sexta-feira, 4 de outubro de 2013

69 - JON


- Deixe-os morrer - disse a Rainha Selyse.
Era a resposta que Jon Snow esperava. Esta rainha nunca deixa de decepcionar. De alguma forma, isso não suavizava o golpe.
- Vossa Graça - insistiu, teimosamente - estão famintos em Durolar, milhares deles. Muitos são mulheres ...
- ... e crianças, sim. Muito triste. - A rainha puxou a filha para mais perto e lhe deu um beijo na bochecha. A bochecha intocada pelo escamagris, Jon não deixou de notar. - Sentimos pelos pequeninos, é claro, mas devemos ser sensatos. Não temos comida para eles, e são jovens demais para ajudar o rei meu marido nas guerras. Melhor que renasçam na luz.
Isso era apenas um jeito mais suave de dizer deixe-os morrer.
O aposento estava lotado. A Princesa Shireen estava ao lado do assento da mãe, com Cara-Malhada de pernas cruzadas aos seus pés. Atrás da rainha assomava-se Sor Axell Florent. Melisandre de Asshai estava parada perto do fogo, o rubi na garganta pulsando a cada respiração. A mulher vermelha tinha seus assistentes também; o escudeiro Devan Seaworth e dois dos guardas que o rei deixara para ela.
Os protetores da Rainha Selyse estavam ao longo das paredes, brilhantes cavaleiros em uma fila: Sor Malegorn, Sor Benethon, Sor Narbert, Sor Patrek, Sor Dorden, Sor Brus. Com tantos selvagens sanguinários infestando Castelo Negro, Selyse mantinha seus próprios escudos juramentados consigo noite e dia. Tormund Terror de Gigantes rugira ao ouvir isso.
- Ela está com medo de ser levada? Espero que nunca tenha dito quão grande é meu membro, Jon Snow, isso assusta qualquer mulher. Sempre quis para mim uma com bigodes. - Então riu e riu.
Ele não estaria rindo agora.
Jon perdera tempo suficiente ali.
- Sinto ter incomodado Vossa Graça. A Patrulha da Noite cuidará deste assunto.
As narinas da rainha se dilataram.
- Você ainda pretende ir a Durolar. Vejo em seu rosto. Deixe-os morrer, eu digo, e mesmo assim você persiste nessa loucura. Não negue.
- Preciso fazer o que acho melhor. Com todo o respeito, Vossa Graça, a Muralha é minha, assim como esta decisão.
- É - Selyse concordou - e você responderá por isso quando o rei retornar. E por outras decisões que tem tomado, temo. Mas vejo que é surdo ao bom-senso. Faça o que deve fazer.
Sor Malegorn falou:
- Lorde Snow, quem liderará essa patrulhar
- Está se oferecendo, sor?
- Eu pareço tolo?
Cara-Malhada pulou.
- Eu lidero! - Seus guizos soaram alegremente. - Marcharemos para o mar e para fora novamente. Sob as ondas, montaremos em cavalos-marinhos, e sereias soprarão conchas para anunciar nossa chegada, oh, oh, oh.
Todos riram. Até a Rainha Selyse se permitiu um pequeno sorriso. Jon estava menos divertido.
- Não pedirei aos meus homens que façam o que eu mesmo não faria. Pretendo liderar a patrulha.
- Como você é ousado - disse a rainha. - Nós aprovamos. Depois, algum bardo fará uma comovente canção sobre você, sem dúvida, e teremos um senhor comandante mais prudente. - Tomou um gole de vinho. - Falemos de outros assuntos. Axell, seja bom e traga o rei selvagem.
- Imediatamente, Vossa Graça. - Sor Axell saiu por uma porta e retornou um momento mais tarde com Gerrick Sanguederrei. - Gerrick da Casa Barbarruiva - anunciou - Rei dos Selvagens.
Gerrick Sanguederrei era um homem alto, de pernas longas e ombros largos. A rainha o vestira com algumas das antigas roupas do rei, pelo que parecia. Limpo e arrumado, vestido com veludo verde e uma meia-capa de arminho, com os longos cabelos ruivos recentemente lavados e a barba vermelha aparada, o selvagem parecia, em cada detalhe, um senhor sulista. Poderia andar na sala do trono em Porto Real e ninguém piscaria, Jon pensou.
- Gerrick é o verdadeiro e legítimo rei dos selvagens - a rainha disse - descendente em linha direta masculina do grande rei Raymun Barbarruiva, enquanto o usurpador Mance Rayder era nascido de alguma mulher do povo, gerado por um de seus irmãos negros.
Não, Jon poderia ter dito, Gerrick é descendente de um irmão mais jovem de Raymun Barbarruiva. Para o povo livre, aquilo contava tanto quanto ser descendente do cavalo de Raymun Barbarruiva.
- Gerrick graciosamente concordou em dar a mão da filha mais velha para meu amado Axell, para serem unidos pelo Senhor da Luz em sagrado matrimônio - a Rainha Selyse falou. - Suas outras garotas se casarão ao mesmo tempo: a segunda filha com Sor Brus Buckler e a mais jovem com Sor Malegorn de Lagoa Vermelha.
