quinta-feira, 3 de outubro de 2013

58 - JON


Naquela noite, sonhou com selvagens berrando da floresta, avançando com o choro dos berrantes de guerra e o rufar de tambores. Bum BUM bum BUM bum BUM, veio o som, como mil corações em uma única batida. Alguns tinham lanças, alguns tinham arcos e alguns carregavam machados. Outros andavam em carruagens feitas de ossos, puxadas por grupos de cães tão grandes quanto pôneis. Gigantes arrastavam-se pesadamente entre eles, doze metros de altura, com marretas do tamanho de carvalhos.
- Permaneçam firmes - Jon Snow exortou. - Vamos mandá-los embora. - Estava no topo da Muralha, sozinho. - Fogo - gritou - joguem fogo neles - mas não havia ninguém para prestar atenção.
Todos se foram. Eles me abandonaram.
Flechas incendiárias assobiaram para cima, arrastando línguas de fogo. Irmãos espantalhos caíram, seus mantos negros em chamas. Snow, uma águia gritou, enquanto inimigos escalavam o gelo como aranhas. Jon estava com uma armadura de gelo negro, mas sua lâmina queimava vermelha em seu punho. Conforme os mortos chegavam ao topo da Muralha, ele os enviava para baixo, para morrer novamente. Matou um ancião e um garoto imberbe, um gigante, um homem magro com dentes afiados, uma garota com grossos cabelos vermelhos. Tarde demais, reconheceu Ygritte. Ela se foi tão rápido quanto aparecera.
O mundo se dissolveu em uma névoa vermelha. Jon esfaqueava, fatiava e cortava. Atingiu Donal Noye e tirou as vísceras de Dick Surdo Follard. Qhorin Meia-Mão caiu de joelhos, tentando, em vão, estancar o fluxo de sangue do pescoço.
- Sou o Senhor de Winterfell - Jon gritou. Robb estava diante dele agora, o cabelo molhado com neve derretida. Garralonga cortou sua cabeça fora. Então, uma mão enrugada segurou Jon pelo ombro. Ele se contorceu ...
... e acordou com um corvo bicando-o no peito. Snow, a ave gritou. Jon bateu nela. O corvo gritou de descontentamento e voou até uma das colunas da cama, olhando para baixo malignamente através da escuridão da madrugada.
O dia chegara. Era a hora do lobo. Logo o sol se levantaria, e quatro mil selvagens seriam despejados pela Muralha. Loucura. Jon Snow passou a mão queimada pelo cabelo e se perguntou mais uma vez o que estava fazendo. Uma vez que o portão fosse aberto, não seria possível voltar atrás. Deveria ter sido o Velho Urso a negociar com Tormund. Deveria ter sido Jaremy Rykker, ou Qhorin Meia-Mão, ou Denys Mallister, ou outro homem experiente. Deveria ter sido meu tio. Mas era tarde demais para tais receios. Cada escolha tinha seus riscos, cada risco, suas consequências. Jogaria o jogo até o final.
Levantou-se e vestiu-se na escuridão, enquanto o corvo de Mormont reclamava pelo quarto. Grão, a ave dizia, e Rei e Snow, Jon Snow, Jon Snow. Aquilo era estranho. A ave nunca dissera seu nome completo antes, pelo que Jon se lembrava.
Quebrou o jejum na adega, com seus oficiais. Pão frito, ovos fritos, chouriços e mingau de cevada formavam a refeição, empurrados para baixo com uma rala cerveja amarela. Enquanto comiam, repassavam os preparativos mais uma vez.
- Está tudo pronto - Bowen Marsh assegurou. - Se os selvagens mantiverem os termos do acordo, tudo vai correr como você ordenou.
E, se não, pode acabar em sangue e carnificina.
- Lembrem-se - Jon falou - o povo de Tormund está faminto, com frio e com medo. Alguns deles nos odeiam tanto quanto alguns de vocês os odeiam. Estamos dançando em gelo fino aqui, eles e nós. Uma rachadura e todos nos afogaremos. Se sangue for derramado hoje, é melhor que não seja um dos nossos quem deu o primeiro golpe, ou eu juro pelos deuses antigos e pelos novos que terei a cabeça do homem que começar isso.
Todos responderam com sim, com acenos de cabeças e murmurando palavras como Ao seu comando, Será feito e Sim, meu senhor. E, um por um, eles se levantaram, afivelaram os cinturões das espadas, vestiram seus quentes mantos negros e saíram para o frio.
O último a deixar a mesa foi Edd Doloroso Tollett, que chegara durante a noite com seis carroções de Monte Longo. Monte das Putas, os irmãos negros chamavam o forte agora. Edd fora enviado para reunir tantas esposas de lança quantas coubessem nos carroções e levá-las de volta para se unir a suas irmãs.
Jon observava-o enxugar uma gema mole com um pedaço de pão. Era estranhamente reconfortante ver o rosto melancólico de Edd novamente.
- Como está indo a restauração? - perguntou para seu velho intendente.
