quarta-feira, 18 de setembro de 2013

8 - JAIME



Sor Jaime Lannister, todo de branco, estava em pé ao lado da plataforma onde o pai jazia, com cinco dedos enrolados em volta do cabo de uma espada dourada.
Ao pôr do sol, o interior do Grande Septo de Baelor tornou-se sombrio e fantasmagórico. A última luz do dia caía em diagonal das janelas elevadas, banhando os grandes retratos dos Sete com uma obscuridade vermelha. Em volta dos seus altares, velas aromáticas tremeluziam enquanto sombras profundas juntavam-se nos transeptos e rastejavam em silêncio pelo chão de mármore. Os ecos das vésperas morreram quando os últimos carpidores partiram.
Balon Swann e Loras Tyrell permaneceram depois de os outros irem embora.
- Ninguém aguenta uma vigília durante sete dias e sete noites - disse Sor Balon.
- Quando foi a última vez que dormiu, senhor?
- Quando o senhor meu pai estava vivo - Jaime respondeu.
- Permita-me que me mantenha em vigília esta noite em seu lugar - ofereceu Sor Loras.
- Ele não era seu pai - não o matou. Eum atei. Tyrion pode ter disparado a besta que o matou, mas eu disparei Tyrion. - Deixe-me.
- Às suas ordens, senhor - Swann concordou. Sor Loras pareceu querer discutir mais, mas Sor Balon o pegou pelo braço e o levou consigo. Jaime ficou à escuta enquanto os ecos de seus passos iam desaparecendo. E então ficou de novo sozinho com o senhor seu pai, entre as velas, os cristais e o cheiro doce e doentio da morte. Doíam-lhe as costas devido ao peso da armadura, e sentia as pernas quase adormecidas. Mudou um pouco de posição e apertou os dedos em volta da espada dourada. Não podia brandir uma espada, mas podia pegar numa. Sentia a mão desaparecida latejar. Aquilo era quase engraçado. Tinha mais sensações na mão que perdera do que no resto do corpo que lhe restava.
Minha mão está faminta por uma espada. Preciso matar alguém. Varys, para começar, mas primeiro tenho de encontrar a pedra debaixo da qual ele se escondeu.
- Ordenei ao eunuco que o levasse a um navio, não ao seu quarto - disse ao cadáver. - O sangue está tanto nas mãos dele como nas... nas de Tyrion - o sangue está tanto nas mãos dele como nas minhas, pretendera dizer, mas as palavras ficaram-lhe presas na garganta. O que quer que Varys tenha feito, fui eu que o obriguei afazê-lo.
Esperara nos aposentos do eunuco, naquela noite, quando por fim decidira não permitir que o irmão mais novo morresse. Enquanto esperava, afiara o punhal com uma mão só, obtendo um estranho conforto do raspa-raspa-raspa do aço na pedra. Ao ouvir o som de passos, pusera-se em pé junto à porta. Varys entrara numa maré de pó e lavanda. Jaime aproximara-se dele por trás, dera-lhe um pontapé na parte de trás dos joelhos, ajoelhara sobre seu peito e enfiara-lhe a faca sob o queixo alvo e macio, obrigando-o a erguer a cabeça.
- Ora, Lorde Varys - disse, em tom agradável - achei que o encontraria aqui.
- Sor Jaime? - Varys arquejou. - Assustou-me.
- Pretendi assustar - quando torceu o punhal, um fiozinho de sangue correu lâmina abaixo. - Estava aqui pensando que você poderia me ajudar a arrancar meu irmão da cela antes que Sor Ilyn lhe corte a cabeça. É uma cabeça feia, admito, mas ele só tem uma.
- Sim... bem... se fizer o favor... de afastar a lâmina... sim, devagar, se aprouver ao senhor, devagar, oh, fui picado... - o eunuco tocara o pescoço e fitara de boca aberta vendo o sangue que trouxera nos dedos. - Sempre odiei o aspecto do meu próprio sangue.
- Terá mais para odiar em breve, a menos que me ajude.
Varys lutou para se sentar:
- Seu irmão... se o Duende desaparecesse inexplicavelmente da cela, seriam feitas p-perguntas. Eu t-temeria por minha vida...
- Sua vida me pertence. Não me interessa que segredos conhece. Se Tyrion morrer, você não sobreviverá por muito tempo, eu lhe prometo.
- Ah - o eunuco chupou o sangue dos dedos. - Pede uma coisa terrível... libertar o Duende que matou nosso adorável rei. Ou será que o julga inocente?
- Inocente ou culpado - disse Jaime, como o tolo que era - um Lannister paga suas dívidas - as palavras tinham vindo tão facilmente.
Não dormira desde então. Conseguia ver o irmão, o modo como o anão sorrira sob o coto do nariz enquanto a luz dos archotes lhe lambia o rosto.
- Meu pobre, estúpido, cego, mutilado idiota - rosnou, numa voz pesada de malícia. - Cersei é uma puta mentirosa e tem andado a foder Lancel e Osmund Kettleblack, e provavelmente até o Rapaz Lua, tanto quanto sei. E eu sou o monstro que todos dizem que sou. Sim, matei seu abjeto filho.
