segunda-feira, 23 de setembro de 2013

44 - JAIME



O novo Senhor de Correrrio estava tão zangado que tremia.
- Fomos enganados - disse. - Este homem nos ludibriou! - perdigotos cor-de--rosa voavam de seus lábios enquanto espetava um dedo em Edmure Tully. - Quero a sua cabeça! Eu governo em Correrrio, por decreto do próprio rei, eu...
- Emmon - disse a esposa - o Senhor Comandante conhece o decreto do rei. Sor Edmure conhece o decreto do rei. Os moços de estrebaria conhecem o decreto do rei.
- O senhor sou eu, e vou ter a cabeça dele!
- Por qual crime? - apesar de estar bastante magro, Edmure ainda tinha um aspecto mais senhorial do que Emmon Frey. Trazia um gibão acolchoado de lã vermelha com uma truta saltitante bordada no peito. As botas eram negras, os calções, azuis. Seus cabelos ruivos tinham sido lavados e cortados, sua barba vermelha cortada curta. - Fiz tudo aquilo que me foi pedido.
- Ah, é mesmo? - Jaime Lannister não dormira desde que Correrrio abrira os portões, e sua cabeça latejava. - Não me lembro de lhe pedir para deixar Sor Brynden escapar.
- Exigiu que eu entregasse o castelo, não o meu tio. Será culpa minha que seus homens o tenham deixado se esgueirar através de suas linhas de cerco?
Jaime não estava se divertindo.
- Onde ele está? - sua voz deixava transparecer a irritação que sentia. Seus homens tinham revirado Correrrio por três vezes, e Brynden Tully não fora encontrado em lugar nenhum.
- Ele não chegou a me dizer para onde pretendia ir.
- E você não perguntou. Como foi que ele saiu?
- Os peixes nadam. Até os negros - Edmure sorriu.
Jaime sentiu-se fortemente tentado a esmurrar-lhe a boca com a mão de ouro. Alguns dentes a menos poriam fim aos seus sorrisos. Para um homem que ia passar o resto da vida como prisioneiro, Edmure estava contente demais consigo mesmo.
- Temos masmorras por baixo de Rochedo Casterly que servem tão bem a um homem como uma armadura. Nelas, não é possível se virar, sentar-se ou alcançar os pés quando as ratazanas começam a roer seus dedos. Gostaria de reformular essa resposta?
O sorriso de Lorde Edmure desapareceu.
- Deu sua palavra de que seria tratado com honra, como é próprio do meu estatuto.
- E será - disse Jaime - Cavaleiros mais nobres do que você morreram às lágrimas nessas masmorras, e muitos grandes senhores também. Até um ou dois reis, se bem recordo a história. Sua esposa pode ficar com outra cela ao lado da sua, se quiser. Não gostaria de separar os dois.
- Ele nadou mesmo - disse Edmure, carrancudo. Tinha os mesmos olhos azuis da irmã Catelyn, e Jaime viu neles a mesma repugnância que um dia vira nos dela. - Erguemos a porta levadiça do Portão da Água. Não toda, só cerca de um metro. O suficiente para abrir espaço sob a água, embora o portão continuasse a parecer estar fechado. Meu tio é um bom nadador. Depois de escurecer, enfiou-se por baixo dos espigões.
E da mesma forma se esgueirou por baixo de nossa represa flutuante, sem dúvida. Uma noite sem luar, guardas entediados, um peixe negro num rio negro boiando, em silêncio, corrente abaixo. Se Ruttiger, Yew ou qualquer um de seus homens ouviu um ruído de água, atribuiu-o a uma tartaruga ou a uma truta. Edmure esperara a maior parte do dia antes de arriar o lobo gigante de Stark em sinal de rendição. Na confusão que envolvera a passagem do castelo de umas mãos para as outras, só na manhã seguinte informaram Jaime de que o Peixe Negro não se encontrava entre os prisioneiros.
Dirigiu-se à janela e estendeu o olhar pelo rio. Era um luminoso dia de outono, e o sol brilhava nas águas. A essa altura, Peixe Negro pode estar dez léguas para jusante.
- Temos de encontrá-lo -insistiu Emmon Frey.
- Ele será encontrado - Jaime falou com uma certeza que não sentia. - Tenho cães de caça e caçadores em busca de seu rastro neste exato momento - Sor Addam Marbrand liderava as buscas na margem sul do rio, e Sor Dermot da Mata de Chuva na margem norte. Pensara em envolver também os senhores do rio, mas era mais provável que Vance, Piper e os de sua laia ajudassem Peixe Negro a escapar do que o acorrentassem. Contas feitas, não se sentia esperançoso. - Ele pode fugir de nós durante algum tempo - disse - mas acabará por ter de subir à superfície.
- E se ele tentar tomar meu castelo de volta?