- Mais dez anos devem resolver - Tollett respondeu, em seu usual tom sombrio. - O lugar estava infestado de ratos quando chegamos. As esposas de lança mataram os malditinhos nojentos. Agora, o lugar está infestado de esposas de lança. Há dias em que sinto falta dos ratos.
- Como está sendo servir sob o comando de Emmett de Ferro? - Jon perguntou.
- Em geral, Maris Negra está servindo sob ele, meu senhor. Eu, eu tenho as mulas. Urtigas afirma que somos parentes. É verdade que temos a mesma cara comprida, mas não sou nem de perto tão teimoso. De qualquer modo, nunca conheci as mães delas, pela minha honra. - Terminou o último ovo e suspirou. - Eu realmente gosto de um bom ovo mole. Se for do agrado de meu senhor, não deixe os selvagens comerem todas as nossas galinhas.
No pátio, o céu oriental começava a clarear. Não havia um fiapo de nuvem à vista.
- Teremos um bom dia para isso, parece - Jon falou. - Um dia brilhante, quente e ensolarado.
- A Muralha vai chorar. E o inverno está quase sobre nós. Isso não é normal, 'nhor. Um mau sinal, se me perguntar.
Jon sorriu.
- E se estivesse nevando?
- Um sinal pior ainda.
- Que tipo de clima você prefere?
- O tipo que nos mantém dentro de casa - disse Edd Doloroso. - Se for do agrado de meu senhor, devo voltar para minhas mulas. Elas sentem minha falta quando saio. É mais do que posso dizer das esposas de lança.
Separaram-se ali, Tollett para o caminho oriental, onde seus carroções esperavam,Jon Snow para os estábulos. Cetim tinha seu cavalo selado e com freios, esperando por ele; um corcel cinza impetuoso, com uma crina tão negra e brilhante quanto tinta de meistre. Não era o tipo de montaria que Jon teria escolhido, mas, nessa manhã, o mais importante era impressionar e, para isso, o garanhão era a escolha perfeita.
Sua escolta estava esperando também. Jon nunca gostara de estar cercado por guardas, mas hoje parecia prudente manter alguns bons homens ao seu lado. Eles passavam uma imagem severa, com suas cotas de malha, seus meios-elmos de ferro e mantos negros, com lanças compridas nas mãos e espadas e adagas na cintura. Para isso, Jon havia deixado de lado todos os garotos inexperientes e os anciãos a seu comando, escolhendo oito homens em seu apogeu: Ty, Mully, Lew Mão Esquerda, Grande Liddle, Rory, Fulk, a Pulga, Garrett Lançaverde. E Couros, o novo mestre em armas de Castelo Negro, para mostrar ao povo livre que mesmo um homem que lutou por Mance na batalha da Muralha podia encontrar um lugar de honra na Patrulha da Noite.
Um rubor vermelho-escuro aparecera no oriente quando todos se reuniram no portão. As estrelas estão partindo, Jon viu. Da próxima vez que reaparecessem, podiam estar iluminando um mundo mudado para sempre. Alguns homens da rainha estavam observando do lado das brasas da fogueira noturna da Senhora Melisandre. Quando Jon olhou para a Torre do Rei, vislumbrou um clarão vermelho atrás de uma janela. Da Rainha Selyse, nenhum sinal.
Era hora.
- Abram os portões - Jon Snow falou suavemente.
- ABRAM OS PORTÕES! - o Grande Liddle rugiu. Sua voz era um trovão.
Duzentos metros acima, as sentinelas ouviram e levaram os berrantes de guerra aos lábios. O som ecoou, saindo da Muralha e seguindo pelo mundo. Ahooooooooooooooooooooooooooooo. Um sopro longo. Por mil anos, ou mais, aquele som significara patrulheiros voltando para casa. Hoje, significava algo mais. Hoje, chamava o povo livre para suas novas casas.
Em cada extremidade do comprido túnel, os portões se abriram e as barras de ferro foram destrancadas. A luz brilhava no gelo, rosa, dourada e púrpura. Edd Doloroso não estava errado. A Muralha logo estaria chorando. Que os deuses permitam que chore sozinha. Cetim liderou-os pelo gelo, iluminando o caminho através da escuridão do túnel com uma lanterna de ferro. Jon o seguiu, levando seu cavalo. Atrás dele, seus guardas. Depois vieram Bowen Marsh e seus intendentes, um bando deles, cada homem com uma tarefa designada. Em cima, Ulmer da Mata de Rei tinha a Muralha. Dois grupos dos melhores besteiros de Castelo Negro estavam com ele, prontos para responder a qualquer problema lá embaixo com uma chuva de flechas.
Ao norte da Muralha, Tormund Terror dos Gigantes estava esperando, montado em um pequeno garrano que parecia pouco robusto para suportar seu peso. Os dois filhos que lhe sobravam estavam com ele, o alto Toregg e o jovem Dryn, juntamente com três grupos de guerreiros.
