-
Vamos dar uma olhada nessa cabeça - o príncipe ordenou.
Areo
Hotah passava a mão pelo cabo suave de seu machado longo, sua esposa
de freixo e ferro, enquanto observava. Observou o cavaleiro branco,
Sor Balon Swann, e os outros que vieram com ele. Observou as
Serpentes de Areia, cada uma em uma mesa diferente. Observou os
senhores e senhoras, os servos, o velho senescal cego e o jovem
Meistre Myles, com sua barba sedosa e seu sorriso servil. Parado,
meio na luz, meio na sombra, via todos eles. Servir. Proteger.
Obedecer. Essa era sua tarefa.
Todos
os demais tinham olhos apenas para a arca. Fora esculpida em ébano,
com fechos e dobradiças em prata. Uma caixa muito bonita, sem
dúvida, mas muitos dos que se reuniam aqui no Palácio Antigo de
Lançassolar poderiam logo estar mortos, dependendo do que estivesse
na arca.
Com
as sandálias sussurrando contra o chão, Meistre Caleotte cruzou o
salão na direção de Sor Balon Swann. O homenzinho redondo parecia
esplêndido em sua túnica nova, com faixas largas nas cores
castanho-escuro e creme e estreitas listras vermelhas. Fazendo uma
reverência, pegou a arca das mãos do cavaleiro branco e levou-a até
o palanque, onde Doran Martell estava sentado em sua cadeira com
rodas entre sua filha Arianne e a querida amante de seu irmão,
Ellaria. Uma centena de velas perfumava o ar. Pedras preciosas
brilhavam nos dedos dos senhores, e nos cinturões e nas redes de
cabelo das senhoras. Areo Hotah polira sua camisa de escamas de
bronze até deixá-la com o reflexo de espelhos, então ele brilhava
sob as luzes das velas também.
O
silêncio caiu sobre a sala. Dorne segura a respiração. Meistre
Caleotte colocou a caixa no chão, ao lado da cadeira do Príncipe
Doran. Os dedos do meistre, normalmente tão seguros e ágeis,
tornaram-se desajeitados enquanto ele lutava para destravar e abrir a
tampa e revelar o crânio lá dentro. Hotah ouviu alguém limpar a
garganta. Um dos gêmeos Fowler sussurrou alguma coisa para o outro.
Ellaria Sand tinha fechado os olhos e murmurava uma prece.
Sor
Balon Swann estava tenso como a corda de um arco, o capitão dos
guardas observou. Esse novo cavaleiro não era tão alto ou tão
agradável quanto o antigo, mas tinha o peito maior, era mais
corpulento, seus braços grossos de músculos. Sua capa nevada estava
presa ao pescoço por dois cisnes em um broche de prata. Um era de
marfim, o outro de ônix, e parecia, para Areo Hotah, que os dois
estavam lutando. O homem que os usava parecia um lutador, também.
Este não morrerá com a mesma facilidade do outro. Não vai avançar
para o meu machado, como Sor Arys fez. Este ficará atrás do escudo
e me fará ir até ele. Se chegasse a isso, Hotah estaria pronto. Seu
machado longo era afiado o suficiente para se fazer a barba com ele.
Ele
se permitiu um rápido olhar para a arca. a crânio repousava em uma
cama de feltro negro, sorrindo. Todos os crânios sorriam, mas este
parecia mais feliz do que a maioria. E maior. a capitão dos guardas
nunca vira um crânio tão grande. A testa era grossa e pesada, a
mandíbula, maciça. a osso brilhava sob a luz das velas, branco como
a capa de Sor Balon.
-
Coloque-o no pedestal - o príncipe ordenou. Tinha lágrimas
brilhando nos olhos.
O
pedestal era uma coluna de mármore negro, noventa centímetros mais
alta do que Meistre Caleotte. a pequeno e gordo meistre ficou na
ponta dos pés, mas mesmo assim não alcançou. Areo Hotah estava
prestes a ajudá-lo, mas abara Sand se moveu antes. Mesmo sem seu
chicote e escudo, ela tinha um visual zangado e masculinizado. Em vez
de vestido, usava calções de homem e uma túnica de linho abaixo
dos joelhos, presa à cintura por um cinto com sóis de cobre. Seu
cabelo castanho estava preso atrás em um coque. Arrebatando o crânio
das suaves mãos rosadas do meistre, ela o colocou no alto da coluna
de mármore.
-
A Montanha não cavalga mais - o príncipe disse, gravemente.
-
Sua morte foi longa e sofrida, Sor Balon? - perguntou Tyene Sand, em
um tom que uma donzela poderia usar para perguntar se seu vestido era
bonito.
-
Gritou por dias, minha senhora - o cavaleiro branco respondeu, embora
fosse claro que não o agradava nem um pouco dizer isso. - Podíamos
ouvi-lo por toda a Fortaleza Vermelha.