- Tem uma guarnição de duzentos homens - uma guarnição grande demais, na verdade, mas Lorde Emmon tinha um temperamento ansioso. Pelo menos não teria problemas em alimentá-la; Peixe Negro deixara Correrrio amplamente aprovisionado, tal como dissera. - Depois do esforço que Sor Brynden fez para nos deixar, duvido que volte a aparecer - a menos que se torne líder de um bando de fora da lei. Não duvidava que Peixe Negro pretendia continuar o combate.
- Esta é a sua propriedade - disse a Senhora Genna ao marido. - Cabe a você defendê-la. Se não conseguir fazê-lo, passe-a no archote e corra de volta ao Rochedo.
Lorde Emmon esfregou a boca. A mão tornou-se vermelha e viscosa da folhamarga.
- Com certeza. Correrrio é meu, e nunca ninguém o tirará de mim - lançou a Edmure Tully um último olhar desconfiado, enquanto Senhora Genna o arrastava para fora do aposento privado.
- Há mais alguma coisa que deseja me dizer? - perguntou Jaime a Edmure quando os dois ficaram a sós.
- Este é o aposento privado do meu pai - o Tully respondeu. - Governou as terras fluviais a partir daqui, com sabedoria e competência. Gostava de se sentar junto àquela janela. A luz ali era boa, e sempre que levantava os olhos de seu trabalho via o rio. Quando sentia os olhos cansados, pedia a Cat que lhe lesse em voz alta. Certa vez, Mindinho e eu construímos um castelo de blocos de madeira, ali, ao lado da porta. Nunca saberá como vê-lo nesta sala me deixa doente, Regicida. Nunca saberá quanto o desprezo.
Quanto àquilo, enganava-se.
- Já fui desprezado por homens melhores do que você, Edmure - Jaime chamou um guarda. - Leve sua senhoria de volta à sua torre, e assegure-se de que seja alimentado.
O Senhor de Correrrio saiu em silêncio. Na manhã seguinte, partiria para oeste. Sor Forley Prester comandaria sua escolta; cem homens, incluindo vinte cavaleiros. É melhor duplicar esse número. Lorde Beric pode tentar libertar Edmure antes de chegarem a Dente Dourado. Jaime não queria ter de capturar o Tully pela terceira vez.
Regressou à cadeira de Hoster Tully, pegou o mapa do Tridente e o alisou sob a mão dourada. Para onde eu iria se fosse Peixe Negro?
- Senhor Comandante? - um guarda estava à porta. - A Senhora Westerling e a filha estão lá fora, conforme ordenou.
Jaime pôs o mapa de lado.
- Mande-as entrar - ao menos a garota não desapareceu também. Jeyne Westerling tinha sido a rainha de Robb Stark, a garota que lhe custara tudo. Com um lobo na barriga, podia ter se mostrado mais perigosa do que Peixe Negro.
Não parecia perigosa. Jeyne era uma garota esbelta, com não mais que quinze ou dezesseis anos, mais desajeitada do que graciosa. Tinha quadris estreitos, seios do tamanho de maçãs, uma juba de cachos castanhos e os suaves olhos castanhos de uma corça. Bastante bonita para uma criança, Jaime considerou, mas não é garota por quem perder um reino. Tinha o rosto inchado, e havia uma crosta em sua testa, meio escondida por uma madeixa de cabelos castanhos.
- O que aconteceu aí? - perguntou-lhe Jaime.
A garota virou a cabeça para o lado.
- Não é nada - insistiu a mãe, uma mulher de rosto severo, com um vestido de veludo verde. Um colar de conchas de ouro envolvia-lhe o longo e magro pescoço. - Ela não queria abrir mão da coroazinha que o rebelde lhe deu, e quando tentei tirar de sua da cabeça, a teimosa resistiu.
- Era minha - Jeyne soluçava. - Não tinha direito. Robb mandou fazê-la para mim. Eu o amava.
A mãe ameaçou esbofeteá-la, mas Jaime interpôs-se entre as duas.
- Nada disso - avisou à Senhora Sybell. - Sentem-se, ambas - a garota enrolou-se na cadeira como um animal assustado, mas a mãe sentou-se rigidamente, de cabeça erguida.
- Querem vinho? - perguntou-lhes. A garota não respondeu.
- Não, obrigada - a mãe respondeu.
- Como quiserem - Jaime virou-se para a filha. - Lamento sua perda. O rapaz tinha coragem, admito. Há uma pergunta que tenho de lhe fazer. Espera um filho dele, senhora?
Jeyne saltou da cadeira e teria fugido da sala se o guarda que se encontrava à porta não a tivesse segurado pelo braço.
- Não está - disse a Senhora Sybell, enquanto a filha lutava por escapar. - Assegurei-me disso, como o senhor seu pai me pediu.
Jaime assentiu com a cabeça. Tywin Lannister não era homem para não prestar atenção a esses detalhes.