Ele não disse que pretendia matar nosso pai. Se tivesse dito, eu o teria impedido. Então seria eu o assassino de familiares, não ele.
Jaime perguntou a si mesmo onde Varys estaria escondido. Sensatamente o mestre dos murmúrios não regressara aos seus aposentos, e uma busca à Fortaleza Vermelha também não o detectara. Talvez o eunuco tivesse embarcado com Tyrion, em vez de ficar para responder a perguntas incômodas. Se assim fosse, àquela altura os dois estariam bem longe, partilhando um jarro de vinho dourado da Arvore na cabine de uma galé.
A menos que o irmão também tenha assassinado Varys e deixado seu cadáver para apodrecer sob o castelo. Lá embaixo, podiam se passar anos antes que seus ossos fossem encontrados. Jaime levara uma dúzia de guardas para baixo, com archotes, cordas e lanternas. Durante horas tinham andado às apalpadelas por passagens retorcidas, estreitas galerias, portas escondidas, escadas secretas e poços que mergulhavam num negrume absoluto. Raramente se sentira tão completamente mutilado. É muito o que um homem toma como certo quando tem duas mãos. Escadas, por exemplo. Nem engatinhar era fácil; não era em vão que falavam em mãos e joelhos. E também não podia segurar num archote e subir, como os outros.
E tudo para nada. Encontraram apenas escuridão, poeira e ratazanas. E dragões, à espreita lá embaixo. Recordava o soturno brilho cor de laranja das brasas na boca do dragão de ferro. O braseiro aquecia um aposento situado no fundo de um poço onde se encontrava meia dúzia de túneis. No chão, deparara com um mosaico desgastado que mostrava o dragão de três cabeças da Casa Targaryen feito com ladrilhos negros e vermelhos. Conheço você, Regicida, a fera parecia dizer. Estive aqui o tempo todo, à espera que viesse ter comigo. E parecia a Jaime que reconhecera a voz, os tons de ferro que tinham outrora pertencido a Rhaegar, Príncipe de Pedra do Dragão.
O dia em que se despedira de Rhaegar, no pátio da Fortaleza Vermelha, estava ventoso. O príncipe envergava a armadura negra como a noite, com o dragão de três cabeças realçado com rubis na placa de peito.
- Vossa Graça - suplicou Jaime - permita que Darry fique desta vez para guardar o rei, ou Sor Barristan. Seus mantos são tão brancos como o meu.
O Príncipe Rhaegar balançou a cabeça.
- Meu real progenitor teme mais seu pai do que o nosso primo Robert. Quer você por perto, para que Lorde Tywin não lhe possa tocar. Não me atrevo a tirar-lhe essa muleta numa hora dessas.
A ira de Jaime subiu-lhe à garganta.
- Eu não sou uma muleta. Sou um cavaleiro da Guarda Real.
- Então guarde o rei - exclamou Sor Jon Darry. - Quando envergou esse manto, prometeu obedecer.
Rhaegar pousou a mão no ombro de Jaime.
- Quando essa batalha terminar, pretendo convocar um conselho. Serão feitas mudanças. Pretendia fazê-lo havia muito, mas... bem, não vale a pena falar de caminhos não seguidos. Conversaremos quando eu regressar.
Aquelas foram as últimas palavras que Rhaegar Targaryen lhe dissera. Fora dos portões reunira-se um exército, enquanto outro descia sobre o Tridente. E, assim, o Príncipe de Pedra do Dragão montou, colocou seu grande elmo negro, e partiu em direção ao seu destino.
Tinha mais razão do que julgava. Quando a batalha terminou, mudanças foram feitas.
- Aerys pensava que nenhum mal lhe podia acontecer se me mantivesse por perto - disse ao cadáver do pai. - Não é divertido? - Lorde Tywin parecia achar que sim; seu sorriso estava mais largo do que antes. Ele parece gostar de estar morto.
Era estranho, mas não sentia desgosto. Onde estão minhas lágrimas? Onde está minha raiva? A Jaime Lannister nunca faltara raiva.
- Pai - disse ao cadáver - foi você quem me disse que lágrimas são sinal de fraqueza num homem, por isso não pode esperar que eu chore por você.
Um milhar de senhores e senhoras tinham vindo desfilar junto ao estrado naquela manhã, e vários milhares de pessoas comuns fizeram o mesmo depois do meio-dia. Usavam roupas escuras e rostos solenes, mas Jaime suspeitava que seriam mais do que muitos os que estavam secretamente deliciados por ver o grande homem deitado ali. Mesmo no oeste, Lorde Tywin fora mais respeitado do que amado, e Porto Real ainda se recordava do Saque.
De todos os presentes, o Grande Meistre Pycelle parecera o mais perturbado.
- Servi seis reis - disse a Jaime após o segundo serviço, enquanto farejava com ar duvidoso em volta do cadáver - mas aqui perante nós jaz o maior homem que conheci. Lorde Tywin não usava coroa, mas era tudo o que um rei devia ser.