-
Isso o incomoda, sor? - perguntou a Senhora Nym. Ela usava um vestido
de seda amarela tão pura e fina que as velas brilhavam através do
tecido, para revelar os fios de ouro e as joias embaixo. Tão
indecente era sua roupa que o cavaleiro branco parecia desconfortável
olhando para ela, mas Hotah aprovou. Nymeria era menos perigosa
quando estava quase nua. De outro modo, certamente teria uma dúzia
de lâminas ocultas em seu traje. - Sor Gregor era um bruto
sanguinário, todos concordavam. Se alguma vez um homem mereceu
sofrer, foi ele.
-
Isso pode ser assim, minha senhora - disse Balon Swann - mas Sor
Gregor era um cavaleiro, e um cavaleiro deve morrer com a espada na
mão. Veneno é uma maneira criminosa e suja de matar.
A
Senhora Tyene sorriu daquilo. Seu vestido era creme e verde, com
longas mangas de renda, tão modesta e tão inocente que qualquer
homem que olhasse para ela poderia pensar que era a mais casta das
donzelas. Areo Hotah sabia a verdade. Suas mãos suaves e claras eram
tão mortais quanto as mãos calosas de abara, se não mais. Ele a
observava cuidadosamente, alerta a qualquer pequeno movimento de seus
dedos.
O
Príncipe Doran franziu a testa.
-
Isso é verdade, Sor Balon, mas a Senhora Nym está certa. Se alguma
vez um homem mereceu morrer gritando, esse foi Gregor Clegane. Ele
massacrou minha boa irmã, esmagou a cabeça de seu bebê contra a
parede. Eu apenas oro para que agora esteja queimando em algum
inferno, e que Elia e seus filhos estejam em paz. Essa era a justiça
pela qual Dorne estava faminta. Estou feliz de ter vivido o
suficiente para saboreá-la. Finalmente, os Lannister provaram a
verdade de suas intenções e pagaram seu débito de sangue.
O
príncipe deixou que Ricasso, seu senescal cego, se erguesse e
propusesse um brinde.
-
Senhores e senhoras, vamos agora beber a Tommen, o Primeiro de Seu
Nome, Rei dos Ândalos, dos Roinares e dos Primeiros Homens, e Senhor
dos Sete Reinos.
Servos
começaram a se mover entre os convidados enquanto o senescal falava,
enchendo as taças com os jarros que carregavam. O vinho era um forte
dornense, escuro como sangue e doce como a vingança. O capitão não
bebeu. Nunca bebia em festas. Nem o próprio príncipe tomou parte.
Ele tinha seu próprio vinho, preparado por Meistre Myles e bem
misturado com leite de papoula para aliviar a agonia de suas
articulações inchadas.
O
cavaleiro branco bebeu, embora apenas por cortesia. Seus
companheiros, da mesma maneira. O mesmo fez a Princesa Arianne, a
Senhora Jordayne, o Senhor da Graçadivina, o Cavaleiro de Limoeiros,
a Senhora de Colina Fantasma ... até mesmo Ellaria Sand, querida
amante do Príncipe Oberyn, que estava com ele em Porto Real quando
foi morto. Hotah prestou mais atenção naqueles que não beberam:
Sor Daemon Sand, Lord Tremond Gargalen, os gêmeos Fowler, Dagos
Manwoody, os Uller da Toca do Inferno, os Wyl do Caminho do
Espinhaço. Se houver algum problema, pode começar com um deles.
Dome era uma terra zangada e dividida, e a mão do Príncipe Doran
não estava tão firme quanto deveria. Muitos de seus próprios
senhores o achavam fraco e teriam apoiado uma guerra aberta contra os
Lannister e o rei menino no Trono de Ferro.
As
líderes entre esses descontentes eram as Serpentes de Areia, filhas
bastardas de Oberyn, a Serpente Vermelha, irmão falecido do
príncipe. Doran Martell era o mais sábio dos príncipes, e não era
função de seu capitão da guarda questionar suas decisões, mas
Areo Hotah se perguntava por que decidira soltar as senhoras Obara,
Nymeria e Tyene de suas celas solitárias na Torre da Lança.
Tyene
declinou o brinde de Ricasso com um murmúrio, e a Senhora Nym com um
aceno da mão. Obara deixou que enchessem sua taça até a borda,
então despejou o vinho tinto no chão. Quando a serva se ajoelhou
para limpar a sujeira, Obara deixou o salão. Depois de um momento, a
Princesa Arianne se desculpou e foi atrás dela. Obara nunca
descontaria a raiva na princesinha, Hotah sabia. São primas e se
amam também.
A
celebração continuou até tarde da noite, presidida pelo crânio
sorridente no pilar de mármore negro. Sete pratos foram servidos, em
honra aos sete deuses e aos sete irmãos da Guarda Real. A sopa era
feita com ovos e limões, as grandes pimentas-verdes, recheadas com
queijo e cebola. Havia tortas de lampreia, capões mergulhados no
mel, um peixe-gato do fundo do Sangueverde tão grande que foram
necessários quatro homens para levá-lo até a mesa. Depois disso,
veio um ensopado picante de cobra, com pedaços de sete tipos de
cobras cozidos lentamente com pimenta-dragão, laranjas sanguíneas e
uma pitada da peçonha para dar uma boa ardência. O ensopado estava
pegando fogo, Hotah sabia, embora não tivesse provado. Limonada veio
na sequência, para esfriar a língua. Para a sobremesa, cada
convidado foi servido com um crânio confeitado em açúcar. Quando a
crosta era quebrada, havia um creme doce dentro com pedaços de
ameixa e cereja.
