quinta-feira, 3 de outubro de 2013

57 - TYRION


O curandeiro entrou na tenda murmurando amabilidades, mas uma cheirada no ar putrefato e uma olhada em Yezzan zo Qaggaz puseram um fim naquilo.
- A égua descorada - o homem falou para Doces.
Que surpresa, Tyrion pensou. Quem poderia imaginar? Além de qualquer homem com um nariz, e eu com metade dele. Yezzan estava queimando em febre, contorcendo-se intermitentemente, em uma piscina do próprio excremento. Sua merda se tornara uma lama marrom, banhada em sangue... e cabia a Yollo e Merreca deixar sua bunda amarela limpa. Mesmo com ajuda, o mestre não conseguia levantar o próprio peso; usava toda sua força restante apenas para virar de lado.
- Minhas artes não terão serventia aqui - o curandeiro anunciou. - A vida do nobre Yezzan está nas mãos dos deuses. Mantenham-no fresco se puderem. Alguns dizem que isso ajuda. Tragam água para ele. - Aqueles afligidos pela égua descorada sempre estavam com sede, bebendo galões de água entre suas caganeiras. - Água fresca e limpa, tanta quanta ele puder beber.
- Não água do rio - disse Doces.
- De jeito nenhum. - E, com isso, o curandeiro fugiu.
Precisamos fugir também, pensou Tyrion. Ele era um escravo com uma coleira dourada, com pequenos guizos que tilintavam alegremente a cada passo que dava. Um dos tesouros especiais de Yezzan. Uma honra indistinguível de uma sentença de morte. Yezzan zo Qaggaz gostava de manter seus queridinhos por perto, por isso restara para Yollo, Merreca, Doces e seus outros tesouros cuidar dele quando adoeceu.
Pobre velho Yezzan. O senhor da banha não era tão mau quanto os mestres eram. Doces estava certa nisso. Servindo em seus banquetes noturnos, Tyrion logo descobrira que Yezzan se destacava entre os senhores yunkaítas que defendiam honrar a paz com Meereen. A maioria dos demais estava apenas ganhando tempo, esperando que o exército de Volantis chegasse. Uns poucos queriam assaltar a cidade imediatamente, para que os volantinos não pudessem roubar sua glória e a melhor parte da pilhagem. Yezzan não tomou parte naquilo. Nem consentiu devolver os reféns de Meereen com o trabuco, como o mercenário Barbassangrenta havia proposto.
Mas muito e ainda mais podia mudar em dois dias. Dois dias atrás, o Babá estava robusto e saudável. Dois dias atrás, Yezzan não ouvira os cascos fantasmagóricos da égua descorada. Dois dias atrás, as frotas da Antiga Volantis estavam dois dias mais distante. E agora ...
- Yezzan vai morrer? - Merreca perguntou, naquela sua voz de por-favor-diga-que-não.
- Todos nós vamos morrer.
- Do fluxo, quero dizer.
Doces deu um olhar desesperado para ambos.
- Yezzan não pode morrer. - A hermafrodita acariciou a testa de seu mestre gigantesco, afastando o cabelo molhado de suor. O yunkaíta gemeu, e outra enxurrada de água marrom jorrou por suas pernas. Sua roupa de cama estava manchada e fedida, mas não havia como movê-lo de lá.
- Alguns mestres libertam seus escravos quando morrem - disse Merreca.
Doces deu uma risada nervosa. Era um som medonho.
- Apenas os favoritos. Eles os libertam das desgraças do mundo. para acompanhar seus amados mestres para o túmulo e servi-los no após-morte.
Doces devia saber. A dela seria a primeira garganta a ser cortada.
O menino-bode falou:
- A rainha de prata ...
- ... está morta - insistiu Doces. - Esqueça ela! O dragão a levou para o outro lado do
rio. Ela se afogou no mar dothraki.
- Você não pode se afogar na grama - o menino-bode respondeu.
- Se fôssemos livres - disse Merreca - poderíamos encontrar a rainha. Ou sair em busca dela, pelo menos.
Você no seu cão e eu na minha porca, perseguindo um dragão pelo mar dothraki. Tyrion coçou sua cicatriz para não rir.
- Esse dragão em particular já evidenciou seu gosto por porco assado. E anão assado é duas vezes mais saboroso.
- Era só um desejo - Merreca falou, melancolicamente. - Podíamos navegar para longe. Há navios novamente, agora que a guerra acabou.
Acabou mesmo? Tyrion estava inclinado a duvidar daquilo. Pergaminhos foram assinados, mas guerras não eram lutadas em pergaminhos.
- Podíamos navegar até Qarth - Merreca continuou. - As ruas lá são pavimentadas com jade, meu irmão sempre dizia. Quando nos apresentarmos em Qarth, ouro e prata choverão sobre nós, você verá.
- Alguns daqueles navios lá na baía são qartenos. - Tyrion a recordou. - Lomas Longstrider viu as muralhas de Qarth. Seus livros são suficientes para mim. Vim tão longe para leste quanto pretendia.
Doces enxugou o rosto febril de Yezzan com um pano úmido.
- Yezzan tem que viver. Ou todos nós morreremos com ele. A égua descorada não leva todos que cavalgam nela. O mestre se recuperará.
