segunda-feira, 23 de setembro de 2013

42 - BRIENNE



Isto é um pesadelo horrível, pensou. Mas, se sonhava, por que doía tanto?
A chuva tinha parado de cair, mas o mundo inteiro estava molhado. Sentia o manto tão pesado quanto a cota de malha. As cordas que lhe prendiam os pulsos estavam empapadas, o que só as apertava mais. Não importa como virasse as mãos, não conseguia se libertar. N ão compreendia quem a atara ou por quê. Tentou perguntar às sombras, mas elas não responderam. Talvez não a ouvissem. Talvez não fossem reais. Sob as camadas de lã úmida e cota de malha enferrujada, tinha a pele corada e febril. Perguntou a si mesma se tudo aquilo seria apenas um delírio provocado pela febre.
Tinha um cavalo por baixo de si, embora não conseguisse se lembrar de ter montado. Estava deitada de barriga para baixo sobre os quartos traseiros do animal, como se fosse um saco de aveia. Os pulsos e os tornozelos tinham sido firmemente amarrados uns aos outros. O ar estava úmido e o solo encontrava-se encoberto por névoas. A cabeça latejava-lhe a cada passo. Ouvia vozes, mas tudo o que via era a terra sob os cascos do cavalo. Havia coisas quebradas dentro de si. Sentia o rosto inchado, tinha a bochecha pegajosa de sangue, e cada oscilação e sacudidela provocavam-lhe uma punhalada de dor no braço. Ouvia Podrick chamando-a, como que de uma grande distância.
- Sor? - ele não parava de dizer. - Sor? Senhora? Sor? Senhora? - a voz era tênue e difícil de ouvir. Por fim, restou só o silêncio.
Sonhou que estava em Harrenhal, de novo na arena dos ursos. Daquela vez quem a enfrentava era Dentadas, enorme, careca e branco como um verme, com chagas sangrentas nas faces. Aproximou-se, nu, afagando o membro, fazendo ranger os dentes aguçados.
Ela fugiu dele.
- Minha espada - gritou. - A Cumpridora de Promessas. Por favor - a audiência não lhe deu resposta. Renly encontrava-se presente, com Lesto Dick e Catelyn Stark. Shagwell, Pyg e Timeon tinham vindo, e os cadáveres das árvores também, com seus rostos encovados, línguas inchadas e órbitas vazias. Brienne gemeu de horror ao vê-los, e Dentadas pegou-lhe no braço, puxou-a para si e lhe arrancou um bocado de carne do rosto. - Jaime - ouviu-se gritar - Jaime.
Mesmo nas profundezas do sonho, a dor estava presente. O rosto latejava. O ombro sangrava. Respirar doía-lhe. Dores estalavam em seu braço como relâmpagos. Gritou por um meistre.
- Nós não temos meistre - disse uma voz de garota. - Sou só eu.
Procuro um a garota, recordou Brienne. Uma donzela bem-nascida de treze anos, com olhos azuis e cabelos ruivos.
- Senhora? - disse. - Senhora Sansa?
Um homem riu.
- Ela acha que você é Sansa Stark.
- Não pode continuar por muito tempo. Vai morrer.
- É um leão a menos. Não é coisa que me faça chorar.
Brienne ouviu o ruído de alguém rezando. Pensou no Septão Meribald, mas as palavras estavam todas erradas. A noite é escura e cheia de terrores, e os sonhos também.
Atravessavam um bosque sombrio, um lugar úmido, escuro e silencioso, onde os pinheiros cresciam muito juntos. O solo era mole sob os cascos do cavalo, e os rastros que deixava atrás de si enchiam-se de sangue. Ao seu lado, seguia Lorde Renly, Dick Crabb e Vargo Hoat. Sangue corria da garganta de Renly. Da orelha rasgada do Bode escorria pus.
- Vamos para onde? - Brienne perguntou. - Para onde está me levando? - ninguém quis responder. Como poderiam? Estão todos mortos. Isso significava que ela também estava?
Tinha à sua frente Lorde Renly, seu querido rei sorridente. Levava o cavalo por entre as árvores. Brienne o chamou para lhe dizer quanto o amava, mas quando ele se virou para olhá-la de testa franzida, viu que afinal não se tratava de Renly. Renly nunca franzia a testa. Ele sempre teve um sorriso para mim, pensou... exceto...
“Frio” dissera seu rei, confundido, e uma sombra moveu-se sem um homem que a deitasse, e o sangue de seu querido senhor se derramou pelo aço verde do gorjal para ir ensopar suas mãos. Ele fora um homem quente, mas o sangue estava frio como gelo. Isto não é real, disse a si mesma. Isto é outro pesadelo, e logo acordarei.
Sua montaria parou de repente. Mãos rudes a pegaram. Viu feixes da luz vermelha da tarde caindo em diagonal por entre os galhos de um castanheiro. Um cavalo remexeu as folhas mortas em busca de castanhas, e homens deslocaram-se ali perto, falando em voz baixa. Dez, doze, talvez mais. Brienne não reconheceu seus rostos. Estava estendida no chão, com as costas apoiadas a um tronco de árvore.