- Sors. - Jon inclinou a cabeça para os cavaleiros em questão. - Que possam encontrar a felicidade com suas noivas.
- No fundo do mar, homens casam com peixes. - Cara-Malhada fez uns passinhos de dança, tilintando seus guizos. - Casam, casam, casam.
A Rainha Selyse fungou novamente.
- Quatro casamentos podem ser feitos tão simplesmente quanto três. Já passou da hora de assentar essa mulher Val, Lorde Snow. Decidi que ela se casará com meu bom e leal cavaleiro, Sor Patrek da Montanha do Rei.
- Val foi comunicada, Vossa Graça? - perguntou Jon. - Entre o povo livre, quando um homem deseja uma mulher, ele a rouba, e assim prova sua força, astúcia e coragem. O pretendente corre o risco de uma surra feroz se for pego por um dos parentes da mulher, e, pior, se a própria mulher o achar indigno.
- Um costume bárbaro - Axell Florent disse.
Sor Patrek apenas riu.
- Nenhum homem jamais teve motivo para questionar minha coragem. E nenhuma mulher jamais o fará.
A Rainha Selyse apertou os lábios.
- Lorde Snow, como a Senhora Val é estranha aos nossos costumes, por favor, envie-a para mim, para que eu possa instruí-la sobre os deveres de uma nobre senhora em relação ao senhor seu marido.
Isso será esplêndido, posso imaginar. Jon se perguntava se a rainha ficaria tão ansiosa em ver Val casada com um de seus próprios cavaleiros, se soubesse dos sentimentos da moça em relação à Princesa Shireen.
- Como quiser - disse - no entanto, se posso falar francamente ...
- Não, acho que não. Pode se retirar.
Jon Snow dobrou um joelho, abaixou a cabeça e se retirou.
Desceu os degraus, dois de cada vez, acenando com a cabeça para os guardas da rainha no caminho. Sua Graça colocara homens em cada andar, para mantê-la a salvo dos selvagens assassinos. A meio caminho, uma voz o chamou de trás.
- Jon Snow.
Jon se virou.
- Senhora Melisandre.
- Devemos falar.
- Devemos? - Acho que não. - Minha senhora, tenho deveres.
- É sobre esses deveres que falarei. - Ela desceu, a bainha da saia vermelha farfalhando sobre os degraus. Era quase como se flutuasse. - Onde está seu lobo gigante r
- Dormindo em meus aposentos. Sua Graça não permite Fantasma em sua presença. Ela afirma que assusta a princesa. E enquanto Borroq e seu javali estiverem por aqui, não ouso deixá-lo solto. - O troca-peles iria acompanhar Soren Quebrescudo para Portapedra, assim que as carroças que tinham levado o clã Peledefoca para Guardaverde voltassem. Até então, Borroq passara a morar em uma das antigas tumbas ao lado do cemitério do castelo. A companhia de homens mortos havia muito tempo parecia agradá-lo mais do que a dos vivos, e seu javali parecia feliz em fuçar entre os túmulos, bem longe de outros animais. - Essa coisa é do tamanho de um touro, com presas tão longas quanto espadas. Fantasma iria atrás dele se estivesse solto, e um dos dois, ou ambos, não sobreviveria ao encontro.
- Borroq é a última das minhas preocupações. Essa patrulha ...
- Uma palavra sua poderia ter influenciado a rainha.
- Selyse está certa nisso, Lorde Snow. Deixe-os morrer. Não pode salvá-los. Seus navios estão perdidos ...
- Seis restam. Mais da metade da frota.
- Seus navios estão perdidos. Todos eles. Nenhum homem retornará. Vi isso em minhas chamas.
- Suas chamas têm sido conhecidas por mentir.
- Cometi enganos, admito, mas ...
- Uma garota cinzenta em um cavalo moribundo. Adagas na escuridão. Um príncipe prometido, nascido da fumaça e do sal. Parece que não tem feito outra coisa além de enganos, minha senhora. Onde está Stannis? E Camisa de Chocalho e suas esposas de lança? Onde está minha irmã?
- Todas as suas perguntas serão respondidas. Olhe para os céus, Lorde Snow. E, quando tiver suas respostas, envie para mim. O inverno está quase sobre nós. Sou sua única esperança.
- A esperança de um tolo. - Jon virou-se e a deixou.
Couros estava rondando pátio externo.
- Toregg voltou - contou, quando Jon apareceu. - O pai dele assentou seu povo em Escudo de Carvalho e voltará esta tarde com oitenta guerreiros. O que a rainha barbuda disse?
- Sua Graça não pode nos fornecer nenhuma ajuda.
- Muito ocupada arrancando pelos do queixo? - Couros cuspiu. - Não importa. Os homens de Tormund e os nossos serão suficientes.
Suficientes para nos levar até lá, talvez. Era a viagem de volta que preocupava Jon Snow. Voltando para casa, seriam retardados por milhares do povo livre, muitos doentes e famintos. Um rio de humanos movendo-se mais lentamente do que um rio de gelo. Isso os deixaria vulneráveis. Coisas mortas na floresta. Coisas mortas na água.
