elia tem catorze, quase uma mulher. Obella tem doze, à beira de florescer. Elas veneram vocês, como Dorea e Loreza veneram elas. Se vocês morrerem, Elia e Obella devem buscar vingança por vocês, e então Dorea e Loreza por elas? E isso seguirá assim, para sempre? Pergunto novamente, onde isso termina? - Ellaria Sand colocou a mão na cabeça da Montanha. - Vi o pai de vocês morrer. Aqui está seu assassino. Posso levar um crânio para a cama, comigo, para me dar conforto à noite? Ele me fará rir, me escreverá canções, cuidará de mim quando eu estiver velha e doente?
- E o que devemos fazer, minha senhora? - perguntou a Senhora Nym. - Devemos baixar nossas lanças, sorrir e esquecer todo o mal que nos foi feito?
- A guerra virá, quer queiramos, quer não - disse Obara. - Um rei garoto se senta no Trono de Ferro. Lorde Stannis mantém a Muralha e reúne os nortenhos à sua causa. As duas rainhas disputam Tommen como cadelas brigam por um osso suculento. Os homens de ferro tomaram os Escudos e avançam pelo Vago, para dentro do coração da Campina, o que significa que Jardim de Cima estará preocupado também. O tempo é maduro.
- Maduro para quê? Para conseguir mais crânios? - Ellaria Sand se virou para o príncipe. - Elas não enxergam. Não posso mais ouvir isso.
- Volte para suas garotas, Ellaria - o príncipe lhe respondeu. - Juro a você que nenhum mal virá sobre elas.
- Meu príncipe. - Ellaria o beijou na testa e saiu. Areo Hotah ficou triste em vê-la partir. É uma boa mulher.
Quando ela se foi, a Senhora Nym disse:
- Sei que ela amava nosso pai também, mas é claro que nunca o compreendeu.
O príncipe lhe deu um olhar curioso.
- Ela o compreendeu mais do que você jamais compreenderia, Nymeria. E fez seu pai feliz. No fim, um coração gentil pode ter mais valor do que orgulho ou valentia. Seja como for. Há coisas que Ellaria não sabe e não deve saber. Esta guerra já começou.
Obara riu.
- Sim, nossa doce Arianne providenciou isso.
A princesa corou, e Hotah viu um espasmo de raiva atravessar o rosto do pai dela.
- O que ela fez, fez tanto por você quanto por si mesma. Eu não seria tão rápido em zombar.
- Isso foi um elogio - Obara Sand insistiu. - Procrastinar, confundir, tergiversar, dissimular e atrasar como você gosta, tio, e Sor Balon ainda vai se encontrar cara a cara com Myrcella nos Jardins das Águas e, quando isso acontecer, ele verá que ela perdeu uma orelha. E quando a garota contar para ele como seu capitão cortou Arys Oakheart do pescoço à virilha com aquela sua esposa de aço, bem ...
- Não. - A Princesa Arianne se ergueu da almofada em que estava sentada e colocou uma mão no braço de Hotah. - Não foi assim que aconteceu, prima. Sor Arys foi morto por Gerold Dayne.
As Serpentes de Areia olharam umas para as outras.
- A Estrela Negra?
- Estrela Negra fez isso - sua princesinha disse. - Tentou matar a Princesa Myrcella também. Como ela contará a Sor Balon.
Nym sorriu
- Essa parte, pelo menos, é verdade.
- É tudo verdade - disse o príncipe, com uma careta de dor. É a gota que o machuca, ou a mentira? - E agora Sor Gerold voltou para o Alto Ermitério, além do nosso alcance.
- Estrela Negra - Tyene murmurou, com uma risadinha. - Por que não? Foi tudo coisa dele. Mas Sor Balon acreditará nisso?
- Acreditará se ouvir de Myrcella - Arianne insistiu.
Obara bufou em descrença.
- Ela pode mentir hoje e mentir amanhã, mas cedo ou tarde contará a verdade. Se Sor Balon tiver permissão de levar essa fábula de volta a Porto Real, tambores soarão e sangue correrá. Ele não deve ter permissão de partir.
- Poderíamos matá-lo, certamente - falou Tyene - mas então precisaríamos matar o restante de sua comitiva, incluindo aqueles jovens e doces escudeiros. Isso seria ... oh, tão bagunçado.
O Príncipe Doran fechou os olhos e abriu-os novamente. Hotah podia ver a perna dele tremendo sob o cobertor.
- Se vocês não fossem filhas do meu irmão, eu enviaria as três de volta para as celas e as deixaria lá até seus ossos ficarem cinza. Em vez disso, pretendo levá-las conosco para os Jardins das Águas. Há lições a serem aprendidas lá, se forem perspicazes para notá-las.