- Beba isto, senhora - disse a voz da garota. Levou uma taça aos lábios de Brienne. O sabor era forte e amargo, Brienne cuspiu.
- Água - arquejou. - Por favor. Água.
- Água não a ajudará com a dor. Isto sim. Um pouco - a garota voltou a encostar a taça nos lábios de Brienne.
Até beber doía. Vinho escorreu-lhe queixo abaixo e pingou sobre seu peito. Quando a taça ficou vazia, a garota tornou a enchê-la de um odre. Brienne foi bebendo até se engasgar.
- Basta.
- Não basta. Tem um braço quebrado e algumas de suas costelas estão trincadas. Duas, talvez três.
- Dentadas - Brienne disse, lembrando-se do peso dele, do modo como o joelho a atingira no peito.
- Sim. Um verdadeiro monstro esse.
Recordou-se de tudo; os relâmpagos por cima e a lama por baixo, a chuva pingando suavemente no aço escuro do elmo do Cão de Caça, a terrível força das mãos do Dentadas. De repente deixou de conseguir suportar estar atada. Tentou libertar-se das cordas, mas tudo que conseguiu foi piorar as escoriações. Os pulsos estavam demasiado apertados. Havia sangue seco no cânhamo.
- Ele está morto? - estremeceu. - Dentadas. Ele está morto? - lembrava-se dos dentes dele enterrando-se na carne do seu rosto. A ideia de que ainda pudesse andar por ali, em algum lugar, respirando, fazia Brienne ter vontade de gritar.
- Está. Gendry enfiou-lhe uma ponta de lança na nuca. Beba, senhora, senão lhe despejo isto garganta abaixo.
Ela bebeu.
- Ando à procura de uma garota - sussurrou, entre tragos. Quase disse minha irmã. - Uma donzela bem-nascida de treze anos. Tem olhos azuis e cabelos ruivos.
- Não sou eu.
Não. Brienne podia ver. A garota era magra a ponto de parecer esfomeada. Usava os cabelos castanhos numa trança, e tinha olhos que eram mais velhos do que sua idade. Cabelos castanhos, olhos castanhos, simples. Willow, seis anos mais velha.
- É a irmã. A estalajadeira.
- Se calhar, sou - a garota a olhou de soslaio. - E se for?
- Tem nome? - Brienne quis saber. Seu estômago gorgolejou. Teve receio de vomitar.
- Heddle. Como a Willow. Jeyne Heddle.
- Jeyne. Desamarre-me as mãos. Por favor. Tenha piedade. As cordas estão deixando meus pulsos em carne viva. Estou sangrando.
- Não é permitido. Deve ficar presa até... Até ser levada à presença da senhora - Renly estava atrás da garota, afastando seus cabelos negros dos olhos. Renly não. Gendry. - A senhora quer que responda por seus crimes.
- Senhora - o vinho estava fazendo sua cabeça girar. Era difícil pensar. - Coração de Pedra. E dela que fala? - Lorde Randyll a mencionara, em Lagoa da Donzela. - A Senhora Coração de Pedra.
- Há quem a chame assim. Outros a chamam de outras coisas. A Irmã Silenciosa. A Mãe Impiedosa. A Carrasca.
A Carrasca. Quando Brienne fechou os olhos, viu os cadáveres balançando sob os galhos nus e marrons, com os rostos negros e inchados. De repente, sentiu um medo desesperado.
- Podrick. Meu escudeiro. Onde está Podrick? E os outros... Sor Hyle, o Septão Meribald. O Cão. Que fizeram com o Cão?
Gendry e a garota trocaram um olhar. Brienne lutou por se pôr em pé e conseguiu por um momento sustentar-se sobre um joelho antes de o mundo começar a girar.
- Foi você quem matou o Cão, senhora - ouviu Gendry dizer, logo antes de a escuridão voltar a engoli-la.
Então viu-se de volta aos Murmúrios, em pé no meio das ruínas e defrontando Clarence Crabb. Ele era enorme e feroz, montado num auroque mais peludo do que ele. O animal escavou o chão, furioso, fazendo profundos sulcos na terra. Os dentes de Crabb tinham sido aguçados até formar pontas. Quando Brienne tentou puxar pela espada, encontrou a bainha vazia.
- Não - gritou, no momento em que Sor Clarence atacava. Não era justo. Não podia lutar sem sua espada mágica. Sor Jaime lhe dera. A ideia de falhar com ele como falhara com Lorde Renly lhe dava vontade de chorar. - A minha espada. Por favor, tenho de encontrar minha espada.
- A garota quer a espada de volta - declarou uma voz.
- E eu quero que Cersei Lannister me faça um boquete. E daí?