Aquilo era uma mentira deslavada. Seria uma maravilha se Yezzan vivesse outro dia. O senhor da banha já estava morrendo de alguma doença terrível que trouxera de Sothoryos, parecia a Tyrion. Isso apenas aceleraria seu fim. Uma misericórdia, realmente. Mas não o tipo de sorte que o anão desejava para si.
- O curandeiro disse que ele precisa de água fresca. Vamos ver isso.
- Isso é gentil de sua parte. - Doces parecia entorpecida. Era mais do que apenas medo de ter a garganta cortada; sozinha entre os tesouros de Yezzan, ela realmente parecia gostar de seu imenso mestre.
- Merreca, venha comigo. - Tyrion abriu a cortina da tenda e conduziu-a para o calor da manhã meereenesa. O ar era abafado e opressivo e, mesmo assim, um alívio bem-vindo da mistura de suor, merda e doença que enchia o interior do pavilhão suntuoso de Yezzan.
- Água ajudará o mestre - Merreca falou. - Foi o que o curandeiro disse, deve ser assim. Água doce fresca.
-Água doce fresca não ajudou o Babá. - Pobre velho Babá. Os soldados de Yezzan haviam atirado seu corpo na carroça de cadáveres, noite passada, ao anoitecer, outra vítima da égua descorada. Quando homens morriam a cada hora, ninguém olhava por muito tempo para mais um morto, especialmente um tão desprezível quanto o Babá. Os outros escravos de Yezzan tinham se recusado a se aproximar do capataz quando as cólicas começaram, então sobrou para Tyrion mantê-lo aquecido e levar bebidas para ele. Vinho aguado e limonada doce, e um pouco de boa sopa quente de rabo de cachorro, com lascas de cogumelo no caldo. Beba tudo, Babá, a água de merda que esguicha da sua bunda precisa ser reposta. A última palavra que o Babá dissera foi “Não”. As últimas palavras que escutou foram: “Um Lannister sempre paga suas dívidas”.
Tyrion não contara aquilo a Merreca, mas ela precisava entender como era a situação do mestre deles.
- Se Yezzan viver para ver o sol nascer, ficarei atônito.
Ela segurou o braço dele.
- O que acontecerá conosco?
- Ele tem herdeiros. Sobrinhos. - Quatro deles haviam vindo com Yezzan de Yunkai para comandar seus soldados-escravos. Um estava morto, assassinado por mercenários dos Targaryen durante um combate. Os outros três dividiriam os escravos da enormidade amarela entre eles, provavelmente. Se algum dos sobrinhos compartilhava o carinho de Yezzan por aleijados, aberrações e seres grotescos era mais difícil dizer. - Um deles pode nos herdar. Ou podemos terminar indo novamente a leilão.
- Não. - Seus olhos ficaram grandes. - Não aquilo. Por favor.
- Não é uma perspectiva que me agrade também.
A alguns metros de distância, seis dos soldados-escravos de Yezzan estavam de cócoras na terra, jogando ossos e passando um odre de vinho de mão em mão. Um era o oficial chamado Cicatriz, um mulato brutamontes com uma cabeça tão lisa quanto uma pedra e ombros como os de um boi. Esperto como um boi também, Tyrion lembrou.
Bamboleou na direção deles.
- Cicatriz - gritou - o nobre Yezzan precisa de água, água limpa. Pegue dois homens e traga quantos baldes puderem carregar. E seja rápido com isso.
Os soldados interromperam seu jogo. Cicatriz se levantou, carrancudo.
- O que disse, anão? Quem você pensa que é?
- Sei quem sou. Yollo. Um dos tesouros do nosso senhor. Agora, faça o que eu lhe disse.
Os soldados riram.
- Vá, Cicatriz - um deles zombou - e seja rápido com isso. O macaco de Yezzan lhe deu uma ordem.
- Você não diz para soldados o que fazer - falou Cicatriz.
- Soldados? - Tyrion fingiu perplexidade. - Escravos, é tudo o que vejo. Você usa uma coleira em volta do pescoço igual à minha.
O golpe violento que Cicatriz lhe deu com as costas da mão o derrubou no chão e arrebentou seus lábios.
- Coleira de Yezzan. Não sua.
Tyrion limpou o sangue do lábio partido com o dorso da mão. Quando tentou se levantar, uma perna se enroscou na outra e ele caiu de joelhos. Precisaria de Merreca para se levantar novamente.
- Doces disse que mestre precisa ter água - disse, em seu melhor choramingo.
- Doces pode foder a si mesma. Foi feita para isso. Não recebemos ordens daquela aberração também.
Não, pensou Tyrion. Mesmo entre escravos, havia os senhores e os camponeses, como rapidamente aprendera. A hermafrodita era, havia muito tempo, o animal de estimação especial do mestre, mimada e favorecida, e os outros escravos do nobre Yezzan a odiavam por isso.
Os soldados estavam acostumados a receber ordens dos mestres e de seus capatazes. Mas Babá estava morto, e Yezzan, doente demais para nomear um sucessor. Quanto aos três sobrinhos, aqueles bravos homens haviam se recordado de negócios urgentes em outros lugares ao primeiro som dos cascos da égua descorada.
- A á-água - falou Tyrion, encolhendo-se. - Não água do rio, o curandeiro disse. Limpa, água bem fresca.
Cicatriz grunhiu.
- Vá pegar você. E seja rápido com isso.
- Nós? - Tyrion trocou um olhar desesperado com Merreca. - A água é pesada. Não somos tão fortes como você. Podemos ... podemos pegar a charrete com a mula?
