quinta-feira, 3 de outubro de 2013

61 - O GRIFO RENASCIDO


Ele enviou os arqueiros primeiro.
Balaq Negro comandava mil arcos. Em sua juventude, Jon Connington havia partilhado o desdém da maioria dos cavaleiros pelos arqueiros, mas ficara mais esperto no exílio. À sua maneira, a flecha era tão mortal quanto a espada, então havia insistido, para a longa viagem, que Harry Sem-Teto Strickland dividisse o comando de Balaq entre dez companhias de cem homens e colocasse cada uma delas em um navio diferente.
Seis desses navios haviam permanecido juntos o suficiente para desembarcar seus passageiros nas costas do Cabo da Fúria (os outros quatro se atrasaram mas chegariam em algum momento, os volantinos asseguraram para eles, mas Griff achava que era mais provável que estivessem perdidos, ou encalhados em algum lugar), o que deixou a companhia com seiscentos arqueiros. Para isso, duzentos se mostraram suficientes.
- Eles enviarão corvos - Connington dissera para Balaq Negro. - Observe a torre do meistre. Aqui. - Apontou no mapa que havia desenhado no chão do acampamento. - Derrube cada ave que deixar o castelo.
- Faremos isso - respondeu o ilhéu do Verão.
Um terço dos homens de Balaq usava besta, outro terço o arco curvado do leste. Melhor do que este era o grande arco longo de teixo usado pelos arqueiros de sangue westerosi, e melhores do que todos juntos era o excelente arco de amagodouro preferido pelo próprio Balaq Negro e seus cinquenta ilhéus do Verão. Apenas um arco feito de osso de dragão podia superar um de amagodouro. Qualquer que fosse o arco que carregavam, todos os homens de Balaq eram experientes veteranos de olhos afiados, que haviam provado seu valor em uma centena de batalhas, ataques e escaramuças. Provaram novamente em Poleiro do Grifo.
O castelo erguia-se na costa do Cabo da Fúria, sobre um rochedo elevado de pedra vermelho-escura cercada em três lados pelas águas agitadas da Baía dos Náufragos. Sua única entrada era defendida por uma guarita, atrás da qual ficava a longa serra nua que os Connington chamavam de Garganta do Grifo. Entrar à força pela Garganta podia ser um negócio sangrento, uma vez que a serra expunha os atacantes às lanças, pedras e flechas dos defensores posicionados em duas torres redondas que flanqueavam os portões principais do castelo. Uma vez que alcançassem esses portões, os homens dentro deles podiam despejar óleo fervente nos invasores. Griff esperava perder uma centena de homens, talvez mais.
Perderam quatro.
A floresta havia invadido o campo além da guarita, então Franklyn Flowers fora capaz de usar as folhagens para se esconder e liderar seus homens até quase vinte metros dos portões antes de emergir das árvores com o aríete que haviam fabricado no acampamento. A colisão de madeira contra madeira trouxe dois homens para as ameias; os arqueiros de Balaq Negro os abateram antes que pudessem esfregar o sono de seus olhos. O portão continuava fechado, mas não trancado; houve um segundo golpe, e os homens de Sor Franklyn estavam na metade da Garganta antes que o alarme de uma trombeta de guerra soasse do castelo.
O primeiro corvo levantou voo enquanto ganchos com cordas ainda voavam por sobre a muralha, o segundo, alguns momentos depois. Nenhum dos dois pássaros voou cem metros antes que uma flecha o derrubasse. Uma sentinela do lado de dentro virou um balde de óleo no primeiro homem a alcançar os portões, mas como não teve tempo de aquecer o líquido, o balde causou mais danos do que seu conteúdo. Espadas logo soavam em meia dúzia de lugares ao longo das ameias. Os homens da Companhia Dourada escalavam os merlões e corriam pelos adarves gritando “Um grifo! Um grifo!” O antigo grito de guerra da Casa Connington, o que devia deixar os defensores ainda mais confusos.
Acabou em minutos. Griff seguiu pela Garganta em um corcel branco, ao lado de Harry Sem-Teto Strickland. Conforme se aproximavam do castelo, viu um terceiro corvo bater as asas da torre do meistre, apenas para ser abatido pelo próprio Balaq Negro.
- Nada mais de mensagens - Connington disse para Sor Franklyn Flowers no pátio. A próxima coisa a sair voando da torre do meistre foi o próprio meistre. Do jeito que abanava os braços, podia ter sido confundido com outra ave.