- Har! - Tormund falou. - Guardas, é isso? Agora, onde está a confiança, corvo?
- Você trouxe mais homens do que eu.
- Então trouxe. Venha comigo, rapaz. Quero que meu povo veja você. Tenho milhares que nunca viram um senhor comandante, homens crescidos que aprenderam, quando meninos, que seus patrulheiros os comeriam se não se comportassem. Eles precisam ver sua cara limpa e comprida de rapaz em um velho manto negro. Precisam aprender que a Patrulha da Noite não é nada a ser temida.
Esta é uma lição que eu preferia que não aprendessem. Jon tirou a luva da mão queimada, colocou dois dedos na boca e assobiou. Fantasma veio correndo do portão. O cavalo de Tormund se assustou tanto que o selvagem quase caiu da sela.
- Nada a ser temido? - Jon perguntou. - Fantasma, fique.
- Você é um bastardo de coração negro, Lorde Corvo. - Tormund Soprador de Chifres levou o próprio berrante de guerra aos lábios. O som ecoou pelo gelo como um trovão, e o povo livre começou a andar em direção ao portão.
Do amanhecer até o anoitecer, Jon viu a passagem dos selvagens.
Os reféns foram primeiro; cem meninos com idade entre oito e dezesseis.
- Seu preço de sangue, Lorde Corvo - Tormund declarou. - Espero que o pranto das pobres mães não assombre seus sonhos à noite. - Alguns dos garotos foram levados ao portão pela mãe ou pelo pai, outros por irmãos mais velhos. A maioria foi sozinha. Meninos de catorze e quinze anos eram quase homens e não queriam ser vistos pendurados na saia de uma mulher.
Dois intendentes contavam os meninos enquanto eles entravam, anotando cada nome em longos rolos de pele de cordeiro. Um terceiro coletava os objetos de valor para o pedágio e os anotava também. Os meninos estavam indo para um lugar onde nenhum deles havia estado antes, para servir uma ordem que fora inimiga de seus parentes e amigos por milhares de anos, e, mesmo assim, Jon não viu lágrimas nem ouviu pranto das mães. Este é um povo do inverno, lembrou a si mesmo. Lágrimas congelam em seu rosto, lá de onde vieram. Nenhum dos reféns empacou ou tentou fugir quando chegou sua vez de entrar naquele túnel sombrio.
Quase todos os meninos eram franzinos, alguns passados do ponto da magreza, com canelas finas e braços como galhos. Não era mais do que Jon esperava. Fora isso, eram de todos os formatos, tamanhos e cores. Viu garotos altos e garotos baixos, meninos de cabelos castanhos, negros, loiro-mel e loiro-avermelhados e cabeças vermelhas beijadas pelo fogo, como Ygritte. Viu garotos com cicatrizes, meninos que mancavam, meninos marcados pela varíola. Muitos dos garotos mais velhos tinham penugens nas bochechas e bigodes ralos, mas um deles tinha uma barba tão grossa quanto a de Tormund. Alguns estavam vestidos com finas peles macias, alguns em couro fervido e partes avulsas de armaduras, muitos em lãs e peles de foca, alguns em trapos. Um estava nu. Muitos tinham armas; lanças afiadas, marretas de pedra, facas feitas de ossos, pedras ou vidro de dragão, clavas pontudas, redes de arrasto, e até mesmo uma ou outra velha espada enferrujada. Os meninos cornopés andavam joviais e descalços pelos montes de neve. Outros rapazes usavam patas de urso nas botas e andavam em cima dos mesmos montes, sem jamais afundar. Seis garotos chegaram montados em cavalos, dois em mulas. Um par de irmãos veio com uma cabra. O maior refém tinha um metro e noventa de altura, mas o rosto de bebê; o menor era um menino mirrado que afirmava ter nove anos, mas que não parecia ter mais do que seis.
Uma atenção especial foi dada para os filhos dos homens de renome. Tormund tomou o cuidado de apontá-los conforme eles passavam.
- O menino ali é filho de Soren Quebrescudo - disse de um rapaz alto. - Aquele de cabelo vermelho com ele é cria de Gerrick Sanguederrei. Vem da linhagem de Raymun Barbarruiva, pelo que ele afirma. Da linhagem do irmão caçula de Barbarruiva, se quer saber a verdade. - Dois garotos eram parecidos o suficiente para ser gêmeos, mas Tormund insistiu que eram primos, nascidos com um ano de diferença. - Um é filho de Harle, o Caçador, o outro de Harle, o Bonito, ambos com a mesma mulher. Os pais odeiam um ao outro. Se eu fosse você, mandava um para Atalaialeste e outro para Torre Sombria.
Outros reféns foram apontados como filhos de Howd Andarilho, de Brogg, de Devyn Peledefoca, de Kyleg dos Orelha de Madeira, de Morna Máscara Branca, de Grande Morsa ...
- Grande Morsa? De verdade?
- Eles têm nomes estranhos na Costa Gelada.