Sem a barba, Pycelle parecia não apenas velho, mas frágil. Barbeá-lo foi a coisa mais cruel que Tyrion podia ter feito, pensou Jaime, que sabia o que era perder uma parte de si, a parte que nos torna quem somos. A barba de Pycelle fora magnífica, branca como a neve e fofa como lã de ovelha, uma massa luxuriante que cobria bochechas e queixo e lhe caía quase até o cinto. O Grande Meistre tinha o hábito de afagá-la quando pontificava. Aquilo lhe dava um ar de sabedoria e escondia todo o tipo de coisas desagradáveis: a pele solta que pendia por baixo do maxilar do velho, a pequena boca lamurienta e os dentes em falta, verrugas, rugas e manchas da idade demasiado numerosas para contar. Embora Pycelle estivesse tentando deixar crescer de novo o que perdera, não parecia bem-sucedido. Só tufos e fiapos brotavam de suas bochechas enrugadas e queixo fraco, tão finos que Jaime via a pele manchada e cor-de-rosa por baixo.
- Sor Jaime, vi coisas terríveis no meu tempo - disse o velho. - Guerras, batalhas, os mais chocantes assassinatos... Era rapaz em Vilavelha quando a praga cinzenta levou metade da cidade e três quartos da Cidadela. Lorde Hightower incendiou todos os navios que se encontravam no porto, fechou os portões e ordenou aos guardas que matassem todos os que tentassem fugir, fossem homens, mulheres ou bebês de peito. Mataram-no depois de a praga terminar. No dia em que reabriu o porto, arrancaram-no do cavalo e rasgaram-lhe a goela, e fizeram o mesmo ao seu jovem filho. Ainda hoje os ignorantes de Vilavelha cospem ao ouvir seu nome, mas Quenton Hightower fez o que era necessário. Seu pai era também esse tipo de homem. Um homem que fazia o que era necessário.
- É por isso que ele parece tão satisfeito consigo mesmo?
Os vapores que se erguiam do cadáver faziam os olhos de Pycelle lacrimejar.
- A carne... à medida que seca, os músculos se retesam e puxam-lhe os lábios para cima. Aquilo não é um sorriso, é só... um ressecamento, nada mais - pestanejou para reprimir as lágrimas. - Deve me perdoar. Estou tão cansado - apoiando-se pesadamente na bengala, Pycelle saíra lentamente do septo com passos titubeantes. Este também está para morrer, compreendeu Jaime. Pouco admirava que Cersei o tivesse chamado de inútil.
A bem dizer, sua querida irmã parecia pensar que metade da corte ou era inútil ou traiçoeira; Pycelle, a Guarda Real, os Tyrell, o próprio Jaime... até Sor Ilyn Payne, o cavaleiro silencioso que servia como carrasco. Como Magistrado do Rei, as masmorras eram de sua responsabilidade. Visto que lhe faltava uma língua, Payne deixara em grande medida a gestão dessas masmorras aos seus subordinados, mesmo assim Cersei atribuía-lhe a culpa pela fuga de Tyrion. Foi obra minha, não dele, quase lhe disse Jaime. Em vez disso, prometera descobrir as respostas que conseguisse arrancar do chefe dos carcereiros de segunda, um velho corcunda chamado Rennifer Longwaters.
- Vejo que está se perguntando que tipo de nome é esse - tagarelou o homem quando Jaime foi interrogá-lo - É um nome antigo, é verdade. Não sou homem de me gabar, mas há sangue real nas minhas veias. Sou descendente de uma princesa. Meu pai me contou a história quando eu não passava de um menino - Longwaters não era menino havia muitos anos, a julgar pela cabeça manchada e pelos fios brancos que lhe cresciam no queixo. - Ela era o mais belo tesouro da Arcada das Donzelas. Lorde Oakenfist, o grande almirante, tinha perdido o coração por ela, apesar de ser casado com outra. Ela deu ao filho deles o nome de bastardo “Waters” em honra do pai, e ele cresceu para se tornar um grande cavaleiro, tal como o filho, que pôs“Long” antes de“Waters” para que os homens soubessem que ele mesmo não era de nascimento ilegítimo. Portanto, tenho um bocadinho de dragão em mim.
- Sim, quase confundi você com Aegon, o Conquistador - Jaime respondeu.“Waters” era um nome de bastardo comum nos arredores da Baía da Água Negra; era mais provável que o velho Longwaters descendesse de algum cavaleiro doméstico de segunda linha do que de uma princesa. - Mas acontece que tenho de tratar de assuntos mais urgentes do que a sua linhagem.
Longwaters inclinou a cabeça:
- O prisioneiro perdido.
- E o carcereiro desaparecido.
- Rugen - o velho completou. - Um carcereiro de segunda. Estava encarregado do terceiro andar, as celas negras.
- Fale-me dele - Jaime teve de dizer. Uma maldita farsa . Ele sabia quem Rugen era, ainda que Longwaters não.