Foi o fim de toda a resistência. As sentinelas que sobraram renderam suas armas. Tão rápido assim, Poleiro do Grifo era seu novamente, e Jon Connington era mais uma vez um senhor.
- Sor Franklin - disse - percorra a fortaleza e as cozinhas e reúna todos que conseguir encontrar. Malo, faça o mesmo na torre do meistre e no arsenal. Sor Brendel, os estábulos, septo e quartéis. Tragam todos para o pátio e tentem não matar ninguém que não insista em morrer. Queremos conquistar as Terras da Tempestade, e não faremos isso com um abate. Assegure-se de olhar sob o altar da Mãe, há uma escada escondida que leva a uma câmara secreta. E outra sob a torre noroeste que vai direto para o mar. Ninguém deve escapar.
- Não irão, meu senhor - prometeu Franklyn Flowers.
Connington os observou saírem correndo, então acenou para o Meiomeistre.
- Haldon, encarregue-se do viveiro. Terei mensagens para enviar esta noite.
- Esperemos que tenham deixado alguns corvos para nós.
Mesmo Harry Sem-Teto ficou impressionado com a rapidez da vitória.
- Nunca pensei que seria tão fácil - o capitão-general falou, enquanto entravam no grande salão para olhar a entalhada e dourada Cadeira do Grifo, onde cinquenta gerações de Connington haviam sentado e governado.
- Ficará mais difícil. Até agora, nós os pegamos desprevenidos. Isso não durará para sempre, mesmo se Balaq Negro derrubar cada corvo do reino.
Strickland estudou as tapeçarias desbotadas nas paredes, as janelas em arco com painéis de vidro vermelho e branco em forma de uma miríade de diamantes, as prateleiras de lanças, espadas e martelos de guerra.
- Deixe-os vir. Este lugar pode se manter contra vinte vezes o nosso número, assim que estivermos com provisões suficientes. E você disse que há um caminho para entrar e sair direto no mar?
- Lá embaixo. Uma enseada escondida embaixo do rochedo, que aparece apenas quando a maré está baixa. - Mas Connington não tinha nenhuma intenção de “deixá-los vir”. Poleiro do Grifo era fortificado mas pequeno, e, enquanto estivessem sentados ali, poderiam ser vistos como pequenos também. Mas havia outro castelo por perto, muito maior e inexpugnável. Tome-o, e o reino se abalará. - Deve me desculpar, capitão-general. O senhor meu pai está enterrado sob o septo, e já faz muito tempo desde a última vez que rezei para ele.
- É claro, meu senhor.
Mesmo depois que eles partiram, Jon Connington não foi para o septo. Em vez disso, seus passos o levaram ao topo da torre oriental, a mais alta de Poleiro do Grifo. Enquanto subia, lembrava-se de ascensões passadas - uma centena com o senhor seu pai, que gostava de ficar parado ali, olhando os bosques, o rochedo e o mar, e saber que tudo aquilo pertencia à Casa Connington, e uma (apenas uma!) com Rhaegar Targaryen. O Príncipe Rhaegar estava voltando de Dorne, e ele e sua comitiva haviam permanecido ali por uma quinzena. Ele era tão jovem, então, e eu era mais jovem ainda. Meninos, nós dois. No banquete de boas-vindas, o príncipe pegara sua harpa de cordas prateadas e tocara para eles. Uma canção de amor e perdição, Jon Connington se lembrou, e toda mulher no salão chorava quando ele abaixou a harpa. Não os homens, é claro. Particularmente não seu pai, cujo único amor era a terra. Lorde Armond Connington passou a noite toda tentando conquistar o príncipe para seu lado na disputa com Lorde Morrigen.
A porta do telhado da torre estava tão emperrada que era claro que ninguém a abria havia anos. Ele teve que colocar o ombro para forçá-la. Mas, quando Jon Connington andou até as altas ameias, a visão era tão inebriante quanto se lembrava: o rochedo, com suas pedras escavadas pelo vento e picos irregulares, o mar, embaixo, rugindo e se agitando aos pés do castelo como um animal sem descanso, quilômetros sem fim de céu e nuvens, o bosque com suas cores outonais.