- Quantos homens são suficientes? - perguntou para Couros. - Uma centena? Duas centenas? Quinhentos? Mil? - Devo levar mais homens, ou menos? Uma patrulha menor chegaria a Durolar mais rápido ... mas de que serviriam espadas sem comida?' Mãe Toupeira e seu povo já estavam no ponto de comer seus mortos. Para alimentá-los, precisaria levar carroças e charretes, e animais de tração para transportá-los: cavalos, bois, cães. Em vez de voar pela floresta, seriam condenados a rastejar. - Ainda há muito o que decidir. Espalhe a notícia. Quero todos os homens de liderança no Salão de Escudos quando o turno da noite começar. Até então, Tormund deve estar de volta. Onde posso encontrar Toregg?
- Com o monstrinho, provavelmente. Ele está gostando de uma das amas de leite, ouvi dizer.
Ele está gostando de Val. A irmã dela era uma rainha, por que não ela? Tormund havia pensado certa vez em se fazer Rei-para-lá-da-Muralha, antes que Mance o derrotasse. Toregg, o Alto, podia muito bem ter o mesmo sonho. Melhor ele do que Gerrick Sanguederrei.
- Deixe-o lá - disse Jon. - Posso falar com Toregg mais tarde. - Deu uma olhada para a Torre do Rei. A Muralha estava de um branco opaco, o céu sobre ela mais branco ainda. Um céu de neve. - Apenas reze para que não tenhamos outra tempestade.
Do lado de fora do arsenal, Mully e a Pulga, de guarda, tremiam.
- Vocês não deviam estar lá dentro, fora deste vento? - Jon perguntou.
- Seria ótimo,'nhor - disse Fulk, a Pulga - mas seu lobo não está a fim de companhia hoje.
Mully concordou.
- Ele tentou me dar uma mordida, tentou, sim.
- Fantasma? - Jon estava chocado.
- A menos que sua senhoria tenha outro lobo branco, sim. Nunca vi ele assim, 'nhor. Todo selvagem, quero dizer.
Ele não estava errado, como Jon descobriu por conta própria quando passou pelas portas. O grande lobo gigante branco não parava quieto. Andava de um lado para o outro do arsenal, passava pela forja fria e voltava.
- Calma, Fantasma. - Jon chamou. - Quieto. Senta, Fantasma. Quieto. - No entanto, quando tentou tocá-lo, o lobo se eriçou e mostrou os dentes. É aquele maldito javali. Mesmo aqui, Fantasma pode sentir seu fedor.
O corvo de Mormont parecia agitado também. Snow, a ave gritava. Snow, Snow, Snow. Jon o espantou, pediu para Cetim acender o fogo e depois ir atrás de Bowen Marsh e Othell Yarwyck.
- Traga um jarro de vinho quente com especiarias também.
- Três taças, 'nhor?
- Seis. Mully e a Pulga parecem precisar de algo quente. E você também.
Quando Cetim partiu, Jon se sentou e deu outra olhada nos mapas das terras ao norte da Muralha. O caminho mais rápido para Durolar era ao longo da costa ... de Atalaialeste. Os bosques eram mais estreitos perto do mar, e o terreno era, em grande parte, formado por planícies, colinas e pântanos de água salgada. E quando as tempestades de outono chegavam uivando, a costa tinha granizo e chuva gelada em vez de neve. Os gigantes estão em Atalaialeste, e Couros diz que alguns podem ajudar. De Castelo Negro, o caminho era mais difícil, direto pelo coração da floresta assombrada. Se a neve está com esta profundidade na Muralha, quão pior estará além?
Marsh entrou fungando, Yarwyck sisudo.
- Outra tempestade - o Primeiro Construtor anunciou. - Como vamos trabalhar assim? Preciso de mais construtores.
- Use o povo livre - Jon respondeu.
Yarwyck abanou a cabeça.
- Mais problema do que valor, nesse grupo. Desleixados, descuidados, preguiçosos ... alguns bons marceneiros aqui e ali, não vou negar, mas dificilmente um pedreiro entre eles e nunca um ferreiro. Costas fortes, pode ser, mas não fazem o que lhes é dito. E nós com estas três ruínas para transformar novamente em fortes. Não pode ser feito, meu senhor. Falo a verdade. Não pode ser feito.
- Será feito - disse Jon - ou eles viverão em ruínas.
Um senhor precisava de homens ao seu lado nos quais pudesse confiar para um conselho honesto. Marsh e Yarwyck não tinham papas na língua, e isso era bom... mas também raramente eram de alguma ajuda. Cada vez mais era capaz de saber o que eles responderiam, antes mesmo de lhes perguntar.
Especialmente quando se tratava do povo livre, em relação ao qual a desaprovação deles vinha de dentro dos ossos. Quando Jon dera Portapedra para Soren Quebrescudo, Yarwyck reclamara que era muito isolado. Como poderiam saber que danos Soren causaria lá naquelas montanhas? Quando conferira Escudo de Carvalho para Tormund Terror de Gigantes e Portão da Rainha para Morna Máscara Branca, Marsh chamara a atenção para o fato de que Castelo Negro agora teria inimigos em ambos os lados que facilmente poderiam isolá-los do resto da Muralha. Quanto a Borroq, Othell Yarwyck afirmara que as matas ao norte de Portapedra eram cheias de javalis selvagens. Quem garantia que o troca-peles não faria o próprio exército de porcos?