- Mal-arranjado, com a barba por fazer, de fala grosseira. Não gostava do homem, isto é verdade, confesso. Rugen estava aqui quando cheguei, há doze anos. Ele tinha sido nomeado pelo Rei Aerys. O homem raramente andava por aqui, devo dizer. Fiz notar isto em meus relatórios, senhor. Fiz com toda a certeza, dou-lhe minha palavra, a palavra de um homem com sangue real.
Fale mais um a vez desse sangue real e pode ser que eu derrame um pouco dele, pensara Jaime.
- Quem via esses relatórios?
- Certos relatórios eram enviados ao mestre da moeda, outros, ao mestre dos murmúrios. Todos ao carcereiro-chefe e ao Magistrado do Rei. Sempre foi assim nas masmorras - Longwaters coçou o nariz. - Rugen estava aqui quando era preciso, senhor. Devo dizer isto. As celas negras são pouco usadas. Antes de o pequeno irmão de sua senhoria ser enviado para baixo, tivemos o Grande Meistre Pycelle durante algum tempo e, antes dele, Lorde Stark, o traidor. Houve outros três, plebeus, mas Lorde Stark os entregou à Patrulha da Noite. Não achei que fosse bom libertar aqueles três, mas os papéis estavam em ordem. Também o fiz notar num relatório, pode estar certo disso.
- Fale-me dos dois carcereiros que adormeceram.
- Carcereiros? - Longwaters fungou. - Esses não eram carcereiros. Eram só guardas. A coroa paga salários por vinte guardas, senhor, uma vintena completa, mas durante meu tempo nunca tivemos mais de doze. Também deveríamos ter seis carcereiros de segunda, dois em cada andar, mas só há três.
- Você e mais dois?
Longwaters voltou a fungar.
- Eu sou o chefe dos carcereiros de segunda, senhor. Estou acima deles. Sou encarregado das contas. Se o senhor desejar examinar meus livros, verá que todos os números são exatos - Longwaters consultou o grande livro encadernado em couro que estava aberto na sua frente. - No momento, temos quatro prisioneiros no primeiro andar e um no segundo, além do irmão de vossa senhoria - o velho franziu a sobrancelha. - Que fugiu, com certeza. É verdade. Riscarei o nome dele - pegou uma pena e pôs-se a afiá-la.
Seis prisioneiros, pensou Jaime amargamente, enquanto pagam os salários a vinte guardas, seis carcereiros de segunda, um chefe dos carcereiros de segunda, um carcereiro e um Magistrado do Rei.
- Quero interrogar esses dois guardas.
Rennifer Longwaters pusera-se a afiar sua pena e olhava de soslaio para Jaime, com ar de dúvida.
- Interrogá-los, senhor?
- Foi o que eu disse.
- É verdade, senhor. Certamente que foi, e no entanto... o senhor pode interrogar quem quiser, é verdade, não cabe a mim dizer que não pode. Mas, sor, se me permite a ousadia, não me parece que eles responderão. Estão mortos, senhor.
- Mortos? Por ordem de quem?
- Sua, eu imagino, ou... do rei, talvez? Não perguntei. Não... não cabe a mim questionar a Guarda Real.
Aquilo fora sal para a ferida de Jaime; Cersei usara seus próprios homens para sua sangrenta obra, eles e seus preciosos Kettleblack.
- Seus cretinos sem miolos - rosnou Jaime mais tarde a Boros Blount e Osmund Kettleblack, numa masmorra que fedia a sangue e a morte. - Que imaginavam que estavam fazendo?
- Nada mais do que nos foi ordenado, senhor - Sor Boros era mais baixo do que Jaime, mas mais pesado. - Sua Graça assim ordenou. Sua irmã.
Sor Osmund enfiou um polegar no cinto da espada.
- Ela disse que os homens deviam dormir para sempre. Portanto, meus irmãos e eu tratamos disso.
Lá isso é verdade. Um cadáver encontrava-se estatelado na mesa, de barriga para baixo, como se estivesse sem sentidos num banquete, mas era uma poça de sangue que se espalhava sob sua cabeça, não de vinho. O segundo guarda conseguira erguer-se do banco e puxar o punhal antes de alguém lhe enfiar uma espada entre as costelas. O fim deste tinha sido o mais demorado e tumultuoso. Disse a Varys que ninguém devia sofrer nessa fuga, pensou Jaime, mas devia tê-lo dito ao meu irmão e à minha irmã.
- Isso foi errado, sor.
Sor Osmund encolheu os ombros.
- Ninguém sentirá a falta deles. Aposto que participaram da coisa, com aquele que desapareceu.
Não, Jaime podia ter lhe dito. Varys drogou o vinho deles para fazê-los dormir.
- Se assim fosse, podíamos ter lhes arrancado a verdade - ... tem andado a foder Lancel e Osmund Kettleblack, e provavelm ente até o Rapaz Lua, tanto quanto sei... - Se eu fosse de natureza desconfiada, poderia perguntar a mim mesmo por que motivo estariam com tanta pressa para se assegurarem de que estes dois nunca seriam levados a interrogatório. Precisaram silenciá-los para esconder seus papéis nisto?