- As terras de seu pai são bonitas - o Príncipe Rhaegar dissera, parado bem ali onde Jon estava agora. E o garoto que ele fora respondera:
- Um dia serão minhas. - Como se isso pudesse impressionar um príncipe que era herdeiro do reino inteiro, da Árvore até a Muralha.
Poleiro do Grifo havia sido dele, finalmente, mesmo que por alguns poucos anos. Desse lugar, Jon Connington havia governado amplas terras que se estendiam por muitos quilômetros a oeste, norte e sul, do mesmo jeito que seu pai e o pai de seu pai antes dele. Mas seu pai e o pai de seu pai não haviam perdido suas terras. Ele, sim. Eu me levantei alto demais, amei demais, fui ousado demais. Tentei agarrar uma estrela, exagerei e caí.
Depois da Batalha dos Sinos, quando Aerys Targaryen tirara seus títulos e o mandara para o exílio em um ataque louco de ingratidão e suspeita, as terras e o senhorio haviam permanecido com a Casa Connington, passando para seu primo, Sor Ronald, o homem que Jon tornara seu castelão quando partiu para Porto Real para servir ao Príncipe Rhaegar. Robert Baratheon completara a destruição dos grifos depois da guerra. O primo Ronald tivera permissão para manter seu castelo e seu assento, mas perdeu a senhoria, tornando-se meramente o Cavaleiro do Poleiro do Grifo, e nove décimos de suas terras foram tiradas dele e divididas entre senhores vizinhos que haviam apoiado a reivindicação de Robert.
Ronald Connington morrera havia alguns anos. O atual Cavaleiro do Poleiro do Grifo era seu filho Ronnet, que estava fora, na guerra no Tridente. Fora melhor assim. Na experiência de Jon Connington, homens podiam lutar por coisas que sentiam serem deles, mesmo coisas que ganharam por roubo. Não apreciava a ideia de celebrar seu retorno matando um de seus próprios parentes. O pai de Ronnet Vermelho fora rápido em levar vantagem na queda do senhor seu primo, era verdade, mas o filho ainda era uma criança nessa época. Jon Connington nem mesmo odiava o falecido Sor Ronald tanto quanto deveria. A culpa fora dele.
Ele perdera tudo no Septo de Pedra, com sua arrogância.
Robert Baratheon se escondera em algum lugar da vila, ferido e sozinho. Jon Connington soubera disso, e também sabia que a cabeça de Robert na ponta de uma lança colocaria um fim à rebelião de uma vez por todas. Ele era jovem e cheio de orgulho. Por que não? O Rei Aerys o nomeara Mão e lhe dera um exército, e ele pretendia se provar digno daquela confiança, do amor de Rhaegar. Mataria o lorde rebelde com suas mãos e conquistaria um lugar em todas as histórias dos Sete Reinos.
Então seguira para o Septo de Pedra, fechara a vila e começara a busca. Seus cavaleiros foram de casa em casa, derrubando cada porta, entrando em cada adega. Até enviara homens para rastejar nos esgotos, mas, de algum modo, Robert ainda lhe escapava. Os moradores da cidade o estavam escondendo. Eles o mudavam de um local secreto para outro, sempre um passo adiante dos homens do rei. A vila inteira era um ninho de traidores. No final, esconderam o usurpador em um bordel. Que tipo de rei era esse que se escondia atrás da saia das mulheres? No entanto, enquanto a procura se arrastava, Eddard Stark e Hoster Tully caíram sobre a vila com um exército rebelde. Sinos e batalha se seguiram, e Robert saíra do bordel com uma lâmina na mão e quase matara Jon nos degraus do velho septo que dava nome ao local.
Durante os anos seguintes, Jon Connington dissera a si mesmo que não era culpado, que havia feito tudo o que um homem podia fazer. Seus soldados procuraram em cada buraco e casebre, ele oferecera perdão e recompensas, pegara reféns, pendurara-os em gaiolas de corvos e jurara que nenhum deles teria comida ou bebida até que Robert fosse entregue a ele. Tudo em vão.
- Nem o próprio Tywin Lannister teria feito mais - insistira, uma noite, para Coração Negro, durante seu primeiro ano no exílio.
- É aí que você se engana - Myles Toyne respondera. - Lorde Tywin não teria se incomodado com uma busca. Teria queimado a vila e toda criatura viva nela. Homens e meninos, bebês de peito, cavaleiros nobres e septões santos, porcos e putas, ratos e rebeldes, teria queimado todos. Quando o fogo se apagasse e restassem apenas cinzas, ele teria enviado seus homens para encontrar os ossos de Robert Baratheon. Mais tarde, quando Stark e Tully aparecessem com suas tropas, teria oferecido perdão para os dois, e eles teriam aceitado e voltado para casa com o rabo entre as pernas.