Três reféns eram filhos de Alfyn Mata-Corvos, um saqueador infame morto por Qhorin Meia-Mão. Ou assim Tormund insistiu.
- Eles não parecem irmãos - Jon observou.
- Meio-irmãos, nascidos de mães diferentes. O membro de Alfyn era uma coisa pequenina, ainda menor do que o seu, mas ele nunca teve vergonha quanto a onde enfiá-lo. Teve um filho em cada vila, aquele lá.
Sobre certo menino mirrado com cara de rato, Tormund disse:
- Aquele ali é filhote de Varamyr Seis-Peles. Você se lembra de Varamyr, Lorde Corvo?
Ele se lembrava.
- O troca-peles.
- Sim, ele era isso. Um tampinha cruel, aquele lá. Morto, provavelmente. Ninguém o viu desde a batalha.
Dois dos meninos eram meninas disfarçadas. Quando Jon as viu, mandou Rory e Grande Liddle trazê-las até ele. Uma veio humildemente, a outra, chutando e mordendo. Isso pode acabar mal.
- Esses dois têm pais famosos?
- Har! Essas coisas magrelas? Provavelmente, não. Escolhidos em sorteio.
- São meninas.
- São? - Tormund olhou de soslaio para as duas, de cima de sua sela. - Eu e Lorde Corvo fizemos uma aposta sobre qual de vocês tem o membro maior. Abaixem as calças para que possamos dar uma olhada.
Uma das garotas ficou vermelha. A outra encarou desafiadoramente.
- Nos deixe em paz, Tormund Fedor dos Gigantes. Nos deixe ir.
- Har! Você ganhou, corvo. Não tem um pau entre elas. A pequena tem colhões, no entanto. Uma esposa de lança em formação, essa. - Chamou seus próprios homens. - Encontrem algo feminino para elas, antes que Lorde Snow molhe o calção.
- Preciso de dois meninos para o lugar delas.
- Como é isso? - Tormund coçou a barba. - Um refém é um refém, me parece. Essa sua grande espada afiada pode arrancar a cabeça de uma menina tão fácil quanto a de um menino. Um pai ama suas filhas também. Bem, a maioria dos pais.
Não são os pais delas que me preocupam.
- Mance alguma vez cantou Bravo Danny Flint?
- Não que eu me lembre. Quem era ele?
- Uma garota que se vestiu de menino para tomar o negro. Sua canção é triste e bonita. O que aconteceu com ela não foi. - Em algumas versões da canção, seu fantasma ainda caminhava pelo Fortenoite. - Enviarei as garotas para Monte Longo. - Os únicos homens lá eram Emmett de Ferro e Edd Doloroso, ambos de sua confiança. Isso não era algo que poderia dizer de todos os seus irmãos.
O selvagem entendeu.
- Aves nojentas, seus corvos. - Cuspiu. - Mais dois meninos, então. Você os terá.
Quando noventa e nove reféns haviam passado por eles para atravessar por baixo da Muralha, Tormund Terror dos Gigantes apresentou o último.
- Meu filho, Dryn. Garanta que ele seja bem cuidado, corvo, ou cozinharei seu fígado negro e o comerei.
Jon fez uma inspeção rigorosa no menino. A idade de Bran, ou a idade que teria se Theon não o tivesse matado. Dryn não tinha nada da doçura de Bran, no entanto. Era um rapaz robusto, com pernas curtas, braços grossos e um largo rosto vermelho; uma versão em miniatura do pai, com um tufo de cabelo castanho-escuro.
- Ele servirá como meu próprio pajem - Jon prometeu a Tormund.
- Ouviu isso, Dryn? Não vai ficar se achando o tal. - Para Jon, disse: - Ele precisará de uma boa sova de tempos em tempos. Mas tome cuidado com os dentes. Ele morde. - Pegou seu berrante novamente, ergueu-o e deu outro sopro.
Dessa vez, foram os guerreiros que se adiantaram. E não era apenas uma centena deles. Quinhentos, Jon julgou, enquanto saíam debaixo das árvores, talvez mais de mil. Um em cada dez vinha montado, mas todos vinham com armas. Carregavam nas costas escudos de vime redondos cobertos com peles e couro cozido, mostrando imagens pintadas de cobras e aranhas, cabeças decepadas, martelos ensanguentados, crânios quebrados e demônios. Alguns poucos vestiam aço roubado, partes de armaduras amassadas saqueadas de cadáveres de patrulheiros caídos. Outros usavam armaduras de ossos, como Camisa de Chocalho. Todos vestiam peles e couros.
Havia esposas de lança com eles, com longos cabelos. Jon não podia olhar para elas sem se lembrar de Ygritte; o brilho do fogo nos cabelos, o olhar em seu rosto quando se despiu para ele na gruta, o som de sua voz.
- Você não sabe nada, Jon Snow - ela lhe dissera, uma centena de vezes.
É tão verdade agora quanto era então.
- Você devia mandar as mulheres primeiro - disse para Tormund. - As mães e as donzelas.