A
Princesa Arianne retornou no momento das pimentas recheadas. Minha
princesinha, Hotah pensou, embora Arianne fosse uma mulher agora. As
sedas escarlate que usava não deixavam dúvidas sobre isso.
Ultimamente, ela mudara de outras maneiras também. Seu plano de
coroar Myrcella fora traído e esmagado, seu cavaleiro branco
perecera de modo sangrento nas mãos de Hotah, e ela fora confinada à
Torre da Lança, condenada à solidão e ao silêncio. Tudo aquilo a
castigara. Mas havia algo mais, algum segredo que seu pai lhe
confiara antes de libertá-la do confinamento. O que era, o capitão
não sabia.
O
príncipe colocara a filha entre ele e o cavaleiro branco, um lugar
de alta honra. Arianne sorriu, sentou-se novamente e murmurou algo no
ouvido de Sor Balon. O cavaleiro optou por não responder. Ele comia
pouco, Hotah observou; uma colherada de sopa, uma mordida na pimenta,
um pedaço do capão, um pouco de peixe. Afastou a torta de lampreia
e experimentou apenas uma pequena colherada do ensopado. Mesmo assim,
aquilo fez o suor brotar em sua testa. Hotah simpatizava com essa
reação. Quando chegara a Dorne, a comida apimentada amarrava suas
entranhas e queimava sua língua. Mas isso fora anos atrás; agora
seu cabelo estava branco e era capaz de comer qualquer coisa que os
dornenses comessem.
Quando
o crânio confeitado foi servido, Sor Balon apertou os lábios e deu
ao príncipe um olhar demorado, para ver se estava sendo
ridicularizado. Doran Martell não percebeu, mas a filha, sim.
-
É uma pequena brincadeira da cozinheira, Sor Balon - disse Arianne.
- Nem mesmo a morte é sagrada para os dornenses. Não ficará
zangado conosco, espero. - Passou os dedos nas costas da mão do
cavaleiro branco. - Espero que tenha apreciado seu tempo em Dorne.
-
Todos têm sido muito hospitaleiros, minha senhora.
Arianne
tocou no broche que prendia a capa dele, com os cisnes lutando.
-
Sempre fui apaixonada por cisnes. Nenhuma outra ave chega à metade
da beleza deles neste lado das Ilhas do Verão.
-
Seus pavões poderiam questionar isso - disse Sor Balon.
-
Poderiam - respondeu Arianne - mas pavões são criaturas vãs e
orgulhosas, exibindo-se em todas aquelas cores berrantes. Dê-me um
cisne, sereno em branco, ou lindo em negro.
Sor
Balon fez um aceno com a cabeça e tomou um gole de vinho. Este aí
não será seduzido tão facilmente quanto seu Irmão Juramentado,
Hotah pensou. Sor Arys era um garoto, apesar de seus anos. Este aí é
um homem, e cuidadoso. O capitão tinha apenas que olhar para ele
para perceber que o cavaleiro branco estava pouco à vontade. Este
lugar é estranho para ele, e pouco do seu gosto. Hotah entendia
isso. Dorne parecera um lugar esquisito para ele também, assim que
chegou aqui com sua própria princesa, havia muitos anos. Os
sacerdotes barbados o haviam ensinado a Língua Comum de Westeros
antes de enviá-lo para cá, mas todos os dornenses falavam rápido
demais para que entendesse. As mulheres dornenses eram muito
lascivas, o vinho dornense, muito azedo, e a comida dornense, cheia
de estranhas especiarias picantes. E o sol dornense era mais quente
do que o pálido sol de Norvos, brilhante em um céu azul dia após
dia.
A
jornada de Sor Balon fora mais curta, mas perturbadora em sua própria
maneira, o capitão sabia. Três cavaleiros, oito escudeiros, vinte
homens em armas e diversos cavalariços e servos o acompanhavam de
Porto Real, mas uma vez que cruzaram as montanhas para dentro de
Dorne, seu progresso fora atrasado por uma rodada de banquetes,
caçadas e celebrações em cada castelo que tiveram a chance de
passar. E agora que chegava a Lançassolar, nem a Princesa Myrcella
nem Sor Arys Oakheart estavam por perto para cumprimentá-lo. O
cavaleiro branco sabe que algo está errado, Hotah podia afirmar, mas
havia algo mais. Talvez a presença das Serpentes de Areia o
irritasse. Se fosse isso, o retorno de Obara ao salão só seria
vinagre na ferida. Ela voltou ao seu lugar sem uma palavra, e
sentou-se carrancuda e mal-humorada, sem sorrir ou conversar.
Já
era quase meia-noite quando o Príncipe Doran se virou para o
cavaleiro branco e disse:
-
Sor Balon, li a carta que trouxe para mim de sua graciosa rainha.