Ele não estava errado, Jon Connington refletiu, inclinando-se sobre as ameias de seus antepassados. Eu queria a glória de matar Robert em um combate singular, e não ser chamado de açougueiro. Então Robert escapou de mim e matou Rhaegar no Tridente.
- Falhei com o pai - disse - mas não falharei com o filho.
Quando Connington desceu, seus homens haviam reunido a guarnição do castelo e os camponeses no pátio. Embora Sor Ronnet estivesse, de fato, em algum lugar ao norte com Jaime Lannister, o Poleiro do Grifo não estava completamente desprovido de grifos. Entre os prisioneiros estavam o irmão mais novo de Ronnet, Raymund, sua irmã Alynne e seu filho natural, um menino feroz de cabelos vermelhos chamado Ronald Storm. Todos dariam reféns úteis, se e quando Ronnet Vermelho voltasse para tentar retomar o castelo que seu pai roubara. Connington ordenou que fossem confinados na torre oeste, sob guarda. A garota começou a chorar, e o menino bastardo tentou morder o lanceiro mais próximo.
- Parem com isso, vocês dois! - Connington ralhou com eles. - Nada de mau acontecerá com nenhum de vocês, a menos que Ronnet Vermelho prove ser um completo idiota.
Apenas alguns cativos tinham estado em serviço ali quando Jon Connington deixara de ser senhor: um oficial grisalho, cego de um olho; duas lavadeiras; um cavalariço que apenas se iniciava no ofício durante a Rebelião de Robert; o cozinheiro, que ficara enormemente gordo; o armeiro do castelo. Griff deixara a barba crescer durante a viagem, pela primeira vez em muitos anos, e, para sua surpresa, ainda estava em grande parte vermelha, embora aqui e ali o cinza se mostrasse entre o fogo. Vestido com uma longa túnica vermelha e branca bordada com os grifos gêmeos de sua Casa, de cores invertidas e combatentes, ele parecia uma versão mais velha e mais severa do jovem senhor que havia sido amigo e companheiro do Príncipe Rhaegar... mas os homens e mulheres de Poleiro do Grifo ainda olhavam para ele como para um estranho.
- Alguns de vocês me reconhecerão - disse para eles. - O restante aprenderá. Sou seu senhor legítimo, retornado do exílio. Meus inimigos disseram para vocês que eu estava morto. Essas histórias são falsas, como podem ver. Sirvam-me fielmente como serviram meu primo, e nenhum mal precisará cair sobre vocês.
Trouxe-os para a frente, um a um, perguntou a cada homem seu nome, então ofereceu-lhes que se ajoelhassem e jurassem fidelidade. Tudo correu rapidamente. Os soldados da guarnição - apenas quatro haviam sobrevivido ao ataque, o velho oficial e três garotos - depositaram as espadas aos seus pés. Ninguém hesitou. Ninguém morreu.
Naquela noite, no grande salão, os vitoriosos se banquetearam com carnes assadas e peixes recém-pescados, tudo empurrado para baixo com ricos vinhos vermelhos das adegas do castelo. Jon Connington presidiu da Cadeira do Grifo, partilhando a mesa principal com Harry Sem-Teto Strickland, Balaq Negro e Franklyn Flowers, e os três jovens grifos que capturara. As crianças eram do seu sangue, e ele sentia que devia conhecê-las, mas, quando o menino bastardo anunciou “Meu pai vai matar você”, decidiu que já os conhecera o suficiente, ordenou que voltassem para suas celas e pediu licença.
Meiomeistre Haldon esteve ausente do banquete. Lorde Jon o encontrou na torre do meistre, inclinado sobre uma pilha de pergaminhos, com mapas espalhados ao redor.
- Esperando determinar onde o resto da companhia pode estar? - Connington perguntou para ele.
- Faria se pudesse, meu senhor.
Dez mil homens haviam zarpado de Volon Therys, com todas as suas armas, cavalos e elefantes. Nem metade daquele número havia aparecido em Westeros, no lugar combinado de chegada, ou perto dele, um trecho deserto da costa na extremidade de Matabruma ... terras que Jon Connington conhecia bem, já que uma vez haviam sido dele.