- Jaime a chamou Cumpridora de Promessas. Por favor - mas as vozes não lhe deram ouvidos, e Clarence Crabb caiu sobre ela como um trovão e cortou-lhe a cabeça. Brienne caiu em espiral numa escuridão mais profunda.
Sonhou que estava deitada num barco, com a cabeça apoiada no colo de alguém. Havia sombras a toda volta, homens encapuzados vestidos de cota de malha e couro, que os levavam à força de remos abafados através de um rio nevoento. Estava ensopada de suor e ardia em febre, mas ao mesmo tempo também tremia. O nevoeiro estava cheio de rostos.
- Beleza - murmuravam os salgueiros na margem, mas os juncos diziam: - Monstro, monstro - Brienne estremecia.
- Pare - pediu. - Alguém faça-os parar.
Da vez seguinte que acordou, Jeyne levava-lhe uma taça de sopa quente aos lábios. Caldo de cebolas, Brienne. Bebeu tanto quanto foi capaz, até que um pedaço de cenoura ficou preso em sua garganta e a fez se engasgar. Tossir era uma agonia.
- Calma - a garota lhe pediu.
- Gendry - arquejou. - Tenho de falar com Gendry.
- Ele voltou para trás no rio, senhora. Vai voltar para sua forja, para Willow e os pequenos, para mantê-los a salvo.
Ninguém pode mantê-los a salvo. Recomeçou a tossir.
- Ah, deixe-a sufocar. Poupa-nos uma corda - um dos homens das sombras empurrou a garota para o lado. Estava coberto com cota de malha enferrujada e trazia um cinto com tachões. De seu quadril pendia espada e punhal. Um manto amarelo estava colado aos seus ombros, encharcado e imundo. Dos ombros erguia-se uma cabeça de cão em aço, com os dentes desnudados num rosnido.
- Não - Brienne gemeu. - Não, está morto, eu o matei.
Cão de Caça soltou uma gargalhada.
- Entendeu as coisas ao contrário. Eu é que vou matá-la. Mataria você agora, mas a senhora quer vê-la enforcada.
Enforcada. A palavra a trespassou com um solavanco de medo. Olhou para a garota, Jeyne. Ela é nova demais para ser tão dura.
- Pão e sal - Brienne arquejou. - A estalagem... Septão Meribald alimentou as crianças... nós dividimos o pão com sua irmã...
- O direito de hóspede já não tem tanto significado como antes - disse a garota. - Já não o tem desde que a senhora voltou do casamento. Alguns daqueles que balançam junto ao rio também achavam que eram hóspedes.
- Nós achamos outras coisas - disse Cão de Caça. - Eles queriam camas. Nós lhes demos árvores.
- Mas temos mais árvores - interveio outra sombra, com apenas um olho atrás de um elmo redondo coberto de ferrugem. - Temos sempre mais árvores.
Quando chegou o momento de voltar a montar, enfiaram-lhe um capuz de couro na cabeça. Não havia buracos para os olhos. O couro abafava os sons à sua volta. O sabor de cebola permaneceu em sua boca, penetrante como a noção de seu fracasso. Eles querem me enforcar. Pensou em Jaime, em Sansa, no seu pai em Tarth, e sentiu-se contente pelo capuz. Ajudava a esconder as lágrimas que lhe subiam aos olhos. De vez em quando, ouvia os outros conversar, mas não conseguia distinguir as palavras. Após algum tempo, entregou-se ao cansaço e aos lentos e regulares movimentos do cavalo.
Daquela vez sonhou que estava de novo em casa, no Entardecer. Através das altas janelas arqueadas do salão do senhor seu pai via o sol se pôr. Aqui estava a salvo. Estava a salvo.
Estava vestida de brocado de seda, um vestido esquartelado de azul e vermelho, decorado com sóis dourados e crescentes prateados. Em outra garota podia ter sido um vestido bonito, mas não nela. Tinha doze anos, sentia-se desajeitada e desconfortável enquanto esperava para conhecer o jovem cavaleiro com quem o pai combinara que se casaria, um rapaz seis anos mais velho, que certamente um dia seria um famoso campeão. Temia sua chegada. Tinha o peito pequeno demais, as mãos e os pés grandes demais. Os cabelos não paravam de se pôr em pé, e havia uma espinha aninhada na dobra ao lado do nariz.
- Ele vai lhe trazer uma rosa - prometeu-lhe o pai, mas uma rosa não servia, uma rosa não podia mantê-la em segurança. Era uma espada que queria. A Cumpridora de Promessas. Tenho de encontrar a garota. Tenho de encontrar a honra dele.
Finalmente as portas se abriram, e seu prometido entrou a passos largos no salão do pai. Tentou saudá-lo como fora instruída a fazer, mas apenas conseguiu que sangue lhe jorrasse da boca. Cortara a língua com os dentes enquanto esperava. Cuspiu-a aos pés do jovem cavaleiro, e viu a repugnância em seu rosto.