Posso presumir que é familiar ao seu conteúdo, sor?
Hotah
viu o cavaleiro ficar tenso.
-
Sou, meu senhor. Sua Graça me informou que eu poderia ser chamado
para escoltar a filha dela de volta a Porto Real. O Rei Tommen está
com saudades da irmã e gostaria que a Princesa Myrcella retornasse à
corte para uma rápida visita.
A
Princesa Arianne fez uma cara triste.
-
Oh, mas todos estamos tão apaixonados por Myrcella, sor. Ela e meu
irmão Trystane se tornaram inseparáveis.
-
O Príncipe Trystane seria bem-vindo em Porto Real também - disse
Balon Swann. - O Rei Tommen desejaria conhecê-lo, estou certo disso.
Sua Graça tem muito poucas companhias da sua idade.
-
Os laços formados na infância podem durar a vida toda - falou o
Príncipe Doran. - Quando Trystane e Myrcella se casarem, ele e
Tommen serão como irmãos. A Rainha Cersei está certa nisso. Os
garotos devem se encontrar, ficar amigos. Dome sentirá falta dele,
estou certo, mas já passou a hora de Trystane ver algo do mundo além
das muralhas de Lançassolar.
-
Sei que Porto Real o receberá calorosamente.
Por
que ele está suando agora? O capitão se perguntou, observando. O
salão está frio o suficiente, e ele nem tocou no ensopado.
-
Quanto à outra questão que a Rainha Cersei levanta - o Príncipe
Doran estava dizendo - é verdade, o assento de Dome no pequeno
conselho está vazio desde a morte do meu irmão, e já passou o
tempo de preenchê-lo novamente. Estou lisonjeado que Sua Graça
sinta que meus conselhos lhe possam ser úteis, embora me pergunte se
tenho forças suficientes para essa jornada. E se fôssemos por mar?
-
De navio? - Sor Balon parecia surpreso. - Isso ... seria seguro, meu
príncipe? Outono é uma péssima estação para tempestades, pelo
que escutei, e... os piratas de Passopedra, eles ...
-
Os piratas. Certamente. Você pode ter razão, sor. É mais seguro
retornar pelo caminho que você veio. - O Príncipe Doran sorriu
agradavelmente. - Falaremos sobre isso novamente amanhã. Quando
chegarmos aos Jardins das Águas, podemos falar com Myrcella. Sei que
ela ficará entusiasmada. Ela sente falta do irmão também, não
tenho dúvidas.
-
Estou ansioso para vê-la novamente - disse Sor Balon. - E visitar
seus Jardins das Águas. Ouvi dizer que são muito bonitos.
-
Bonitos e tranquilos - o príncipe respondeu. - Brisas frescas, águas
gasosas e o sorriso das crianças. Os Jardins das Águas são meu
lugar favorito neste mundo, sor. Um dos meus antepassados o construiu
para agradar à sua noiva Targaryen e libertá-la da poeira e do
calor de Lançassolar. Daenerys era o nome dela. Era irmã do Rei
Daeron, o Bom, e foi o casamento dela que garantiu que Dome fizesse
parte dos Sete Reinos. O reino todo sabia que a garota amava o irmão
bastardo de Daeron, Daemon Blackfyre, e era amada por ele também,
mas o rei foi sábio o bastante para ver que o bem de milhares
deveria vir antes do desejo de dois, mesmo que esses dois fossem
caros a ele. Foi Daenerys quem encheu os jardins com os risos das
crianças. No começo, seus dois filhos, mas depois os filhos e as
filhas dos senhores e dos cavaleiros com terras foram trazidos para
fazer companhia aos garotos e garotas de sangue principesco. Em um
dia de verão, quando estava um calor terrível, ela ficou com pena
dos filhos dos criados e dos servos, e os convidou a usar as piscinas
e as fontes também, uma tradição que permanece até hoje. - O
príncipe segurou as rodas de sua cadeira e afastou-se da mesa. -
Mas, agora, deve me dar licença, sor. Toda essa conversa me cansou,
e temos que partir ao raiar do dia. Obara, você faria a gentileza de
me acompanhar para a cama? Nymeria, Tyene, venham também, e ofereçam
ao seu velho tio um amável boa-noite.
Coube
a Obara Sand empurrar a cadeira do príncipe do salão de festas de
Lançassolar e por uma longa galeria até seu solar. Areo Hotah
seguiu com as irmãs dela, juntamente com a Princesa Arianne e
Ellaria Sand. Meistre Caleotte corria logo atrás, com suas
sandálias, embalando o crânio da Montanha como se fosse um bebê.
-
Você não pretende, de verdade, enviar Trystane e Myrcella para
Porto Real - Obara disse, enquanto empurrava. Seus passos eram
compridos e furiosos, muito rápidos, e as grandes rodas de madeira
da cadeira batiam ruidosamente pelo chão de pedra áspera. - Faça
isso, e nunca mais veremos a garota, e seu filho passará a vida como
refém do Trono de Ferro.