O selvagem lhe deu um olhar astuto.
- Sim, eu devia. E seus corvos podiam decidir fechar o portão. Com alguns guerreiros do outro lado, bem, desse jeito o portão fica aberto, não é? - Sorriu. - Comprei seu maldito cavalo, Jon Snow. Não quer dizer que não podemos contar os dentes dele. Agora não fique pensando que eu e os meus não confiamos em você. Confiamos em você tanto quanto confia em nós. - Bufou. - Você queria guerreiros, não é? Bem, aí estão eles. Cada um vale seis dos seus corvos negros.
Jon teve que sorrir.
- Desde que guardem essas armas para nosso inimigo comum, estou satisfeito.
- Dei minha palavra nisso, não dei? A palavra de Tormund Terror dos Gigantes. Forte como ferro. - Ele se virou e cuspiu.
Entre os guerreiros estavam os pais de muitos reféns de Jon. Alguns o encaravam com frios olhos mortos conforme passavam, alisando o punho da espada. Outros sorriam para ele como para um parente havia muito perdido, embora alguns desses sorrisos desconcertassem Jon Snow mais do que qualquer olhar penetrante. Nenhum se ajoelhou, mas muitos fizeram juramentos.
- O que Tormund jurou, eu juro - declarou Brogg, um homem de cabelo negro e poucas palavras.
Soren Quebrescudo inclinou a cabeça alguns centímetros e rosnou:
- O machado de Soren é seu, Jon Snow, se alguma vez; precisar dele.
O barba-ruiva Gerrick Sanguederrei trouxe três filhas:
- Serão belas esposas, e darão a seus maridos filhos fortes de sangue real - gabou-se. - Como seu pai, elas descendem de Raymun Barbarruiva, que foi Rei-para-Lá-da-Muralha.
Sangue significava pouco e ainda menos entre o povo livre, Jon sabia. Ygritte lhe ensinara aquilo. As filhas de Gerrick partilhavam o mesmo cabelo vermelho-fogo dela, embora o de Ygritte fosse cheio de cachos e os das meninas fossem longos e lisos. Beijadas pelo fogo.
- Três princesas, cada uma mais adorável que a outra - disse ao pai delas. - Farei com que sejam apresentadas à rainha. - Selyse Baratheon se daria melhor com essas três do que com Val, ele suspeitava; elas eram jovens, e consideravelmente mais amedrontadas. Doces o suficiente para se olhar para elas, embora o pai pareça um tolo.
Howd Andarilho fez; o juramento sobre sua espada, o pedaço de ferro mais cortado e picotado que Jon já vira. Devyn Peledefoca o presenteou com um chapéu de pele de foca, Harle, o Caçador, com um colar de garras de urso. A feiticeira guerreira Morna tirou sua máscara de represeiro o tempo suficiente para beijar a mão enluvada de Jon e jurar ser seu homem ou sua mulher, o que ele preferisse. E assim foi, um e mais outro e outro.
Conforme passava, cada guerreiro tirava seus tesouros e os jogava em uma das carroças que os intendentes haviam colocado antes dos portões. Pingentes de âmbar, tores de ouro, adagas incrustadas de pedras, broches de prata com pedras preciosas, braceletes, anéis, taças de nielo, cálices de ouro, berrantes de guerra e cornos de beber, um pente de jade verde, um colar de pérolas de água doce... todos entregues e anotados por Bowen Marsh. Um homem entregou uma camisa de escamas de prata que certamente fora feita para algum grande senhor. Outro apresentou uma espada quebrada com três safiras no cabo.
E havia coisas mais estranhas: um mamute de brinquedo feito de pelo de mamute verdadeiro, um falo de marfim, um elmo feito com a cabeça de um unicórnio, incluindo o chifre. Quanta comida essas coisas comprariam nas Cidades Livres, Jon Snow não era capaz de dizer.
Depois dos saqueadores vieram os homens da Costa Gelada. Jon assistiu a uma dúzia de suas grandes carruagens de ossos passar por ele, uma a uma, rangendo como Camisa de Chocalho. Metade ainda rolava como antes; outras haviam trocado suas rodas por esquis. Essas deslizavam pelos montes de neve suavemente, enquanto as com rodas encalhavam e afundavam.
Os cães que puxavam as carroças eram bestas assustadoras, tão grandes quanto lobos gigantes. As mulheres vestiam peles de foca, algumas com bebês nos peitos. Crianças mais velhas se arrastavam atrás da mãe e olhavam para Jon com olhos tão escuros e duros quanto as pedras que seguravam. Alguns dos homens usavam galhadas no chapéu, e outros, presas de morsas. Os dois tipos não amavam um ao outro, ele logo percebeu. Algumas renas magras vieram atrás, com os grandes cães agarrando os calcanhares dos retardatários.