- Nós? - Kettleblack engasgou-se com aquilo. - Tudo que fizemos foi o que a rainha ordenou. Por minha palavra como vosso Irmão Juramentado.
Os dedos fantasmas de Jaime estavam crispados quando disse:
- Traga Osney e Osfryd para cá e limpem a porcaria que fizeram. E da próxima vez que minha querida irmã ordenar que mate um homem, venha ter comigo antes. Fora isso, permaneça longe da minha vista, sor.
As palavras ecoaram na sua cabeça na escuridão do Septo de Baelor. Por cima, todas as janelas tinham se tornado negras, e ele conseguia ver a tênue luz de estrelas distantes. O sol pusera-se de vez. O fedor da morte estava ficando mais forte, apesar das velas aromáticas. O cheiro recordou a Jaime Lannister o passo sob o Dente Dourado, onde conquistara uma gloriosa vitória nos primeiros dias da guerra. Na manhã após a batalha, os corvos tinham se banqueteado tanto com os vencedores quanto com os derrotados, tal como se banquetearam com Rhaegar Targaryen após o Tridente. Quanto pode valer um corvo, se um corvo pode jantar um rei?
Jaime suspeitava que naquele momento havia corvos voando ao redor das sete torres e da grande cúpula do Septo de Baelor, com asas negras que batiam contra o ar da noite enquanto procuravam uma forma de entrar. Todos os corvos dos Sete Reinos deviam lhe prestar homenagem, pai. De Castamere a Água Negra, você os alimentou bem. Aquela ideia agradou ao Lorde Tywin; seu sorriso alargou-se mais um pouco. Maldito inferno, ele está sorrindo como um noivo a caminho da cama.
Aquilo era tão grotesco que fez Jaime rir alto.
O som ecoou nos transeptos, nas criptas e nas capelas, como se os mortos sepultados nas paredes também estivessem rindo. E por que não? Isto é mais absurdo do que um a farsa de saltimbanco, eu fazendo vigília por um pai que ajudei a matar, e enviando homens para capturar o irmão que ajudei a libertar... Ordenara a Sor Addam Marbrand que passasse uma busca na Rua da Seda.
- Procure debaixo de cada cama, sabe como meu irmão gosta de bordéis - os homens de manto dourado encontrariam coisas mais interessantes por baixo das saias das prostitutas do que debaixo de suas camas. Perguntou a si mesmo quantos bastardos nasceriam daquela busca inútil.
De modo próprio, seus pensamentos dirigiram-se a Brienne de Tarth. Estúpida garota teimosa e feia. Perguntou a si mesmo onde ela estaria. Pai, dê-m e forças. Quase uma prece... mas seria o deus que invocava o Pai no Céu cujo alto retrato dourado cintilava à luz das velas do outro lado do septo? Ou estaria rezando para o cadáver que jazia na sua frente? Será que importa? Nunca escutaram, nem um nem outro. O Guerreiro fora o deus de Jaime desde que tivera idade para segurar uma espada. Outros homens podiam ser pais, filhos, maridos, mas não Jaime Lannister, cuja espada era tão dourada quanto os cabelos. Ele era um guerreiro, e era só isso que alguma vez seria.
Devia contar a verdade a Cersei, admitir que fui eu quem libertou nosso irmãozinho da cela. Afinal, a verdade servira tão magnificamente a Tyrion. Matei seu abjeto filho, e agora também vou matar seu pai. Jaime ouviu o Duende dar risada nas sombras. Virou a cabeça para ver, mas o som era apenas o do próprio riso regressando aos seus ouvidos. Fechou os olhos, e no mesmo instante os abriu de súbito. Não posso dormir. Se dormisse, podia sonhar. Oh, como Tyrion ria dissimuladamente... uma puta mentirosa... fodendo Lancel e Osmund Kettleblack...
A meia-noite, as dobradiças das Portas do Pai soltaram um rangido quando várias centenas de septões encheram o templo para suas orações. Alguns traziam as vestimentas de fios de prata e as grinaldas de cristal que identificavam os Mais Devotos; seus irmãos mais humildes usavam os cristais em correias penduradas no pescoço e trajavam vestes brancas cingidas com cintos de sete cordões, cada um entrelaçado com uma cor diferente. Pelas Portas da Mãe marcharam septãs brancas vindas de seu claustro, em filas de sete e cantando em voz baixa, enquanto as irmãs silenciosas chegavam em fila única pelas Escadas do Estranho. As criadas da morte vinham vestidas de cinza-claro, com o rosto encapuzado e coberto por xales, de modo que apenas seus olhos podiam ser vistos. Uma hoste de irmãos também apareceu, com vestes de todos os tons de marrom e até de tecido grosseiro por tingir, atadas à cintura com bocados de corda de cânhamo. Alguns traziam o martelo de ferro do Ferreiro pendurado em volta do pescoço, enquanto outros carregavam tigelas de pedinte.