- Use suas pernas.
- Precisaremos fazer uma dúzia de viagens.
- Faça uma centena de viagens. Não dou a mínima para isso.
- Apenas nós dois ... não seremos capazes de carregar toda a água que o mestre precisa.
- Leve seu urso - sugeriu Cicatriz. - Buscar água é tudo para o que aquele ali serve.
Tyrion se virou.
- Como queira, mestre.
Cicatriz sorriu. Mestre. Oh, ele gostou disso.
- Morgo, traga as chaves. Vocês, encham os baldes e voltem imediatamente, anões. Sabem o que acontece com escravos que tentam fugir.
- Pegue os baldes - Tyrion falou para Merreca. Seguiu com Morgo para buscar Sor Jorah Mormont em sua jaula.
O cavaleiro não se adaptara bem ao cativeiro. Quando convocado para interpretar o urso e levar consigo a bela donzela, fora mal-humorado e teimoso, arrastando-se apaticamente quando afinal se dignou a participar do espetáculo deles. Embora não tivesse tentado escapar, nem oferecera violência aos seus captores, ignorava suas ordens com frequência, ou respondia resmungando xingamentos. Nada disso divertira o Babá, que deixava seu descontentamento claro confinando Mormont em uma jaula de ferro e espancando-o todas as tardes, quando o sol mergulhava na Baía dos Escravos. O cavaleiro absorvia as pancadas em silêncio; os únicos sons eram os xingamentos resmungados para os escravos que batiam nele, e os golpes surdos de seus porretes contra a carne machucada e surrada de Sor Jorah.
O homem está um caco, Tyrion pensou, na primeira vez que viu o grande cavaleiro espancado. Eu devia ter segurado minha língua e deixado Zahrina comprá-lo. Teria sido um destino mais gentil do que esse.
Mormont saiu do confinamento restrito da jaula encurvado e apertando os olhos, ambos com manchas escuras, e as costas cobertas de sangue seco. Seu rosto estava tão machucado e inchado que dificilmente parecia humano. Estava nu, exceto por uma tanga, um pedaço sujo de pano amarelo.
- Vai ajudar eles a carregar água - Morgo lhe disse.
A única resposta de Sor Jorah foi um olhar carrancudo. Alguns homens devem preferir morrer livres do que viver como escravos, suponho. Tyrion não era atingido por tais aflições, felizmente, mas se Mormont assassinasse Morgo, os outros escravos podiam não fazer essa distinção.
- Venha - disse, antes que o cavaleiro fizesse algo corajoso e estúpido. Saiu bamboleando, esperando que Mormont o seguisse.
Os deuses foram bons dessa vez. Mormont o seguiu.
Dois baldes para Merreca, dois para Tyrion e quatro para Sor Jorah, dois em cada mão. O poço mais próximo ficava a sudoeste da Prostituta, então partiram nessa direção, os sinos em suas coleiras tocando alegremente a cada passo. Ninguém prestava atenção neles. Eram apenas escravos buscando água para seu mestre. Usar uma coleira conferia certas vantagens, especialmente uma coleira dourada com o nome de Yezzan zo Qaggaz inscrito nela. O soar daqueles pequenos guizos proclamavam seu valor para qualquer um que escutasse. Um escravo carregava a importância de seu mestre; Yezzan era o homem mais rico da Cidade Amarela e trouxera seiscentos soldados-escravos para a guerra, mesmo se parecesse uma monstruosa lesma amarela e cheirasse a mijo. As coleiras deles lhes davam o direito de ir para qualquer lugar que desejassem dentro do acampamento.
Até que Yezzan morra.
Os Senhores Tinidores tinham seus soldados-escravos se exercitando no campo mais próximo. O barulho das correntes que os prendiam formava uma dura música metálica, enquanto marchavam pela areia em sintonia e entravam em formação com suas longas lanças. Em outros lugares, grupos de escravos erguiam rampas de pedra e areia sob manganelas e balistas, elevando-as no ângulo correto para melhor defender o acampamento se o dragão negro retornasse. O anão sorriu ao vê-los suando a amaldiçoando enquanto lutavam para inclinar as pesadas máquinas. Bestas estavam muito em evidência também. Qualquer homem parecia estar carregando uma, com a aljava cheia de dardos pendurada no quadril.
Se alguém tivesse pensado em lhe perguntar, Tyrion poderia ter dito para eles não se incomodarem. A menos que um dos longos projéteis de ferro das balistas conseguisse acertar um olho, o monstro de estimação da rainha não seria derrubado por tais brinquedos. Dragões não são tão fáceis de matar. Façam cócegas nele com isso, e só o deixarão irritado.
Os olhos eram a parte mais vulnerável de um dragão. Os olhos, e o cérebro atrás deles. Não a barriga, como certos contos antigos diziam. As escamas ali eram tão resistentes quanto as que cobriam as costas e os flancos do dragão. E não embaixo da goela também. Aquilo era loucura. Esses pretensos matadores de dragão podiam muito bem tentar apagar um incêndio com um golpe de lança. “A morte sai da boca do dragão” o Septão Barth escrevera em sua História Antinatural, “mas a morte não entra por esse caminho”
Mais adiante, duas legiões de Nova Ghis estavam se enfrentando, parede de escudo contra parede de escudo, enquanto oficiais em meios-elmos de ferro com crinas de cavalos de guerra gritavam ordens em seu próprio dialeto incompreensível. A olho nu, os ghiscaris pareciam mais formidáveis do que os soldados-escravos yunkaítas, mas Tyrion nutria dúvidas. Os legionários podiam ser armados e organizados da mesma maneira que os Imaculados ... mas os eunucos não conheciam outra vida, enquanto os ghiscaris eram cidadãos livres que serviam por três anos.