- Lições? - disse Obara. - Tudo o que vejo são crianças nuas.
- Sim - o príncipe respondeu. - Eu contei a história para Sor Balon, mas não toda ela. Enquanto as crianças espalhavam água nas piscinas, Daenerys observava por entre as laranjeiras, e uma percepção veio até ela. Ela não era capaz de dizer quem era de alto nascimento e quem era de baixo. Nus, eram apenas crianças. Todos inocentes, todos vulneráveis, todos merecedores de uma vida longa, de amor e proteção. Aqui está seu reino, disse para seu filho e herdeiro, lembre-se dessas crianças, em tudo o que fizer. Minha própria mãe disse essas mesmas palavras para mim quando eu fiquei velho o bastante para deixar as piscinas. É uma coisa fácil para um príncipe reunir as lanças, mas, no final, as crianças pagam o preço. Pela segurança delas, o príncipe sábio não promoverá nenhuma guerra sem uma boa causa, nem uma guerra que não possa esperar vencer. Não sou cego, nem surdo. Sei que vocês acreditam que sou fraco, assustado, débil. O pai de vocês me conhecia melhor. Oberyn sempre foi a víbora. Mortal, perigoso, imprevisível. Nenhum homem ousava pisar nele. Eu era a grama. Agradável, complacente, de doce odor, balançando a cada brisa. Quem teme pisar na grama? Mas é a grama que esconde a víbora de seus inimigos e a protege até que ela ataque. O pai de vocês e eu trabalhamos muito juntos, vocês sabem ... mas agora ele se foi. A questão é: posso confiar nas filhas dele para que me sirvam em seu lugar?
Hotah estudou uma delas de cada vez. Obara, tachas enferrujadas e couro cozido, com sua raiva, seus olhos próximos e o cabelo marrom-rato. Nymeria, lânguida, elegante, pele clara, o longo cabelo em uma trança atada com um fio de ouro vermelho. Tyene, olhos azuis e loira, uma menina-mulher com suas mãos suaves e seus sorrisinhos.
Tyene respondeu pelas três.
- Isso não é nada difícil, tio. Dê-nos uma tarefa, qualquer tarefa, e descobrirá que somos tão leais e obedientes quanto qualquer príncipe poderia esperar.
- Isso é bom de ouvir - o príncipe disse - mas palavras são vento. Vocês são filhas do meu irmão e eu as amo, mas aprendi a não confiar em vocês. Quero seus juramentos. Juram me servir, fazer o que eu ordenar?
- Se devemos - disse a Senhora Nym.
- Então jurem agora, sobre o túmulo do pai de vocês.
O rosto de Obara ficou sombrio.
- Se você não fosse meu tio ...
- Sou seu tio. E seu príncipe. Jure, ou vá embora.
- Juro - disse Tyene. - Sobre o túmulo do meu pai.
- Juro - falou a Senhora Nym. - Por Oberyn Martell, a Víbora Vermelha de Dorne e um homem melhor do que você.
- Sim - disse Obara. - Eu também. Pelo pai. Juro.
Alguma da tensão deixou o príncipe. Hotah o viu recostar-se na cadeira. Estendeu a mão e a Princesa Arianne foi até o lado dele, segurá-la.
- Conte para elas, pai.
O Príncipe Doran respirou de modo irregular.
- Dorne ainda tem amigos na corte. Amigos que nos contam coisas que não deveríamos saber. Este convite que Cersei nos enviou é um ardil. Trystane nunca chegará a Porto Real. No caminho de volta, em algum lugar da estrada do rei, a comitiva de Sor Balon será atacada por fora da lei, e meu filho morrerá. Fui chamado à corte apenas para que possa testemunhar o ataque com meus próprios olhos e, desse modo, inocentar a rainha de qualquer culpa. Oh, e esses fora da lei? Eles estarão gritando “Meio-Homem, Meio-Homem” enquanto atacam. Sor Balon pode até mesmo ter um vislumbre rápido do Duende, embora ninguém mais possa.
Areo Hotah não acreditava ser possível chocar as Serpentes de Areia. Ele estivera errado.
- Que os Sete nos salvem - sussurrou Tyene. - Trystane Por quê?
- A mulher deve estar louca - disse Obara. - Ele é apenas um garoto.
- Isso é monstruoso - falou a Senhora Nym. - Eu não teria acreditado nisso, não de um cavaleiro da Guarda Real.
- Eles são jurados a obedecer, assim como meu capitão - o príncipe disse. - Tinha minhas dúvidas, também, mas todas vocês viram como Sor Balon empacou quando sugeri que fôssemos por mar. Um navio atrapalharia todos os arranjos da rainha.