Nenhum dos devotos prestou a mínima atenção a Jaime. Percorreram um circuito no septo, rezando em cada um dos sete altares, a fim de honrar os sete aspectos da divindade. A todos os deuses fizeram sacrifício, a cada um cantaram um hino. Suas vozes ergueram-se doces e solenes. Jaime fechou os olhos para escutar, mas voltou a abri-los quando começou a balançar. Estou mais cansado do que imaginava.
Tinham se passado anos desde sua última vigília. Era então mais novo, um rapaz de quinze anos. Na época não usara armadura, apenas uma simples túnica branca. O septo onde passara a noite não tinha nem um terço do tamanho de cada um dos sete transeptos do Grande Septo. Jaime pousara a espada nos joelhos do Guerreiro, amontoara a armadura a seus pés e ajoelhara no áspero chão de pedra perante o altar. Quando a alvorada chegou, tinha os joelhos esfolados e ensanguentados.
“Todos os cavaleiros têm de sangrar, Jaime” disse Sor Arthur Dayne quando o viu. “O sangue é o selo de sua devoção.” Ao amanhecer, bateu-lhe no ombro; a pálida lâmina era tão aguçada que até aquele toque ligeiro atravessou a túnica de Jaime, e ele voltou a sangrar. Mas nada sentiu. Era um rapaz quando se ajoelhou; ergueu-se cavaleiro. O Jovem Leão, não o Regicida.
Mas isso fora há muito tempo, e o rapaz estava morto.
Não saberia dizer quando as orações terminaram. Talvez se tivesse deixado dormir, ainda em pé. Depois de os devotos terem saído, o Grande Septo ficou novamente em silêncio. As velas eram uma muralha de estrelas que ardiam na escuridão, embora o ar estivesse fétido de morte. Jaime moveu a mão na espada dourada. Talvez devesse ter deixado que Sor Loras o rendesse, afinal. Cersei teria detestado. O Cavaleiro das Flores ainda era meio rapaz, arrogante e vaidoso, mas tinha capacidade para ser grande, para realizar atos dignos do Livro Branco.
O Livro Branco estaria à espera quando sua vigília terminasse, com a página aberta numa recriminação muda. Mais rápido faria o maldito livro em pedaços do que o encheria de mentiras. Mas, se não mentisse, o que poderia escrever senão a verdade?
Uma mulher estava na sua frente.
Está chovendo de novo, pensou quando viu como estava molhada. A água pingava-lhe do manto e ia se acumular em volta dos pés. Como foi que ela chegou aqui? Não a ouvi entrar. Estava vestida como uma criada de taberna, com um pesado manto de tecido grosseiro, mal tingido numa miríade de tons de marrom e com a bainha desfazendo-se. Um capuz escondia-lhe o rosto, mas Jaime via as velas dançando nas lagoas verdes de seus olhos e, quando ela se moveu, a reconheceu.
- Cersei - falou lentamente, como um homem que tivesse acabado de sair de um sonho, ainda sem saber bem onde se encontrava. - Que horas são?
- É a hora do lobo - a irmã abaixou o capuz e fez uma careta. - Do lobo afogado, talvez - sorriu-lhe, cheia de doçura. - Lembra-se da primeira vez que vim ter contigo assim? Foi numa estalagem deprimente perto da Viela da Doninha, eu vestia roupas de criada para passar pelos guardas do pai.
- Eu me lembro. Foi na Viela da Enguia - ela quer alguma coisa de mim. - Por que está aqui a essa hora? Que quer de mim? - a última palavra ecoou pelo septo, mim mim mim mim mim mim mim mim mim , atenuando-se até se transformar num murmúrio. Por um momento atreveu-se a ter esperança de ela desejar apenas o conforto de seus braços.
- Fale baixo - a voz dela soava estranha... sem fôlego, quase assustada. - Jaime, Kevan recusou meu pedido. Não quer servir como Mão, ele... ele sabe de nós. Ele mesmo o disse.
- Recusou? - aquilo o surpreendeu. - Como podia saber? Ele deve ter lido o que Stannis escreveu, mas não há...
- Tyrion sabia - ela lhe recordou. - Quem poderá dizer que histórias aquele vil anão terá contado, ou a quem? Tio Kevan é o de menos. O Alto Septão... Tyrion o promoveu à coroa quando o gordo morreu. Ele também pode saber - aproximou-se. - Você tem que ser Mão de Tommen. Não confio em Mace Tyrell. E se ele teve qualquer papel na morte do pai? Pode ter andado conspirando com Tyrion. O Duende pode estar a caminho de Jardim de Cima...
- Não está.
- Seja a minha Mão - ela rogou - e governaremos os Sete Reinos juntos, como um rei e sua rainha.
- Foi rainha de Robert. E, no entanto, não quer ser a minha.
- Queria, se me atrevesse. Mas nosso filho...
- Tommen não é filho meu, tal como Joffrey não era - sua voz era dura. - Fez que também fossem de Robert.
A irmã vacilou.
-Jurou que me amaria sempre. Obrigar-me a suplicar não é ato de quem ama.