Apenas alguns anos antes, não ousaria tentar uma atracagem em Cabo da Fúria; os senhores da tempestade eram ferozmente leais à Casa Baratheon e ao Rei Robert. Mas com Robert e seu irmão Renly mortos, tudo estava mudado. Stannis era um homem muito duro e frio para inspirar esse tipo de lealdade, mesmo se não estivesse a meio mundo de distância, e as terras da tempestade tinham poucas razões para amar a Casa Lannister. E Jon Connington não estava sem seus próprios amigos ali. Alguns dos velhos senhores ainda se lembrarão de mim, e seus filhos terão ouvido as histórias. E todos conhecerão Rhaegar e seu jovem filho, cuja cabeça foi esmagada contra uma fria parede de pedra.
Felizmente, seu próprio navio fora um dos primeiros a alcançar seu destino. Então fora apenas uma questão de estabelecer o local do acampamento, reunir os homens conforme chegavam a terra firme, e mover-se rapidamente, antes que os fidalgotes locais tivessem alguma noção do perigo. E então a Companhia Dourada provou seu caráter. O caos que inevitavelmente teria atrasado a marcha com uma tropa apressadamente reunida de cavaleiros de companhias e recrutas locais simplesmente não existiu. Esses homens eram os herdeiros de Açoamargo, e a disciplina era como leite materno para eles.
- Amanhã, neste horário, devemos ter tomado três castelos - disse Connington. A força que tomara Poleiro do Grifo representava um quarto das forças disponíveis; Sor Tristan Rivers partira simultaneamente para a sede da Casa Morrigen, no Ninho de Corvo, e Laswell Peake para Casais de Chuva, a fortaleza dos Wylde, cada um com uma força de tamanho equivalente. O restante dos homens havia permanecido no acampamento para guardar o local de chegada e o príncipe, sob o comando do tesoureiro volantino da companhia, Gorys Edoryen. O número deles ainda continuaria a aumentar, esperavam; mais navios apareciam a cada dia. - Ainda temos poucos cavalos.
- E nenhum elefante - o Meiomeistre o recordou. Nenhuma das grandes cocas carregando os elefantes havia chegado ainda. Haviam sido vistas pela última vez em Lyz, antes da tempestade que dispersara metade da frota. - Cavalos podem ser encontrados em Westeros. Elefantes ...
- ... não importam. - As grandes bestas seriam úteis em uma batalha campal, sem dúvida, mas levaria algum tempo antes de terem força para enfrentar o inimigo em campo. - Esses pergaminhos disseram algo de útil?
- Oh, muito e ainda mais, meu senhor. - Haldon lhe deu um sorriso. - Os Lannister fazem inimigos facilmente, mas não parecem perder tempo mantendo amizades. Sua aliança com os Tyrell está desgastada, a julgar pelo que li aqui. A Rainha Cersei e a Rainha Margaery lutam pelo pequeno rei como duas cadelas por um osso de galinha, e ambas foram acusadas de traição e devassidão. Mace Tyrell abandonou o cerco em Ponta Tempestade para marchar de volta a Porto Real e salvar sua filha, deixando apenas uma força simbólica para trás para manter os homens de Stannis encurralados dentro do castelo.
Connington se sentou.
- Conte-me mais.
- No Norte, os Lannister estão na dependência dos Bolton e, no Tridente, dos Frey, as duas casas há muito conhecidas por sua traição e crueldade. Lorde Stannis continua em rebelião aberta, e os homens de ferro das ilhas também declararam um rei. Ninguém nem menciona o Vale, o que me sugere que os Arryn não tomaram partido em nada disso.
- E Dorne? - O Vale estava muito longe; Dorne estava perto.
- O filho mais novo do Príncipe Doran foi prometido em casamento a Myrcella Baratheon, o que poderia sugerir que os dornenses se uniram à Casa Lannister, mas eles têm um exército no Caminho do Espinhaço e outro no Passo do Príncipe, apenas esperando ...
- Esperando. - Ele franziu o cenho. - Pelo quê? - Sem Daenerys e seus dragões, Dorne era central para suas esperanças. - Escreva para Lançassolar. Doran Martell precisa saber que o filho de sua irmã ainda está vivo e veio para casa clamar o trono de seu pai.