Colina da Geadalva e Portão da Geada ainda precisavam de guarnições, então Jon perguntara a opinião deles sobre quais dos chefes selvagens e senhores de guerra que ainda restavam podiam ser enviados para esses locais.
- Temos Brogg, Gavin, o Negociante, o Grande Walrus ... Howd Andarilho anda sozinho, diz Tormund, mas ainda há Harle, o Caçador, Harle, o Bonito, Cego Doss ... Ygon Velhopai comanda seguidores, mas a maioria são seus próprios filhos e netos. Ele tem dezoito esposas, metade delas roubadas em assaltos. Quais desses ...
- Nenhum - Bowen Marsh dissera. - Conheço todos esses homens por seus atos. Devíamos prepará-los para a forca, não lhes dar nossos castelos.
- Sim - Othell Yarwyck concordara. - Mau, ruim e pior fazem uma escolha de pedinte. Meu senhor quer nos presentear com uma matilha de lobos e pergunta se gostaríamos que eles nos arrancassem as gargantas.
Era o mesmo novamente com Durolar. Cetim servia enquanto Jon lhes contava a audiência com a rainha. Marsh ouvia atentamente, ignorando o vinho com especiarias, enquanto Yarwyck bebia uma taça e então outra. Mas nem bem Jon terminou, o Senhor Intendente disse:
- Sua Graça é sábia. Deixe-os morrer.
Jon sentou-se.
- Esse é o único conselho que pode me oferecer, meu senhor? Tormund está trazendo oitenta homens. Quanto devemos mandar? Devemos chamar os gigantes? As esposas de lança em Monte Longo? Se tivermos mulheres conosco, deixaremos o povo de Mãe Toupeira mais à vontade.
- Mande mulheres, então. Mande gigantes. Mande bebês de peito. É isso que meu senhor deseja ouvir? - Bowen Marsh esfregou a cicatriz que ganhara na Ponte das Caveiras. - Mande todos eles. Quantos mais perdermos, menos bocas teremos que alimentar.
Yarwyck não foi mais prestativo.
- Se os selvagens em Durolar precisam de resgate, deixe os selvagens irem até lá para salvá-los. Tormund conhece o caminho para Durolar. Pelo que ele diz, pode salvá-los todos com seu membro imenso.
Isso é inútil, Jon pensou. Inútil, infrutífero, sem esperança.
- Obrigado pelos conselhos, meus senhores.
Cetim os ajudou a colocar novamente os mantos. Enquanto andavam pelo arsenal, Fantasma os cheirou, seu rabo em pé e eriçado. Meus irmãos. A Patrulha da Noite precisava de líderes com a sabedoria de Meistre Aemon, o conhecimento de Samwell Tarly, a coragem de Qhorin Meia-Mão, a força obstinada do Velho Urso, a compaixão de Donal Noye. O que tinha, em vez disso, eram eles.
A neve estava caindo com força do lado de fora.
- Ventos do sul- Yarwyck observou. - Está soprando a neve bem contra a Muralha. Vê?
Ele estava certo. A escada em zigue-zague estava enterrada quase até o primeiro lance, Jon viu, e as portas de madeira das celas de gelo e dos armazéns tinham desaparecido atrás de uma parede branca.
- Quantos homens temos nas celas de gelo? - perguntou para Bowen Marsh.
- Quatro vivos. Dois mortos.
Os cadáveres. Jon quase se esquecera deles. Esperara aprender algo dos corpos que trouxera do bosque de represeiros, mas os mortos haviam teimosamente permanecido mortos. - Precisamos desencavar essas celas.
- Dez intendentes e dez pás farão isso - disse Marsh.
- Use Wun Wun também.
- Como quiser.
Dez intendentes e um gigante trabalharam rapidamente nos montes de neve, mas, mesmo quando as portas ficaram livres novamente, Jon não pareceu satisfeito.
- Essas celas estarão enterradas novamente pela manhã. Melhor tirarmos os prisioneiros antes que sufoquem.
- Karstark também, 'nhor? - perguntou Fulk, a Pulga. - Não podemos simplesmente deixar esse um tremendo até a primavera?
- Deixaria, se pudesse. - Cregan Karstark pegara de uivar tarde da noite e a jogar fezes congeladas em quem quer que fosse alimentá-lo. Isso não o fizera ser amado pelos guardas. - Leve-o para a Torre do Senhor Comandante. As celas no subsolo devem segurá-lo. - Embora desmoronada em parte, a antiga sede do Velho Urso seria mais quente que as celas de gelo. Os porões estavam intactos em sua maioria.
Cregan chutou os guardas quando passaram pela porta, contorcendo-se e empurrando quando o agarraram, chegando até mesmo a tentar mordê-los. Mas o frio o enfraquecera, e os homens de Jon eram maiores, mais jovens e mais fortes. Eles o puxaram com força para fora, ainda se debatendo, e o arrastaram pela neve na altura da coxa até sua nova casa.