- Tenha cuidado com este grupo, Jon Snow - Tormund o avisou. - Um povo primitivo. Os homens são maus, as mulheres, piores. - Pegou um odre de sua sela e o ofereceu para Jon. - Aqui. Isso os fará parecer menos temíveis, talvez. E aquecerá você durante a noite. Não, aceite, é seu agora. Tome um bom gole.
Dentro havia um hidromel tão forte que fez os olhos de Jon se encherem de lágrimas e enviou ondas de fogo serpenteando por seu peito. Tomou um bom gole.
- Você é um bom homem, Tormund Bebê dos Gigantes. Para um selvagem.
- Melhor do que a maioria, talvez. Não tão bom quanto alguns.
Um após o outro, os selvagens vieram, enquanto o sol rastejava pelo brilhante céu azul. Logo depois do meio-dia, o movimento parou quando um carro de boi ficou entalado em uma curva dentro do túnel. Jon Snow entrou para dar uma olhada. O carro estava bem preso. Os homens que vinham atrás ameaçavam desmontar o carro e matar o boi onde ele estava, enquanto o condutor e seus parentes juravam matar quem tentasse. Com a ajuda de Tormund e seu filho Toregg, Jon conseguiu evitar que os selvagens chegassem às vias de fato, mas levou quase uma hora até que o caminho fosse aberto novamente.
- Você precisa de um portão maior - Tormund reclamou para Jon, com um olhar azedo para o céu, onde algumas nuvens haviam aparecido. - Este maldito caminho é muito lento. É como chupar o Guadeleite com um junco. Har. Queria ter o Berrante de Joramun. Daria uma boa soprada nele e nós escalaríamos os escombros.
- Melisandre queimou o Berrante de Joramun.
- Queimou? - Tormund deu um tapa na coxa e assobiou. - Ela queimou aquele belo berrante, sim. Um maldito pecado, eu digo. Tinha mais de mil anos. Nós o encontramos no túmulo de um gigante, e nenhum de nós tinha visto um berrante tão grande. Deve ter sido por isso que Mance teve a ideia de falar para você que era de Joramun. Ele queria que os corvos pensassem que ele tinha o poder de soprar sua maldita Muralha para baixo. Mas nunca encontramos o verdadeiro berrante, nem com tudo o que cavamos. Se tivéssemos, cada ajoelhador nos seus Sete Reinos teria pedras de gelo para esfriar seu vinho por todo o verão.
Jon se virou em sua sela, franzindo o cenho. E Joramun soprou o Berrante do Inverno e acordou gigantes da terra. Aquele berrante enorme com suas faixas de ouro velho e inscrições de runas antigas ... teria Mance Rayder mentido para ele, ou era Tormund quem estava mentindo agora? Se o berrante de Mance era uma farsa, onde está o verdadeiro?
Durante a tarde, o sol se foi e o dia se tornou cinza e tempestuoso.
- Um céu de neve - Tormund anunciou gravemente.
Outros pareciam ter visto o mesmo presságio naquelas nuvens brancas monótonas. Aparentemente aquilo os apressava. Os ânimos acirrados deram início a uma briga. Um homem estava esfaqueando outro que tentou passar na frente dos que estavam na fila havia horas. Toregg arrancou a faca do atacante, arrastou os dois homens à força e os levou de volta para o acampamento dos selvagens, para começarem novamente.
- Tormund - Jon falou, enquanto observavam quatro velhas puxarem uma carroça cheia de crianças pelo portão - fale-me sobre nosso inimigo. Eu gostaria de saber tudo o que há para se saber sobre os Outros.
O selvagem esfregou a boca.
- Não aqui - murmurou - não neste lado da sua Muralha. - O velho olhou de relance, inquieto, em direção às árvores em seus mantos brancos. - Eles nunca estão longe, você sabe. Não virão durante o dia, não enquanto este velho sol estiver brilhando, mas não pense que isso significa que se foram. Sombras nunca vão embora. Pode ser que você não as veja, mas elas sempre estão agarradas aos seus calcanhares.
- Eles o incomodaram no seu caminho para o sul:
- Nunca atacaram em bloco, se é o que quer dizer, mas estavam conosco do mesmo jeito, comendo pelas beiradas. Perdemos mais batedores do que gosto de pensar, e valia sua vida ficar para trás ou seguir adiante. A cada noite cercávamos nossos acampamentos com fogo. Eles não gostam muito de fogo, sem dúvida alguma. Quando a neve vinha, no entanto ... neve, granizo e geada, é muito difícil encontrar lã seca ou manter seus gravetos acesos, e o frio ... algumas noites nossos fogos pareciam apenas tremeluzir e morrer. Em noites como essa, você sempre encontra algum morto quando vem a manhã. A menos que eles encontrem você antes. Na noite em que Torwynd ... meu menino, ele ... - Tormund virou o rosto.
- Eu sei - disse Jon Snow.
Tormund virou-se de volta.