O rosto de Obara estava corado.
- Devolva-me minha lança, tio. Cersei nos mandou uma cabeça. Devemos devolver um saco cheio para ela.
O Príncipe Doran ergueu a mão. Suas juntas estavam tão escuras quanto cerejas e quase tão grandes quanto.
- Sor Balon é um convidado sob meu teto. Comeu do meu pão e sal. Não vou machucá-lo. Não. Ele viajará até os Jardins das Águas, onde escutará a história de Myrcella e mandará um corvo para sua rainha. A garota pedirá para ele machucar o homem que a machucou. Se é o homem que julgo, Swann não será capaz de negar. Obara, você o levará até o Alto Ermitério para enfrentar a Estrela Negra em sua toca. O tempo ainda não chegou para Dorne desafiar abertamente o Trono de Ferro, então devemos devolver Myrcella para a mãe, mas eu não a acompanharei. Essa tarefa será sua, Nymeria. Os Lannister não gostarão disso, não mais do que gostaram quando enviei Oberyn, mas não ousarão recusar. Precisamos de uma voz no conselho, um ouvido na corte. Seja cuidadosa, no entanto. Porto Real é um poço de cobras.
A Senhora Nym sorriu.
- Por que, tio, eu amo cobras.
- E quanto a mim? - perguntou Tyene.
- Sua mãe era uma septã. Oberyn uma vez me disse que ela lia a Estrela de Sete Pontas para você, no berço. Quero você em Porto Real, também, mas em outra colina. As Espadas e as Estrelas foram reformadas, e este novo Alto Septão não é uma marionete como os outros. Tente se aproximar dele.
- Por que não? O branco é a minha cor. Pareço tão ... pura.
- Bom - disse o príncipe - bom. - Hesitou. - Se... se certas coisas vierem a acontecer, enviarei notícias para cada uma de vocês. As coisas podem mudar rapidamente no jogo dos tronos.
- E sei que não falharão conosco, primas. - Arianne foi até cada uma delas, pegou suas mãos, beijou-as delicadamente nos lábios. - Obara, tão feroz. Nymeria, minha irmã. Tyene, querida. Amo todas vocês. Que o sol de Dorne as acompanhe.
- Insubmissos, não curvados, não quebrados - as Serpentes de Areia disseram, juntas.
A Princesa Arianne ficou quando suas primas partiram. Areo Hotah permaneceu também, como era seu lugar.
- Elas são filhas de seu pai - o príncipe disse.
A princesinha sorriu.
- Três Oberyns, com tetas.
O Príncipe Doran riu. Fazia tanto tempo desde a última vez que Hotah o ouvira rir, que quase esquecera como soava.
- Ainda acho que deveria ser eu a ir para Porto Real, não a Senhora Nym - Arianne falou.
- É muito perigoso. Você é minha herdeira, o futuro de Dorne. Seu lugar é ao meu lado. Logo você terá outra tarefa.
- Aquela última parte, sobre a mensagem. Você teve notícias?
O Príncipe Doran compartilhou seu sorriso secreto com ela.
- De Lys. Uma grande frota foi para o mar. Navios volantinos, principalmente, carregando um exército. Nenhuma palavra sobre quem são eles, ou onde devem chegar. Falaram sobre elefantes.
- Não dragões?
- Elefantes. É bastante fácil esconder um jovem dragão no porão de um navio, contudo. Daenerys é mais vulnerável no mar. Se eu fosse ela, manteria a mim e às minhas intenções ocultas o máximo possível, então poderia tomar Porto Real de surpresa.
- Acha que Quentyn pode estar com eles?
- Pode estar. Ou não. Só saberemos quando chegarem a terra firme, se Westeros for realmente seu destino. Quentyn a trará pelo Sangueverde, se puder. Mas não é bom falar disso. Beije-me. Partiremos para os Jardins das Águas com a primeira luz.
Devemos partir ao meio-dia, então, Hotah pensou.
Mais tarde, quando Arianne havia ido, ele deixou seu machado longo de lado e carregou o Príncipe Doran para a cama.
- Até a Montanha esmagar o crânio do meu irmão, nenhum dornense havia morrido nesta Guerra dos Cinco Reis - o príncipe sussurrou suavemente, enquanto Hotah puxava um cobertor sobre ele. - Diga-me, capitão, isto é minha vergonha ou minha glória?
- Isso não é para eu dizer, meu príncipe. - Servir. Proteger. Obedecer. Votos simples para homens simples. Isso era tudo o que ele sabia. 

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