- O que o senhor comandante gostaria que fizéssemos com os cadáveres? - perguntou Marsh, quando os vivos foram retirados.
- Deixe-os aí. - Se a tempestade os sepultasse, muito bem. Sem dúvida, algum dia precisaria queimá-los, mas por enquanto estavam presos com correntes de ferro dentro das celas. Isso, e estarem mortos, devia ser o suficiente para mantê-los inofensivos.
Tormund Terror de Gigantes marcou sua chegada com perfeição, trovejando com seus guerreiros quando todo o serviço de pá havia sido feito. Apenas cinquenta pareciam ter retornado, não os oitenta que Toregg prometera a Couros, mas Tormund não era chamado Alto-Falador por nada. O selvagem chegou com o rosto vermelho, gritando por um corno de cerveja e algo quente para comer. Tinha gelo em sua barba e mais crostas no bigode.
Alguém já havia contado para o Punho de Trovão sobre Gerrick Sanguederrei e seu novo estilo.
- Rei dos Selvagens? - Tormund rugiu. - Har! Rei do Racho da minha Bunda Peluda é mais provável.
- Ele tem um ar régio - disse Jon.
- Ele tem um pauzinho vermelho para combinar com todo aquele cabelo vermelho, é isso o que ele tem. Raymun Barbarruiva e seus filhos morreram no Lago Longo, graças aos seus malditos Stark e ao Bêbado Gigante. Não o irmãozinho. Já se perguntou por que o chamam de Corvo Que Arde? - A boca de Tormund se abriu em um sorriso semibanguela. - Primeiro por voar da batalha. Há uma canção sobre isso, além do mais. O cantor tinha que encontrar uma rima para covarde, então ... - Limpou o nariz. - Se os cavaleiros da sua rainha querem aquelas garotas dele, que façam bom proveito.
Garotas, gritou o corvo de Mormont. Garotas, garotas.
Aquilo fez Tormund gargalhar novamente.
- Agora, eis um pássaro com juízo. Quanto quer por ele, Snow? Eu lhe dei um filho, o mínimo que podia fazer era me dar o maldito pássaro.
- Eu daria - disse Jon - mas provavelmente você o comeria.
Tormund rugiu daquilo também.
Comer, o corvo disse, sombriamente, batendo as asas negras. Grão? Grão? Grão?
- Precisamos conversar sobre a patrulha - disse Jon. - Quero que sejamos uma só mente no Salão de Escudos, devemos ... - Parou de falar quando Mully enfiou o nariz pela porta, com expressão séria, para anunciar que Clydas trouxera uma carta.
- Diga-lhe para deixá-la com você. Eu a lerei mais tarde.
- Como queira, 'nhor, só que ... Clydas não parece propriamente consigo mesmo ... está mais branco do que rosado, se entende o que quero dizer... e está tremendo.
- Asas escuras, palavras escuras - murmurou Tormund. - Não é assim que vocês ajoelhadores dizem?
- Dizemos Sangre um frio, mas festeje uma febre também - Jon contou para ele. - Dizemos Nunca beba com um dornense quando a lua está cheia. Dizemos um monte de coisas.
Mully deu seu pitaco.
- Minha velha avó sempre costumava dizer, Amigos de verão derretem como neves de verão, mas amigos de inverno são amigos para sempre.
- Acho que é sabedoria suficiente para o momento - disse Jon Snow. - Seja gentil e faça Clydas entrar.
Mully não estava errado; o velho intendente estava tremendo, o rosto tão pálido quanto a neve lá fora.
- Estou sendo tolo, Senhor Comandante, mas ... esta carta me assustou. Vê aqui?
Bastardo, era a única palavra escrita do lado de fora do pergaminho. Nada de Lorde Snow ou Jon Snow ou Senhor Comandante. Simplesmente Bastardo. E a carta estava selada com um pelote duro de cera rosa.
- Estava certo em vir imediatamente - Jon falou. Está certo em ter medo. Ele rompeu o selo, desenrolou o pergaminho e leu.
Seu falso rei está morto, bastardo. Ele e toda sua tropa foram esmagados em sete dias de batalha. Estou com a espada mágica dele. Conte isso para a puta vermelha.
Os amigos de seu falso rei estão mortos. Suas cabeças estão sobre as muralhas de Winteifell. Venha vê-las, bastardo. Seu falso rei morreu, e o mesmo acontecerá com você. Você disse ao mundo que queimou o Rei-para-lá-da-Muralha. Em vez disso, você o enviou para Winterfell, para roubar minha noiva.
Terei minha noiva de volta. Se quer Mance Rayder de volta, venha buscá-lo. Eu o tenho em uma jaula, para que todo o Norte possa ver, a prova de suas mentiras. A jaula é fria, mas fiz um manto quente para ele, com as peles das seis putas que o seguiram até Winterfell.
Quero minha noiva de volta. Quero a rainha do falso rei. Quero a filha deles e a bruxa vermelha. Quero sua princesa selvagem. Quero seu pequeno príncipe, o bebê selvagem. Quero meu Fedor. Mande-os para mim, bastardo, e não incomodarei você e seus corvos negros. Fique com eles, e eu arrancarei seu coração bastardo e o comerei.