A fila para o poço estendia-se por uns quatrocentos metros.
Havia apenas um punhado de poços a menos de um dia de marcha de Meereen, então a espera era sempre longa. A maioria das tropas yunkaítas tirava sua água de beber do Skahazadhan, o que Tyrion sabia que era uma má ideia, mesmo antes do aviso do curandeiro. Os mais espertos tomavam o cuidado de ficar rio acima das latrinas, mas ainda estavam rio abaixo em relação à cidade.
O fato de haver algum poço bom a menos de um dia de marcha da cidade apenas provava que Daenerys Targaryen ainda era inocente quando o assunto eram cercos. Ela devia ter envenenado cada poço. Então todos os yunkaítas estariam bebendo do rio. Veja quanto tempo o cerco duraria, então. Era isso o que o senhor seu pai teria feito, Tyrion não tinha dúvidas.
Cada vez que seguiam em direção a outro lugar, os guizos em suas coleiras tocavam alegremente. Que som feliz, me faz querer arrancar os olhos de alguém com uma colher. Agora, Griff, Pato e Meiomeistre Haldon podiam estar em Westeros com seu jovem príncipe. Eu deveria estar com eles ... mas, não, eu tinha que ter uma puta. Assassinar parentes não é o suficiente, eu precisava de uma boceta e de vinho para selar minha ruína, e aqui estou eu, do lado errado do mundo, usando uma coleira de escravo com sininhos dourados para anunciar minha chegada. Se eu dançar direito, talvez possa tocar “As Chuvas de Castamere”
Não havia lugar melhor para ouvir as últimas notícias e rumores do que ao redor do poço.
- Eu sei o que vi - um velho escravo com uma coleira enferrujada estava dizendo, enquanto Tyrion e Merreca se arrastavam na fila - e vi aquele dragão arrancando braços e pernas, e rasgando homens ao meio, queimando todos eles até cinzas e ossos. As pessoas começaram a correr, tentando sair da arena, mas eu fui ver um espetáculo e, por todos os deuses de Ghis, vi um. Eu estava na fileira púrpura, então não achei que o dragão fosse me incomodar.
- A rainha subiu nas costas do dragão e foi embora - insistiu uma alta mulher marrom.
- Ela tentou - disse o velho - mas não conseguiu se segurar. As bestas feriram o dragão, e a rainha foi atingida bem entre suas doces tetas rosadas, ouvi dizer. Foi quando caiu. Morreu na sarjeta, esmagada embaixo das rodas de um carroção. Conheço uma garota que conhece um homem que viu ela morrer.
Em tal companhia, o silêncio era a melhor parte da sabedoria, mas Tyrion não conseguiu se conter.
- Nenhum cadáver foi encontrado - disse.
O velho franziu o cenho.
- O que você sabe sobre isso?
- Eles estavam lá - disse a mulher marrom. - São eles, os anões que disputaram a justa, os que lutaram para a rainha.
O homem olhou para baixo, como se estivesse vendo ele e Merreca pela primeira vez.
- Vocês são aqueles que cavalgam porcos.
Nossa notoriedade nos precede. Tyrion fez uma mesura cortês e absteve-se de apontar que um dos porcos era, na verdade, um cão.
- A porca que eu cavalgo é, na verdade, minha irmã. Temos o mesmo nariz, vocês perceberam? Um bruxo lançou um feitiço nela, mas, se você lhe der um grande beijo molhado, ela se transformará em uma bela mulher. O triste é que, uma vez que você a conheça, vai querer beijá-la novamente para transformá-la de volta.
Risos irromperam ao redor deles. Até o velho se juntou a eles.
- Você viu ela, então - disse o rapaz de cabeça vermelha atrás deles. - Você viu a rainha. É tão bonita quanto dizem?
Vi uma garota esguia de cabelo prateado enrolada em um tokar, ele podia ter dito a eles. Seu rosto estava coberto por um véu, e nunca me aproximei o suficiente para dar uma boa olhada. Eu estava cavalgando um porco. Daenerys Targaryen estava sentada no camarote principal, ao lado de seu rei ghiscari, mas os olhos de Tyrion foram atraídos para o cavaleiro na armadura branca e dourada atrás dela. Embora suas feições estivessem escondidas, o anão reconheceria Barristan Selmy em qualquer lugar. Illyrio estava certo sobre isso, ao menos, pensou, recordando-se. Mas Selmy me reconheceu? E o que fará nesse caso?
Ele quase se revelara então e ali, mas algo o impedira - cautela, covardia, instinto, podia chamar como quisesse. Ele não imaginava que Barristan, o Ousado, o recebesse com nada além de hostilidade. Selmy nunca aprovara a presença de Jaime em sua preciosa Guarda Real. Antes da rebelião, o velho cavaleiro o julgava muito jovem e inexperiente; depois ficara conhecido por dizer que o Regicida devia trocar o manto branco por um negro. E seus próprios crimes eram piores. Jaime matara um louco. Tyrion enfiara um dardo através da virilha do próprio pai, um homem que Sor Barristan conhecera e servira por anos. Podia ter arriscado tudo, mesmo assim, mas então Merreca acertara um golpe em seu escudo e o momento se foi, para não mais voltar.