- Como queira, meu senhor. - O Meiomeistre olhou para outro pergaminho. - Dificilmente teríamos cronometrado melhor nossa chegada. Temos amigos e aliados em potencial em cada mão.
- Mas não temos dragões - disse Jon Connington - então, para ganhar esses aliados para a nossa causa, precisamos ter alguma coisa para oferecer a eles.
- Ouro e terra são os incentivos tradicionais.
- Quem dera tivéssemos ambos. Promessas de terras e promessas de ouro podem satisfazer alguns, mas Strickland e seus homens esperam reivindicar primeiro os melhores campos e castelos, aqueles que foram tirados de seus antepassados, quando fugiram para o exílio. Não.
- Meu senhor tem um prêmio para oferecer - Meiomeistre Haldon salientou. - A mão do Príncipe Aegon. Uma aliança nupcial, para trazer algumas grandes casas para nossos estandartes.
Uma noiva para nosso príncipe brilhante. Jon Connington se lembrava muito bem do casamento do Príncipe Rhaegar. Elia nunca foi digna dele. Era muito frágil e doentia desde o início, e dar à luz só a deixou mais fraca. Depois do nascimento da Princesa Rhaenys, a mãe dela ficara de cama por seis meses, e o nascimento do Príncipe Aegon quase fora sua morte. Ela não poderia ter mais filhos, os meistres disseram ao Príncipe Rhaegar, depois disso.
- Daenerys Targaryen ainda pode vir para casa um dia - Connington disse para o Meiomeistre. - Aegon deve estar livre para se casar com ela.
- Meu senhor sabe o que faz - disse Haldon. - Neste caso, poderíamos considerar oferecer aos nossos potenciais amigos um prêmio menor.
- O que sugere?
- Você. Você não é casado. Um grande senhor, ainda viril, sem nenhum herdeiro que não esses sobrinhos que acabamos de despojar, descendente de uma antiga casa com um bom castelo robusto e amplo, ricas terras que, sem dúvida, serão restauradas e talvez expandidas por um rei grato, uma vez que triunfemos. Você tem um nome como guerreiro, e como Mão do Rei Aegon falará com sua voz e governará o reino em seu nome. Penso que muitos senhores ambiciosos ficariam ansiosos em casar sua filha com tal homem. Mesmo, talvez, o príncipe de Dorne.
A resposta de Jon Connington foi um olhar longo e frio. Havia momentos em que o Meiomeistre o aborrecia quase tanto quanto o anão.
- Acho que não. - A morte está subindo pelo meu braço. Nenhum homem deve saber, nem uma esposa. Levantou-se. - Prepare a carta para o Príncipe Doran.
- Como meu senhor ordena.
Jon Connington dormiu naquela noite nos aposentos do senhor, na cama que certa vez havia sido de seu pai, sob um dossel empoeirado de veludo vermelho e branco. Despertou ao amanhecer, com o som da chuva que caía e a batida tímida de um servo na porta, ansioso para descobrir como seu novo senhor quebraria seu jejum.
- Ovos cozidos, pão frito e feijões. E um jarro de vinho. O pior vinho da adega.
- O... o pior, .n'hor?
- Você me ouviu.
Quando a comida e o vinho foram trazidos, ele trancou a porta, esvaziou o jarro em uma tigela e enfiou a mão dentro. Cataplasmas e banhos de vinagre eram o tratamento que a Senhora Lemore havia prescrito para o anão, quando ficou com medo que ele tivesse escamagris, mas pedir por um jarro de vinagre toda manhã entregaria o jogo. Vinho teria que servir, embora não visse sentido em desperdiçar uma boa safra. As unhas dos quatro dedos de sua mão estavam negras agora, mas o polegar ainda não. No dedo médio, o cinza havia subido até a segunda articulação. Eu deveria cortá-lo fora, pensou, mas como explicar o dedo perdido? Não se atrevia a deixar que o escamagris fosse conhecido. Por mais estranho que parecesse, homens que encaravam alegremente a batalha e o risco de morte para resgatar um companheiro abandonariam esse mesmo companheiro em um piscar de olhos se soubessem que ele tinha escamagris. Eu deveria ter deixado o maldito anão se afogar.