-
Você acha que sou tolo, Obara? - O príncipe suspirou. - Há muito
que você não sabe. Coisas que não devem ser discutidas aqui, onde
qualquer um pode escutar. Se você segurar a língua, posso
esclarecê-la. - Fez uma careta. - Devagar, pelo amor que tem por
mim. Essa última sacudida foi uma facada direto no meu joelho.
Obara
diminuiu o ritmo pela metade.
-
O que fará, então?
Sua
irmã Tyene respondeu.
-
O que ele sempre faz - ronronou. - Adiar, confundir, tergiversar. Ah,
ninguém faz isso metade tão bem como nosso corajoso tio.
-
Estão erradas sobre ele - disse a Princesa Arianne.
-
Quietas, todas vocês - o príncipe ordenou.
Somente
depois que as portas de seu solar estavam seguramente fechadas, ele
virou a cadeira para encarar as mulheres. Mesmo esse esforço o
deixou sem ar, e o cobertor de Myr que cobria suas pernas ficou preso
entre dois aros da roda, então ele teve que parar para impedir que
caísse. Sob o cobertor, suas pernas estavam pálidas, moles,
assustadoras. Os dois joelhos estavam vermelhos e inchados, e os
dedos dos pés estavam quase roxos, duas vezes o tamanho que deviam
ter. Areo Hotah vira-os milhares de vezes e ainda achava difícil
olhar para eles.
A
Princesa Arianne se adiantou.
-
Deixe-me ajudá-lo, pai.
O
príncipe puxou o cobertor, para soltá-lo.
-
Ainda posso controlar meu próprio cobertor. Pelo menos isso. - Era
muito pouco. Suas pernas estavam inutilizadas havia três anos, mas
ainda tinha alguma força nas mãos e nos ombros.
-
Devo buscar para meu príncipe um dedal de leite de papoula? -
Meistre Caleotte perguntou.
-
Eu precisaria de um balde, com esta dor. Obrigado, mas não. Quero
manter o juízo. Não precisarei mais de você esta noite.
-
Muito bem, meu príncipe. - Meistre Caleotte fez uma reverência, com
a cabeça de Sor Gregor ainda entre suas suaves mãos rosadas.
-
Ficarei com isto. - Obara Sand arrancou o crânio dele e segurou-o
com os braços estendidos. - Como a Montanha se parecia? Como sabemos
que este é ele? Eles podiam tê-lo mergulhado no alcatrão. Por que
limpar até o osso?
-
Alcatrão teria estragado a caixa - sugeriu a Senhora Nym, enquanto
Meistre Caleotte saía do quarto. - Ninguém viu Montanha morrer, e
ninguém viu sua cabeça ser removida. Isso me incomoda, confesso,
mas o que aquela rainha vadia esperaria conseguir nos enganando? Se
Gregor Clegane está vivo, cedo ou tarde a verdade virá. O homem tem
dois metros e meio de altura, não há outro como ele em toda
Westeros. Se algo assim aparecesse novamente, Cersei Lannister seria
exposta como mentirosa diante de todos os Sete Reinos. Ela seria uma
completa idiota em se arriscar assim. O que poderia esperar ganhar?
-
O crânio é grande o bastante, sem dúvida - disse o príncipe. - E
nós sabemos que Oberyn feriu Gregor seriamente. Cada notícia que
tivemos a partir daí afirma que Clegane morreu lentamente, em grande
dor.
-
Assim como o pai pretendia - falou Tyene. - Irmãs, na verdade,
conheço o veneno que o pai usou. Se a lança dele apenas raspou na
pele da Montanha, Clegane está morto, não importa o quão grande
fosse. Duvidem de sua irmãzinha, se quiserem, mas nunca duvidem do
nosso pai.
Obara
se eriçou.
-
Nunca duvidei e nunca duvidarei. - Ela deu um beijo zombeteiro no
crânio. - Isto é um começo, admito.
-
Um começo? - perguntou Ellaria Sand, incrédula. - Que os deuses
impeçam isso. Deveria ser um fim. Tywin Lannister está morto. Assim
como Robert Baratheon, Amory Lorch e, agora, Gregor Clegane, todos
aqueles que tinham uma mão no assassinato de Elia e seus filhos. Até
mesmo Joffrey, que nem tinha nascido quando Elia morreu. Vi o garoto
perecer com meus próprios olhos, arranhando a garganta enquanto
tentava respirar. Quem mais há para matar? Myrcella e Tommen
precisam morrer para que as sombras de Rhaenys e Aegon possam
descansar? Onde isso termina?
-
Termina em sangue, como começou - falou a Senhora Nym. - Termina
quando Rochedo Casterly estiver rachado e aberto, para que o sol
possa brilhar nos vermes e nas larvas dentro dele. Termina com a
completa ruína de Tywin Lannister e todas as suas obras.
-
O homem morreu pelas mãos do próprio filho - Ellaria retrucou. - O
que mais você poderia desejar?