- Você não sabe nada. Você matou um homem morto, sim, eu ouvi dizer. Mance matou uma centena. Um homem pode lutar contra os mortos, mas quando os mestres deles vêm, quando a névoa branca se levanta ... como se luta contra uma névoa, corvo? Sombras com dentes ... o ar tão frio que dói respirar, como uma faca dentro do seu peito ... você não sabe, você não pode saber... sua espada pode cortar o frio?
Veremos, Jon pensou, lembrando-se das coisas que Sam lhe contara, as coisas que encontrara nos velhos livros. Garralonga havia sido forjada nos fogos da antiga Valíria, forjada em chama de dragão e feita com feitiços. Aço de dragão, Sam chamou. Mais forte do que qualquer aço comum, mais leve, mais resistente, mais afiado ... Mas palavras em um livro eram uma coisa. O teste verdadeiro viria em batalha.
- Você não está errado - Jon falou. - Eu não sei. E, se os deuses forem bons, nunca saberei.
- Os deuses raramente são bons, Jon Snow. - Tormund acenou com a cabeça em direção ao céu. - As nuvens estão aumentando. Já está ficando mais escuro, mais frio. Sua Muralha não chora mais. Olhe. - Ele se virou e chamou seu filho, Toregg. - Cavalgue até o acampamento e faça-os se mexerem. Os doentes, os fracos, os preguiçosos e os covardes, coloquem todos os malditos em pé. Coloque fogo nas malditas tendas, se for necessário. O portão deve se fechar quando a noite cair. Qualquer homem que não tenha atravessado a Muralha até então deve rezar para que os Outros o alcancem antes de mim. Ouviu?
- Ouvi. - Toregg apertou os calcanhares no cavalo e galopou para o fim da fila.
Um após o outro, os selvagens vieram. O dia estava ficando mais escuro, bem como Tormund dissera. Nuvens cobriam o céu de horizonte a horizonte, e o calor fugia. Havia mais empurra-empurra no portão, com homens, cabras e bois se acotovelando para se manter no caminho. É mais do que impaciência, Jon percebeu. Estão com medo. Guerreiros, esposas de lança, saqueadores, estão com medo destas florestas, das sombras se movendo pelas árvores. Querem colocar a Muralha entre eles antes que a noite caia.
Um floco de neve dançou no ar. Então outro. Dance comigo, Jon Snow, ele pensou. Você dançará comigo em breve.
Um após o outro, os selvagens vieram. Alguns se moviam mais rápido agora, acelerando enquanto atravessavam o campo de batalha. Outros - os velhos, os jovens, os fracos - mal podiam se mover. Essa manhã, o campo estivera coberto com um grosso cobertor de neve velha, sua crosta branca brilhando no sol. Agora, o campo estava marrom, negro e viscoso. A passagem do povo livre transformara o solo em lama e sujeira: rodas de madeira, cascos de cavalo, esquis de ossos, de chifres e de ferro, patas de porcos, botas pesadas, pegadas de vacas e novilhos, os pés pretos descalços dos cornopés, tudo isso deixara marcas. O chão mole atrasava ainda mais a fila.
- Você precisa de um portão maior - Tormund reclamou novamente.
No final da tarde, a neve caía constante, mas o rio de selvagens havia se reduzido a um córrego. Colunas de fumaça subiam das árvores onde estava o acampamento deles.
- Toregg - Tormund explicou. - Queimando os mortos. Sempre tem quem vai dormir e não acorda. Você os encontra em suas tendas, quando eles têm tendas, enrolados e congelados. Toregg sabe o que fazer.
O córrego não era mais que um fio de água quando Toregg emergiu da floresta. Com ele vinha uma dúzia de cavaleiros montados e armados com lanças e espadas.
- Minha retaguarda - Tormund disse, com um sorriso meio banguela. - Seus corvos têm patrulheiros. Eu também. Deixei eles no acampamento, caso fôssemos atacados antes de todos partirem.
- Seus melhores homens.
- Ou meus piores. Cada um deles matou um corvo.
Entre os cavaleiros, vinha um homem a pé, com um grande animal trotando em seus calcanhares. Um javali, Jon viu. Um javali monstruoso. Com duas vezes o tamanho de Fantasma, a criatura era coberta com um grosso pelo negro, com presas tão compridas quanto o braço de um homem. Jon nunca vira um javali tão imenso ou tão feio. O homem ao seu lado não era bonito tampouco; corpulento e com sobrancelhas negras, tinha nariz achatado, pesadas papadas escuras pela barba por fazer e olhos pequenos e juntos.
- Borroq. - Tormund virou a cabeça e cuspiu.
- Um troca-peles. - Isso não era uma pergunta. De algum modo, ele sabia.
Fantasma virou a cabeça. A neve que caía havia mascarado o cheiro do javali, mas agora o lobo branco o farejara. Foi para a frente de Jon, os dentes arreganhados em um rosnado silencioso.
- Não! - Jon vociferou. - Fantasma, quieto. Fique. Fique!