Mais tarde naquele dia, vestido e enluvado mais uma vez, Connington fez uma inspeção no castelo e enviou um recado para que Harry Sem-Teto Strickland e seis capitães se juntassem a ele para um conselho de guerra. Nove deles se reuniram no solar: Connington, Strickland, Meiomeistre Haldon, Balaq Negro, Sor Franklyn Flowers, Malo Jayn, Sor Brendel Byrne, Dick Cole e Lymond Pease. O Meiomeistre tinha boas novas.
- Notícias de Marq Mandrake chegaram ao acampamento. Os volantinos os deixaram em terra firme, no que acabou sendo Estermonte, com cerca de quinhentos homens. Tomaram Pedraverde.
Estermonte era uma ilha ao largo do Cabo da Fúria, e nunca fora um de seus objetivos.
- Os malditos volantinos estão tão ansiosos para se livrar de nós, que estão nos despejando em qualquer pedaço de terra que encontram - disse Franklyn Flowers. - Aposto que temos rapazes espalhados em metade de Passopedra também.
- Com meus elefantes - Harry Strickland disse, em um tom triste. Ele sentia falta de seus elefantes.
- Mandrake não tinha arqueiros com ele - disse Lymond Pease. - Sabemos se Pedraverde enviou algum corvo antes de cair?
- Imagino que sim - falou Jon Connington - mas que mensagens levavam? Na melhor das hipóteses, relatos truncados de saqueadores do mar. - Ainda antes de zarparem de Volon Therys, havia instruído seus capitães a não mostrar nenhum estandarte durante os primeiros ataques: nem o dragão de três cabeças do Príncipe Aegon, nem seus próprios grifos, nem crânios e estandartes de batalha dourados da companhia. Que os Lannister suspeitassem de Stannis Baratheon, de piratas de Passopedra, de fora da lei das Sorestas, ou de quem quer que levasse a culpa. Se os relatos que chegassem a Porto Real fossem confusos e contraditórios, muito melhor. Quanto mais demorada fosse a reação do Trono de Ferro, mais tempo teriam para reunir forças e trazer aliados à sua causa. - Deve haver navios em Estermonte. É uma ilha. Haldon, mande instruções para Mandrake deixar uma guarnição para trás e trazer o resto dos homens para o Cabo da Fúria, juntamente com qualquer nobre cativo.
- Ao seu comando, meu senhor. A Casa Estermont tem laços de sangue com ambos os reis, na realidade. Bons reféns.
- Bons resgates - falou Harry Sem-Teto alegremente.
- Já é tempo de trazermos o Príncipe Aegon também - Lorde Jon anunciou. - Ele ficará mais seguro atrás das muralhas de Poleiro do Grifo do que no acampamento.
- Mandarei alguém buscá-lo - disse Franklyn Flowers - mas o rapaz não vai gostar muito da ideia de ficar a salvo, digo desde já. Ele quer estar no meio da coisa.
Como todos nós na idade dele, Lorde Jon pensou, recordando-se.
- Chegou a hora de levantar seu estandarte? - perguntou Pease.
- Ainda não. Deixem Porto Real pensar que isto não é mais do que um lorde exilado voltando para casa com algumas espadas contratadas para reclamar seus direitos de nascimento. Uma velha história conhecida, essa. Eu até escreverei para o Rei Tommen, afirmando isso e pedindo perdão e a restauração das minhas terras e títulos. Isso dará algo para eles mastigarem por enquanto. E, enquanto vacilam, mandaremos cartas secretas para prováveis amigos nas Terras da Tempestade e na Campina. E para Dorne. - Esse era o passo crucial. Senhores menores poderiam se juntar à causa deles por medo de algum prejuízo ou por esperanças de ganhos, mas apenas o Príncipe de Dorne tinha poder para desafiar a Casa Lannister e seus aliados. - Acima de todos eles, devemos ter Doran Martell.
- Uma pequena chance disso acontecer - disse Strickland. - O dornense tem medo da própria sombra. Nada que se possa chamar de ousadia.
Não mais do que você.
- O Príncipe Doran é um homem cauteloso, isso é verdade. Nunca se juntará a nós, a menos que esteja convencido de que venceremos. Então, para persuadi-lo, temos que mostrar nossa força.
- Se Peake e Rivers tiverem êxito, controlaremos a maior parte do Cabo da Fúria - argumentou Strickland. - Quatro castelos em tão pouco tempo, isso é um começo esplêndido, mas ainda estamos apenas com metade da nossa força. Precisamos esperar o resto dos meus homens. Estamos sentindo falta dos cavalos, também, e dos elefantes. Esperar, eu digo. Reunir nosso poder, ganhar alguns senhores menores para nossa causa, deixar Lysono Maar enviar seus espiões para aprenderem tudo o que puderem aprender sobre nossos inimigos.