- A rainha nos viu disputar um torneio - Merreca estava contando para os outros escravos na fila - mas essa foi a única vez em que a vimos.
- Vocês devem ter visto o dragão - falou o velho.
Quem dera tivéssemos. Os deuses não haviam lhe concedido tanto. Enquanto Daenerys Targaryen levantava voo, o Babá estava fechando ferros ao redor de seus tornozelos, para ter certeza de que não tentariam fugir no caminho de volta para seu mestre. Se o capataz tivesse partido depois de entregá-los ao matadouro, ou fugido com o restante dos senhores de escravos quando o dragão desceu do céu, os dois anões podiam ter caminhado para a liberdade. Ou corrido, mais provavelmente, com nosso sininho tocando.
- Tinha um dragão? - Tyrion disse, com um dar de ombros. - Tudo o que sei é que nenhuma rainha morta foi encontrada.
O velho não estava convencido.
- Ah, encontraram corpos às centenas. Arrastaram eles para a arena e queimaram todos, embora metade já estivesse torrada. Talvez não a tenham reconhecido, queimada, ensanguentada e esmagada. Talvez a reconheceram, mas decidiram falar o contrário, para manter vocês, escravos, tranquilos.
- Nós, escravos? - disse a mulher marrom. - Você também usa uma coleira.
- Uma coleira de Ghazdor - o homem se gabou. - Conheço ele desde que nascemos. Sou quase um irmão para ele. Escravos como vocês, detritos de Astapor e Yunkai, se lamentam sobre ser livres, mas eu não daria minha coleira para a rainha dragão nem se ela se oferecesse para chupar meu pau em troca. O homem tem o mestre certo, isso é melhor.
Tyrion não discutiu com ele. A coisa mais insidiosa sobre o cativeiro era quão fácil era se acostumar a ele. A vida da maioria dos escravos não era totalmente diferente da vida dos servos em Rochedo Casterly, parecia para ele. Era verdade que alguns proprietários de escravos e seus capatazes eram brutais e cruéis, mas o mesmo podia ser dito de alguns senhores westerosis, seus intendentes e meirinhos. A maioria dos yunkaítas tratava suas propriedades com decência suficiente, enquanto fizessem seus trabalhos e não causassem problemas ... e esse velho com a coleira enferrujada e sua lealdade feroz ao Lorde Balançabochecha, seu dono, não era um caso atípico.
- Ghazdor, o Coração-Grande? - Tyrion falou, docemente. - Nosso mestre Yezzan tem falado com frequência de sua inteligência. - O que Yezzan tinha realmente dito era algo como: Eu tenho mais inteligência do lado esquerdo da bunda do que Ghazdor e os irmãos têm entre eles. Mas achou prudente omitir as palavras reais.
O meio-dia veio e se foi antes que ele e Merreca chegassem ao poço, onde um escravo magrela e perneta puxava a água. Olhou para eles com desconfiança.
- Babá sempre vem buscar a água de Yezzan, com quatro homens e uma charrete de mula. - Jogou o balde no poço mais uma vez. Ouviu-se uma suave pancada na água. O homem perneta deixou o balde encher e começou a puxá-lo. Seus braços eram queimados pelo sol e descamados, ele era magro de se olhar, mas todo músculos.
- A mula morreu - falou Tyrion. - E também o Babá, pobre homem. E agora o próprio Yezzan está montado na égua descorada, e seis de seus soldados estão com diarreia. Posso levar dois baldes cheios?
- Como quiser. - Aquele foi o fim da conversa fiada. São batidas de casco que você ouve? A mentira sobre os soldados fizera o velho perneta se mexer muito mais rápido.
Começaram a voltar, cada anão carregando dois baldes cheios até a borda de água doce, e Sor Jorah com dois baldes em cada mão. O dia estava ficando mais quente, o ar tão espesso e úmido quanto lã molhada, e os baldes pareciam ficar mais pesados a cada passo. Um longo caminho em pernas curtas. A água espirrava dos baldes a cada passo, respingando ao redor de suas pernas, enquanto seus guizos tocavam uma música de marcha. Se soubesse que chegaria a isto, pai, eu o teria deixado viver. Meio quilômetro para leste, uma escura coluna de fumaça se erguia onde uma tenda tinha sido incendiada. Queimando os mortos da noite passada.
- Por aqui - Tyrion disse, fazendo um sinal com a cabeça para a direita.
Merreca lhe deu um olhar intrigado.
- Não foi por aí que viemos.
- Não queremos respirar aquela fumaça. Está cheia de humores malignos. - Não era mentira. Não completamente.
Merreca logo estava bufando, lutando com o peso de seus baldes.
- Preciso descansar.
- Como quiser. - Tyrion colocou os baldes de água no chão, grato pela parada. Suas pernas estavam com sérias câimbras, então encontrou uma pedra para se sentar e esfregar as coxas.
- Eu podia fazer isso para você - ofereceu Merreca.
- Sei onde estão os nós. - Ainda que gostasse cada vez mais da garota, ainda ficava desconfortável quando ela o tocava. Virou-se para Sor Jorah. - Umas porradas a mais e você ficará tão feio quanto eu, Mormont. Diga-me, ainda sobrou algum espírito combativo em você?