Jaime sentia nela o cheiro do medo, mesmo através do fétido odor do cadáver. Desejou tomá-la nos braços e beijá-la, enterrar o rosto em seus cachos dourados e prometer-lhe que nunca ninguém lhe faria mal... aqui não, pensou, aqui em frente dos deuses e do pai, não.
- Não - ele respondeu. - Não posso. Não o farei.
- Eu preciso de você. Preciso da minha outra metade - Jaime ouvia a chuva tamborilando nas janelas, muito acima. - Você é eu, eu sou você. Preciso que esteja comigo. Em mim. Por favor, Jaime. Por favor.
Jaime olhou para ver se Lorde Tywin não estaria se erguendo do estrado numa fúria, mas o pai jazia imóvel e frio, apodrecendo.
- Eu nasci para um campo de batalha, não para uma sala de conselho. E agora talvez seja inadequado até para isso.
Cersei limpou as lágrimas numa esfarrapada manga marrom.
- Muito bem. Se é campos de batalha que quer, será campos de batalha que lhe darei - puxou o capuz para cima num movimento irritado. - Fui uma tola em vir. Fui uma tola por ter amado você um dia - seus passos ecoaram, ruidosos, no silêncio, e deixaram manchas úmidas no chão de mármore.
A alvorada apanhou Jaime quase desprevenido. Quando o vidro da cúpula começou a clarear, de súbito um arcos-íris reluziu nas paredes, no chão e nos pilares, banhando o cadáver de Lorde Tywin numa névoa de luz multicolorida. A Mão do Rei apodrecia visivelmente. Seu rosto tomara uma coloração esverdeada, e os olhos estavam bastante afundados, dois poços negros. Fissuras tinham se aberto nas faces, e um fétido fluido branco derramava-se através das articulações de sua magnífica armadura de ouro e carmesim, indo formar poças por baixo do corpo.
Os septóes foram os primeiros a ver, quando regressaram para as orações da manhã. Cantaram suas canções, rezaram suas preces e enrugaram o nariz, e um dos Mais Devotos ficou nauseado de tal modo que teve de ser ajudado para sair do septo. Pouco tempo depois, um rebanho de noviços chegou para balançar incensórios, e o ar ficou tão saturado que o estrado pareceu coberto de fumo. Todos os arcos-íris desapareceram naquela neblina perfumada, e, no entanto, o fedor persistiu, um cheiro doce e putrefato que encheu Jaime de náuseas.
Quando as portas foram abertas, os Tyrell estavam entre os primeiros a entrar, como era próprio do seu estatuto. Margaery trouxe um grande buquê de rosas douradas. Pousou-as ostensivamente na base do estrado de Lorde Tywin, mas ficou com uma e a manteve encostada ao nariz enquanto ocupava seu lugar. Então a garota é tão esperta quanto bonita. Tommen podia ficar bem mais mal servido de rainha. Outros ficaram . As senhoras de Margaery seguiram-lhe o exemplo.
Cersei esperou até que o restante estivesse em seus lugares para fazer sua entrada, com Tommen ao lado. Sor Osmund Kettleblack caminhava ao lado deles com seu aço branco esmaltado e manto branco de lã.
“... tem andado fodendo Lancel e Osmund Kettleblack, e provavelmente até o Rapaz Lua, tanto quanto sei...”
Jaime vira Kettleblack nu na casa de banhos, vira os pelos negros em seu peito e o matagal mais hirsuto entre as pernas. Imaginou aquele peito pressionado contra o da irmã, aqueles pelos arranhando a pele macia de seus seios. Ela não faria isso. O Duende mentiu. Ouro tecido e arame negro emaranhados, suados. A face estreita de Kettleblack retesando-se cada vez que penetrava fundo. Jaime conseguia ouvir a irmã a gemer. Não. Uma mentira.
De olhos vermelhos e pálida, Cersei subiu os degraus para se ajoelhar diante do pai, puxando Tommen para baixo ao seu lado. O rapaz recuou ao ver o avô, mas a mãe o agarrou pelo pulso antes que tivesse tempo de fugir.
- Reze - sussurrou, e Tommen tentou. Mas só tinha oito anos, e Lorde Tywin era um horror. Uma inspiração desesperada, e então o rei desatou a soluçar. - Pare com isso! - Cersei ordenou. Tommen virou a cabeça e dobrou-se sobre si mesmo, vomitando. A coroa caiu e rolou pelo chão de mármore. A mãe se afastou, enojada, e no mesmo instante o rei pôs-se a correr na direção das portas, tão depressa quanto suas pernas de oito anos conseguiam levá-lo.
- Sor Osmund, renda-me - Jaime ordenou num tom penetrante quando Kettleblack se virou para perseguir a coroa. Entregou ao homem a espada de ouro e saiu atrás de seu rei. Alcançou-o no Salão das Lâmpadas, sob o olhar de duas dúzias de septãs sobressaltadas.
- Lamento - Tommen chorava. - Farei melhor amanhã. A mãe diz que um rei deve indicar o caminho, mas o cheiro me deixou enjoado.