Estava assinado:
Ramsay Bolton
Legítimo Senhor de Winterfell.
- Snow? - disse Tormund Terror de Gigantes. - Você está como se a cabeça do seu pai tivesse rolado para fora desse papel.
Jon Snow não respondeu imediatamente.
- Mully, ajude Clydas a voltar para seus aposentos. A noite é escura, e os caminhos estarão escorregadios com a neve. Cetim, vá com ele. - Passou a carta para Tormund.
- Aqui, veja você mesmo.
O selvagem deu um olhar dúbio para a carta e a devolveu.
- Parece indecente... mas Tormund Punhos de Trovão tinha coisas melhores para fazer do que aprender a fazer papéis falarem com ele. Eles nunca têm nada de bom para dizer, não é mesmo?
- Em geral, não - Jon Snow admitiu. Asas escuras, palavras escuras. Talvez houvesse mais verdade nesse velho e sábio ditado do que ele imaginava. - Foi enviada por Ramsay Snow. Lerei para você o que ele escreveu.
Quando terminou, Tormund assobiou.
- Har. Isso é foda, sem nenhum engano. E isso sobre Mance? Tem ele em uma jaula, é isso? Como, quando centenas viram sua bruxa vermelha queimar o homem?
Aquele era Camisa de Chocalho, Jon quase disse. Aquilo era feitiçaria. Uma sedução, ela chamou.
- Melisandre ... olhe para os céus, ela disse. - Baixou a carta. - Um corvo na tempestade. Ela viu isso chegando. - Quando tiver suas respostas, envie para mim.
- Pode ser tudo um monte de mentiras. - Tormund coçou sob sua barba. - Se eu tivesse uma bela pena de ganso e um pote de tinta de meistre, poderia escrever que meu membro é mais comprido e grosso que meu braço, o que não o tornaria assim.
- Ele tem Luminífera. Fala de cabeças sobre as muralhas de Winterfell. Sabe sobre as esposas de lança e a quantidade delas. - Ele sabe sobre Mance Rayder. - Não. Há verdade aqui.
- Não direi que está errado. O que pretende fazer, corvo?
Jon flexionou os dedos da mão da espada. A Patrulha da Noite não toma partido. Fechou a mão e a abriu novamente. O que você propõe não é nada menos do que traição. Pensou em Robb, com flocos de neve derretendo no cabelo. Mate o menino e deixe o homem nascer. Pensou em Bran, escalando a parede da torre, ágil como um macaco. Na risada sem fôlego de Rickon. Em Sansa, escovando o pelo de Lady e cantando para si mesma. Você não sabe nada, Jon Snow. Pensou em Arya, seu cabelo tão emaranhado quanto um ninho de ave. Fiz para ele um manto quente das peles das seis putas que o seguiram até Winterfell ... quero minha noiva de volta... quero minha noiva de volta ... quero minha noiva de volta...
- Acho que é melhor alterarmos o plano - Jon Snow disse.
Conversaram por quase duas horas.
Cavalo e Rory haviam substituído Fulk e Mully na porta do arsenal com a mudança de turno.
- Venham comigo - Jon lhes disse, quando a hora chegou. Fantasma o teria seguido também, mas quando o lobo começou a caminhar atrás dele, Jon o agarrou pelo cangote e o arrastou para dentro. Borroq poderia estar entre os reunidos no Salão de Escudos. A última coisa que precisava agora era seu lobo atacando o javali do troca-peles.
O Salão de Escudos era uma das partes mais antigas de Castelo Negro, um longo e frio salão de banquetes de pedra escura, vigas de carvalho negras com a fumaça dos séculos. No passado, quando a Patrulha da Noite era muito maior, as paredes eram decoradas com fileiras de coloridos e brilhantes escudos de madeira. Mesmo agora, quando um cavaleiro tomava o negro, a tradição decretava que deixasse de lado suas antigas armas e passasse a usar um escudo negro liso da irmandade. Os escudos descartados eram pendurados no Salão de Escudos.
Centenas de cavaleiros significavam centenas de escudos. Falcões e águias, dragões e grifos, sóis e veados, lobos e wyverns, manticoras, touros, árvores e flores, harpas, lanças,
caranguejos e lulas gigantes, leões vermelhos, leões dourados e leões de várias cores, corujas, ovelhas, donzelas e tritões, garanhões, estrelas, baldes e fivelas, homens esfolados, homens enforcados e homens queimados, machados, espadas longas, tartarugas, unicórnios, ursos, penas, aranhas, cobras e escorpiões, e uma centena de outros símbolos heráldicos tinham adornado as paredes do Salão de Escudos, exibindo mais cores do que qualquer arco-íris poderia sonhar.
Mas, quando um cavaleiro morria, seu escudo era tirado para que pudesse ir com ele para a pira ou para a tumba, e, ao longo dos anos e séculos, menos e menos cavaleiros tomaram o negro. Chegou o dia em que não fazia mais sentido os cavaleiros do Castelo Negro cearem separados dos demais. O Salão de Escudos foi abandonado. Nos últimos cem anos, fora usado apenas de vez em quando. Como salão de jantar, deixava muito a desejar - era escuro, sujo, frio e difícil de aquecer no inverno, seus porões infestados de ratos, suas maciças vigas de madeira carcomidas e enfeitadas com teias de aranhas.