-
Poderia desejar que tivesse morrido pelas minhas mãos. - A Senhora
Nym sentou-se em uma cadeira, a longa trança negra caindo por sobre
um ombro até o colo. Tinha o bico de viúva de seu pai. Embaixo, os
olhos eram grandes e brilhantes. Os lábios vermelho-vinho se
curvaram em um sorriso sedoso. - Se tivesse, sua morte não teria
sido tão fácil.
-
Sor Gregor parece solitário - disse Tyene, em sua doce voz de septã.
- Ele gostaria de alguma companhia, estou certa.
O
rosto de Ellaria estava coberto de lágrimas, os olhos escuros
brilhavam. Mesmo chorando, há força nela, o capitão pensou.
-
Oberyn queria vingança por Elia. Agora vocês três querem vingança
por ele. Tenho quatro filhas, recordo vocês. Suas irmãs. Minha Elia
tem catorze, quase uma mulher. Obella tem doze, à beira de
florescer. Elas veneram vocês, como Dorea e Loreza veneram elas. Se
vocês morrerem, Elia e Obella devem buscar vingança por vocês, e
então Dorea e Loreza por elas? E isso seguirá assim, para sempre?
Pergunto novamente, onde isso termina? - Ellaria Sand colocou a mão
na cabeça da Montanha. - Vi o pai de vocês morrer. Aqui está seu
assassino. Posso levar um crânio para a cama, comigo, para me dar
conforto à noite? Ele me fará rir, me escreverá canções, cuidará
de mim quando eu estiver velha e doente?
-
E o que devemos fazer, minha senhora? - perguntou a Senhora Nym. -
Devemos baixar nossas lanças, sorrir e esquecer todo o mal que nos
foi feito?
-
A guerra virá, quer queiramos, quer não - disse Obara. - Um rei
garoto se senta no Trono de Ferro. Lorde Stannis mantém a Muralha e
reúne os nortenhos à sua causa. As duas rainhas disputam Tommen
como cadelas brigam por um osso suculento. Os homens de ferro tomaram
os Escudos e avançam pelo Vago, para dentro do coração da Campina,
o que significa que Jardim de Cima estará preocupado também. O
tempo é maduro.
-
Maduro para quê? Para conseguir mais crânios? - Ellaria Sand se
virou para o príncipe. - Elas não enxergam. Não posso mais ouvir
isso.
-
Volte para suas garotas, Ellaria - o príncipe lhe respondeu. - Juro
a você que nenhum mal virá sobre elas.
-
Meu príncipe. - Ellaria o beijou na testa e saiu. Areo Hotah ficou
triste em vê-la partir. É uma boa mulher.
Quando
ela se foi, a Senhora Nym disse:
-
Sei que ela amava nosso pai também, mas é claro que nunca o
compreendeu.
O
príncipe lhe deu um olhar curioso.
-
Ela o compreendeu mais do que você jamais compreenderia, Nymeria. E
fez seu pai feliz. No fim, um coração gentil pode ter mais valor do
que orgulho ou valentia. Seja como for. Há coisas que Ellaria não
sabe e não deve saber. Esta guerra já começou.
Obara
riu.
-
Sim, nossa doce Arianne providenciou isso.
A
princesa corou, e Hotah viu um espasmo de raiva atravessar o rosto do
pai dela.
-
O que ela fez, fez tanto por você quanto por si mesma. Eu não seria
tão rápido em zombar.
-
Isso foi um elogio - Obara Sand insistiu. - Procrastinar, confundir,
tergiversar, dissimular e atrasar como você gosta, tio, e Sor Balon
ainda vai se encontrar cara a cara com Myrcella nos Jardins das Águas
e, quando isso acontecer, ele verá que ela perdeu uma orelha. E
quando a garota contar para ele como seu capitão cortou Arys
Oakheart do pescoço à virilha com aquela sua esposa de aço, bem
...
-
Não. - A Princesa Arianne se ergueu da almofada em que estava
sentada e colocou uma mão no braço de Hotah. - Não foi assim que
aconteceu, prima. Sor Arys foi morto por Gerold Dayne.
As
Serpentes de Areia olharam umas para as outras.
-
A Estrela Negra?
-
Estrela Negra fez isso - sua princesinha disse. - Tentou matar a
Princesa Myrcella também. Como ela contará a Sor Balon.
Nym
sorriu
-
Essa parte, pelo menos, é verdade.
-
É tudo verdade - disse o príncipe, com uma careta de dor. É a gota
que o machuca, ou a mentira? - E agora Sor Gerold voltou para o Alto
Ermitério, além do nosso alcance.
-
Estrela Negra - Tyene murmurou, com uma risadinha. - Por que não?
Foi tudo coisa dele. Mas Sor Balon acreditará nisso?
-
Acreditará se ouvir de Myrcella - Arianne insistiu.
Obara
bufou em descrença.
-
Ela pode mentir hoje e mentir amanhã, mas cedo ou tarde contará a
verdade. Se Sor Balon tiver permissão de levar essa fábula de volta
a Porto Real, tambores soarão e sangue correrá. Ele não deve ter
permissão de partir.