Isso não é bom. Muitas orelhas ávidas e olhos observadores.
- É melhor irmos até lá fora, Vossa Graça - Jaime levou o garoto para fora, para onde o ar era tão fresco e limpo como o de Porto Real podia ser. Duas vintenas de homens de manto dourado tinham sido colocadas em volta da praça, a fim de guardar os cavalos e as liteiras. Levou o rei para um lado, bem longe de toda a gente, e o sentou nos degraus de mármore.
- Eu não estava assustado - o garoto insistiu. - O cheiro me deixou enjoado. Não deixou você? Como conseguiu suportá-lo, tio, sor?
Cheirei minha própria mão apodrecer, quando Vargo Hoat me obrigou a usá-la como pingente.
- Um homem pode suportar quase qualquer coisa se tiver de ser - Jaime disse ao filho. Cheirei um homem a assar, quando Rei Aerys o cozinhou em sua própria armadura. - O mundo está cheio de horrores, Tommen. Pode lutar contra eles, ou rir deles, ou olhar sem ver... fugindo para dentro de si mesmo.
Tommen refletiu sobre aquilo.
- Eu... eu às vezes fugia para dentro de mim - confessou - quando o Joffy...
- Joffrey - Cersei estava perto deles, com o vento a sacudir-lhe as saias em volta das pernas. - O nome do seu irmão era Joffrey. Ele nunca teria me envergonhado assim.
- Não queria envergonhar você. Não estava assustado, mãe. Só que o senhor seu pai cheirava tão mal...
- Acha que ele cheirava melhor a mim? Eu também tenho nariz - agarrou-lhe a orelha e o obrigou a se levantar. - Lorde Tyrell tem nariz. Você o viu vomitar no septo sagrado? Viu a Senhora Margaery berrar como um bebê?
Jaime se levantou:
- Cersei, basta.
As narinas dela dilataram-se.
- Sor? Por que está aqui? Jurou ficar de vigília até terminar o velório, se bem me lembro.
- Já terminou. Vá olhar para ele.
- Não. Sete dias e sete noites, você disse. Certamente o Senhor Comandante se lembra de como se conta até sete. Conte seus dedos e depois some dois.
Outras pessoas tinham começado a sair para a praça, fugindo dos odores insalubres do septo.
- Cersei, mantenha a voz baixa - Jaime a alertou. - Lorde Tyrell aproxima-se.
Aquilo a atingiu, e a rainha puxou Tommen para junto de si. Mace Tyrell fez uma reverência diante do garoto:
- Sua Graça não está indisposto, espero?
- O rei foi dominado pelo desgosto - Cersei respondeu.
- Tal como todos nós. Se houver algo que eu possa fazer...
Muito em cima, um corvo soltou um sonoro grito. Estava empoleirado na estátua do Rei Baelor, cagando em sua santa cabeça.
- Há muito que pode fazer por Tommen, senhor - Jaime interveio. - Talvez possa dar a Sua Graça a honra de jantar com ela, após os serviços da noite?
Cersei lançou-lhe um olhar fulminante, mas por uma vez teve o bom-senso de morder a língua.
- Jantar? - Tyrell pareceu surpreso. - Suponho que... claro, ficaremos honrados. A senhora minha esposa e eu.
A rainha forçou um sorriso e soltou ruídos simpáticos. Mas, depois de Tyrell se retirar e Tommen ser mandado embora com Sor Addam Marbrand, virou-se irritada para Jaime:
- Está bêbado ou delirando, sor? Por favor, diga-me, por que vou jantar com aquele idiota ganancioso e sua pueril esposa? - uma rajada de vento agitou seus cabelos dourados. - Eu não o nomearei Mão, se é isso o que...
- Precisa do Tyrell - Jaime a interrompeu - mas não aqui. Peça-lhe que tome Ponta Tempestade em nome de Tommen. Elogie-o, e diga-lhe que precisa dele em campo, para substituir nosso pai. Mace se julga um poderoso guerreiro. Ou entrega Ponta Tempestade a você, ou estraga tudo e faz papel de idiota. Seja como for, você ganha.
- Ponta Tempestade? - Cersei fez uma expressão pensativa. - Sim, mas... Lorde Tyrell deixou tediosamente claro que não abandonará Porto Real até que Tommen se case com Margaery.
Jaime suspirou:
- Então, que se casem. Demorará anos até que Tommen tenha idade para consumar o casamento. E até que o faça, a união sempre pode ser posta de lado. Dê a Tyrell esse casamento e mande-o embora brincar de guerra.
Um sorriso matreiro cruzou o rosto da irmã.
- Até os cercos têm seus perigos - murmurou. - Ora, o nosso Senhor de Jardim de Cima pode até perder a vida num empreendimento como este.
- Existe este risco - Jaime aquiesceu. - Especialmente se sua paciência desta vez se esgotar e ele decidir assaltar o portão.
Cersei lançou-lhe um olhar demorado:
- Sabe - ela disse - por um momento soou tal qual nosso pai.  

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