Mas era largo e comprido o suficiente para duzentas pessoas sentadas, e mais quase metade disso ainda se ficassem coladas umas das outras. Quando Jon e Tormund entraram, um som atravessava o salão, como vespas se mexendo em seu ninho. Os selvagens suplantavam os corvos em cinco para um, pelo pouco negro que via. Restava menos do que uma dúzia de escudos, tristes coisas cinzentas com tinta desbotada e longas rachaduras na madeira. Mas tochas recém-acesas queimavam nas arandelas de ferro ao longo das paredes, e Jon havia ordenado que trouxessem mesas e bancos. Homens sentados confortavelmente eram mais inclinados a ouvir, Meistre Aemon lhe dissera uma vez; homens em pé eram mais inclinados a gritar.
Na ponta do salão havia uma plataforma encurvada. Jon subiu nela, com Tormund Terror de Gigantes ao seu lado, e ergueu as mãos pedindo silêncio. As vespas apenas zumbiram mais alto. Então Tormund colocou seu corno de guerra nos lábios e deu um sopro. O som encheu o salão, ecoando nas vigas sobre suas cabeças. Fez-se silêncio.
- Eu os chamei para fazermos planos para o socorro a Durolar - Jon Snow começou. - Milhares do povo livre estão reunidos ali, presos e famintos, e temos relatos de coisas mortas na floresta. - À sua esquerda, viu Marsh e Yarwyck. Othell estava cercado por seus construtores, enquanto Bowen tinha Wick Whittlestick, Lew Mão Esquerda e Alf de Runnymudd ao seu lado. À sua esquerda, Soren Quebrescudo sentava-se com os braços cruzados contra o peito. Mais atrás, Jon viu Gavin, o Negociante, e Harle, o Bonito, sussurrando um para o outro. Ygon Velhopai estava sentado entre suas esposas, e Howd Andarilho, sozinho. Borroq estava recostado contra uma parede em um canto escuro. Felizmente, seu javali não estava em evidência em lugar algum. - Os navios que enviei para buscar Mãe Toupeira e seu povo foram devastados por tempestades. Precisamos enviar a ajuda que pudermos por terra, ou deixá-los morrer. - Dois dos cavaleiros da Rainha Selyse estavam ali também, Jon viu. Sor Narbert e Sor Benethon estavam parados perto da porta, no fundo do salão. Mas a ausência do restante dos homens da rainha era evidente. - Eu esperava liderar a patrulha eu mesmo e trazer tantos do povo livre quantos pudessem sobreviver à jornada. - Um clarão vermelho no fundo do salão capturou o olhar de Jon. A Senhora Melisandre chegara. - Mas agora descobri que não poderei ir a Durolar. A patrulha será liderada por Tormund Terror de Gigantes, conhecido por todos vocês. Prometi a ele tantos homens quantos ele exigir.
- E onde você estará, corvo? - Borroq trovejou. - Escondido aqui em Castelo Negro com seu cachorro branco?
- Não. Eu cavalgarei para o sul. - Então Jon leu para eles a carta que Ramsay Snow escrevera.
O Salão de Escudos foi à loucura.
Todos os homens começaram a gritar ao mesmo tempo. Ficaram em pé, sacudindo os punhos. Foi demais para o efeito calmante dos bancos confortáveis. Espadas foram brandidas, machados batidos contra escudos. Jon Snow olhou para Tormund. O Terror de Gigantes tocou seu corno novamente, duas vezes mais longo e duas vezes mais alto do que da primeira vez.
- A Patrulha da Noite não toma partido nas guerras dos Sete Reinos - Jon recordou a eles quando alguma calma aparente retornou. - Não é para vocês se oporem ao Bastardo de Bolton, vingarem Stannis Baratheon, defenderem sua viúva ou sua filha. Essa criatura que faz mantos com peles de mulheres jurou arrancar meu coração, e pretendo fazê-lo responder por essas palavras ... mas não pedirei aos meus irmãos que renunciem aos seus votos. A Patrulha da Noite irá para Durolar. Eu cavalgarei para Winterfell sozinho, a menos ... - Jon fez uma pausa. - ... há algum homem aqui que queira ir comigo?
O rugido era tudo o que podia ter esperado, o tumulto tão alto que dois dos antigos escudos caíram das paredes. Soren Quebrescudo estava em pé, o Andarilho também. Toregg, o Alto, Brogg, tanto Harle, o Caçador, quanto Harle, o Bonito, Ygon Velhopai, Cego Doss, até mesmo o Grande Walrus. Tenho minhas espadas, pensou Jon Snow, e vamos até você, Bastardo.
Yarwyck e Marsh estavam saindo, ele viu, e todos os seus homens atrás deles. Não importava. Não precisava deles agora. Não os queria. Ninguém poderá dizer que fiz meus irmãos quebrarem seus votos. Se isso é perjuro, este crime é meu e meu apenas. Então Tormund estava batendo nas costas dele, aquele sorriso semibanguela de orelha a orelha.