-
Poderíamos matá-lo, certamente - falou Tyene - mas então
precisaríamos matar o restante de sua comitiva, incluindo aqueles
jovens e doces escudeiros. Isso seria ... oh, tão bagunçado.
O
Príncipe Doran fechou os olhos e abriu-os novamente. Hotah podia ver
a perna dele tremendo sob o cobertor.
-
Se vocês não fossem filhas do meu irmão, eu enviaria as três de
volta para as celas e as deixaria lá até seus ossos ficarem cinza.
Em vez disso, pretendo levá-las conosco para os Jardins das Águas.
Há lições a serem aprendidas lá, se forem perspicazes para
notá-las.
-
Lições? - disse Obara. - Tudo o que vejo são crianças nuas.
-
Sim - o príncipe respondeu. - Eu contei a história para Sor Balon,
mas não toda ela. Enquanto as crianças espalhavam água nas
piscinas, Daenerys observava por entre as laranjeiras, e uma
percepção veio até ela. Ela não era capaz de dizer quem era de
alto nascimento e quem era de baixo. Nus, eram apenas crianças.
Todos inocentes, todos vulneráveis, todos merecedores de uma vida
longa, de amor e proteção. Aqui está seu reino, disse para seu
filho e herdeiro, lembre-se dessas crianças, em tudo o que fizer.
Minha própria mãe disse essas mesmas palavras para mim quando eu
fiquei velho o bastante para deixar as piscinas. É uma coisa fácil
para um príncipe reunir as lanças, mas, no final, as crianças
pagam o preço. Pela segurança delas, o príncipe sábio não
promoverá nenhuma guerra sem uma boa causa, nem uma guerra que não
possa esperar vencer. Não sou cego, nem surdo. Sei que vocês
acreditam que sou fraco, assustado, débil. O pai de vocês me
conhecia melhor. Oberyn sempre foi a víbora. Mortal, perigoso,
imprevisível. Nenhum homem ousava pisar nele. Eu era a grama.
Agradável, complacente, de doce odor, balançando a cada brisa. Quem
teme pisar na grama? Mas é a grama que esconde a víbora de seus
inimigos e a protege até que ela ataque. O pai de vocês e eu
trabalhamos muito juntos, vocês sabem ... mas agora ele se foi. A
questão é: posso confiar nas filhas dele para que me sirvam em seu
lugar?
Hotah
estudou uma delas de cada vez. Obara, tachas enferrujadas e couro
cozido, com sua raiva, seus olhos próximos e o cabelo marrom-rato.
Nymeria, lânguida, elegante, pele clara, o longo cabelo em uma
trança atada com um fio de ouro vermelho. Tyene, olhos azuis e
loira, uma menina-mulher com suas mãos suaves e seus sorrisinhos.
Tyene
respondeu pelas três.
-
Isso não é nada difícil, tio. Dê-nos uma tarefa, qualquer tarefa,
e descobrirá que somos tão leais e obedientes quanto qualquer
príncipe poderia esperar.
-
Isso é bom de ouvir - o príncipe disse - mas palavras são vento.
Vocês são filhas do meu irmão e eu as amo, mas aprendi a não
confiar em vocês. Quero seus juramentos. Juram me servir, fazer o
que eu ordenar?
-
Se devemos - disse a Senhora Nym.
-
Então jurem agora, sobre o túmulo do pai de vocês.
O
rosto de Obara ficou sombrio.
-
Se você não fosse meu tio ...
-
Sou seu tio. E seu príncipe. Jure, ou vá embora.
-
Juro - disse Tyene. - Sobre o túmulo do meu pai.
-
Juro - falou a Senhora Nym. - Por Oberyn Martell, a Víbora Vermelha
de Dorne e um homem melhor do que você.
-
Sim - disse Obara. - Eu também. Pelo pai. Juro.
Alguma
da tensão deixou o príncipe. Hotah o viu recostar-se na cadeira.
Estendeu a mão e a Princesa Arianne foi até o lado dele, segurá-la.
-
Conte para elas, pai.
O
Príncipe Doran respirou de modo irregular.
-
Dorne ainda tem amigos na corte. Amigos que nos contam coisas que não
deveríamos saber. Este convite que Cersei nos enviou é um ardil.
Trystane nunca chegará a Porto Real. No caminho de volta, em algum
lugar da estrada do rei, a comitiva de Sor Balon será atacada por
fora da lei, e meu filho morrerá. Fui chamado à corte apenas para
que possa testemunhar o ataque com meus próprios olhos e, desse
modo, inocentar a rainha de qualquer culpa. Oh, e esses fora da lei?
Eles estarão gritando “Meio-Homem, Meio-Homem” enquanto atacam.
Sor Balon pode até mesmo ter um vislumbre rápido do Duende, embora
ninguém mais possa.
Areo
Hotah não acreditava ser possível chocar as Serpentes de Areia. Ele
estivera errado.
-
Que os Sete nos salvem - sussurrou Tyene. - Trystane Por quê?
-
A mulher deve estar louca - disse Obara. - Ele é apenas um garoto.