- Brienne, a Beleza - ele disse em tom trocista. - Já vi porcas mais belas do que você - atirou-lhe a rosa ao rosto. Enquanto se afastava, os grifos em seu manto ondularam, perderam nitidez e transformaram-se em leões. Jaime! Quis gritar. Jaime, volte para mim! Mas sua língua jazia no chão ao lado da rosa, afogada em sangue.
Brienne acordou de repente, ofegando.
Não sabia onde se encontrava. O ar estava frio e pesado, e cheirava a terra, vermes e bolor. Estava estendida num catre, sob uma pilha de peles de ovelha, com rocha acima da cabeça e raízes perfurando as paredes. A única luz provinha de uma vela alta, que fumegava num charco de cera derretida.
Afastou as peles de ovelha para o lado. Viu que alguém a despira de roupas e armadura. Estava vestida com uma combinação de lã marrom, pouco espessa, mas limpa. Uma tala tinha sido colocada em seu antebraço, enfaixado com linho. Sentia um lado do rosto molhado e rígido. Quando se tocou, descobriu uma espécie qualquer de cataplasma úmido que lhe cobria a bochecha, o maxilar e a orelha. Dentadas...
Brienne se levantou. Sentia as pernas fracas como água, e a cabeça leve como ar.
- Tem alguém aí?
Algo se moveu em uma das alcovas sombrias por trás da vela; um velho grisalho vestido de farrapos. As mantas que o cobriam deslizaram para o chão. Sentou-se e esfregou os olhos.
- Senhora Brienne? Assustou-me. Estava sonhando.
Não, ela pensou, eu é quem estava.
- Que lugar é este? É uma masmorra?
- Uma gruta. Como ratazanas, temos de correr de volta aos nossos buracos quando os cães vêm farejar nosso rastro, e há mais cães a cada dia - ele trazia os restos esfarrapados de uma velha veste cor-de-rosa e branca. Os cabelos eram longos, grisalhos e emaranhados, e a pele solta das bochechas e do queixo estava coberta por uma barba hirsuta. - Está com fome? Conseguiria manter no estômago uma taça de leite? Talvez um pouco de pão e mel?
- Quero minha roupa. Minha espada - sentia-se nua sem sua cota de malha, e queria a Cumpridora de Promessas ao seu lado. - A saída. Mostre-me a saída - o chão da gruta era de terra e pedra, áspero sob as solas dos seus pés. Ainda sentia a cabeça leve, como se estivesse flutuando. A luz tremeluzente lançava estranhas sombras. Espíritos dos mortos, pensou, dançando à minha volta, escondendo-se quando me viro para olhá-los. Viu buracos, rachaduras e fendas por todo lado, mas não havia maneira de saber quais das passagens levavam ao exterior, quais a fariam penetrar mais profundamente na gruta e quais não iam dar a lugar nenhum. Todas estavam negras como breu.
- Posso sentir a temperatura de sua testa, senhora? - a mão do carcereiro estava coberta de cicatrizes e era dura, cheia de calos, mas estranhamente gentil. - A febre baixou - anunciou, numa voz temperada pelo sotaque das Cidades Livres. - Ótimo. Ainda ontem parecia que tinha a carne em fogo. Jeyne temeu que pudéssemos perdê-la.
- Jeyne. A garota alta?
- Essa mesma. Embora não seja tão alta quanto você, senhora. Os homens a chamam Jeyne Longa. Foi ela quem pôs seu braço na posição correta e colocou a tala, tão bem quanto qualquer meistre. Fez também o que pôde pelo seu rosto, lavando os ferimentos com cerveja fervida para parar a necrose. Mesmo assim... Uma dentada humana é uma coisa nojenta. Foi daí que veio a febre, estou certo - o homem grisalho tocou-lhe o rosto enfaixado. -Tivemos de cortar alguma carne. Temo que seu rosto não fique bonito.
Ele nunca foi bonito.
- Fala de cicatrizes?
- Senhora, aquela criatura arrancou metade de sua bochecha.
Brienne não conseguiu evitar um estremecimento. Todos os cavaleiros têm cicatrizes de batalha, prevenira-a Sor Goodwin, quando lhe pedira que a ensinasse a manejar a espada. É isso o que quer, pequena? Mas seu velho mestre de armas falava de golpes de espada; nunca poderia ter previsto os dentes pontiagudos do Dentadas.
- Para que colocar meus ossos no lugar e lavar meus ferimentos se pretendem me enforcar?
- Realmente, para quê? - ele relanceou os olhos pela vela, como se já não conseguisse suportar olhá-la, - Disseram-me que lutou bravamente na estalagem. Limo não devia ter saído da encruzilhada. Foi-lhe dito que ficasse por perto, escondido, para vir imediatamente se visse fumaça saindo da chaminé... Mas, quando lhe chegou uma mensagem dizendo que Cão Louco de Salinas tinha sido visto dirigindo-se para o norte, ao longo do Ramo Verde, mordeu a isca. Andávamos havia tanto tempo à caça daquele grupo... Mesmo assim, ele devia ter pensado melhor. Acabou gastando meio dia para perceber que os saltimbancos tinham usado um riacho para esconder o rastro e voltado, nas suas costas, e então perdeu mais tempo rodeando uma coluna de cavaleiros Frey. Se não fosse você, haveria apenas cadáveres na estalagem quando Limo e seus homens regressassem. Foi por isso que Jeyne cuidou de suas feridas, talvez. Não importa o que tenha feito, ganhou esses ferimentos de forma honrada, na melhor das causas.