Connington deu ao gordo capitão-general um olhar frio. Este homem não é Coração Negro, não é Açoamargo, não é Maelys. Ele esperaria até que os sete infernos congelassem, se pudesse, em vez de arriscar outro surto de bolhas.
- Não atravessamos metade do mundo para esperar. Nossa melhor chance é atacar forte e rápido, antes que Porto Real saiba que estamos aqui. Pretendo tomar Ponta Tempestade. Uma fortaleza quase inexpugnável e o último ponto de apoio de Stannis Baratheon no Sul. Uma vez tomado, nos dará uma resistência segura para onde poderemos nos retirar em caso de necessidade, e conquistá-lo provará nossa força.
Os capitães da Companhia Dourada trocaram olhares.
- Se Ponta Tempestade ainda está na mão de homens leais a Stannis, estaremos tomando dele, não dos Lannister - objetou Brendel Byrne. - Por que não fazer causa comum com ele contra os Lannister?
- Stannis é irmão de Robert, da mesma laia que derrubou a Casa Targaryen - Jon Connington recordou-lhe. - Além disso, está a milhares de quilômetros de distância, com qualquer que seja a escassa força que comanda. O reino inteiro está entre nós. Levaria meio ano só para chegar até lá, e ele tem pouco e ainda menos para nos oferecer.
- Se Ponta Tempestade é tão inexpugnável, como pretende tomá-la? - perguntou Malo.
- Pela astúcia.
Harry Sem-Teto Strickland discordou.
- Devemos esperar.
- Esperaremos. - Jon Connington se levantou. - Dez dias. Não mais do que isso. Levará esse tempo para nos prepararmos. Na manhã do décimo primeiro dia, cavalgaremos para Ponta Tempestade.
O príncipe chegou para se juntar a eles quatro dias depois, cavalgando na frente de uma coluna de uma centena de cavalos, com três elefantes pesados na retaguarda. A Senhora Lemore estava com ele, vestida novamente com a túnica branca de septã. Adiante deles ia Sor Rolly Patodocampo, com um manto branco neve fluindo de seus ombros.
Um homem sólido e verdadeiro, Connington pensou enquanto via Pato desmontar, mas não é digno da Guarda Real. Fizera o possível para dissuadir o príncipe de dar aquele manto a Patodocampo, salientando que seria melhor reservar aquela honra para guerreiros de maior renome cuja fidelidade acrescentaria brilho à sua causa e para os filhos mais jovens de grandes senhores cujo apoio seria necessário na luta que se aproximava, mas o garoto não mudara de ideia.
- Pato morrerá por mim se for preciso - dissera - e é tudo o que exijo da minha Guarda Real. O Regicida era um guerreiro de grande renome e filho de um grande senhor também.
Pelo menos consegui convencê-lo a deixar os outros seis postos em aberto, ou Pato poderia ter seis patinhos correndo atrás dele, cada um mais gritantemente adequado que o último.
- Escolte Sua Graça até meu solar - ordenou. - Imediatamente.
Mas o Príncipe Aegon Targaryen não era nem de perto tão dócil quanto o Jovem Griff havia sido. Boa parte de uma hora havia se passado antes que ele finalmente aparecesse no solar, com Pato ao seu lado.
- Lorde Connington - disse - gostei do seu castelo.
As terras do seu pai são bonitas”, ele disse. Seu cabelo prateado agitava-se ao vento e seus olhos eram um púrpura profundo, mais escuros do que os desse garoto.
- Eu também, Vossa Graça. Por favor, sente-se. Sor Rolly, não precisaremos de você por enquanto.
- Não, eu quero que Pato fique. - O príncipe se sentou. - Estivemos conversando com Strickland e Flowers. Eles nos falaram sobre esse ataque a Ponta Tempestade que você está planejando.
Jon Connington não deixou transparecer sua ira.
- E Harry Sem-Teto tentou persuadi-lo a atrasar o plano?
- Tentou, na verdade - o príncipe disse - mas não vou. Harry é uma solteirona, não é? Você tem razão nisso, meu senhor. Quero que o ataque vá em frente ... com uma mudança. Pretendo liderá-lo. 

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