- Largue a garota - disse já não preciso dela, por ora - enquanto Jeyne fugia, aos soluços, escada acima, examinou a mãe. - A Casa Westerling tem seu perdão, e seu irmão Rolph foi nomeado Senhor de Castamere. Que mais quer de nós?
- O senhor seu pai prometeu-me casamentos meritórios para Jeyne e para a irmã mais nova. Senhores ou herdeiros, jurou-me ele, não irmãos mais novos nem cavaleiros domésticos.
Senhores ou herdeiros. Com certeza. Os Westerling eram uma Casa antiga e orgulhosa, mas a própria Senhora Sybell nascera Spicer, numa linhagem de mercadores enobrecidos. A avó fora uma espécie qualquer de bruxa meio louca vinda do leste, segundo julgava recordar. E os Westerling estavam empobrecidos. Filhos mais novos teriam sido o melhor que as filhas de Sybell Spicer poderiam ter almejado numa situação normal, mas um bom e gordo pote de ouro Lannister faria até a viúva de um rebelde morto parecer atraente aos olhos de algum senhor.
- Terão seus casamentos - disse Jaime - mas Jeyne tem de esperar dois anos completos antes de voltar a se casar - se a garota tomasse outro esposo cedo demais e tivesse um filho dele, inevitavelmente surgiriam rumores de que o pai era o Jovem Lobo.
- Também tenho dois filhos - fez-lhe lembrar a Senhora Westerling. - Rollam está comigo, mas Raynald era cavaleiro e foi com os rebeldes para as Gêmeas. Se eu tivesse sabido o que ia acontecer ali, nunca teria permitido tal coisa - havia uma sugestão de censura em sua voz. - Raynald nada sabia de... do entendimento com o senhor seu pai. Ele pode estar cativo nas Gêmeas.
Ou pode estar morto. Walder Frey também não teria sabido do entendimento.
- Irei investigar. Se Sor Raynald ainda estiver cativo, pagaremos seu resgate em seu nome.
- Foi mencionada a ideia de também arranjar uma união para ele. Uma noiva de Rochedo Casterly, O senhor seu pai disse que Raynald deveria ficar feliz, se tudo corresse como esperava.
Mesmo da cova a mão morta de Lorde Tywin move-nos a todos.
- Felity é filha ilegítima de meu falecido tio Gerion. Um noivado pode ser combinado, se for este o seu desejo, mas o casamento terá de esperar, Felity tinha nove ou dez anos da última vez que a vi.
- Filha ilegítima? - Senhora Sybell pareceu ter acabado de engolir um limão. - Quer que um Westerling case com uma bastarda?
- Não o desejo mais do que ver Felity casada com o filho de uma cadela intriguista e traiçoeira. Ela merece algo melhor - Jaime teria estrangulado alegremente a mulher com seu colar de conchas. Felity era uma criança adorável, ainda que solitária; o pai fora o tio preferido de Jaime. - Sua filha vale dez vezes mais do que você, senhora. Amanhã partirão com Edmure e Sor Forley. Até lá faria bem em ficar longe da minha vista - gritou por um guarda, e a Senhora Sybell saiu com os lábios firmemente comprimidos. Jaime teve de perguntar a si mesmo quanto Lorde Gawen saberia das intrigas da mulher. Quanto sabemos nós, os homens?
Quando Edmure e os Westerling partiram, quatrocentos homens seguiram com eles; Jaime voltara a duplicar a escolta no último instante. Acompanhou-os ao longo de algumas milhas, para conversar com Sor Forley Prester. Embora trouxesse uma cabeça de touro no sobretudo e cornos no elmo, o homem não poderia ser menos bovino. Era baixo, seco e endurecido. Com seu nariz achatado, a careca e a barba castanha salpicada de cinza, parecia-se mais com um estalajadeiro do que com um cavaleiro.
- Não sabemos onde está Peixe Negro - Jaime lembrou-lhe - mas se tiver oportunidade de libertar Edmure, ele o fará.
- Isso não acontecerá, senhor - assim como a maioria dos estalajadeiros, Sor Forley não era nenhum tolo. - Batedores e guardas avançados ocultarão nossa marcha, e fortificaremos os acampamentos durante a noite. Escolhi dez homens para ficar com o Tully noite e dia, meus melhores arqueiros. Se ele sair da estrada, mesmo que seja por dez centímetros, dispararão tantas flechas sobre ele que a própria mãe o confundirá com um ganso.
- Ótimo - Jaime preferiria que o Tully chegasse a salvo a Rochedo Casterly, mas antes morto do que foragido. - É melhor também manter alguns arqueiros perto da filha de Lorde Westerling.
Sor Forley pareceu surpreso.
- A filha de Gawen? Ela é...
- ... a viúva do Jovem Lobo - concluiu Jaime - e duas vezes mais perigosa do que Edmure, se conseguir fugir.
- As suas ordens, senhor. Ela será vigiada.