-
Isso é monstruoso - falou a Senhora Nym. - Eu não teria acreditado
nisso, não de um cavaleiro da Guarda Real.
-
Eles são jurados a obedecer, assim como meu capitão - o príncipe
disse. - Tinha minhas dúvidas, também, mas todas vocês viram como
Sor Balon empacou quando sugeri que fôssemos por mar. Um navio
atrapalharia todos os arranjos da rainha.
O
rosto de Obara estava corado.
-
Devolva-me minha lança, tio. Cersei nos mandou uma cabeça. Devemos
devolver um saco cheio para ela.
O
Príncipe Doran ergueu a mão. Suas juntas estavam tão escuras
quanto cerejas e quase tão grandes quanto.
-
Sor Balon é um convidado sob meu teto. Comeu do meu pão e sal. Não
vou machucá-lo. Não. Ele viajará até os Jardins das Águas, onde
escutará a história de Myrcella e mandará um corvo para sua
rainha. A garota pedirá para ele machucar o homem que a machucou. Se
é o homem que julgo, Swann não será capaz de negar. Obara, você o
levará até o Alto Ermitério para enfrentar a Estrela Negra em sua
toca. O tempo ainda não chegou para Dorne desafiar abertamente o
Trono de Ferro, então devemos devolver Myrcella para a mãe, mas eu
não a acompanharei. Essa tarefa será sua, Nymeria. Os Lannister não
gostarão disso, não mais do que gostaram quando enviei Oberyn, mas
não ousarão recusar. Precisamos de uma voz no conselho, um ouvido
na corte. Seja cuidadosa, no entanto. Porto Real é um poço de
cobras.
A
Senhora Nym sorriu.
-
Por que, tio, eu amo cobras.
-
E quanto a mim? - perguntou Tyene.
-
Sua mãe era uma septã. Oberyn uma vez me disse que ela lia a
Estrela de Sete Pontas para você, no berço. Quero você em Porto
Real, também, mas em outra colina. As Espadas e as Estrelas foram
reformadas, e este novo Alto Septão não é uma marionete como os
outros. Tente se aproximar dele.
-
Por que não? O branco é a minha cor. Pareço tão ... pura.
-
Bom - disse o príncipe - bom. - Hesitou. - Se... se certas coisas
vierem a acontecer, enviarei notícias para cada uma de vocês. As
coisas podem mudar rapidamente no jogo dos tronos.
-
E sei que não falharão conosco, primas. - Arianne foi até cada uma
delas, pegou suas mãos, beijou-as delicadamente nos lábios. -
Obara, tão feroz. Nymeria, minha irmã. Tyene, querida. Amo todas
vocês. Que o sol de Dorne as acompanhe.
-
Insubmissos, não curvados, não quebrados - as Serpentes de Areia
disseram, juntas.
A
Princesa Arianne ficou quando suas primas partiram. Areo Hotah
permaneceu também, como era seu lugar.
-
Elas são filhas de seu pai - o príncipe disse.
A
princesinha sorriu.
-
Três Oberyns, com tetas.
O
Príncipe Doran riu. Fazia tanto tempo desde a última vez que Hotah
o ouvira rir, que quase esquecera como soava.
-
Ainda acho que deveria ser eu a ir para Porto Real, não a Senhora
Nym - Arianne falou.
-
É muito perigoso. Você é minha herdeira, o futuro de Dorne. Seu
lugar é ao meu lado. Logo você terá outra tarefa.
-
Aquela última parte, sobre a mensagem. Você teve notícias?
O
Príncipe Doran compartilhou seu sorriso secreto com ela.
-
De Lys. Uma grande frota foi para o mar. Navios volantinos,
principalmente, carregando um exército. Nenhuma palavra sobre quem
são eles, ou onde devem chegar. Falaram sobre elefantes.
-
Não dragões?
-
Elefantes. É bastante fácil esconder um jovem dragão no porão de
um navio, contudo. Daenerys é mais vulnerável no mar. Se eu fosse
ela, manteria a mim e às minhas intenções ocultas o máximo
possível, então poderia tomar Porto Real de surpresa.
-
Acha que Quentyn pode estar com eles?
-
Pode estar. Ou não. Só saberemos quando chegarem a terra firme, se
Westeros for realmente seu destino. Quentyn a trará pelo
Sangueverde, se puder. Mas não é bom falar disso. Beije-me.
Partiremos para os Jardins das Águas com a primeira luz.
Devemos
partir ao meio-dia, então, Hotah pensou.
Mais
tarde, quando Arianne havia ido, ele deixou seu machado longo de lado
e carregou o Príncipe Doran para a cama.
-
Até a Montanha esmagar o crânio do meu irmão, nenhum dornense
havia morrido nesta Guerra dos Cinco Reis - o príncipe sussurrou
suavemente, enquanto Hotah puxava um cobertor sobre ele. - Diga-me,
capitão, isto é minha vergonha ou minha glória?
-
Isso não é para eu dizer, meu príncipe. - Servir. Proteger.
Obedecer. Votos simples para homens simples. Isso era tudo o que ele
sabia.
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