Não importa o que tenha feito.
- O que pensa que fiz? - disse. - Quem é você?
- Éramos homens do rei quando começamos - disse-lhe o homem - mas homens do rei têm de ter um rei, e nós não temos. Também éramos irmãos, mas agora nossa irmandade se dispersou. Não sei quem somos, para falar a verdade, nem sei para onde nos dirigimos. Só sei que a estrada é escura. Os fogos não me mostraram o que está no fim.
Eu sei onde ela termina. Vi os cadáveres nas árvores.
- Fogos - repetiu Brienne. E, de repente, compreendeu. - É o sacerdote de Myr. O feiticeiro vermelho.
Ele abaixou os olhos para a roupa esfarrapada e abriu um sorriso triste.
- O fingidor cor-de-rosa, talvez. Sou Thoros, outrora de Myr, sim... um mau sacerdote e um feiticeiro pior.
- Acompanha Dondarrion, o senhor do relâmpago.
- O relâmpago aparece e desaparece, e depois não volta a ser visto. Acontece o mesmo com os homens. Temo que o fogo de Lorde Beric tenha desaparecido deste mundo. Em seu lugar lidera-nos uma sombra mais ameaçadora.
- Cão de Caça?
O sacerdote enrugou os lábios.
- Cão de Caça está morto e enterrado.
- Eu o vi. Na floresta.
- Um sonho febril, senhora.
- Ele disse que queria me enforcar.
- Até os sonhos podem mentir. Senhora, há quanto tempo não come? Certamente está faminta.
Compreendeu que estava. Sentia a barriga oca.
- Comida... comida seria bem-vinda, obrigada.
- Uma refeição, neste caso. Sente-se. Falaremos mais, mas primeiro uma refeição. Espere aqui - Thoros acendeu um círio na vela inclinada e desapareceu num buraco negro por trás de uma saliência de rocha. Brienne deu por si sozinha na pequena gruta. Mas por quanto tempo?
Percorreu o aposento em busca de uma arma. Qualquer tipo de arma teria servido; um bastão, uma maça, um punhal. Só encontrou pedras. Uma se ajustava bem ao seu punho... Mas recordou os Murmúrios, e o que tinha acontecido quando Shagwell tentara opor uma pedra a uma faca. Quando ouviu os passos do sacerdote, deixou a pedra cair no chão da gruta e regressou ao lugar onde estivera sentada.
Thoros tinha pão, queijo e uma tigela de guisado.
- Lamento - disse. - O resto do leite azedou, e já não temos mel. A comida torna-se escassa. Seja como for, isto irá encher sua barriga.
O guisado estava frio e gorduroso; o pão, duro, e o queijo, mais duro ainda. Brienne nunca comera nada tão delicioso.
- Meus companheiros estão aqui? - perguntou ao sacerdote, enquanto enchia a colher com os últimos restos do guisado.
- O septão foi libertado e seguiu seu caminho. Não havia nenhum mal nele. Os outros estão aqui, aguardando julgamento.
-Julgamento? - franziu as sobrancelhas. - Podrick Payne não passa de um garoto.
- Ele diz que é um escudeiro.
- Sabe como os garotos gostam de se gabar.
- O escudeiro do Duende. Lutou em batalhas, ele mesmo admitiu. Até chegou a matar, caso se acredite no que diz.
- Um garoto - ela voltou a dizer. - Tenha piedade.
- Senhora - disse Thoros - não duvido de que a gentileza, a misericórdia e o perdão ainda possam ser encontrados em algum lugar nestes Sete Reinos, mas não os procure aqui. Isto é uma gruta, não um templo. Quando os homens são obrigados a viver como ratazanas na escuridão subterrânea, sua piedade logo se esgota, assim como acontece com o leite e o mel.
- E a justiça? Pode ser encontrada em grutas?
-Justiça - Thoros deu um sorriso tristonho. - Lembro-me da justiça. Tinha um sabor agradável. Era a justiça que pretendíamos quando Beric nos liderava, ou pelo menos era isso que dizíamos a nós mesmos. Éramos homens do rei, cavaleiros e heróis... Mas alguns cavaleiros são sombrios e cheios de terror, senhora. A guerra transforma todos nós em monstros.
- Está dizendo que são monstros?
- Estou dizendo que somos humanos. Não é a única pessoa com ferimentos, Senhora Brienne. Alguns de meus irmãos eram bons homens quando isto começou. Alguns eram... Menos bons, digamos, embora haja quem diga que não importa como um homem começa, mas apenas como termina. Suponho que com as mulheres seja igual - o sacerdote se levantou. - Temo que nosso tempo juntos esteja no fim. Ouço meus irmãos se aproximar. A nossa senhora manda que a busquem.