Jaime teve de passar a meio galope pelos Westerling ao percorrer a coluna de volta a Correrrio. Lorde Gawen acenou-lhe gravemente quando passou, mas Senhora Sybell olhou através dele com olhos que eram como lascas de gelo. Jeyne não chegou a vê-lo. A viúva seguia de olhos baixos, aninhada sob um manto com capuz. Sob as pesadas dobras do manto, suas roupas eram finas, mas estavam rasgadas. Rasgou-as ela mesma, em sinal de luto, Jaime compreendeu. Isso não deve ter agradado a mãe. Deu por si curioso em saber se Cersei rasgaria o vestido se alguma vez lhe dissessem que ele estava morto.
Em vez de regressar ao castelo de imediato, atravessou uma vez mais o Pedregoso para fazer uma visita a Edwyn Frey e discutir a transferência dos prisioneiros do bisavô. A hoste Frey começara a se desagregar horas depois da rendição de Correrrio, à medida que os vassalos e cavaleiros livres de Lorde Walder iam desmontando os acampamentos para se dirigirem para casa. Os Frey que ainda restavam se preparavam para partir, mas foi encontrar Edwyn com o tio bastardo no pavilhão deste último.
Os dois estavam debruçados sobre um mapa, discutindo acaloradamente, mas calaram-se quando Jaime entrou.
- Senhor Comandante - disse Rivers com fria cortesia, mas Edwyn exclamou:
- O sangue de meu pai está em suas mãos, sor.
Aquilo apanhou Jaime de surpresa.
- Como assim?
- Foi você quem o mandou para casa, não foi?
Alguém tinha de fazê-lo.
- Aconteceu algum infortúnio a Sor Ryman?
- Foi enforcado com toda sua comitiva - disse Walder Rivers. - Os fora da lei os capturaram duas léguas a sul de Feirajusta.
- Dondarrion?
- Ou ele ou Thoros, ou aquela mulher, Coração de Pedra.
Jaime franziu as sobrancelhas, Ryman Frey tinha sido um idiota, um covarde e um beberrão, e não era provável que alguém sentisse muitas saudades do homem, em particular os outros Frey. Se os olhos secos de Edwyn eram indicação de algo, nem mesmo seus próprios filhos fariam luto por ele durante muito tempo. Mesmo assim... Esses fora da lei estão se tornando ousados se se atrevem a enforcar o herdeiro de Lorde Walder a menos de um dia a cavalo das Gêmeas.
- Quantos homens Sor Ryman tinha consigo? - quis saber.
- Três cavaleiros e uma dúzia de homens de armas - disse Rivers. - É quase como se soubessem que ele ia regressar às Gêmeas, e com uma escolta pequena.
A boca de Edwyn torceu-se.
- Meu irmão está metido nisto, aposto. Ele deixou os fora da lei escapar depois de terem assassinado Merrett e Petyr, e o motivo é este. Com nosso pai morto, só resta a mim entre Walder Negro e as Gêmeas.
- Não há nenhuma prova disso - disse Walder Rivers.
- Não preciso de provas. Conheço meu irmão.
- Seu irmão está em Guardamar - insistiu Rivers. - Como ele poderia saber que Sor Ryman ia regressar às Gêmeas?
- Alguém lhe disse - disse Edwyn em tom amargo. - Pode ter certeza de que ele tem espiões em nosso acampamento.
E você tem espiões em Guardamar. Jaime sabia que a inimizade entre Edwyn e Walder Negro era profunda, mas qual deles sucederia o avô como Senhor da Travessia não lhe interessava.
- Perdoe-me por me intrometer em sua dor - disse secamente - mas temos outros assuntos a ponderar. Quando regressar às Gêmeas, por favor, informe Lorde Walder que o Rei Tommen exige todos os cativos que aprisionaram no Casamento Vermelho.
Sor Walder franziu as sobrancelhas.
- Esses prisioneiros são valiosos, sor.
- Sua Graça não os pediria se fossem inúteis.
Frey e Rivers trocaram um olhar. Edwyn disse:
- O senhor meu avô esperará uma recompensa por esses prisioneiros.
E a terá, assim que me crescer um a nova mão, Jaime respondeu em pensamento.
- Todos nós temos esperanças - disse com brandura. - Diga-me, Sor Raynald Westerling conta-se entre esses cativos?
- O cavaleiro das conchas? - Edwyn fez uma expressão de desprezo. - Esse pode ser encontrado alimentando os peixes no fundo do Ramo Verde.
- Ele estava no pátio quando nossos homens foram abater o lobo gigante - disse Walder Rivers. - Whalen exigiu-lhe a espada, e ele a entregou com bastante docilidade, mas quando os besteiros começaram a encher o lobo de flechas, pegou no machado de Whalen e libertou o monstro da rede que lhe tinham atirado. Whalen diz que recebeu um dardo no ombro e outro nas tripas, mas ainda conseguiu chegar ao adarve e se atirar no rio.