- Bem falado, corvo. Agora, traga o hidromel! Faça-os seus e embebede-os, assim que é feito. Faremos de você um selvagem, garoto. Har!
- Pedirei cerveja - Jon falou, distraído. Melisandre se fora, ele percebeu, e também os cavaleiros da rainha. Eu devia ter ido a Selyse primeiro. Ela tem o direito de saber que seu senhor está morto. - Precisa me dar licença. Deixarei você para embebedá-los.
- Har! Uma tarefa para a qual estou bem adaptado, corvo. Vá em frente!
Cavalo e Rory seguiram ao lado de Jon quando ele deixou o Salão de Escudos. Eu devia falar com Melisandre depois de ver a rainha, pensou. Se ela pôde ver o corvo na tempestade, pode encontrar Ramsay Snow para mim. Então ouviu o grito ... e um rugido tão alto que pareceu sacudir a Muralha.
- Veio da Torre de Hardin, 'nhor - Cavalo relatou. Teria dito mais, mas outro grito o interrompeu.
Val, foi o primeiro pensamento de Jon. Mas aquele não era o grito de uma mulher. Isso é um homem em agonia mortal. Saiu correndo. Cavalo e Rory correram atrás dele.
- Serão criaturas? - perguntou Rory. Jon se perguntava o mesmo. Poderiam os cadáveres ter escapado das correntes?
Os gritos pararam no momento em que chegaram à Torre de Hardin, mas Wun Weg Wun Dar Wun ainda estava rugindo. O gigante segurava um cadáver ensanguentado por uma perna, da mesma forma que Arya costumava segurar suas bonecas quando era pequena, balançando-as de um lado para o outro quando era ameaçada com vegetais. Arya nunca fez suas bonecas em pedaços, no entanto. O braço da espada do morto estava a metros de distância, a neve sob ele tornando-se vermelha.
- Solte ele - Jon gritou. - Wun Wun, solte ele.
Wun Wun não ouviu ou não entendeu. O gigante também estava sangrando, com cortes de espada na barriga e no braço. Bateu o cavaleiro morto contra a pedra cinza da torre, uma vez, outra e mais outra, até que a cabeça do homem se tornasse uma polpa vermelha como um melão de verão. O manto do cavaleiro agitava-se no ar frio. De lã branca tinha sido, com acabamento de samito de prata e estampado com estrelas azuis. Sangue e ossos voavam por todos os lados.
Homens saíam aos montes das fortalezas e torres ao redor. Nortenhos, povo livre, homens da rainha.
- Formem uma linha - Jon Snow ordenou para eles. - Mantenha-os afastados. Todos eles, especialmente os homens da rainha. - O morto era Sor Patrek da Montanha do Rei; sua cabeça em grande parte desaparecera, mas sua heráldica o distinguia tanto quanto seu rosto. Jon não queria arriscar que Sor Malegorn ou Sor Brus ou qualquer um dos outros cavaleiros da rainha tentasse vingá-lo.
Wun Weg Wun Dar Wun rugiu novamente e deu uma torcida e um puxão no outro braço de Sor Patrek. Arrancou-o do ombro com um jato de brilhante sangue vermelho. Como uma criança puxando as pétalas de uma margarida, pensou Jon.
- Couros, fale com ele, acalme-o. O Idioma Antigo, ele entende o Idioma Antigo. Para trás, o restante de vocês. Abaixem seu aço, nós o estamos assustando. - Não podiam ver que o gigante fora cortado? Jon tinha que pôr um fim naquilo, ou mais homens podiam morrer. Não tinham ideia da força de Wun Wun. Um berrante, preciso de um berrante. Viu o brilho do aço, virou-se em direção a ele. - Sem lâminas! - gritou. - Wick, coloque essa faca ...
... de lado, ele pretendia dizer. Quando Wick Whittlestick cortou sua garganta, a palavra se tornou um grunhido. Jon desviou-se no exato momento em que a faca veio, apenas o suficiente para que passasse por sua pele. Ele me cortou. Quando colocou a mão do lado do pescoço, o sangue jorrou entre seus dedos.
- Por quê?
- Pela Patrulha. - Wick atacou-o novamente. Dessa vez,Jon agarrou seu pulso e curvou seu braço para trás, até que ele soltou a adaga. O desengonçado intendente se afastou, as mãos erguidas como se dissesse Não fui eu, não fui eu. Homens estavam gritando. Jon alcançou Garralonga, mas seus dedos haviam ficado duros e desajeitados. De alguma maneira, não conseguia tirar a espada da bainha.
Então Bowen Marsh parou diante dele, lágrimas correndo pelo rosto.
- Pela Patrulha. - Acertou Jon na barriga. Quando tirou a mão, a adaga ficou onde ele a havia enterrado.
Jon caiu de joelhos. Pegou a adaga pelo cabo e a arrancou. No ar frio da noite, a ferida soltava fumaças.
- Fantasma - sussurrou. A dor tomou conta dele. Espete neles a ponta aguçada. Quando a terceira adaga o atingiu entre as omoplatas, ele deu um grunhido e caiu com o rosto na neve. Nunca sentiu a quarta faca. Apenas o frio ... 

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