Brienne ouviu os passos e viu a luz do archote tremeluzir na passagem.
- Disse-me que ela tinha ido a Feirajusta.
- E foi. Voltou enquanto dormia. Ela nunca dorme.
Não terei medo, disse a si mesma, mas era tarde demais para isso. Substituiu essa promessa por outra: não permitirei que vejam meu medo. Eles eram quatro, homens duros com rostos macilentos, vestidos de cota de malha, escamas e couro. Reconheceu um deles; o homem com um olho dos seus sonhos.
O maior dos quatro usava um manto amarelo manchado e esfarrapado.
- Gostou da comida? - perguntou. - Espero que sim. Deve ser a última refeição que fará - tinha cabelos castanhos e barba, era musculoso e possuía um nariz partido, fruto de maus cuidados. Conheço esse homem, Brienne pensou.
- É o Cão de Caça.
Ele abriu um sorriso. Seus dentes eram horríveis; tortos e com manchas marrons devido à cárie.
- Suponho que seja. Visto que a senhora tratou de matar o último - virou a cabeça e escarrou.
Brienne recordou o relâmpago estalando, a lama sob os seus pés.
- Quem eu matei foi Rorge. Ele tirou o elmo da tumba de Clegane, e você o roubou de seu cadáver.
- Não estou ouvindo ele protestar.
Thoros prendeu a respiração, consternado.
- Isso é verdade? O elmo de um morto? Caímos assim tão baixo?
O grandalhão lançou-lhe um olhar carrancudo.
- É bom aço.
- Não há nada de bom nesse elmo, nem nos homens que o usaram - disse o sacerdote vermelho. - Sandor Clegane era um homem atormentado, e Rorge, um animal em pele humana.
- Não sou nem um nem outro.
- Então para que mostrar ao mundo a cara deles? Selvagem, a rosnar, retorcida... é isso o que quer ser, Limo?
- Vê-la vai encher de medo meus inimigos.
- Vê-la me enche de medo.
- Então feche os olhos - o homem do manto amarelo fez um gesto brusco. - Traga a puta.
Brienne não resistiu. Eles eram quatro, e ela estava fraca e ferida, nua sob a combinação de lã. Tinha de dobrar o pescoço para evitar bater com a cabeça enquanto a levavam pela sinuosa passagem. O caminho em frente ergueu-se bruscamente, virando duas vezes antes de emergir numa caverna muito maior, cheia de fora da lei.
Um buraco de fogueira fora escavado no centro da caverna, e o ar estava azul de fumaça. Homens aglomeravam-se junto às chamas, aquecendo-se contra o frio da gruta. Outros estavam em pé ao longo das paredes, ou sentavam-se de pernas cruzadas em catres de palha. Também havia mulheres, e até algumas crianças, que espreitavam por detrás da saia das mães. O único rosto que Brienne reconheceu pertencia a Jeyne Longa Heddle.
Uma mesa de montar tinha sido erguida do outro lado da gruta, numa fenda da rocha. Por trás dela encontrava-se sentada uma mulher toda vestida de cinza, com um manto e um capuz. Tinha nas mãos uma coroa, um aro de bronze rodeado por espadas de ferro. Estava estudando-a, afagando as lâminas com os dedos, como que para verificar se estavam afiadas. Os olhos cintilavam sob o capuz.
Cinza era a cor das irmãs silenciosas, as criadas do Estranho. Brienne sentiu um arrepio subir-lhe a espinha. Coração de Pedra.
- Senhora - disse o grandalhão. - Aqui está ela.
- Sim - disse o zarolho. - A puta do Regicida.
Brienne vacilou.
- Por que me chama assim?
- Se eu ganhasse um veado de prata toda vez que dissesse o nome dele, estaria tão rico quanto seus amigos Lannister.
- Isso foi só... não compreende...
- Será que não? - o grandalhão soltou uma gargalhada. - Acho que talvez entendamos. Há um fedor de leão em você, senhora.
- Não é verdade.
Outro dos fora da lei deu um passo adiante, um homem mais novo com um justilho gorduroso de pele de ovelha. Na mão trazia a Cumpridora de Promessas.
- Isto diz que é - a voz dele era carregada com o sotaque do Norte. Tirou a espada da bainha e a pousou diante da Senhora Coração de Pedra. À luz vinda da fogueira, as ondulações vermelhas e negras da lâmina quase pareciam se mover, mas a mulher de cinza só tinha olhos para o botão do punho: uma cabeça de leão em ouro, com olhos de rubi que brilhavam como duas estrelas vermelhas.
- E também há isto - Thoros de Myr tirou um pergaminho da manga e o pousou junto à espada. - Ostenta o selo do rei garoto e diz que o portador está tratando de seus assuntos.
A Senhora Coração de Pedra pôs a espada de lado para ler a carta.