- Deixou uma trilha de sangue nos degraus - Edwyn acrescentou.
- Encontraram seu cadáver mais tarde? - Jaime quis saber.
- Encontramos mil cadáveres mais tarde. Depois de passarem alguns dias no rio, ficam todos muito parecidos uns com os outros.
- Ouvi dizer que o mesmo acontece com os enforcados - Jaime rebateu antes de se retirar.
Na manhã seguinte, pouco restava do acampamento Frey além de moscas, bosta de cavalo e o cadafalso de Sor Ryman, abandonado na margem do Pedregoso. O primo quis saber o que fazer com ele e com o equipamento de cerco que construíra, os aríetes, as tartarugas, as torres e as catapultas. Daven propôs que arrastassem tudo para Corvarbor e o usassem ali. Jaime disse-lhe para passar tudo no archote, começando pelo cadafalso.
- Pretendo lidar em pessoa com Lorde Tytos, Não será necessária uma torre de cerco.
Daven trespassou a espessa barba com um sorriso.
- Combate singular, primo? Não parece muito justo. Tytos é um velho grisalho.
Um velho grisalho com duas mãos.
Nessa noite, ele e Sor Ilyn lutaram durante três horas. Foi uma de suas melhores noites. Se o combate fosse de verdade, Payne só o teria matado por duas vezes. Meia dúzia de mortes eram o mais comum, e havia noites ainda piores.
- Se continuar com isso durante mais um ano, posso me tornar tão bom quanto Peck - Jaime declarou, e Sor Ilyn soltou os estalidos que queriam dizer que estava se divertindo. - Venha, vamos beber mais um pouco do bom vinho tinto de Hoster Tully.
O vinho tornara-se parte de seu ritual noturno. Sor Ilyn era o companheiro de bebida perfeito. Nunca interrompia, nem pedia favores, nem contava longas histórias sem importância. Tudo que fazia era beber e escutar.
- Eu devia mandar arrancar a língua de todos os meus amigos - disse Jaime enquanto lhes enchia as taças - e à minha família também. Uma Cersei silenciosa seria uma delícia. Embora fosse sentir falta de sua língua quando nos beijássemos - e bebeu. O vinho era um tinto forte, doce e pesado. Aquecia-o ao descer. - Não consigo me lembrar de quando começamos a nos beijar. A princípio, foi inocente. Até deixar de ser - terminou o vinho e pôs a taça de lado. - Tyrion disse-me uma vez que a maioria das putas não nos beija. Fodem-nos até nos deixarem sem forças, ele disse, mas nunca sentimos os lábios delas nos nossos. Acha que minha irmã beija Kettleblack?
Sor Ilyn não respondeu.
- Não me parece que seria apropriado que eu mate meu próprio Irmão Juramentado. O que tenho de fazer é castrá-lo e enviá-lo para a Muralha. Foi isso que fizeram com Lucamore, o Ardente. Sor Osmund pode não aceitar de bom grado a castração, é certo. E há os irmãos a se levar em conta. Irmãos podem ser perigosos. Depois de Aegon, o Indigno, condenar Sor Terrence Toyne à morte por dormir com sua amante, os irmãos de Toyne fizeram o melhor que puderam para matá-lo. Mas o melhor que puderam não foi suficientemente bom, graças ao Cavaleiro do Dragão, mas não foi por falta de tentar. Está escrito no Livro Branco. Está tudo lá, menos o que fazer com Cersei.
Sor Ilyn passou um dedo pela garganta.
- Não - Jaime respondeu. - Tommen perdeu um irmão, e o homem em quem pensava como pai. Se eu matasse a mãe, me odiaria por isso... E aquela sua querida esposa arranjaria uma forma de usar esse ódio para benefício de Jardim de Cima.
Sor Ilyn sorriu de um modo que não agradou a Jaime. Um sorriso feio. Uma alma feia.
- Fala demais - disse ao homem.
No dia seguinte, Sor Dermot da Mata de Chuva regressou ao castelo de mãos vazias. Quando lhe perguntaram o que encontrara, respondeu:
- Lobos. Milhares dos malditos bichos - tinha perdido dois sentinelas para os lobos. Tinham saltado da escuridão para atacá-los. - Homens armados revestidos de cota de malha e couro fervido, e mesmo assim as feras não tiveram medo deles. Antes de morrer, Jate disse que a alcateia era liderada por uma loba de tamanho monstruoso. Um lobo gigante, a julgar por suas palavras. Os lobos também penetraram em nossas linhas de cavalos. Os malditos bastardos mataram meu baio preferido.
- Um anel de fogueiras em volta de seu acampamento poderia mantê-los afastados - Jaime sugeriu, embora tivesse dúvidas. Poderia o lobo gigante de Sor Dermot ser o mesmo animal que atacara Joffrey perto do entroncamento?