O grande cavaleiro ergueu dois olhos enegrecidos e olhou para ele como se estivesse encarando um inseto.
- O suficiente para quebrar seu pescoço, Duende.
- Bom. - Tyrion pegou seus baldes. - Por aqui, então.
Merreca franziu o cenho.
- Não. É para a esquerda. - Ela apontou. - Ali está a Prostituta.
- E ali está a Irmã Vingativa. - Tyrion acenou com a cabeça na outra direção. - Confie em mim - disse. - Meu caminho é mais rápido. - Partiu com os guizos tilintando. Merreca o seguiria, ele sabia.
Algumas vezes, invejava os pequenos sonhos bonitos da garota. Ela o fazia se lembrar de Sansa Stark, a noiva criança que tivera e perdera. Apesar de todos os horrores que sofrera, de alguma forma ela permanecera confiante. Ela devia saber mais. É mais velha do que Sansa. E é uma anã. Age como se tivesse se, esquecido disso, como se fosse bem-nascida e bonita de se olhar, em vez de escrava e grotesca. A noite, Tyrion frequentemente a ouvia rezar. Um desperdício de palavras. Se houvesse deuses para escutar, seriam deuses monstruosos, que nos atormentam por esporte. Quem mais faria um mundo como este, cheio de escravidão, sangue e dor? Quem mais nos daria a forma que nos deram? Algumas vezes, queria bater nela, sacudi-la, gritar com ela, qualquer coisa para fazê-la despertar de seus sonhos. Ninguém vai nos salvar, queria gritar para ela. O pior ainda está por vir. Mesmo assim, de algum jeito, nunca disse isso. Em vez de dar um bom safanão naquela cara feia dela, para arrancar a viseira de seus olhos, ele se pegava apertando seu ombro ou dando-lhe um abraço. Cada toque é uma mentira. Eu a paguei com tanta moeda falsa que ela se acha meio rica.
Ele até mantivera a verdade sobre a Arena de Daznak para si.
Leões. Iam soltar leões sobre nós. Teria sido primorosamente irônico, aquilo. Talvez tivesse tempo para uma curta e amarga gargalhada antes de ser dilacerado.
Ninguém jamais disse o fim que havia sido planejado para eles, não com todas as palavras, mas não havia sido muito difícil juntar as peças, ali embaixo dos tijolos da Arena de Daznak, no mundo oculto sob as arquibancadas, o domínio sombrio dos lutadores de arena e dos servos que cuidavam deles, dos vivos e dos mortos; os cozinheiros que os alimentavam, os ferrageiros que os armavam, os cirurgiões-barbeiros que os sangravam, os barbeavam e atavam suas feridas, as putas que os serviam antes e depois das lutas, os manipuladores de cadáveres que arrastavam os perdedores para fora das areias com ganchos de ferro.
O rosto do Babá dera a Tyrion a primeira pista. Depois da apresentação, ele e Merreca haviam retornado para a abóbada iluminada por tochas onde os lutadores se reuniam antes e depois de suas disputas. Alguns estavam sentados, afiando as armas; outros fazendo sacrifícios para deuses estranhos, ou entorpecendo os nervos com leite de papoula antes de sair para morrer. Aqueles que já tinham lutado e vencido jogavam dados em um canto, rindo como apenas homens que encararam a morte e viveram podem rir.
O Babá estava pagando prata para um homem da arena, por uma aposta perdida, quando viu Merreca levando Triturador. A confusão em seus olhos sumiu em meio segundo, mas não antes que Tyrion percebesse o que significava. Babá não esperava que voltássemos. Olhou em volta, para os outros rostos. Ninguém esperava que voltássemos. Era para termos morrido lá. A peça final se encaixou quando ouviu um treinador de animais reclamando em voz alta para o mestre da arena:
- Os leões estão famintos. Dois dias sem comer. Me disseram para não alimentar eles, e não alimentei. A rainha vai pagar pela carne.
- Leve isso até ela na próxima vez que der audiências - o mestre da arena respondeu.
Mesmo agora, Merreca não suspeitava. Quando falou sobre a arena, sua preocupação principal era que mais pessoas não tinham rido. Teriam se mijado de rir se os leões tivessem sido soltos, Tyrion quase falou para ela. Em vez disso, ele apertou seu ombro.
Merreca fez uma parada repentina.
- Estamos indo para o lado errado.
- Não estamos. - Tyrion colocou seus baldes no chão. As alças haviam deixado sulcos profundos em seus dedos. - Aquelas são as tendas que queremos, ali.
- Os Segundos Filhos? - Um sorriso estranho apareceu no rosto de Sor Jorah. - Se acha que vai encontrar ajuda ali, você não conhece Ben Mulato Plumm.
- Oh, eu o conheço. Plumm e eu jogamos cinco partidas de cyvasse. Ben Mulato é astuto, tenaz, não sem inteligência... mas cauteloso. Gosta de deixar seu oponente assumir riscos, enquanto ele se senta e mantém suas opções em aberto, reagindo à batalha conforme ela ganha forma.
- Batalha? Que batalha? - Merreca se afastou dele. - Temos que voltar. O mestre precisa de água limpa. Se demorarmos muito, seremos chicoteados. E Porca Bonita e Triturador estão lá.