- A espada me foi dada para um bom propósito - Brienne disse. - Sor Jaime prestou um juramento a Catelyn Stark...
- ... antes de seus amigos lhe cortarem a garganta, com certeza - disse o homem grande com o manto amarelo. - Todos conhecemos o Regicida e seus juramentos.
Não adianta, Brienne compreendeu. Nada que eu diga irá fazê-los mudar de ideia. Apesar disso, decidida, foi em frente.
- Ele prometeu as filhas à Senhora Catelyn, mas quando chegamos a Porto Real elas tinham desaparecido. Jaime me mandou em busca da Senhora Sansa...
- ... e se tivesse achado a garota - perguntou o jovem nortenho - o que deveria fazer com ela?
- Protegê-la. Levá-la para algum lugar seguro.
O grandalhão soltou uma gargalhada.
- Onde fica isso? Na masmorra de Cersei?
- Não.
- Negue o que quiser. Aquela espada diz que é uma mentirosa. Será que espera que acreditemos que os Lannister andam entregando espadas de ouro e rubis a inimigos? Que o Regicida queria que escondesse a garota de sua própria irmã gêmea? Suponho que o papel com o selo do rei garoto fosse apenas para o caso de precisar limpar o cu, não? E depois há a companhia em que anda... - o grandalhão virou-se e fez um gesto, as fileiras de fora da lei abriram-se, e outros dois cativos foram trazidos. - O garoto era o escudeiro do próprio Duende, senhora - ele se dirigiu à Senhora Coração de Pedra. - O outro é um dos malditos cavaleiros domésticos do maldito Randyll Tarly.
Hyle Hunt tinha sido espancado com tanta violência, que seu rosto estava inchado quase até deixar de ser reconhecível. Tropeçou quando o empurraram, e quase caiu. Podrick o agarrou pelo braço.
- Sor - disse o garoto com ar infeliz quando viu Brienne. - Quero dizer, senhora. Lamento.
- Não há nada a lamentar - Brienne virou-se para a Senhora Coração de Pedra. - Seja qual for a traição que julga que cometi, senhora, Podrick e Sor Hyle não participaram dela.
- São leões - disse o zarolho. - Isso basta. Que sejam enforcados, digo eu. O Tarly enforcou uma vintena dos nossos, já é mais que tempo de a gente pendurar uns tantos dos dele.
Sor Hyle dirigiu a Brienne um tênue sorriso.
- Senhora - disse - devia ter se casado comigo quando me ofereci. Agora, temo que esteja condenada a morrer donzela, e eu, pobre.
- Liberte-os - Brienne suplicou.
A mulher de cinza não deu resposta. Estudou a espada, o pergaminho, a coroa de bronze e ferro. Por fim, ergueu a mão até a garganta e agarrou o pescoço, como se pretendesse esganar a si mesma. Em vez disso, falou... Sua voz era hesitante, irregular, torturada. O som parecia vir de sua garganta, em parte um coaxo, em parte um arquejo de asmático, em parte um matraquear de morte. A língua dos condenados, pensou Brienne.
- Não compreendo. O que foi que ela disse?
- Perguntou como se chama essa sua lâmina - respondeu o jovem nortenho com o justilho de pele de ovelha.
- Cumpridora de Promessas - Brienne respondeu.
A mulher de cinza silvou por entre os dedos. Seus olhos eram dois poços rubros ardendo nas sombras. Voltou a falar.
- Não, ela disse. Chame-a de Quebradora de Promessas. Foi feita para a traição e o assassínio. Ela a batiza como Falsa Amiga. Como você.
- Para quem fui falsa?
- Para ela - disse o nortenho. - Poderá a senhora ter se esquecido de que um dia jurou se pôr ao seu serviço?
Só havia uma mulher a quem a Donzela de Tarth tinha jurado servir.
- Isto não pode ser - disse. - Ela está morta.
- A morte e o direito de hóspede - Jeyne Longa Heddle resmungou. - Não têm tanto significado como tinham antes, nem uma coisa nem outra.
Senhora Coração de Pedra abaixou o capuz e desenrolou o cachecol de lã cinzenta que lhe cobria o rosto. Seus cabelos estavam secos e quebradiços, brancos como osso. A testa salpicada de verde e cinza, manchada com os rebentos marrons da putrefação. A pele agarrava-se ao seu rosto em faixas rasgadas, dos olhos até o maxilar. Alguns dos cortes estavam cobertos por crostas de sangue seco, mas outros escancaravam-se para revelar o crânio, por baixo.
O rosto dela, Brienne pensou. O rosto dela era tão forte e bonito, sua pele era tão lisa e macia.
- Senhora Catelyn? - lágrimas encheram-lhe os olhos. - Disseram... disseram que estava morta.