Lobos ou não, Sor Dermot voltou a sair na manhã seguinte, com cavalos descansados e mais homens, a fim de retomar as buscas por Brynden Tully. Nessa mesma tarde, os senhores do Tridente vieram ter com Jaime para lhe pedir licença para regressarem às suas terras. Ele a concedeu. Lorde Piper também quis saber novidades do filho Marq.
- Todos os cativos serão resgatados - Jaime prometeu. Enquanto os senhores do rio se retiravam, Lorde Karyl Vance deixou-se ficar para trás, para dizer:
- Lorde Jaime, tem de ir a Corvarbor. Enquanto for Jonos quem está junto de seus portões, Tytos nunca se renderá, mas sei que dobrará o joelho para você - Jaime agradeceu-lhe o conselho.
Varrão Forte foi quem partiu em seguida. Queria regressar a Darry, conforme prometera, e dar combate aos fora da lei.
- Atravessamos metade do raio do reino, e para quê? Para que pudesse fazer Edmure Tully mijar-se nas calças? Não há nenhuma canção para isso. Preciso de uma luta. Quero o Cão de Caça, Jaime. Ele ou o senhor das Marcas.
- A cabeça do Cão de Caça é sua se conseguir apanhá-la - Jaime lhe respondeu - mas Beric Dondarrion deve ser capturado vivo, para ser levado para Porto Real. Sua morte tem de ser vista por mil pessoas, senão, não permanecerá morto - Varrão Forte respondeu àquilo com um resmungo, mas acabou por concordar. No dia seguinte, partiu com o escudeiro e os homens de armas, além de Jon Imberbe Bettley, que decidira que caçar fora da lei era preferível a regressar para junto da esposa, famosa por sua falta de beleza. Segundo se dizia, ela possuía a barba que faltava a ele.
Jaime ainda precisava lidar com a guarnição. Até o último homem, todos tinham jurado que nada sabiam sobre os planos de Sor Brynden ou para onde ele teria ido.
- Estão mentindo - Emmon Frey insistiu, mas Jaime achava que não.
- Se não partilhar seus planos com ninguém, ninguém pode traí-lo - fez notar. Senhora Genna sugeriu que alguns dos homens podiam ser interrogados. Jaime recusou.
- Dei minha palavra a Edmure de que, se ele se rendesse, a guarnição poderia partir sem ser incomodada.
- Isto foi cavalheiresco de sua parte - disse a tia - mas, aqui, é necessário força, não cortesia.
Pergunte a Edmure se sou cavalheiresco, Jaime pensou. Pergunte-lhe sobre a catapulta. De algum modo não lhe parecia ser provável que os meistres o confundissem com o Príncipe Aemon, o Cavaleiro do Dragão, quando escrevessem as histórias de ambos. Mesmo assim, sentia-se curiosamente satisfeito. A guerra estava praticamente ganha. Pedra do Dragão caíra e não duvidava que Ponta Tempestade cairia em breve, não importava que Stannis andasse pela Muralha. Os nortenhos não gostariam mais dele do que os senhores da tempestade. Se Roose Bolton não o destruísse, o inverno cuidaria disso.
Ele fizera sua parte ali em Correrrio, sem chegar a pegar em armas contra os Stark e os Tully. Depois de encontrar Peixe Negro, ficaria livre para regressar a Porto Real, onde devia estar. Meu lugar é com meu rei. Com meu filho. Será que Tommen gostaria de saber disso? A verdade custaria o trono ao garoto. Prefere ter um pai ou uma cadeira, garoto? Jaime desejava conhecer a resposta. Ele gosta de pôr seu selo em papéis. O garoto podia nem sequer acreditar nele, certamente. Cersei diria que era mentira. Minha querida irmã, a enganadora. Teria de arranjar alguma forma de arrancar Tommen de suas garras antes que o garoto se transformasse em outro Joffrey. Enquanto isso, devia arranjar outro pequeno conselho para o garoto. Se Cersei puder ser posta de lado, Sor Kevan talvez concorde em servir como Mão de Tommen. E se não concordasse, bem, os Sete Reinos não tinham falta de homens capazes. Forley Prester seria uma boa escolha, ou Roland Crakehall. Caso se mostrasse necessário um homem que não fosse oriundo do oeste para aplacar os Tyrell, sempre havia Mathis Rowan... ou até Petyr Baelish. Mindinho era tão amigável quanto esperto, mas seu nascimento era demasiado baixo para constituir ameaça para qualquer um dos grandes senhores, dado não possuir contingente próprio. A Mão perfeita.
A guarnição Tully partiu na manhã seguinte, despida de todas as suas armas e armaduras. Cada homem foi autorizado a levar comida para três dias e a roupa que trazia no corpo, depois de prestar um juramento solene de nunca mais pegar em armas contra Lorde Emmon ou a Casa Lannister.
- Se tiver sorte, um em cada dez homens pode respeitar esse juramento - Senhora Genna observou.