- Doces se assegurará de que sejam cuidados - Tyrion mentiu. Era mais provável que
Cicatriz e seus amigos logo estivessem se banqueteando com presunto, toicinho e um saboroso ensopado de cachorro, mas Merreca não precisava ouvir aquilo. - O Babá está morto e Yezzan está morrendo. Pode estar escuro antes que qualquer um se lembre de sentir nossa falta. Nunca teremos uma oportunidade melhor do que agora.
- Não. Você sabe o que fazem quando pegam escravos tentando fugir. Você sabe. Por favor. Nunca nos permitirão deixar o acampamento.
- Nós não deixamos o acampamento. - Tyrion pegou seus baldes. Partiu em um bamboleado rápido, sem olhar para trás. Mormont seguiu ao seu lado. Depois de um momento, ouviu o som de Merreca correndo atrás dele, descendo uma ladeira de areia até um círculo de tendas esfarrapadas.
A primeira sentinela apareceu quando se aproximaram dos cavalos amarrados; um lanceiro magro cuja barba castanho-avermelhada indicava que era um tyroshino.
- O que temos aqui? E o que vocês levam nesses baldes?
- Água - respondeu Tyrion - se for do seu agrado.
- Cerveja me agradaria mais. - Uma ponta de lança cutucou o anão nas costas; um segundo sentinela veio por trás deles. Tyrion pôde ouvir Porto Real em sua voz. Escória da Baixada da Pulga.
- Está perdido, anão? - a sentinela exigiu saber.
- Estamos aqui para nos juntar à sua companhia.
Um balde escorregou do braço de Merreca e virou. Metade da água foi derramada antes que ela conseguisse erguê-lo novamente.
- Temos tolos suficientes nesta companhia. Por que iríamos querer mais três? - O tyroshino cutucou a coleira de Tyrion com a ponta de sua lança, tocando os pequenos guizos dourados. - Um escravo fugitivo, é o que eu vejo. Três escravos fugitivos. De quem é esta coleira?
- Da Baleia Amarela. - Aquilo veio de um terceiro homem, atraído pelas vozes deles; uma figura com barba por fazer e dentes manchados de vermelho pela folhamarga. Um oficial, Tyrion percebeu, pelo jeito que os outros se dirigiram a ele. Tinha um gancho onde sua mão direita estivera um dia. A fraca sombra bastarda de Bronn, ou sou Baelor, o Abençoado. - Estes são os anões que Ben tentou comprar - o oficial disse para os lanceiros, apertando os olhos - mas o grande ... melhor levá-lo também. Todos os três.
O tyroshino apontou com a lança. Tyrion foi naquela direção. O outro mercenário - um rapaz, pouco mais que um menino, com penugem na bochecha e cabelo da cor de palha suja - escorregou a mão sob a túnica de Merreca.
- Oh, o meu tem tetas - disse, rindo. Deslizou uma mão sob a túnica de Merreca, só para ter certeza.
- Basta trazer ela - retrucou o oficial.
O rapaz jogou Merreca sobre um ombro. Tyrion foi em frente, tão rápido quanto suas pernas atrofiadas permitiam. Sabia para onde estavam indo: a grande tenda ao lado da fogueira, com paredes de tela pintada rachadas e desgastadas por anos de sol e chuva. Alguns mercenários se viraram para vê-lo passar, e uma seguidora de acampamento abafou o riso, mas ninguém se moveu para interferir.
Dentro da tenda, encontraram bancos de acampamento e uma mesa de cavalete, prateleiras de lanças e alabardas, o chão coberto com tapetes puídos em meia dúzia de cores conflitantes, e três oficiais. Um era esbelto e elegante, com uma barba pontuda, uma lâmina de espadachim e gibão rosa recortado. Um era gordo e calvo, com manchas de tinta nos dedos, e segurava uma pena em uma mão.
O terceiro era o homem que procurava. Tyrion se inclinou.
- Capitão.
- Pegamos eles se infiltrando no acampamento. - O rapaz jogou Merreca no tapete.
- Fugitivos - o tyroshino declarou. - Com baldes.
- Baldes? - perguntou Ben Mulato Plumm. Quando ninguém se atreveu a explicar, disse: - De volta aos seus postos, rapazes. E nenhuma palavra sobre isto, para ninguém. - Quando partiram, sorriu para Tyrion. - Veio para outra partida de cyvasse, Yollo?
- Se desejar. Gosto de derrotar você. Ouvi dizer que é duas vezes vira-casaca, Plumm. Minha alma gêmea.
O sorriso de Ben nunca chegou aos seus olhos. Estudou Tyrion como um homem faria com uma cobra falante.
- Por que está aqui?
- Para tornar seus sonhos realidade. Você tentou nos comprar no leilão. Depois, tentou nos ganhar no cyvasse. Mesmo quando eu tinha meu nariz, nunca fui tão bonito para despertar tais paixões ... salvo quando reconhecem meu verdadeiro valor. Bem, aqui estou eu, livre para conversar. Agora, seja amigo, traga seu ferreiro e tire estas coleiras de nós. Estou enlouquecendo de tilintar o tempo todo.
- Não quero problemas com seu nobre mestre.
- Yezzan tem assuntos mais urgentes com os quais se preocupar do que três escravos desaparecidos. Está cavalgando a égua descorada. E por que pensariam em nos procurar aqui? Você tem espadas suficientes para desencorajar qualquer um que venha bisbilhotar. Um risco pequeno para um ganho grande.
O indivíduo arrogante no gibão rosa recortado assobiou.