- E está - Thoros de Myr interveio. - Os Frey rasgaram-lhe a garganta de orelha a orelha. Quando a encontramos junto ao rio, estava morta havia três dias. Harwin suplicou-me que lhe desse o beijo da vida, mas tinha se passado tempo demais. Não quis fazê-lo, por isso Lorde Beric pôs os lábios sobre os dela, e a chama da vida passou dele para ela. E... ela se ergueu. Que o Senhor da Luz nos proteja. Ela se ergueu.
Ainda estou sonhando? Perguntou Brienne a si mesma. Será isto outro pesadelo nascido dos dentes do Dentadas?
- Nunca a traí. Diga-lhe isso. Juro pelos Sete. Juro pela minha espada.
A coisa que tinha sido Catelyn Stark voltou a agarrar a garganta, com dedos que apertavam o pavoroso e longo corte no pescoço, e estrangulou mais sons.
- Palavras são vento, ela diz - o nortenho esclareceu Brienne. - Ela diz que deve demonstrar sua fidelidade.
- Como? - Brienne quis saber.
- Com a sua espada. Você a chama de Cumpridora de Promessas? Então cumpra a promessa que lhe fez, a senhora diz.
- O que ela quer de mim?
- Quer o filho vivo, ou os homens que o mataram mortos - o grandalhão respondeu. - Quer alimentar os corvos, como fizeram no Casamento Vermelho. Os Frey e os Bolton, sim. Nós os daremos a ela, tantos quantos queira. Tudo o que lhe pede é Jaime Lannister.
Jaime. O nome era uma faca retorcendo-se em sua barriga.
- Senhora Catelyn, eu... não compreende, Jaime... ele me salvou de ser violada quando os Saltimbancos Sangrentos nos capturaram, e mais tarde voltou para vir me buscar, saltou de mãos nuas para a arena dos ursos... Juro, ele não é o homem que era. Mandou-me em busca de Sansa, para mantê-la a salvo, não podia ter participação no Casamento Vermelho.
Os dedos da Senhora Catelyn enterraram-se profundamente na garganta, e as palavras saíram num matraquear, sufocadas e entrecortadas, um fluxo tão frio como gelo. O nortenho disse:
- Ela diz que deve escolher. Pegar a espada e matar o Regicida ou ser enforcada como traidora. A espada ou a corda, ela diz. Escolha, ela diz. Escolha.
Brienne lembrou-se do sonho, a espera no salão do pai pelo rapaz com quem deveria se casar. No sonho, cortara a língua com os dentes. Tinha a boca cheia de sangue. Inspirou entre espasmos e disse:
- Não farei tal escolha.
Houve um longo silêncio. Então, a Senhora Coração de Pedra voltou a falar. Daquela vez, Brienne compreendeu o que disse. Foi só uma palavra.
- Enforque-os - crocitou.
- Às suas ordens, senhora - prontificou-se o grandalhão.
Voltaram a atar os pulsos de Brienne com cordas e a levaram para fora da caverna, por um caminho sinuoso de pedra que subia à superfície. Ficou surpresa por ver que lá fora era manhã. Feixes da pálida luz da aurora penetravam em diagonal por entre as árvores. Tantas árvores por escolher, pensou. Não terão de nos levar até longe.
E não levaram. Sob um salgueiro torto, os fora da lei enfiaram-lhe um laço pela cabeça, apertaram-no bem em seu pescoço e fizeram passar a outra ponta da corda por cima de um galho. A Hyle Hunt e Podrick Payne foram dados elmos. Sor Hyle gritava que mataria Jaime Lannister, mas Cão de Caça deu-lhe um tabefe no rosto e o calou, e lhe colocou o elmo.
- Se tiverem crimes a confessar aos seus deuses, esta é a hora de fazê-lo.
- Podrick nunca lhes fez mal. Meu pai o resgatará. Tarth é conhecida como a ilha safira. Envie Podrick com os meus ossos ao Entardecer, e terão safiras, prata, tudo que quiserem.
- Quero minha mulher e filha de volta - disse Cão de Caça. - Seu pai pode me dar isso? Se não puder, pode ir levar no cu. O garoto vai apodrecer ao seu lado. Lobos hão de roer seus ossos.
- Vai enforcá-la, Limo? - perguntou o zarolho. - Ou pensa em matar a cadela com conversa?
Cão de Caça arrancou a ponta da corda do homem que a segurava.
- Vamos lá ver se ela sabe dançar - disse, e deu um puxão.
Brienne sentiu o cânhamo apertar, enterrando-se em sua pele, puxando-lhe o queixo para cima. Sor Hyle os amaldiçoava com eloquência, mas o garoto não. Podrick não chegou a erguer os olhos, nem mesmo quando seus pés foram arrancados do chão. Se isso for outro sonho, está na hora de acordar. Se isto for real, está na hora de morrer. Tudo que conseguia ver era Podrick, com o laço em volta do pescoço, as pernas torcendo-se. Sua boca se abriu e Pod esperneava, sufocava, morria. Brienne inspirou desesperadamente no momento em que a corda a estrangulava. Nunca nada doera tanto.
Gritou uma palavra.  

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