- Ótimo. Prefiro enfrentar nove homens a dez. O décimo podia ser aquele que me mataria.
- Os outros nove o matarão com igual rapidez.
- Antes isso do que morrer na cama - ou na latrina.
Dois homens decidiram não partir com os outros. Sor Desmond Grell, o antigo mestre de armas de Lorde Hoster, preferiu vestir o negro. O mesmo decidiu Sor Robin Ryger, capitão da guarda de Correrrio.
- Este castelo foi meu lar durante quarenta anos - Grell justificou. - Você diz que sou livre para partir, mas para onde? Sou velho e corpulento demais para um cavaleiro andante. Mas os homens são sempre bem-vindos na Muralha.
- Como quiser - Jaime respondeu, embora isso fosse um aborrecimento. Permitiu que ficassem com as armas e as armaduras e destacou uma dúzia dos homens de Gregor Clegane para escoltá-los até Lagoa da Donzela. Entregou o comando a Rafford, aquele a quem chamavam O Querido.
- Assegure-se de que os prisioneiros cheguem a Lagoa da Donzela inteiros - disse ao homem - senão, aquilo que Sor Gregor fez ao Bode parecerá uma brincadeira engraçada comparada com o que farei a você.
Mais dias se passaram. Lorde Emmon reuniu Correrrio inteiro no pátio, tanto a gente de Lorde Edmure quanto a sua, e falou-lhes durante quase três horas sobre o que se esperava deles, agora que era seu chefe e senhor. De vez em quando brandia o pergaminho, enquanto moços de estrebaria, criadas e ferreiros escutavam num silêncio taciturno e uma ligeira chuva caía sobre todos.
O cantor, aquele que Jaime tomara de Sor Ryman Frey, também estava ah, escutando. Jaime deu com ele em pé numa porta aberta, onde estava seco.
- Sua senhoria devia ter sido cantor - o homem lhe disse. - Esse discurso é mais longo do que uma balada das Marca, e não me parece que ele tenha parado para respirar.
Jaime foi obrigado a rir.
- Lorde Emmon não precisa respirar, desde que consiga mastigar. Vai fazer uma canção sobre isso?
- Uma engraçada. Vou chamá-la “Falando aos Peixes”.
- Desde que não a toque onde minha tia possa ouvi-la - Jaime nunca tinha prestado muita atenção ao homem. Era um tipo pequeno, vestido com calções verdes esfarrapados e uma túnica rasgada, de um tom mais claro de verde, com remendos de couro marrom cobrindo os buracos. O nariz era longo e pontudo, o sorriso, grande e solto. Finos cabelos castanhos caíam-lhe até o colarinho, emaranhados e sujos. Uns cinquenta amos, Jaime deduziu, harpista ambulante e bem gasto pela vida. - Não era de Sor Ryman quando o encontrei? - perguntou.
- Só por quinze dias.
- Esperava que partisse com os Frey.
- Aquele ali em cima é um Frey - disse o cantor, indicando com a cabeça Lorde Edmure. - E este castelo parece um lugar bem aconchegante para passar o inverno. Wat Sorriso-Branco foi para casa com Sor Forley, de modo que pensei em ver se poderia ficar com o lugar dele. Wat tem aquela voz aguda e doce que gente como eu não pode esperar igualar. Mas sei o dobro das canções picantes que ele sabe. Com a sua licença, senhor.
- Deve se dar magnificamente com a minha tia - disse Jaime. - Se espera passar o inverno aqui, assegure-se de que sua música agrade à Senhora Genna. É ela que importa.
- Você não?
- Meu lugar é junto do rei. Não ficarei aqui por muito tempo.
- Lamento ouvir isso, senhor. Conheço canções melhores do que “ Chuvas de Castamere” Podia ter tocado para o senhor... Oh, sim, todo tipo de coisas.
- Em outra ocasião qualquer - Jaime declinou. - Tem nome?
- Tom de Seterrios, se aprouver ao senhor - o cantor tirou o chapéu. - Mas a maioria das pessoas me chamam de Tom das Sete.
- Canta bem, Tom das Sete.
Nessa noite, sonhou que estava de volta ao Grande Septo de Baelor, ainda em vigília sobre o cadáver do pai. O septo estava em silêncio e mergulhado na escuridão, até que uma mulher emergiu das sombras e se dirigiu lentamente para o estrado.
- Irmã? - ele disse.
Mas não era Cersei. Estava toda vestida de cinza, uma irmã silenciosa. Um capuz e um véu escondiam-lhe as feições, mas Jaime conseguia ver as velas ardendo nas lagoas verdes de seus olhos.
- Irmã - repetiu
o que quer de mim? - essa última palavra ecoou por todo o septo, mim mim mim mim mim mim mim mim mim mim mim mim.
- Não sou sua irmã, Jaime - a mulher ergueu uma mão macia e pálida e empurrou o capuz para trás. - Esqueceu de mim?