- Trouxeram a doença entre nós. Para dentro das nossas próprias tendas. - Virou-se para Ben Plumm. - Devo cortar a cabeça dele, capitão? Podemos jogar o resto no fosso da latrina. - Desembainhou uma espada, uma delgada lâmina de espadachim com o punho incrustado de pedras preciosas.
- Seja cuidadoso com minha cabeça - falou Tyrion. - Não vai querer meu sangue sobre você. O sangue carrega a doença. E você vai querer ferver nossas roupas ou queimá-las.
- Penso em queimá-las com vocês ainda nelas, Yollo.
- Esse não é meu nome. Mas você sabe isso. Você soube desde a primeira vez que colocou os olhos em mim.
- Pode ser.
- Eu o conheço também, meu senhor - falou Tyrion. - Você é menos púrpura e mais marrom do que os Plumm em casa, mas a menos que seu nome seja uma mentira, você é um homem do oeste, por sangue se não por nascimento. A Casa Plumm é juramentada a Rochedo Casterly, e acontece que eu sei um pouco da sua história. Seu ramo brotou de um pedaço de pedra do outro lado do mar estreito, sem dúvida. Um filho mais jovem de Viserys Plumm, eu apostaria. Os dragões da rainha gostavam de você, não gostavam?
Aquilo pareceu divertir o mercenário.
- Quem contou isso para você?
- Ninguém. A maioria das histórias que se ouve sobre dragões são lorotas para tolos. Dragões falantes, dragões que cospem ouro e pedras preciosas, dragões com quatro pernas e barrigas tão grandes quanto elefantes, dragões adivinhando com esfinges ... absurdo, tudo isso. Mas há verdade nos velhos livros também. Não só sei que os dragões da rainha iam até você, mas sei o motivo.
- Minha mãe dizia que meu pai tinha uma gota de sangue de dragão.
- Duas gotas. Isso, ou um pau com dois metros de comprimento. Você conhece esse conto? Eu conheço. Agora, você é um Plumm esperto, então sabe que esta minha cabeça vale uma senhoria ... lá em Westeros, a meio mundo de distância. Até chegar lá, apenas ossos e larvas restarão. Minha doce irmã negará que a cabeça é minha e trapaceará você com a recompensa prometida. Sabe como são as rainhas. Bocetas inconstantes, a maioria delas, e Cersei é a pior.
Ben Mulato coçou a barba.
- Posso entregar você vivo e se contorcendo, então. Ou enfiar sua cabeça numa jarra e deixá-la em conserva.
- Ou pode jogar comigo. Esse é o movimento mais sábio. - Sorriu. - Nasci um segundo filho. Esta companhia é meu destino.
- Os Segundos Filhos não têm lugar para pantomimeiros - o espadachim de rosa disse, com desdém. - É de lutadores que precisamos.
- Trouxe um para vocês. - Tyrion apontou o polegar para Mormont.
- Aquela criatura? - riu o espadachim. - Um brutamontes feio, mas cicatrizes sozinhas não fazem um Segundo Filho.
Tyrion revirou seus olhos de cores diferentes.
- Lorde Plumm, quem são esses seus dois amigos? O de rosa é irritante.
O espadachim curvou um lábio, enquanto seu companheiro com a pena gargalhava da insolência. Mas foi Jorah Mormont quem forneceu seus nomes.
- Tinteiros é o tesoureiro da companhia. O pavão chama a si mesmo de Kasporio, o Astuto, embora Kasporio, o Idiota, seja mais adequado. Um sujeitinho desagradável.
O rosto de Mormont podia estar irreconhecível pelo espancamento, mas sua voz não tinha mudado. Kasporio lhe deu um olhar assustado, enquanto as rugas ao redor dos olhos de Plumm se apertaram de divertimento.
- Jorah Mormont? É você? Menos orgulhoso do que quando fugiu em disparada, no entanto. Ainda devemos chamá-lo de sor?
Os lábios inchados de Mormont se torceram em um sorriso grotesco.
- Dê-me uma espada e pode me chamar do que quiser, Ben.
Kasporio se moveu para trás.
- Você ... ela mandou você embora ...
- Eu voltei. Pode me chamar de tolo.
Um tolo apaixonado. Tyrion limpou a garganta.
- Vocês podem falar dos velhos tempos mais tarde... depois que eu terminar de explicar por que minha cabeça pode ter mais uso sobre meus ombros. Você descobrirá, Lorde Plumm, que posso ser muito generoso com meus amigos. Se duvida de mim, pergunte para Bronn. Pergunte para Shagga, filho de Oolf. Pergunte para Timett, filho de Timett.
- E quem são eles? - perguntou o homem chamado Tinteiros.
- Bons homens que me juraram suas espadas e prosperaram bastante por esse serviço. - Deu de ombros. - Oh, muito bem, menti sobre o “bons”. Eram bastardos sanguinários, como todos vocês.
- Pode ser - disse Ben Mulato. - Ou pode ser que você tenha inventado alguns nomes. Shagga, você diz? Isso é um nome de mulher?
- As tetas dele eram grandes o suficiente. Da próxima vez que nos encontrarmos, eu o apertarei entre os calções, para ter certeza. É um tabuleiro de cyvasse ali? Traga-o, e teremos aquela partida. Mas, primeiro, acho, gostaria de uma taça de vinho. Minha garganta está seca como um osso velho, e vejo que tenho muito o que falar. 

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