- Javalis e lobos - disse Tormund. - Melhor manter esta sua besta trancada esta noite. Vou me assegurar que Borroq faça o mesmo com seu porco. - Olhou de relance para o céu escurecendo. - São os últimos, e já não é sem tempo. Vai nevar toda a noite, sinto isso. Já é hora de eu dar uma olhada do outro lado de todo esse gelo.
- Vá em frente - Jon falou para ele. - Pretendo ser o último a atravessar o gelo. Me juntarei a você no banquete.
- Banquete? Har! Agora, essa é uma palavra que gosto de ouvir. - O selvagem virou seu garrano em direção à Muralha e deu um tapa no traseiro do animal. Toregg e os cavaleiros seguiram, desmontando no portão para atravessar com os cavalos. Bowen Marsh ficara tempo o suficiente para supervisionar enquanto seus intendentes empurravam as últimas carroças pelo túnel. Apenas Jon Snow e seus guardas ficaram.
O troca-peles parou a dez metros. Seu monstro dava patadas na lama, fungando. Uma leve camada de neve cobria as costas negras e curvadas do javali. Ele deu uma fungada e baixou a cabeça, e, por meio segundo, Jon pensou que estivesse prestes a atacar. Os homens que o ladeavam baixaram as lanças.
- Irmão - disse Borroq.
- É melhor você ir. Estamos prestes a fechar o portão.
- Faça isso - Borroq falou. - Feche bem e apertado. Eles estão vindo, corvo. - Sorriu o sorriso mais feio que Jon já vira e seguiu para o portão. O javali seguiu atrás dele. A neve que caía cobriu seus rastros.
- Está feito, então - Rory comentou, quando partiram.
Não, pensou Jon Snow, isso apenas começou.
Bowen Marsh estava esperando por ele ao sul da Muralha, com uma tabela cheia de números.
- Três mil, cento e dezenove selvagens passaram pelo portão hoje - o Senhor Intendente comunicou. - Sessenta dos nossos reféns foram enviados para Atalaialeste e para Torre Sombria depois que foram alimentados. Edd Tollett levou seis carroções de mulheres para Monte Longo. O restante permanece conosco.
- Não por muito tempo - Jon prometeu a ele. - Tormund pretende liderar seu próprio povo para Escudo de Carvalho em um dia ou dois. Os demais seguirão, assim que resolvermos onde vamos colocá-los.
- Como queira, Lorde Snow. - As palavras eram duras. O tom sugeria que Bowen Marsh sabia onde ele os colocaria.
O castelo para o qual Jon retornou era muito diferente daquele que tinha deixado naquela manhã. Durante todo o tempo que o conhecera, Castelo Negro fora um lugar de silêncios e sombras, onde homens de negro de uma pequena companhia se moviam como fantasmas entre as ruínas de uma fortaleza que uma vez hospedara dez vezes seu número. Tudo aquilo mudara. Luzes agora brilhavam através de janelas nas quais Jon Snow nunca vira luzes brilhando antes. Estranhas vozes ecoavam pelos pátios, e o povo livre ia e vinha pelos caminhos congelados que por anos conhecera apenas as botas negras dos corvos. Do lado de fora das barracas do Velho Flint, cruzou com uma dúzia de homens jogando neve uns nos outros. Brincando, Jon pensou, atônito, homens feitos brincando como crianças, atirando bolas de neve do jeito que Bran e Arya fizeram um dia, e Robb e eu antes deles.
O velho arsenal de Donal Noye, no entanto, ainda estava escuro e silencioso, e os aposentos de Jon atrás da velha forja ainda estavam mais escuros. Mas nem bem tinha tirado o manto quando Dannel colocou a cabeça pela porta para anunciar que Clydas havia trazido uma mensagem.
- Mande-o entrar. - Jon acendeu uma vela fina com a brasa de seu braseiro, e três outras velas com ela.
Clydas entrou, rosado e piscando, o pergaminho agarrado em uma mão macia.
- Perdoe-me, Senhor Comandante. Sei que deve estar cansado, mas imaginei que iria querer ver isso imediatamente.
- Fez bem. - Jon leu:
Em Durolar, com seis navios. Mares selvagens. Melro perdido com toda a tripulação, dois navios lisenos encalhados em Skane, Garra fazendo água. Muito ruim aqui. Selvagens comendo seus próprios mortos. Coisas mortas nos bosques. Capitães bravosis levarão apenas mulheres e crianças em seus navios. A feiticeira nos chama de traficantes de escravos. Tentativa de tomar Corvo da Tormenta derrotada, seis da tripulação mortos, muitos selvagens. Oito corvos partiram. Coisas mortas na água. Enviar ajuda por terra, mares devastados por tempestades. Do Garra, pela mão de Meistre Harmune.
Cotter Pyke fizera sua marca com raiva embaixo.
- É grave, meu senhor? - perguntou Clydas.
- Grave o suficiente. - Coisas mortas nos bosques. Coisas mortas na água. Seis navios sobraram, dos onze que zarparam. Jon Snow enrolou o pergaminho, franzindo o cenho. A noite cai, pensou, e, agora, minha guerra começa. 

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