Posso me esquecer de alguém que nunca conheci? As palavras ficaram-lhe presas na garganta. Ele a conhecia, mas tinha se passado tanto tempo...
- Também esquecerá o senhor seu pai? Pergunto a mim mesma se alguma vez o conheceu de verdade - seus olhos eram verdes, e os cabelos, ouro tecido. Jaime não seria capaz de dizer que idade ela tinha. Quinze anos, pensou, ou cinquenta. Subiu os degraus e parou junto do estrado. - Jaime nunca conseguiu suportar que zombassem dele. Era isso que mais detestava.
- Quem é você? - tinha que ouvi-la responder.
- A questão é: Quem é você?
- Isto é um sonho.
- É? - ela abriu um sorriso triste. - Conte as mãos, menino.
Uma. Uma mão, apertada com força em volta do cabo da espada. Só uma.
- Nos meus sonhos, tenho sempre duas mãos - ergueu o braço direito e olhou, sem compreender a fealdade de seu toco.
- Todos sonhamos com coisas que não podemos ter. Tywin sonhava que o filho seria um grande cavaleiro, e que a filha seria rainha. Sonhava que seriam tão fortes, corajosos e belos, que nunca ninguém riria deles.
- Eu sou um cavaleiro - disse-lhe Jaime - e Cersei uma rainha.
Uma lágrima rolou pelo rosto da mulher. Voltou a erguer o capuz e virou-lhe as costas. Jaime gritou, mas ela já se afastava, com a saia sussurrando canções de ninar ao raspar no chão. Não me deixe, quis gritar, mas era evidente que ela já o deixara havia muito.
Acordou nas trevas, tremendo. O quarto tornara-se frio como gelo. Jaime afastou as mantas com o toco da mão da espada. Viu que o fogo na lareira se apagara e a janela tinha sido aberta pelo vento. Atravessou o aposento negro como breu para ir lutar com as portadas, mas, quando atingiu a janela, seus pés nus encontraram algo úmido. Jaime recuou, momentaneamente sobressaltado. Seu primeiro pensamento foi de sangue, mas sangue não era tão frio.
Era neve, caindo através da janela.
Em vez de fechar as portadas, escancarou-as. O pátio, embaixo, estava coberto por um fino manto branco, que se tornava mais espesso sob seus olhos. Os merlões das ameias usavam capuzes brancos. Os flocos caíam em silêncio, alguns pairavam janela adentro para ir derreter em seu rosto. Jaime conseguia ver sua respiração.
Neve nas terras fluviais. Se estava nevando ali, podia perfeitamente estar também em Lanisporto, e em Porto Real. O inverno marcha para o sul, e metade de nossos celeiros está vazia. As sementeiras que ainda se encontrassem nos campos estavam perdidas. Não haveria mais plantações, nenhuma esperança de uma última colheita. Deu por si perguntando-se o que seu pai faria para alimentar o reino, antes de se lembrar que Tywin Lannister estava morto.
Quando rompeu a manhã, a neve chegava ao tornozelo e era mais profunda no bosque sagrado, onde montes de neve tinham sido acumulados pelo vento sob as árvores. Escudeiros, moços de estrebaria e pajens de nascimento elevado tinham se transformado de novo em crianças sob o frio feitiço branco e travavam uma guerra de bolas de neve pelos pátios e ao longo das ameias. Jaime ouviu suas risadas. Houvera uma época, não muito tempo antes, em que poderia ter estado lá fora, fazendo bolas de neve com os melhores entre eles, para atirá-las em Tyrion quando se bamboleasse por perto, ou para enfiar nas costas do vestido de Cersei. Mas é preciso duas mãos para fazer uma bola de neve decente.
Ouviu-se um leve toque na porta.
- Veja quem é, Peck.
Era o velho meistre de Correrrio, agarrando uma mensagem na mão enrugada e encarquilhada. O rosto de Vyman estava tão branco quanto a neve recém-caída.
- Eu sei - disse Jaime - chegou um corvo branco da Cidadela. O inverno chegou.
- Não, senhor. A ave veio de Porto Real. Tomei a liberdade... não sabia... - estendeu-lhe a carta.
Jaime a leu no banco sob a janela, banhado pela luz daquela fria manhã branca. As palavras de Qyburn eram sóbrias e objetivas; as de Cersei, febris e ardentes. Venha imediatamente. Ajude-me. Salve-me. Preciso de você como nunca antes precisei. Eu o amo. Amo. Amo. Venha imediatamente.
Vyman pairava perto da porta, à espera, e Jaime sentiu que Peck também o observava.
- O senhor deseja responder? - perguntou o meistre, após um longo silêncio.
Um floco de neve caiu sobre a carta. Enquanto derretia, a tinta começou a borrar. Jaime voltou a enrolar o pergaminho, apertando-o tanto quanto uma única mão permitia, e o entregou a Peck.
- Não - respondeu. - Ponha isto no fogo.  

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